Com as malas prontas, e tudo em um canto do quarto, passei a mão pela cama, arrumando a pequena bagunça que fiz, e procurei meu celular, mandando uma mensagem aos meus amigos.

“Quero encontrar vocês mais tarde, temos que conversar. xx Sarah.”

[...]

Às 14h, hora que combinamos, ouço a campainha tocar e, já pronta, desço as escadas correndo, abro a porta e vejo minha melhor amiga, Yasmin, e a abraço forte.

— Sarah, tá tudo bem? – Ela pergunta me abraçando ainda mais forte – Fiquei preocupada com a mensagem, e...

— Sim, tá tudo bem. – A interrompi. – Só tenho uma novidade... – Respiro fundo a soltando – Agora, vamos?

— Vamos.

Não ia ser fácil contar pra ela, não ia ser fácil contar há ninguém, mas eu tinha que fazer isso, afinal, não poderia ir embora assim.

Caminhamos em silencio, até a praça mais próxima, onde sempre nos encontramos. Até eu sentir meu celular vibrar. A palavra “pai” apareceu e meu coração disparou, o atendo e me afasto um pouco de Yasmin para que ela não ouça o que vou conversar.

— Alô. – Falo baixo

— Oi filha, como você tá? – Ele quase grita no meu ouvido

— Tô bem, papai, e você?

— Tô bem, Sarinha. As malas estão prontas?

— Sim pai, estão todas prontas. – Suspiro. – Agora vou encontrar uns amigos, é, talvez, a ultima vez durante um bom tempo...

— Ok filha, até mais tarde. – Desligo o telefone e vejo Yasmin me olhando e pedindo uma explicação.

Caminho em sua direção e abraço forte, sussurrando em seu ouvido.

— Eu vou embora. – E sinto sua respiração falhar, ela estava chorando.

— Não, por favor, não.

— Ei, não chora, eu vou explicar pra você e pra toda a galera, ok? – Ela assente e, continuamos o caminho em silêncio.

Chegando naquela praça, linda e florida, e vendo todos os meus amigos sentados na grama rindo, me doía, muito, mas era preciso, talvez, faze-los chorar, pra recomeçar minha vida e minha mãe melhorar a dela. Sentei ao lado de Larissa e não pensei antes de abraça-la forte e bagunçar seus cabelos curtos e coloridos. Matheus senta do meu outro lado e me puxa para deitar em seu ombro, acariciando meu cabelo.

— Tudo bem? – Ele pergunta baixo e eu assinto.

Yasmin senta de frente para mim, ao lado do namorado, Pedro, e o mesmo a abraça, percebendo que o clima não tá nada bom. Os outros nos olham com caras de desentendidos, esperando uma explicação para as lágrimas da Yas e meu rosto vermelho.

— Eu vou embora. – Falo em um som audível e todos me olham assustados

— Como assim? – Duda pergunta e logo Matheus a responde.

— Deixa a menina falar? Obrigado.

— Obrigada, Matheus. – Suspiro – Eu amo cada um de vocês, todos, inclusive você Pedro, são muito importantes para mim, e eu nunca vou esquecer-me de nada que fizemos juntos, e nem de vocês, e não vai ser pra sempre, tá?

Nunca pensei que um dia fosse me separar deles, eles são meio que minha vida, são tudo pra mim, todos eles...

— Duda... Você sabe o quanto eu te amo e o quanto eu amo ir às festas com você, as compras, tudo. Você é uma ótima amiga, sim, nunca fale o contrario. Confie em você antes de confiar em qualquer um, ok? – Falo já chorando e ela assente com lágrimas nos olhos. – Me desculpa por tudo, e obrigada por tudo.

— Me desculpa também, Sah. Obrigada por estar sempre comigo... Te amo.

— Matheus... – Me virei para o garoto com um olhar triste – Você é o melhor amigo do mundo, e sempre que precisar eu tô aqui, ok? Eu te amo – O abracei o mais forte que pude.

— Eu te amo. – ele sussurrou – de verdade, eu te amo. – Me afastei e ele secou um pouco das minhas lágrimas.

— La, mina do tumblr, eu te amo muito, e nunca perca essa sua personalidade apaixonante. – Ela ri – Falando em apaixonante... Você ainda vai encontrar o príncipe encantado, falou?

— Você também vai, amor. Te amo... – Ela me abraçou forte e bagunçou meus cabelos loiros.

Me levantei e sentei no meio de Pedro e Yasmin, separando o agarramento deles e abraçando Yas.

— Agora, ao meu casal... Vocês têm tudo pra ser pra sempre, e nunca percam isso, ok? O amor de vocês é o que me faz acreditar um pouco nessa coisa que as pessoas acham tão importante pra ser feliz, que eu não acho tão importante assim. Mas vocês são felizes juntos, e isso me deixa muito feliz, viu? – Olho para Pedro – Rapaz, você tem uma princesa que te ama mais que tudo, e cara, ela tem uma amiga, que você sabe muito bem, te mataria se fizesse qualquer mal a ela, tá ligado? – Ele assente rindo e eu o abraço – Cuida bem dela pra mim? Te amo muito, cara. – Sussurro.

— Se cuida, pequena. Tô aqui sempre, e obrigado por tudo. – Ele sussurra de volta.

— Minha princesa, venho te ver sempre que possível, ok? Aliás, venho ver todos vocês. Mas você é a melhor, ok? E mesmo longe, vamos nos falar sempre. – ela me abraça. – Eu te amo...

Ficamos a tarde toda ali, conversando e rindo, como se amanhã fossemos nos ver na escola, e eu gostava disso, eu não sei por que, acho que vai ser melhor pra mim ir pra uma cidade nova, e maior, já que a faculdade está aí. Claro que eu ia, e já tô, sentir falta deles, dos programas a tarde, dos sorvetes, das risadas, dos filmes de terror que viraram comédia, de tudo. Meus amigos sempre foram a minha vida, já que é o único amor, fora da família, que eu acredito, e ele, com certeza, é eterno.

[...]

— Sarah, você promete cuidar do seu irmão? – Minha mãe falava chorando e me abraçando.

— Sim, mamãe, vai ficar tudo bem.

Sim, ia realmente ficar tudo bem, mas não ia ser a mesma coisa, nunca, eu queria minha mãe ali, não do outro lado do oceano. Eu queria ficar em Minas, e não ir pra São Paulo, eu nem gosto do clima de São Paulo! Eu odeio São Paulo. Eu odeio o sotaque paulista, eu odeio o jeito que os paulistas se acham, como se acham os donos do Brasil.