Percy Jackson se torna um Comunista escrita por Goldfield


Capítulo 6
VI - Grande Guerra Patriótica




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VI

“Grande Guerra Patriótica”

Percy Jackson atirou-se de barriga na terra do buraco, agora tornada lama pela chuva da noite anterior. Procurou ignorar o fato de ter sua camiseta de Sólon manchada de barro e focar-se nos sons ao redor, foice de bronze firme em seu punho – os camaradas tanto à sua direita quanto à sua esquerda esforçando-se ao máximo para não causar qualquer som.

Desde o discurso inflamado do pérfido movimento nacional-semideusista no dia anterior – e da ainda mais traiçoeira concessão dos liberais hipócritas de Annabeth à sua causa – as últimas vinte e quatro horas pareciam ter durado toda uma década. O ataque já esperado dos fascistas de Clarisse viera no início da noite, camuflado pela chuva que fustigara o Acampamento sem trégua até aquela manhã.

Graças à aliança de comunistas e anarquistas, no entanto, compondo o novo movimento “social-anarquista”, a esquerda tinha se preparado. Uma longa trincheira fora cavada em torno dos chalés de Poseidon e Zeus, por esforço principalmente dos filhos de Hefesto, isolando-os das fronteiras inimigas com três metros de profundidade, estacas de madeira e arame farpado. Para além delas, infelizmente, a situação era grave...

O indeciso chalé de Deméter, gerido até então por um governo descentralizado de orientações socialistas e simpatizante do movimento de Percy, fora sumariamente ocupado e dominado pelas forças de Ares nas primeiras horas de sua ofensiva. Surgia até, quem diria, um forte movimento colaboracionista entre os filhos da deusa da agricultura – os camponeses infelizmente sendo alvo fácil à máquina de propaganda nacional-semideusista que lhes prometia uma vida melhor em troca do trabalho escravo aos “semideuses superiores”.

Mas não havia parado por aí, a sede de expansão de Clarisse revelando-se insaciável. Empreendendo verdadeira “guerra relâmpago” (ou blitzkrieg, como alguns primos da garota crescidos na Alemanha preferiram apelidar), os fascistas haviam se voltado contra os liberais. Sim, os mesmos que tinham pretendido utilizá-los como escudo contra a revolução socialista agora eram apunhalados pelas costas – para deleite de Percy, embora isso contribuísse para o fortalecimento do temível inimigo.

A primeira vítima foi o chalé de Apolo. Coração das belas artes no Acampamento, acabou invadido e tomado em menos de quinze minutos em meio ao temporal da madrugada. Após os nacional-semideusistas passarem um bom tempo tocando seus tambores e cornetas do lado de dentro, bandeiras com as espadas cruzadas foram penduradas nas estátuas adornando a construção, enquanto Clarisse dividia o inimigo para melhor conquistá-lo. Um filho de Apolo chamado Pietro foi encarregado de administrar a “República de Febo”, um descarado governo-fantoche dos filhos de Ares que evitaria críticas sobre estarem privando o chalé de sua liberdade. Alguns dos meio-sangues, claro, não engoliram o teatro, deixando o alojamento com espadas, arcos e pincéis no intuito de organizarem uma resistência em outro lugar – e, da última vez que os batedores de Percy os avistaram, haviam sumido dentro do bosque.

A vítima seguinte foi o chalé de Athena – ó, quão deliciosa era a ironia. Atacado a partir do chalé de Deméter ocupado, este por sua vez alcançado a partir do chalé de Hera dado de presente aos fascistas por Annabeth, convertia-se na melhor demonstração de feitiço voltado contra o feiticeiro que Percy Jackson já pudera testemunhar. Os filhos de Athena, auxiliados por alguns filhos de Hermes voluntários, abriram uma trincheira em torno do chalé nas primeiras horas após a conquista de Deméter, de certo já temendo o pior. Depois cavaram um desvio do riacho do bosque – encarregando uma companhia privada de capital misto entre filhos de Athena e Hermes no processo, julgando assim aumentar sua eficiência – até a trincheira, convertendo-a num fosso de água ao inundá-la. Mal o chalé ficou devidamente ilhado, as tropas de Ares iniciaram o ataque.

Impedidos de avançar por terra, os soldados de Clarisse resolveram liquidar a resistência de Athena pelo alto. Uma incessante chuva de pedras – unida ao aguaceiro que desceu do céu a noite toda – caiu sobre o chalé, as rochas atiradas pelos nacional-semideusistas num impulso furioso. Partes do telhado do alojamento começaram a ceder, enquanto bravos defensores de pé sobre ele tentavam rebater os pedregulhos usando lanças e bastões. Os liberais já chegavam aos seus limites quando a primeira luz da manhã revelou a grande catapulta aos poucos construída pelos fascistas bem diante do chalé, com madeira cortada do bosque. Uma enorme pedra redonda já era preparada para ser atirada por ela tão logo o engenho ficasse pronto – capaz de esmagar todo o chalé de Athena de uma vez só.

Em meio a tal impasse, os demais chalés assistiam a tudo cheios de apreensão. Enquanto alguns ensaiavam um tímido alinhamento a algum dos lados – no caso, fascista ou liberal, os social-anarquistas previsivelmente isolados por conta da sedução gerada pela propriedade privada – outros optavam pela total neutralidade temendo serem alvos de ataque ou ocupação.

Esse segundo caso foi o do chalé de Hermes.

Enquanto uns poucos de seus moradores escolheram auxiliar o chalé de Athena de vontade própria, a posição oficial do alojamento era ficar de fora daquele conflito. Isolado na ponta sudoeste do “U” formado pelos chalés, insistia a cada hora que recebia mensageiros pedindo ajuda não desejar se intrometer nos assuntos dos semideuses ao norte, por mais que apoiasse o modo liberal de viver...

A pedra nas sandálias de Hermes acabou se tornando o chalé de Dioniso.

Inicialmente também neutro em relação a toda aquela belicosidade, o alojamento dos filhos do Sr. “D” ensaiara, desde a madrugada, uma crescente afinidade com os nacional-semideusistas. Por mais que estes condenassem seus atos de gula e embriaguez, algo no discurso de superioridade de Clarisse despertara o interesse dos foliões, que começaram uma algazarra perto do nascer do dia soltando berros e assovios desencontrados em apoio ao chalé de Ares. Ou talvez fosse apenas o vinho.

De qualquer modo, os mais empolgados filhos de Dioniso começaram a se engraçar com as garotas do chalé de Afrodite, situado bem ao lado. As mesmas garotas com quem os filhos de Hermes tentavam ter algo já há vários verões.

Por mais que as moradoras do chalé de Ártemis protestassem a respeito de as filhas de Afrodite terem o direito de sair com quem elas bem entendessem, a disputa entre o pessoal dos chalés de Dioniso e Hermes já de desenhava. Ainda naquela manhã, quando a chuva parava, os filhos de Hermes – maiores contrabandistas de objetos de fora para dentro do acampamento, fazendo jus ao fato de descenderem do deus dos ladrões – cortaram o suprimento de suco de uva, Pepsi e vinho barato do chalé de Dioniso em represália às investidas sobre as filhas de Afrodite, por mais dinheiro que fosse oferecido.

Totalmente desesperados pela falta de bebida, levou apenas vinte minutos para que os filhos de Dioniso atacassem de surpresa (ou talvez não tão de surpresa assim) o lado de fora do chalé de Hermes, tentando se apoderar à força dos freezers onde o contrabando era estocado. Alegando que aquele dia fora coroado eternamente pelos louros da infâmia, os filhos do deus dos ladrões declararam guerra ao chalé de Dioniso – e a seus patrocinadores nacional-semideusistas por extensão, por mais que sequer houvessem tido envolvimento naquela briga.

Tudo isso fora reportado a Percy por Grover, que vinha se saindo seu melhor batedor – imprimindo os cascos à lama conforme espreitava veloz cada um dos chalés adversários. Tendo retornado há pouco da última expedição de espionagem, agora rastejava junto com Percy pelo barro da trincheira, aguardando o momento certo para o início do derradeiro ataque contra os fascistas.

Eles haviam resistido a noite toda contra as investidas de Clarisse, iniciadas tão logo a posse do chalé de Apolo e o cerco ao chalé de Athena foram assegurados. Pedras zuniram por cima da trincheira tentando atingir a sede do Soviete, lâminas se encontraram entre faíscas e flechas rasgaram o ar. Os anarquistas de Thalia prestavam valoroso auxílio aos socialistas de Percy, repelindo as sucessivas ondas de incursões inimigas contra a trincheira. Já tendo passado algumas horas desde que o sol se erguera, aguardavam ansiosos os próximos movimentos dos nacional-semideusistas...

...quando a própria Clarisse surgiu à beira do buraco, um elmo de penacho à cabeça, a insígnia das espadas cruzadas em destaque no lenço amarrado ao ombro, os cabelos castanhos molhados pela chuva e o rosto todo pintado de camuflagem em tons marrons.

– Rendam-se, seus perceviques! – bradou a garota, um punho erguido e o outro segurando uma lança. – Abandonem as mentiras socialistas e anarquistas e juntem-se aos verdadeiros libertadores do Acampamento! Só a força e a união poderão salvá-los da lama à qual esses falsos líderes os atiraram! Heil Ares!

Percy não podia tolerar tamanhas provocações. Ergueu-se do barro, fios de terra e água escorrendo pelas brechas de sua maltratada armadura de combate. Olhou para baixo, trocando um olhar com Thalia ainda deitada no solo ao seu lado. Firme, a garota acenou com a cabeça. O semideus fitou ao redor, divisando seus camaradas abrigados por toda a trincheira, alguns quase fundidos à própria lama. Concluiu ser o centro de suas atenções, e que necessitavam de palavras motivadoras. Começou a proferi-las, falando alto para tentar ser ouvido em todos os demais chalés:

– Camaradas, as hordas fascistas querem colocar em xeque todas as conquistas do movimento socialista! O imperialismo de Ares ameaça as fronteiras de nosso Soviete, após já ter engolido boa parte do mundo semideus. Reagiremos ou deixaremos que o proletariado seja novamente aprisionado aos grilhões de bronze da exploração capitalista, como Prometeu em seu rochedo ao querer livrar a humanidade da produção alienada, compartilhando o conhecimento do fogo até então detido pelos deuses em troca de mais-valia? Nossa guerra patriótica encontra agora seu ápice! Não podemos deixar que o cão raivoso fascista, solto pelos imperialistas liberais sobre nós, cruze esta trincheira! Que estas poças d’água sejam o nosso Volga!

Ao término do discurso, todos os camaradas do movimento social-anarquista bradavam convictos pelo fosso. Alguns chegaram a se levantar do barro como Percy e baterem furiosos contra os peitorais de suas armaduras ou camisetas de Sólon – gerando eco que, se não converteu os demais chalés automaticamente à causa socialista, ao menos devia tê-los sensibilizado.

Clarisse fechou ainda mais o rosto. E, possuindo soldados nacional-semideusistas tanto à sua direita quanto à sua esquerda na borda da trincheira, revelou a carta na manga que escondera até aquele momento. Levando uma das mãos aos bolsos da calça, retornou-a segurando uma série de pequenos objetos metálicos. Cascos de balas, mais precisamente – de todos os calibres e tamanhos. Sem hesitar, atirou os artefatos ao ar, como se tentando pulverizar com eles todo o limiar do buraco... para que explodissem a dois metros do solo num som de fogos de artifício e se convertessem em espessa névoa roxa que dominou todos os arredores da trincheira.

Os combatentes do Soviete assumiram posição defensiva, engolindo seco conforme a neblina se dissipava e mostrava os horrores que trouxera de volta do submundo: esqueletos vivos vestindo uniformes e capacetes de soldados nazistas da Segunda Guerra Mundial – incluindo suásticas em seus braços da mesma maneira que as tropas de Ares exibiam seu símbolo – segurando rifles e metralhadoras com seus braços de puro osso. Abrindo as mandíbulas secas e fazendo-as estalar tal qual rissem dos semideuses na trincheira, o exército morto-vivo, a um gesto de Clarisse, começou a descer a beirada do buraco e atirar-se contra os socialistas.

Percy já estava completamente envolvido na batalha no instante seguinte. Com sua foice de bronze, arrancou a cabeça de três esqueletos em fileira de uma só vez, os crânios rolando pelo barro e sendo chutados pelos pés de seus próprios companheiros conforme a luta prosseguia – como se uma sinistra partida de futebol de caveiras acontecesse paralela à guerra. Thalia destroçou várias costelas de outro esqueleto ao atravessá-lo com sua lança, a criatura fincada agitando-se raivosa e ainda tentando enforcá-la ao estender seus braços cadavéricos, antes de finalmente se desmontar quando a semideusa sacudiu a arma e esparramou os ossos do inimigo ao redor.

Jackson, sentindo-se lutando contra um exército formado pelos esqueletos dos laboratórios de ciências de todas as escolas pelas quais já havia passado, partiu a espinha de um morto-vivo ao meio, cortou as pernas de outro... enquanto os temíveis tiros das armas dos inimigos começavam a ser ouvidos. Alguns voluntários do chalé de Hefesto caíram, gemidos se propagaram... e, no meio da desordem, Percy viu o amigo Grover comendo o capacete de uma das caveiras, tal qual degustando uma iguaria dos anos 1940 anterior às latas de alumínio.

O líder socialista abriu caminho entre mais esqueletos, o chão da trincheira tornando-se um tapete escorregadio de lama e ossos que seria os Campos Elísios de qualquer cachorro. Quando deu por si, Percy percebeu estarem conseguindo empurrar os inimigos para fora do buraco, Thalia destroçando mais alguns deles com a lança enquanto Clarisse e os brucutus do chalé de Ares, cautelosos, recuavam para mais longe da borda...

Quando uma trombeta soou.

Os nacional-semideusistas pararam e olharam surpresos em volta, suas faces por fim fixando-se atrás deles, na direção do chalé de Ares. E, mesmo com toda a batalha rugindo sobre seus sentidos, Percy pôde notar uma expressão de pavor no semblante de Clarisse. Seja lá o que fosse, algo que conseguia assustar aquela garota era digno de atenção.

– Recuar! – a menina exclamou levantando a lança. – Recuar agora!

Pôs-se em seguida a correr para longe da trincheira com seus soldados; e os esqueletos ainda de pé, mesmo demonstrando confusão, deram meia volta e os acompanharam. Os socialistas aproveitaram a oportunidade para aniquilar mais algumas das caveiras pelas costas, apanhando suas armas de fogo e usando-as contra os antigos donos. A marcha vermelha escalou também a beirada da trincheira e ganhou terreno plano, colocando os fascistas para correr conforme eles retornavam à própria base.

O conjunto dos chalés pareceu totalmente diferente a Percy depois que saiu do buraco. A cabine de Hera, concedida pelos liberais aos nacional-semideusistas em sua fome expansionista, ardia em chamas, erguendo espessa coluna de fumaça ao ar conforme seus últimos e desesperados defensores do chalé de Ares o abandonavam aos tropeços. A catapulta que antes ameaçava o chalé de Athena encontrava-se partida em pedaços fumegantes – soldados desse mesmo alojamento, sob o comando de Annabeth, atravessando agora a área central entre os chalés na direção da cabine de Ares.

Cercando a cabana inimiga pelo sul, por sua vez, via-se considerável contingente de filhos de Hermes munidos de espadas, lanças e algumas armas de airsoft. O vizinho chalé de Apolo encontrava-se aparentemente libertado, uma bandeira com o caduceu e as duas cobras remetendo ao deus tremulando agora de seu topo. Jovens artistas tiravam selfies com seus salvadores, incluindo os moradores dissidentes que tinham se reorganizado no bosque; e até uma pequena parada militar era encenada junto ao pórtico encimado de estátuas da cabine. Mais ainda ao sul, quase fora do campo de visão, outros guerreiros de Hermes lutavam com filhos de Dioniso, liberando caminho até seu chalé.

A perseguição dos socialistas aos fascistas em fuga continuou até atingirem o chalé de Ares, e prosseguiu alojamento adentro. Com suas foices e espadas, os guerreiros comandados por Percy e Thalia romperam o arame farpado cercando a cabana e saltaram através das janelas, derrubando tábuas e cortinas vermelhas com o emblema das espadas cruzadas. Os últimos nacional-semideusistas foram caindo derrotados entre pancadas e safanões, os poucos esqueletos vivos remanescentes se esfarelando a estocadas e tiros... quando as tropas do Soviete Meio-Sangue chegaram à área central do dormitório, onde havia duas fileiras de beliches. Subindo para o topo das camas e apoiando-se em seus estrados, ocuparam toda a fileira mais próxima das janelas pelas quais tinham entrado...

Enquanto a outra fileira já estava em posse dos soldados de Hermes, devidamente posicionados junto aos leitos com cara de bem poucos amigos.

As mãos de todos permaneciam firmes nas armas e os punhos fechados – deixando claro que, se um dos lados decidisse atravessar para a fileira de beliches oposta, a reação seria imediata.

Alguns anarquistas surgiram pouco depois trazendo Clarisse com as mãos amarradas, colocando-a de joelhos no chão bem no meio da divisa entre as duas fileiras.

No auge da tensão, Annabeth surgiu entre os combatentes liberais, tendo adentrado o chalé pela porta do lado contrário ao invadido pelos socialistas. Enquanto as últimas bandeiras do Nacional-Semideusismo eram rasgadas, a garota inflou o peito e iniciou um discurso, lançando olhares provocativos ao setor ocupado por Percy:

– Conseguimos! O capitalismo liberal triunfou sobre a opressão do fascismo! O mundo livre mostrou sua força!

– Capitalismo liberal uma ova! – rebateu Thalia numa careta. – Se não tivéssemos acuado os fascistas a partir da nossa trincheira, vocês jamais conseguiriam encurralá-los pelo outro lado! O maior esforço foi nosso! O povo do Soviete Meio-Sangue se sacrificou para eliminar a ameaça de Ares, que por sinal tentaram usar contra nós e se voltou contra vocês!

Os dois grupos estavam quase chegando às vias de fato, quando um grande estrondo ecoou por todo o Acampamento. Assustados, os soldados tanto capitalistas quanto socialistas dirigiram-se às janelas mais próximas de seus respectivos lados... para testemunhar um cogumelo amarelado de fumaça de quinze metros de altura se erguer do sul – revelando embaixo de si, conforme se extinguiu, os escombros do chalé de Dioniso destelhado e com as paredes envergadas, desalentados filhos do deus do vinho chorando do lado de fora.

Mal a surpresa dos semideuses passou, um representante do chalé de Hermes, todo empertigado num terno e usando óculos redondos feito verdadeiro jovem de negócios, surgiu ao lado de Annabeth, explicando aos embasbacados presentes o que acabara de acontecer:

– Invadir o chalé de Dioniso com nossos soldados os colocaria em risco numa guerra ainda mais prolongada. Graças às conexões comerciais que possuímos, tivemos acesso a alguns raios de Zeus, e utilizamos um deles para pacificar os filhos de Dioniso. Caso negociemos como ficará a disposição dos chalés após este conflito com os fascistas, termos em nossa posse esses artefatos será uma informação relevante de considerar.

Súbito, a expressão “Ladrão de Raios” adquiria um novo e repugnante sentido.

– Seus Cérberos ensandecidos! – Percy disse raivoso. – Vão mesmo fazer uso de uma arma que leva o imperialismo às últimas consequências para impor sua opinião ferina ao resto do mundo?

– Isso só reforça como todo governo deve ser desmantelado e os Olimpianos, destronados! – reforçou Thalia. – O imperialismo de Zeus forneceu as armas agora usadas pelo imperialismo dos capitalistas! Muito obrigado, pai... – acrescentou, em voz mais baixa.

Jackson respirou fundo, encarando os impassíveis Annabeth e seu parceiro engravatado. Ponderou quais opções possuía e aquelas mais viáveis. Por fim respondeu:

– Vamos sentar e discutir a divisão dos chalés do Acampamento... e do chalé de Ares.

Os guerreiros permaneceram irredutíveis nos beliches que ocupavam, entendendo que uma guerra havia terminado e outra estava apenas começando...

Glossário:

Grande Guerra Patriótica: Termo usado pelos soviéticos para se referir à invasão da URSS pela Alemanha Nazista em 1941 e a subsequente derrota desta pela reação dos soviéticos em 1945. Ou seja, a porção da 2ª Guerra Mundial lutada pela URSS.

Febo: Divindade romana equivalente ao Apolo grego.

Perceviques: Brincadeira com “Bolcheviques” (do russo “maioria”), como era denominado o grupo de orientação socialista liderado por Vladimir Lênin na Revolução Russa.

Mais-valia: Na teoria de Karl Marx, trata-se da diferença entre o valor da força de trabalho empregada pelo trabalhador para produzir uma mercadoria e o real salário pago a ele pelo trabalho – essa disparidade constituindo a base da exploração do proletariado e do lucro da burguesia com a indústria.

Volga: Rio da Rússia às margens do qual se situa a cidade de Stalingrado (hoje Volgogrado), onde ocorreu decisiva batalha da 2ª Guerra Mundial entre soviéticos e nazistas.


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