A vida de Anne Phantomhive escrita por Stéfany755


Capítulo 4
Capítulo 4 -A Raposa e o Dragão


Notas iniciais do capítulo

Mesmo depois de tantos anos, tantas experiências e tantos fatos de extrema importância na minha vida, continuar a escrever, mesmo que aos poucos, se tornou meu alívio e minha fonte de prazer. Espero que gostem do aumento no meu vocabulário, da minha aprendizagem, mas saibam que as rotas imaginárias e criativas que tive continuarão presente nessa estória. Boa Leitura a todos.



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No dia seguinte. 

*Tchhhh* 

—Bom dia Hime-chan, acorde por favor. São 7 horas. 

Ao recuperar a consciência vagarosamente senti uma atmosfera úmida e fria, mais que o normal. Assim que abri claramente os olhos, flocos de neve emoldurados pairavam pelo ar alegres e libertos do lado de fora da janela, avisando sobre o equinócio do inverno. Eu sentei na cama, mesmo sem vontade de sair dos acolchoados, me espreguicei e olhei para Sebastian com preguiça. 

—Sim...Bom dia... 

—Trarei sua refeição matinal em alguns instantes, com sua licença. 

Ele se retirou dos aposentos. Ele estava bem diferente, e tanto o nosso convívio quanto nosso humor melhoraram de uma noite para outra. Isso me lembrara o que aconteceu para essas mudanças. Os gemidos involuntários, o toque e o calor da sua pele na minha, querer cada vez mais, e principalmente: o quanto aquilo era bom, por mais que eu não queria admitir. 

*Tap* 

*Idiota, no que você acha que está pensando? Vai se deixar induzir assim?! Bom, isso nunca mais vai acontecer.* 

Um cheiro de leite puro vinha do corredor, ele abriu a porta com a bandeja de prata nas mãos e se dirigiu na minha direção. Eu ainda estava me sentindo preguiçosa, mas mais lúcida. 

—Leite logo de manhã? 

Ele colocou a bandeja entre minhas pernas, e o cheiro do leite era terno e cremoso, junto com uma porção de fatias de pães e bolos, salgados e doces. Depois ele se posicionou ao meu lado sorrindo -O tempo gélido de hoje faz-me pensar que leite é uma boa escolha para tomar pela manhã, acompanhado de um reforço de massas para estimular a temperatura corporal. Entretanto, se quiser posso fazer algo mais leve antes de preparar-te. 

—Preocupado comigo? -Sorri sarcástica -Huh, quem não te conhece que te compra. Está bom assim, vá me ditando a agenda de hoje. 

Ele começou a abrir as portas do armário -Às 8 horas haverá aula de ciências humanas, às 10 aula de música e dança. Depois do almoço não há agenda programada. 

Estava comendo uma fatia de torta de rúcula com repudio -E a Rainha? Alguma coisa? 

—Nenhuma mensagem até o momento. -Ele havia escolhido um vestido vermelho cereja forrado com algodão, com gola baixa, e sapatos encrustados de pedras de mesmo tom. 

Eu já havia terminado a refeição e indo sentar na penteadeira à vinil, com os pés no mármore frio do chão. -Hoje iremos atrás de contatos do mercado negro. Me recordo de já ter comentado com você. 

Ele veio, pegou minha escova de madeira e segurou nos meus cabelos com cuidado -Certamente. Prepararei a carruagem próximo às 2 horas. -Eu não respondi ao comentário, apenas o observei com a fisionomia neutra enquanto penteava meus cabelos longos com habilidade e suavidade. 

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*Click* 

No gramofone do salão de cerimônias soava uma canção melodicamente romântica através de violinos e um piano, que ecoava dentre o vazio de apenas duas pessoas: Eu e Sebastian. 

—Agora, senhorita, vamos a prática da dança. Serei seu condutor. 

Ele pegou em minha cintura, entrelaçou seus dedos nos meus, e começou a dançar. 

—Mais rápido. Porte-se. Siga meus passos. 

Ele era rápido e preciso em seus movimentos, então era quase impossível manter-se em conduta. Além disso ele era o dobro da minha altura. Eu já estava perdendo a paciência -É um pouco difícil sim?! 

Eu pisara em seus pés várias vezes, mas ele não pareceu dar importância. Era muito complicado seguir o seu ritmo e a música, mesmo que ambos estivessem em sincronia. Meus passos eram fortes e desengonçados. 

—Dois passos para lá e um para cá. Tenha sincronia. Seja mais sofisticada ao dançar. Abra mais os braços. 

Minha expressão entregava que eu estava desistindo de dançar, porém, Sebastian tirou a mão de minha cintura e puxou meu queixo para cima. 

—Hime-chan, olhe para mim. 

Assim que olhei seu rosto percebi algo diferente em seu olhar. Aquele olhos vermelhos sangue, mesmo que antes aparentassem ameaçadores, agora eram suaves e, de certa forma, charmosos. Sua voz era como um sussurro -Vamos Hime-chan, não ouça, sinta. 

Ele entrelaçou seus dedos nos meus mais uma vez e me manteve mais próxima de si pela cintura, me admirando constantemente. Eu senti como se houvesse milhões de olhares voltados a nós, todas as pessoas que morreram naquele dia fatídico, os violinos soltando lindas notas sinfônicas, e eu com aquele vestido todo pregado, sendo livre. O tempo havia parado para nós dois. 

—Isso mesmo Hime-chan, está indo bem. 

Eu ouvi meus passos brutos pelo chão, estragando meu foco, então comecei a pisar com mais fragilidade, como se estivesse de pés descalços. 

—Muito bem, está melhorando Hime-chan, só tente ir mais rápido. 

O único som que passava pela minha cabeça era o violino, que eu também não prestava atenção. A única coisa que eu queria era ficar ali por mais um minuto. Mas, enfim a música acabou e nos separamos. 

—Está indo muito bem Hime-chan, um pouco mais de treino e você poderá dar um baile. -Ele já estava perto da porta, quando virou para mim novamente e sorriu - E, talvez quando estiver mais alta, poderemos dançar bem melhor, juntos. - E, assim que ele sumiu de minha vista, eu me ajoelhei no chão. 

*Tu-dum. Tu-dum. Tu-dum* 

Meu rosto ia desmanchar em calor, meu corpo tremia de nervosismo, e quando coloquei a mão no peito, meu coração pulsava estranhamente forte. 

*...Isso é muito ruim... Porque, porque palpita tanto?* 

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Após o almoço fomos até a casa funerária procurar informações. Assim que Sebastian me ajudou a sair da carruagem e olhou para o local olhou-me com receio -Hime-chan, tem certeza que é aqui? 

A casa funerária era cinza, ou melhor, era para ser. As paredes gastas descascavam a tinta velha e podre, o assoalho estava cheirando a mofo e tinha várias frestas e buracos feitos pelos ratos, o letreiro envelhecido caía aos pedaços e tudo era escuro e sombrio... Perfeito para o recanto dos mortos. 

Eu sorri confiante, olhando a decadência daquele lugar -Tenho sim, vamos. 

Assim que Sebastian abriu a porta a atmosfera de morte nos rodeou completamente: prateleiras atrás do balcão, com potes de vidro com órgãos e ossos, teias de aranha pelos cantos, barulho de ratos, dois vasos enormes, capazes de acomodar uma pessoa dentro, e vários caixões, abertos e fechados, espalhados pelo chão. Eu vaguei entre eles até perto do balcão, no fundo da casa. 

—Sebastian, se você fosse se esconder de alguém, onde seria? 

—Se eu fosse me esconder de alguém, seria em um lugar óbvio. 

—E você pode me dizer porquê se esconderia em um lugar óbvio? 

—As pessoas procuram sempre por lugares mais secretos e escondidos, pois lugares óbvios para elas são fáceis demais. 

—Exatamente. -Nesse momento, ao olhar para Sebastian eu empurrei um dos vasos com força no chão, e dele saiu um homem. 

—Hêh, você finalmente aprendeu a brincar de pique-esconde,

Anne-chan. 

Ele mantinha os cabelos cinzas longos e despenteados, usava uma cartola amassada e empoeirada na cabeça e uma bata preta suja por estar sempre arrastando no chão. Os olhos dele eram um mistério para todos, pois se mantinham ocultos pelo seu cabelo, mas no seu rosto era evidente uma cicatriz que transpassava pelos olhos. Como funerário ele se mantinha sempre alegre e sorridente (ainda que seu sorriso seja assustador), sua voz era arrastada, baixa e do meu ponto de vista irritante. Sempre fazia loucuras e vivia entre elas, deve ser por isso que meus pais sempre o adoraram. 

—Não vejo você desde meu aniversário. 

—Oh, eu estive ocupado, muita gente anda morrendo ultimamente. 

—Que seja, eu vim para outro propósito. -Sebastian estava do meu lado, então eu fiz as apresentações. -Sebastian, este é Undertaker, meu padrinho. 

Não sei qual o estúpido motivo, mas meus pais adoravam Undertaker, tanto que fizeram dele meu padrinho. Eu costumava vir com eles fazer visitas, e morria de medo desses potes de vidro e caixões abertos, achando que algum morto pularia de dentro deles. Mas eu sempre adorei meu padrinho, costumávamos brincar de pique-esconde a toda hora ou fazer música com o estalar dos ossos. Entretanto, depois do que aconteceu ele foi um dos únicos a ficar vivo no meio do caos, então eu me distanciei por precaução. 

Undetaker se apoiou no balcão e sorriu -Muito prazer em conhecê-lo, Sebastian Michaelis. 

—Ele vai nos ajudar com as informações. 

—Vou sim, mas antes você sabe o que eu quero pra te ajudar. 

Eu resmunguei enquanto Undertaker continuava esperando com os cotovelos cravados no balcão e as mãos apoiando o rosto. Sebastian olhou para nós sem entender a situação -Hime-chan, o que ele quer? 

—Ora ora, você então não contou pra ele? Que coisa feia Anne-chan. 

Instintivamente eu desviei o olhar, e depois de suspirar, olhei para Sebastian e apontei para a porta -Espere lá fora e não entre até eu permitir. 

Sebastian mostrava claramente que estava confuso. -Hime-chan, tem certeza? 

Mas eu já estava áspera o suficiente com a situação, e olhei ele com desprezo -Huh, vai desafiar minha autoridade servo? Vá, é uma ordem. 

—Oh, que autoritária. Acho melhor obedecê-la, senhor mordomo, ela morde. 

Assim que Sebastian saiu pela porta, Undertaker colocou as mãos no queixo 

—Nossa, parece que você amadureceu muito não é? E em tão pouco tempo... Olha só. 

—Droga, ia me fazer mesmo passar vexame na frente do meu servo?! 

Ele deu um sorriso amigável -Mas é claro, você me conhece. Agora tente me fazer rir... 

Resmunguei por uns minutos antes de fazer, mas finalmente o consegui. Ele não aguentou ficar mais de pé e caiu no chão, com a mão na barriga e sem parar um minuto para respirar, rindo muito alto, como se o que eu houvesse feito fosse extremamente engraçado. Bom, pelo menos para ele é. 

—AHAHA HAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHA AHAHAHAHAHAHA HHAHAHAHAHA!! 

As gargalhadas dele também não eram muito atraentes: mantinham um tom alto, psicopata e ensurdecedor. Assim que ele terminou finalmente se levantou e respirou fundo, caindo por cima da bancada como uma folha sorridente. 

—Sebastian, pode entrar. 

—Ho ho ho, faz tempo que eu não me divirto assim Anne-chan, você fez muita falta. 

Sebastian abriu a porta e veio andando até nós, sem mais perguntas. 

Eu me sobrepus em cima da mesa e sussurrei vitalícia -Agora, Under, faça seu trabalho e me informe. 

Ele se levantou com calma da bancada, e em seguida retirou um papel do bolso -Ele já estava esperando por isso. 

Eu tirei o papel bruscamente da mão dele e comecei a observá-lo. Estava tudo em chinês, que infelizmente eu não sabia ler. Havia o desenho de uma raposa chamuscante e brutal e um dragão perolado e majestoso, ambos em confronto. Eu fiquei um pouco desnorteada por não saber o que continha aquelas letras -Oe, o que diabos isso significa? 

Undertaker pareceu pensar por alguns segundos, depois virou para mim -... Sei lá, vai saber. 

*Imprestável!* 

Eu senti muito desgosto e raiva dele, e Sebastian vendo minha expressão estendeu a mão -Permita-me. 

Entreguei o papel em sua mão, e ele parecia tentar traduzi-lo -Isto é um convite, demos ir para a rua Belmont, número 678. 

—Huh, além de tudo é bilíngue? 

Sebastian virou o convite para mim e apontou para o canto inferior e sorriu -Não, é que está escrito aqui. 

*... Dois imprestáveis.* 

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O local indicado no convite era um apartamento pequeno e maltrapilho, mas muito bem conservado. Assim que entramos pela entrada a decoração mudou completamente: Desenhos de civilizações chinesas em pergaminhos corrompidos pelo tempo, vasos de dinastias, embutidos de lendas sobre almas, pilares em marfim verde-água com crostas de ouro, e no fundo do corredor, depois do enorme portão vermelho para a sala principal, havia um homem com uma mulher no colo, sentado em um tipo de trono, com um dragão vermelho e feroz que ansiava por sangue e bufava chamas douradas. 

Era um homem aparentemente alto, pele amarelada, com olhos puxados. Cabelo preto bem curto, lábios pequenos e sorridentes, e uma voz tão suave e calma quanto Buda, ainda que soasse ameaçadora em meus ouvidos. 

—Ora ora, não achei que conseguiria mesmo decifrar meu convite, mas acho que isso é esperado da raposa da rainha. Muito prazer condessa, eu sou Lau. 

—Notícias circulam tão rápido no mercado negro? Bem, acho que eu devia saber disso. 

—Não exatamente, mas pode se dizer que sim. 

—E quem é essa dama? 

Definitivamente era a amante dele, só poderia ser isso. Uma mulher nova e muito sensual, com um penteado tão incomum quanto suas vestes decotadas e coloridas. 

—Oh, essa é minha irmã, Mao. 

Eu e Sebastian definitivamente estávamos nos encarando perplexos depois dessa. 

*Isso... É... Muito estranho.* 

Mao saiu de seu colo para que ele pudesse se levantar, era realmente alto  

—Bom, mas isso não importa. Vamos ao assunto: Eu soube que você precisa de informantes. 

Eu sorri sarcástica -Direto como eu gosto, você tem boa percepção. Mas, o que me faz pensar que você é ideal? 

—É muito simples, eu e você temos coisas que queremos. 

—E o que você quer? 

—Isso você vai descobrir... Mas só se jogar um jogo comigo. 

—Jogo? Que tipo de jogo? 

—É um jogo bem simples, o único problema é que estão me faltando peças, e quem consegue  jogar sem peças? Será que você poderia fazer essa pequena tarefa por mim? 

Eu o observei de cima a baixo, analisando seus gestos e expressões para ver se podia confiar mesmo nele. Ele se posicionava com as mãos juntas, mas com aquelas mangas largas não podia realmente vê-las, postura ereta, um tipo de bata em azul... A cor da loucura. E sempre o mesmo sorriso, que particularmente achara muito semelhante ao de meu padrinho. Enquanto eu refletia sobre isso senti uma mão pegar no meu ombro e a voz baixa de Sebastian sussurrar em meus ouvidos. 

—Hime-chan, ele tem informantes dentro do Vitro de Cleaveland.

Meus olhos se arregalaram quando ouvi essa informação.

Cleaveland foi um município de grande prestígio da Vossa Rainha na antiguidade, mas a peste negra avassalou todos que moravam naquela região, e fazendo com que ninguém queira sequer passar perto da cidade fantasma. Havia boatos de que um grupo ocultista, chamado Vitro, tomara a cidade e criara raízes. Infelizmente, eu posso confirmar essa lenda. Afinal, foi de lá que eu saí no dia que selei o contrato. 

Eu senti o começo da minha vingança entrando pela minha face e se alastrando em meu sorriso prazeroso -...Quantas peças faltam-te? 

—Apenas duas. Não se preocupe, não vai ser uma missão suicida, só quero o que é meu de volta. 

—E onde encontro essas tais peças? 

Vitro... Vou enterrar Cleaveland com seus corpos cheios de vermes. 


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