Castanho Avermelhado escrita por Miss Hope


Capítulo 5
Capítulo 05 — Suas Palavras na Minha Cabeça e Facas no Meu Coração


Notas iniciais do capítulo

"Eu sou só humana
E eu me despedaço e eu me quebro
Suas palavras na minha cabeça, facas no meu coração
Você me iludiu e então desmoronei
Porque eu sou só humana"
— Human, Christina Perri

LEIAM AS NOTAS FINAIS!
Boa Leitura!



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CASTANHO AVERMELHADO

Suas Palavras na Minha Cabeça e Facas no Meu Coração

by Miss Hope

.

― Vamos comemorar!

Foi uma voz ao fundo que pronunciou-se, envolvendo todos numa repentina e contagiante alegria, a qual sempre surgia quando o assunto era festa. Ou seja, todos acataram a maravilhosa sugestão do indivíduo não identificado.

Poderiam chamar do que quisessem, festa, comemoração, mas Lucy tinha um termo que, em sua cabeça, soava muito mais coerente com a cena que presenciava: cotidiano.

Aquilo era, simplesmente, típico.

Era divertido e tudo mais, fazia que todos os problemas desaparecessem – pelo menos por algumas horas – e eles não deixavam nada estragar o momento. Literalmente. O mundo poderia acabar, mas, se eles tivessem no meio de uma comemoração, não iriam se importar.

Riu do pensamento.

Todos falavam alto, riam e arranjavam algum motivo para colocarem os copos de cerveja para cima e brindarem alegremente. As pessoas simplesmente sentavam juntas numa mesa e arranjavam qualquer assunto, com qualquer um. Todos se davam muito bem ali, então não era surpresa que todos conseguissem manter uma conversa com qualquer outro da guilda.

Ouviu uma gritaria vinda do bar e avistou Cana Alberona no meio de uma roda de pessoas, todas com vários copos em frente a si. A morena não prendia-se a educação “a mesa”, virava com vontade um barril atrás do outro e, pelo que Lucy conseguiu concluir, estava quase ganhando a competição. Quem conseguia beber mais sem desmaiar ou entrar num possível coma alcoólico, vencia.

Estes sim agiam como se o mundo fosse acabar. Makarov confirmou isso para ela quando, depois de ser repreendido por Mirajane – que dizia que ele estava exagerando e devia dar o exemplo para os membros da guilda –, o velhinho simplesmente sorriu e disse que ele tinha é que aproveitar o momento, pois o mundo poderia acabar amanhã e ele não queria arrepender-se de não ter bebido o tanto quanto podia.

Claro que o comentário gerou uma careta bem feita por parte de Mira, mas ela não disse mais nada.

Viva la vida.

Sorriu torto com o pensamento debochado, tomando outro gole de sua cerveja.

Noutro canto da guilda, Levy McGarden aproveitava como podia sua “conversa” com Jet e Droy, claro que era na companhia de seu mais novo – e não oficial – parceiro: Gajeel Redfox. Ela sustentava um sorriso gentil no rosto para o que quer que seja que Jet falava descompassadamente, com Droy argumentando e contrapondo-o diversas vezes, mas o assunto simplesmente fazia uma veia saltar na testa do moreno de piercings.

Era um tanto engraçado a situação, afinal, por mais que não admitisse, Lucy sabia que Gajeel não gostava de dividir a atenção da maga azulada – ou baixinha, como ele mesmo apelidara – com ninguém, principalmente com Jet e Droy. Ela sabia disso somente por ter ouvido, sem querer, uma conversa entre ele e Lily, onde o exceed o acusava de ter expulsado os dois magos dum restaurante para que não almoçassem com eles três – Gajeel, Lily e Levy.

Todos estavam felizes com a comemoração.

Era mais do que óbvio que ela havia ficado surpresa quando Mirajane soltou a notícia de que Sting Eucliffe e Rogue Cheney ficariam na Fairy Tail, sem mais nem menos. Havia pensado nos possíveis motivos para tal situação acontecer, às vezes eles tinham alguma missão ali em Magnólia ou Sting e Makarov tinham algumas “coisas de Mestres” para resolver.

Tudo foi explicado quando, há uma meia hora, o mestre reuniu todos os magos da Fairy Tail, anunciando a chegada dos magos da Sabertooth – que ficariam no lugar de Laxus e o Raijinshuu, por conta da situação com o Conselho.

Makarov simplesmente apareceu no andar de cima na companhia de quatro magos: os Irmãos Gêmeos, Yukino Aguria e Rufus Lore.

Os quatro magos pareceram um pouco deslocados no começo de toda aquela baderna – típica – da guilda mais barulhenta – mais forte – de Fiore, mas, alguns minutos depois, alguém da guilda lhes oferecia um copo de bebida e começava uma conversa como se toda aquela rivalidade de meses atrás nunca houvesse existido.

Essa era a Fairy Tail, senhoras e senhores.

― Lucy-sama!

― Yukino-san!

As duas se abraçaram carinhosamente e não demorou nem cinco minutos para que as duas fossem entretidas numa conversa típicas de magas celestiais. Perguntavam uma a outra como estavam seus respectivos espíritos e as novidades de cada guilda.

― Yukino-san, fiquei surpresa em ver que voltou para a Sabertooth, depois de tudo...

O comentário vinha de Mirajane, ela e Kinana estavam conversando há algum tempo, ao lado das magas celestiais.

Claro que esse pensamento também era presente na cabeça de Lucy, mas ela não via o porque de perguntar tal coisa. Yukino sabia das decisões que tomava e, se ela estava feliz com essa, estava tudo bem, não havia porque de ficar questionando suas decisões. Apesar de tudo, não poderia negar que a curiosidade, em relação à resposta da albina, era grande.

Yukino sentiu as bochechas ficaram levemente vermelhas e sorriu timidamente.

― Apesar de tudo, sempre foi meu sonho entrar para a Sabertooth. Não havia porque de não tentar novamente. – respondeu cautelosa.

― É por isso, Yukino-san? – claro que outras três magas entenderam muito bem o sentido da pergunta de Mirajane Strauss, a casamenteira da Fairy Tail.

― S-sim! – a maga desviou os olhos por um instante, mas Lucy não conseguiu identificar o que ela estava procurando, só sabia que exibiu um sorriso que ficava entre o tímido e o entristecido. – Por que mais seria, Mirajane-sama?

A albina mais velha simplesmente deu de ombros, fazendo-se de desentendida.

― Tem sido maravilhoso. Todos me acolheram como verdadeiros companheiros. Desde que Sting-kun se tornou o mestre da guilda, as coisas estão muito diferentes, todos nós somos uma grande família agora. Como vocês. Como a Fairy Tail. – o sorriso no rosto de Yukino era contagiante, fazendo Lucy exibir um idêntico ao dela. – Rogue-kun me ajudou muito nesses primeiros meses. Ele é muito gentil comigo, não que os outros não sejam, mas ele e Sting-kun me ajudam bastante em tudo, afinal, somos um time agora. – disse sorridente.

Uma risada estridente cortou a conversa delas, fazendo Lucy desviar o olhar para uma das mesas no centro da guilda. Naquele momento, assistiu a uma cena que nunca imaginou que veria em toda sua vida: Natsu Dragneel conversava animadamente com Sting Eucliffe.

Ela precisou de alguns segundos para processar a informação e abaixar as sobrancelhas, mas soltou uma risada assim que deu-se conta daquilo. Era bem a cara de Natsu, para falar a verdade. Era claro que toda – nem toda – aquela rivalidade já havia se esvaído depois do rosado ter vencido a luta deles no Dai Matoo Enbu, quando ele sorriu para Sting e disse que eles deveriam lutar novamente. Pelo menos, da parte de Natsu.

Os dois magos estavam sentados em cima de uma das mesas, na companhias de seus respectivos exceeds, conversando e bebendo e, no momento, riam de algum motivo que mantinha Happy e Lector numa acirrada discussão.

Depois que Sting chegou com dois copos de cerveja e sentou-se aonde Natsu estava, os rapazes conversavam como se se conhecessem há anos. Era bem melhor isso do que se eles estivessem brigando e, no processo, colocando a guilda a baixo.

Não havia nem notado que Yukino, Lisanna e Mirajane já haviam ingressado em outra conversa, mais animada do que a anterior, mas que, ainda sim, deixava a albina encabulada e com as bochechas vermelhas. Não. Lucy estava mais ocupada cogitando, por um segundo, se Erza havia ouvido seus pensamentos ou se ela simplesmente estava atenta as ações dos dois Dragon Slayers, já que, no segundo que as provocações de um para com o outro tornaram-se um pouco mais intensas e eles resolveram se levantar – Natsu com os punhos em chamas – para, provavelmente, começar uma luta. A qual nunca aconteceu, graças a ruiva.

A maga apareceu do nada ao lado deles e bateu a cabeça de ambos uma na outra, perguntando se eles estavam brigando. Claro que o “efeito Erza” foi imediato, fazendo com que os rapazes abraçarem-se e dizerem que estavam comemorando a vinda de Sting para a guilda.

No segundo seguinte, a ruiva tinha algumas lágrimas nos olhos e um sorriso no rosto.

― A amizade de vocês me emociona, meninos. – disse secando as “lágrimas de emoção”. – GRAY! – gritou apontado uma espada para o mago nu, que estava de pé numa mesa e era agarrado pela cintura por Juvia, que tinha os olhos em forma de corações e gritava “Gray-sama!”.

A cena se passava na mesma mesa em que Romeo Conbolt e Wendy Marvel estavam sentados, na companhia de Carla e Frosch. O menino tampava os olhos da azulada, que estava mais vermelha que um tomate maduro, e Carla repreendia Gray, dizendo que era uma falta de educação ele ficar naquele estado na frente de uma dama como ela. Frosch assistia tudo sem entender muita coisa, dizendo que concordava com Carla e tinha um olhar perdido e um sorriso em seu pequenino rosto.

A presença de Frosch ali, fez com que Lucy recordasse das palavras de Yukino. O olhar perdido da maga loira denunciava que estava perdida nos pensamentos e estes eram ao que poderia representar o que Yukino acabara de dizer sobre sua situação na Sabertooth. Mesmo que quisesse dizer para si mesma que não havia nenhum duplo sentido naquela simples frase, seu subconsciente sempre a fazia interpretar as coisas de diversas maneiras, para que ela não se surpreende-se com qualquer coisa que acontecesse naquela noite ou em qualquer outro dia.

Seu olhar passeou pela guilda, procurando os cabelos ébanos tão conhecidos por ela, mas é claro que não os encontrou. Ele não deixaria Frosch sozinho caso estivesse ali e Sting não o deixaria sozinho. Era um ciclo constante de convivência entre eles, sempre juntos.

― Não acha Lucy? – ouviu Lisanna perguntar-lhe algo e simplesmente acenou.

― Tudo bem, Lucy-sama? – sentiu a mão de Yukino em seu ombro e, quando virou para olhá-la, um olhar preocupado investigava o rosto da loira.

Hai. – suspirou. – Só preciso de ar puro.

― Não quer companhia? – perguntou a outra, educadamente.

Lucy sorriu e negou. Tudo que precisava agora, era ficar sozinha.

O céu estrelado era sua única companhia.

Caminhava lentamente, deixando que o vento gelado roçasse-lhe a pele, arrepiando seus pelos e bagunçando seus cabelos. Estava consideravelmente frio comparado ao dia quente que havia sido. Mudanças climáticas nunca fora seu forte, de qualquer maneira.

Olhava para todos os lados, mas para nada específico.

Os pensamentos lhe consumiam, como sempre. Precisar de ar puro era, na verdade, somente uma desculpa para sair daquele ambiente e impedir que mais pensamentos entrassem em sua mente já cheia. Todos os que atormentavam-na já eram suficiente para uma noite.

Tanto conhecia as ruas de Magnólia que nem ao menos prestava atenção no caminho que fazia. Os pés moviam-se sozinhos, os braços balançavam com o vento e a cabeça estava levantada enquanto observava o céu. Não haviam muitas pessoas nas ruas, a maioria estavam jantando, em suas casas ou restaurantes; e as que ali estavam, não prestavam muita atenção nela. Estava perdida em seu próprio mundo.

Parou assim que chegou no meio da ponte, avistando seu apartamento. Não queria ir para casa ainda, mas não queria voltar para a guilda. Sendo assim, subiu na borda e passou uma das pernas para o outro lado, sentando-se da maneira que conseguia e olhando seu reflexo.

Se fosse há alguns meses, não reconheceria a feição entristecida que habitava seu rosto naquele momento. Seus olhos denunciando os pensamentos turbulentos, a boca entre aberta deixando suspiros consecutivos e pesarosos escapar por eles, as bochechas mais rosadas por conta do frio e o nariz começando a ficar vermelho pelo leve lacrimejar que tinha nos olhos.

“Rogue-kun me ajudou muito nesses primeiros meses.”

No fundo, sabia que não havia nada demais ali. Era uma atitude costumeira entre membros de guildas, ajudar um ao outro. Era normal ela estar grata por isso e, até mesmo, feliz. O que realmente gerou um incômodo em seu peito fora a forma terna que ela pronunciou aquilo, fazendo um arrepio passar por sua espinha.

Outro suspiro.

― O que está fazendo aqui sozinha?

Assustando-se com o comentário repentino, tombou para o lado, perdendo o equilíbrio. Quando sentiu-se escorregando para o lado do rio, fechou os olhos fortemente, esperando o baque entre seu corpo e a água gelada, teria sorte se não ficasse doente.

Maior fora sua surpresa quando duas mãos agarraram seus pulsos e, puxando-a para cima, seguraram-na pela cintura quando passaram-na por cima do muro, colocando-a no chão logo em seguida.

Soltou a respiração que nem notou prendia quando seus pés encostaram o chão novamente. Estava tão distraída observando a si mesma e perdida nos pensamentos que nem ao menos notou que alguém havia se aproximado.

Ela sabia, porém, quem era no segundo em que ouviu aquela voz. Era tão distinta que reconheceria em qualquer lugar e a qualquer momento. Rouca. Serena. Profunda. Causava-lhe um arrepio na base da espinha e fazia seu coração parecer que disputava uma maratona.

― Estou bem. Estou bem. – disse apressadamente quando ele segurou-a pelos ombros e analisou-a de cima a baixo, procurando qualquer coisa fora do comum.

O rapaz soltou um suspiro curto, mais parecia um rosnado.

Arigatō. – sem resposta.

Lucy abaixou o rosto, seus pés pareciam muito interessantes naquele momento. Passou as mãos pelos cabelos, arrumando-os. Sabia que ele não estava bravo nem nada disso, mas sua presença, por si só, era intimidadora.

Rogue era, no mínimo, uma cabeça maior do que ela, o corpo trabalhado escondia-se por baixo das vestes negras, que deixavam apenas os braços fortes expostos. A marca da Sabertooth em seu braço esquerdo destacava-se na pele clara, assim como os traços másculos de seu rosto, os lábios finos e os olhos fechados completavam a feição de indiferença que ele sempre tinha. O cabelo ébano cobria seu olho direito e deixava-o ainda mais bonito.

As mãos dela suavam frio, somente por analisa-lo. Não lembrava-se de reparar tanto assim nas pessoas, mas fora inevitável. Fazia tanto tempo que não o via, queria deixar a imagem gravada em sua cabeça.

― O que está fazendo?

Ali estava novamente aquela voz rouca e serena, sentiu uma pontada de divertimento nela, mas não colocaria isso em questão, sabia que ele negaria. Também sabia que ele tinha pego-a observando-o, não tinha porque negar, mas sempre fora teimosa.

― Nada. – sua voz saiu mais baixa do que queria.

Ouviu-o suspirar e voltou a olhá-lo.

Estava debruçado sob o murinho da ponte, apoiando-se nos cotovelos, olhando para frente, mas nenhum ponto específico. A indiferença no rosto dele não lhe deixava saber sobre o que estava pensando ou se estava pensando em alguma coisa ao invés de apenas apreciar a vista.

Mordeu o lábio inferior quando notou-o olhando-a de canto. Sabia que parecia uma idiota, parada no meio da ponte, olhando-o descaradamente. Respirou fundo e aproximou-se do murinho, apoiando-se com as mãos ao invés dos cotovelos.

Aquele silêncio estranho instalou-se entre eles.

Por mais tempo que houvesse passado, agora ela percebia o quão conhecida era a sensação de tê-lo por perto. Era agradável e incômoda ao mesmo tempo. Fazia seu coração acelerar e era difícil acalmar os nervos. Fazia-a pensar duas vezes sobre tudo que faria ou falaria, pensando em como seria aquilo do ponto de vista dele, afinal não queria parecer uma idiota.

― Obrigado. – ele disse de repente. O olhar de dúvida dela foi o suficiente para que ele se explicasse. – Por cuidar de Frosch.

― Não tem de que. – disse sorrindo. – Ele é uma graça.

― Ele gosta de você.

O sorriso de Lucy aumentou um pouco mais. Era estranho tê-lo falando “normalmente” com ela, aquilo era o mais próximo de uma conversa que haviam chegado nos últimos meses. Na maioria das vezes que se “trombavam por aí”, ele simplesmente cumprimentava-a e continuava andando. Era frustrante.

― Não tem um lugar para estar?

O quase meio sorriso no rosto dele fez com que as sobrancelhas dela levantarem-se mais do que o fizeram quando ouviu a pergunta. Era como se ele estivesse a expulsando dali. Ou melhor, ele estava, indiretamente, é claro, pois ele era muito educado para fazê-lo diretamente.

― Provavelmente. – respondeu simplesmente. Não lhe devia satisfações e não o faria.

Ouviu uma risada abafada.

O sorriso que expôs desapareceu tão rápido quanto veio. Ele lembrava-se do jeito teimoso da garota, se divertia com isso, não que fosse dizer isso a ela ou aos sete ventos. Era uma das – muitas – coisas que guardava para si mesmo. Era estranho estar perto dela novamente. Lembrava-se da confusão que ela causava em seus pensamentos, mas achou já ter superado aquilo.

Balançou a cabeça.

Sentia-se uma criança. Sem saber o que fazer. Não conseguia nem ao menos conversar normalmente com ela.

Era vergonhoso.

― E você?

― Como?

― Não tem algum lugar para estar?

Lucy surpreendeu-se quando ele lhe dirigiu o olhar. Os olhos avermelhados estavam inexpressivas, contrastando com o meio sorriso que ele exibia. Claro que achou engraçado o que ela falou, já havia lhe dito que achava divertido quando ela lhe copiava. Não conseguiu impedir a coloração avermelhada que surgiu em suas bochechas, fazendo o sorriso dele aumentar minimamente.

― Não me interesso por comemorações. – disse depois de alguns segundos observando-a.

Aquela frase fez com que Lucy engolisse em seco.

“Não me interesso por comemorações.”

É engraçado como uma única e simples frase, falada em qualquer contexto que seja, pode trazer tantas memórias à tona. Deu uma risada seca assim que percebeu o quão inusitadamente conhecida aquela mesma situação era. Poderia até mesmo dizer que eles estavam encenando uma cena do passado, mas não disse, recusou-se a pensar naquilo, não precisava estragar outra noite de comemorações.

― Eu me lembro. – disse secamente. – Muito barulho, correto?

― Exatamente. – respondeu seco, mantendo o olhar duro que ela lhe lançou.

“Ele é muito gentil comigo."

Lucy podia afirmar com todas as letras que o lado gentil dele, era o que ela mais gostava. Era um lado praticamente exclusivo para aqueles que o presenciavam. Surgia de vez em quando, principalmente quando ninguém estava por perto. É um lado dele que todos viam quando estava com Frosch.

“Gentileza é para poucos, Lucy-san. Acredito que todos merecem minha educação, desde que me deem o mesmo em troca, porém minha gentileza eu reservo para aqueles que a conquistam. Lembre-se disso.”

Mordeu o lábio inferior, fechando os olhos.

Sua consciência gritava as palavras dele em sua cabeça.

Gentileza é para poucos.

Ele não era gentil com ela, não mais. E, se isso estava acontecendo, era culpa dela e de mais ninguém. Nem mesmo dele. Era, simplesmente, uma defesa dele contra ela, a mesma sabia disso, lembrava-se disso, mas também sabia que ele fazia aquilo de propósito, pois sabia que ela se lembrava. Sabia que ela se lembrava que ela conseguiu perdê-lo – e, consigo, sua gentileza – numa só noite. Numa noite de comemorações como essa. Numa ponte como essa. Numa conversa como essa.

― Natsu deve estar te procurando. – ele disse sem desviar o olhar. O tom áspero quando mencionou seu melhor amigo não passou despercebido e ela não conseguiu ficar sem revirar os olhos.

Se Natsu estivesse me procurando, já teria me encontrado. – sorriu, recebendo uma virada de rosto por parte do moreno.

― Entendo. Tão eficiente.

― Já você é um ótimo companheiro de guilda, não é mesmo?

Recebeu somente o silêncio como resposta.

― Yukino está muito grata por sua ajuda ness–

― Ela é minha parceira de time. – cortou-a, sem paciência para esse tipo de conversa. – Creio que conheça muito bem esse tipo de relação. – disse, esperando que o tom acusatório ter saído tão nítido quanto ele achou que tinha.

“Sabe, não tem necessidade de tudo isso. Somos parceiros de time, só isso...”

― Perfeitamente.

Fez-se o silêncio novamente. Ambos odiavam aquele silêncio na mesma intensidade. Ficavam pensando no que poderiam falar, se deveriam se desculpar ou simplesmente sair andando como se nada tivesse acontecido.

Ela não entendia o que lhe dava que ficava daquela forma, respondendo de forma seca as pessoas, utilizando ironia e sentindo uma queimação dentro do peito em apenas falar daquilo. Eles não eram assim. Estavam agindo de maneira infantil. Principalmente ela.

― Como chegamos a isso? – sussurrou mais para si mesma do que para ele.

Rogue fechou os olhos com força quando ouviu-a proferir aquilo. Perguntava-se a mesma coisa, querendo entender aonde foi que eles erraram para tratarem-se daquela forma. Costumavam a se entender e não ficar gerando uma briga por qualquer motivo bobo. Não sabia quem estava sendo mais irracional, se era ele ou ela. Ambos eram idiotas por agir daquela forma, mas era simplesmente impossível não se irritar ao conversar sobre aquelas coisas, não conseguia se controlar e, quando via, já tinha proferido seus pensamentos.

Sentiu o olhar dela sobre si, mas não conseguia olhá-la nos olhos e continuar com a pose de indiferença e feição inexpressiva. Não conseguia agir daquela maneira quando o assunto era aquele, gostaria, mas não conseguia. Franziu as sobrancelhas percebendo que seus pensamentos quase não faziam sentido de tão contrapostos que eram.

― Deveria voltar, Lucy.

Uma batida em seu peito falhou quando seu nome passou por entre os lábios dele, sentiu o corpo todo se arrepiar e o ar escapar dos pulmões. Não havia aquela rispidez e frieza que ouvira há poucos minutos. Sua voz rouca soava terna, quase carinhosa. Não conseguia ter certeza se aquela era a intenção, já que ele olhava para o rio e sua franja cobria-lhe o rosto.

― Já devem estar sentindo sua falta. – ele proferiu tão baixo que ela mau lhe ouviu.

Repentinamente, ele levantou-se, jogando a cabeça para trás e suspirando, como se tivesse tido uma conversa com as estrelas e não quisesse admitir que elas estavam certas; passou a mão pelos cotovelos e depois pelos cabelos, balançando a cabeça em seguida. Lucy, que observava atentamente seus movimentos, não ficou surpresa quando ele deus alguns passos para longe dela, na direção contrária da Fairy Tail.

― Então é assim? – proferiu não conseguindo se controlar. – Vai fugir de mim?

Ele olhou por cima dos ombros, podendo ver os olhos levemente marejados dela, fechando os seus quando sentiu um aperto no peito. Detestava vê-la chorar, muito quando sabia o motivo e não podia fazer nada a respeito, mas principalmente quando era o motivo.

― Não sei do que está falando.

― Não se faça de desentendido. – disse, dando alguns passos na direção dele. – Não pra mim.

Jogou a cabeça para trás, arrependendo-se de ter ido até ali, em primeiro lugar. Seu subconsciente lhe avisou que as coisas não terminariam de maneira simples, mas não! Ele precisava ser o mesmo cabeça dura de sempre e insistir naquilo. Em insistir em algo que sabia que só traria mágoas do passado à tona, principalmente para ela.

― Você sabe... Eu... – ele parou de falar assim que olhou para um ponto atrás dela, franzindo as sobrancelhas. – Você sabe que eu não posso lhe dizer o que quer ouvir.

As palavras dele repetiram-se algumas vezes em sua cabeça, ela queria protestar – e até chegou a abrir e fechar a boca algumas vezes – só que não tinha o que falar e nem mesmo tinha forças para isso, pois sentia como se tivesse facas em seu coração.

― Eu sinto muito, Lucy.

― Eu também. – sussurrou, desviando o olhar das orbes vermelhas.

Desviou o olhar das orbes vermelhas, desejando não ter insistido naquilo, desejando que aquela conversa não tivesse acontecido, por mais que, por outro lado, desejasse que tivessem terminado aquela simples conversa com outras palavras.

― LUCY! – ouviu uma voz ao fundo chama-la, atraindo sua atenção para a figura mais ou menos distante de Natsu. Ele vinha correndo em sua direção, com um sorriso contagiante no rosto.

Ela desviou o olhar para o rapaz que a pouco conversava consigo, mas somente viu sua silhueta ao longe, seguindo seu caminho para longe dela, sem olhar para trás.

― O que está fazendo aqui sozinha? – perguntou Natsu assim que parou a alguns centímetros dela, olhando para os lados, procurando alguém.

― Só precisava de ar puro. Pensar um pouco. – disse dando de ombros.

― Conseguiu? – perguntou o rapaz, sorrindo debochado. Ele nunca entendeu essa necessidade dela de sair por aí somente para pensar, já que isso era possível fazer em qualquer lugar.

Ela somente riu da pergunta e negou, recebendo um sorriso torto dele, que deu de ombros em seguida, seus cabelos sendo bagunçados pelo vento gelado, que fez os pelos da loira se arrepiarem e ela abraçar-se.

― Vamos. Eu estou congelando. – disse, recebendo uma calorosa risada em resposta.

O rosado ergueu uma das sobrancelhas e riu, retirando o cachecol e enrolando-o no pescoço da amiga em seguida, que lhe agradeceu, estranhando o ato do rosado – já que ele nunca tirava a peça para nada. Ela enganchou seu braço no dele e os dois andaram calmamente rumo a barulhenta Fairy Tail.

O pensamento de que eles nunca andavam em direção um ao outro, lhe invadiu repentinamente, junto com a sensação de vazio no peito. Era percebeu que, novamente, eles terminavam uma noite de comemorações andando em direções contrárias.

Olhando de relance por cima do ombro, ela percebeu que não havia nada nem ninguém ali, nem ao menos parecia que em algum momento houvera. Parecia que nada, absolutamente nada, havia acontecido.

“Você sabe que eu não posso lhe dizer o que quer ouvir.”


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Notas finais do capítulo

Para ficar fixo na memória → Os membros da Saber são:
♠ Sting Eucliffe (novo mestre da Sabertooth)
♠ Rogue Cheney
♠ Yukino Aguria
♠ Rufus Lore

Olá meus amores. Como vocês estão?
Well, well...
O que acharam do capítulo?
Fiz ele mais longo sim e espero que não se incomodem em ler bastante, pois será mais ou menos assim os próximos. O que acharam dessa parte da Lucy e do Rogue, mudei um pouco a personalidade da Lucy perto dele, mas espero que tenham gostado dela dessa forma. Notaram que já anunciei todos os casais que vão aparecer no decorrer da fanfic? Se não notaram, voltem e leiam direito porque eu garanto que vocês vão encontrar.

Bom... Agora eu tenho um anuncio a fazer pra vocês:
Esse é o último capítulo de C.A. nesse ano! Eu voltarei com novos capítulos somente em 2015.
Nesses últimos dias de 2014 vou me dedicar a minhas outras fanfics, para poder começar a postá-las e também farei dois especiais de Natal. Espero que vocês leiam, eu ficaria muito feliz em receber comentários de leitores de C.A. em minhas outras fanfics!

Então, que queria desejar:
FELIZ NATAL & FELIZ ANO NOVO PARA TODOS VOCÊS! Que 2015 seja tão bom ou melhor do que foi 2014.
Fiquem com deus, leiam as minhas outras fanfics, mandem comentários, favoritem e recomendem! Me mandem MP se quiserem conversar, enfim... Entenderam, né? Vou sentir a falta de vocês nesses dias.
Obrigado por terem me apoiado nesse fim de ano e ainda tem muito pra vir ano que vem!
Eu amo muito vocês, pessoal!
Um beijo no coração...

... Au Revoir ♡♡♡



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