Apatia escrita por Glória San


Capítulo 1
Capítulo único




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Capítulo único

Suspirou. A postura estava parcialmente rígida, os dedos batucavam incansavelmente na própria perna. Estava nervoso, ansioso, culpado. O que ele e Near fizeram na semana anterior... foi enervante e seria eternamente. Não foi totalmente por sua causa (foi sim), mas ainda assim... Near é apenas uma criança. Sem que quisesse, as lembranças vieram, e estavam tão fortes e vívidas como foi na realidade.

Naquela tarde, o dia estava morno e agradável, como quase nunca é em Londres. Estava com Matt, fazendo exatamente nada além de comer os seus benditos chocolates. Matt jogava naquele PSP estúpido. De qualquer forma, o tédio os estava matando. E Matt, largando o jogo sem muita cerimonia, disse que havia algo que Mello jamais faria. E, se tinha uma coisa que este jamais recusava era ser desafiado.

...

Beijar Near. Sério que o idiota o mandaria fazer isso? Mas, naquela hora nada mais importava. Devia fazer isso, fora desafiado no fim das contas. Tinha que fazer! E o fez. Procurou-o em todos os cantos, para por fim achá-lo no próprio quarto, rodeado dos malditos brinquedos. Ele parecia uma nuvem de tão branco. Os olhos escuros e opacos nunca diziam nada. Mello não explicou a situação e nem foi gentil, mas, de alguma forma aconteceu de verdade.

Os dedos pálidos nos seus cabelos, os suspiros tímidos. Ele se mantinha com os olhos cerrados com força, mas Mello não se atreveu a fazer igual. Queria ver tudo, não perder nada, lembrar-se de cada momento depois. Isso, naquela hora. E, quando terminaram, as respirações estavam ofegantes, o susto pela intensidade fazia as omoplatas frágeis do menor tremer pelo ato. Talvez fosse algo bobo para qualquer outra pessoa, mas, para eles, foi diferente. Eram rivais até o momento, do tipo que não se suportavam mesmo! Bom, ao menos para o loiro.

Depois que acabou, ficaram ambos sem falas, mal conseguiam se encarar olho no olho. Tudo parecia estar fora do lugar. Mello passou o resto do dia irritadiço e incomunicável e Near... Near, depois de se recuperar do susto inicial, estava indiferente, como sempre. Não reclamou, não gritou, não se mostrou ofendido e indignado como deveria realmente se sentir. Apenas deixou o semblante limpo de quaisquer emoções.

O moleque parecia sempre um passo a frente em tudo e, mesmo assim, sempre tão calmo, tão indiferente às sensações que causava no outro. Era como se Mello nem valesse a pena para fazer algum esforço. Esforço para superar seu intelecto, para esquecer os abusos constantes que sofria nas mãos deste. E isso era irritante. Muito, muito irritante. Mesmo!

Ele olhava com frieza para tudo; para os próprios brinquedos idiotas – para quais ele parecia viver–, para as pessoas. E isso incomodava. Near era um gênio, um prodígio, mas, mesmo assim, uma criança. Crianças não deveriam ser tão frígidas. Fizeram o que fizeram e, parando para pensar nisso, Mello viu o quando dói.

Fechou os olhos e balançou a cabeça, como se isso o livrasse dos pensamentos incômodos e inconvenientes. Suspirou novamente. Parecia uma terrível piada de humor negro. Claro, inventou para Matt qualquer coisa. Algo como “eu não o encontrei” ou “não vale a pena”.

O idiota se sentia rendido, doente de remorso e de algo mais. Algo que doía mais ainda. Mas, não importava. Não queria descobrir o nome, desconfiava que essa merda não tivesse cura. Por enquanto, deveria viver na sombra e pela indiferença de Near. Talvez se curasse com o tempo, assim como todas as outras estúpidas doenças.

Pois a indiferença dói, dói e ponto.


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Notas finais do capítulo

Simples. Meus dedos coçavam para escrever algo sobre eles, são tão amor ♥ Digam o que acharam, por favor. Eu revisei bonitinho, se encontrarem erros, avisem. O final é tão diferente de mim... Sério. Enfim, espero que tenham gostado.