Ela está ignorando o que aconteceu entre nós, pensou Jaime, irritado. Nunca fui rejeitado na vida. Bastava um olhar sedutor, e todas as donzelas molhavam o vestido por mim. Principalmente Cersei.

Ficou um tempo na sala, sentado, fitando a sopa pela metade de Brienne. Então, uma voz interrompeu seus pensamentos.

– Jaime?

O cavaleiro avistou um homem que parecia muito com Renly, poderia ser seu filho... Se ele não fosse gay. Olhou bem para o rosto do mesmo, sem dizer uma palavra. É bastardo de Robert, percebeu.

– O próprio. - Respondeu em tom zombeteiro. Esse rapaz havia dito para Jaime e Brienne não roubarem nada enquanto estivessem a sós, e disse de um modo nada cavalheiresco.

– A mulher vermelha está marchando para a estalagem, deve chegar daqui a uma quinzena. Ela quer ver o Azor Ahai encarnado com seus próprios olhos.

– Quem diabos é mulher vermelha? - Perguntou Jaime ao bastardo de Robert, confuso. - Vocês realmente acreditam nesta baboseira?

Viu o garoto franzir as sobrancelhas. Esse aí é mais fácil de ser provocado que a Brienne, abafou um riso.

– Estou só te informando que você vai ficar e esperá-la.

– Me informando? Me obrigando, você quer dizer?

– Sim.

– Qual o seu nome, rapaz?

O garoto demorou alguns instantes para responder, desconfiado:

– Gendry.

– Olhe, Gendry, eu sou um homem livre, fico e vou aonde eu quiser. E tenho uma missão para cumprir. Pergunte à Senhora Coração de Pedra, se quiser. - Abriu um sorriso ironico.

– Minhas ordens foram para te dizer que você precisa ficar na estalagem, a Melisandre viu o seu duelo com a Senhora Brienne nas chamas e enviou um corvo para nós que chegou hoje. Ela está a caminho para conhecer Azor Ahai, e essa é uma vontade do Senhor da Luz. E você vai ficar aqui.

Toda essa conversa de duelo nas chamas, Senhor da Luz e Azor Ahai fez Jaime gargalhar involuntariamente.

– E você que vai me impedir de ir embora, é isso?

Analisou o rapaz. Cara de mau, ombros e braços fortes. Não sabia se venceria ele em uma luta justa. Mas poderia derrubá-lo e fugir. Brienne pode vencê-lo. Preciso dela.

Gendry chegou mais perto de Jaime, com o rosto carrancudo. O leão de Lannister se levantou de imediato e o encarou, sem hesitar.

– É. - o rapaz respondeu e, antes que pudesse tentar alguma coisa, Jaime o estapeou com a mão de ouro com toda a força que pôde encontrar no momento. E era muita.

Gendry se surpreendeu e revidou, dando um soco no maxilar do Lannister. A dor o fez perder os sentidos, mas só por alguns segundos, o que fez com que o rapaz lhe desse um soco na barriga.

Jaime colocou o pé atrás do rapaz, o mesmo tropeçou e caiu. O Lannister viu uma vantagem, e se jogou em cima dele, dando mais tapas com a mão de ouro. O nariz do bastardo de Robert já estava sangrando e ele parecia perder os sentidos. Bateu nele com toda a raiva do mundo, pensando em tudo que já passou: Aerys gritando "queime todos", Jaime enfiando a espada nas costas do Rei, sendo desprezado por todos, "Regicida", conseguia ouvir as vozes em sua mente. "Crimes impossíveis de se perdoar, Regicida.", ouvia Brienne dizer. "Socorro! O Regicida!". "Ele nos viu!", podia ouvir Cersei gritando. "Coisas que faço por amor". Lembrou de Cersei sendo apalpada por Robert em sua frente, e de todas as brigas e rejeições da irmã depois que Jaime voltou para casa com apenas uma mão. "Você me abandonou", conseguiu ouvi-la dizer. Lembrou-se da dor que sentiu ao perder a mão. A mesma mão da qual usara para matar Aerys, empurrar o menino Bran pela janela, e deixar sua irmã molhada. Lembrou-se da adrenalina que sentiu ao salvar Brienne do urso. "Regicida?" Brienne perguntou, estupefata, quando ele foi salvá-la. "Jaime", a corrigiu. Lembrou-se gritando "safiras" para não estuprarem a pobre donzela de Tarth.

Quando se deu por si, Gendry já estava apagado. Sentiu um embrulho no estômago. Seu rosto estava cheio de hematomas, e muito ensanguentado. Espero que não o tenha matado, engoliu em seco. Preciso sair daqui.

Se levantou desajeitado, e correu para o quarto que sabia que era o de Brienne. Escancarou a porta, e viu que a garota estava concentrada em uma carta, mas quando ouviu a porta abrir, se alarmou e escancarou seus olhos cor de safira. Quando viu que era Jaime, pareceu relaxar um pouco.

– Precisamos sair daqui agora. - Jaime disse, e Brienne nada perguntou, apenas dobrou o papel em sua mão.

– Procure Podrik e me encontre nos estábulos. Vou mandar um corvo para Tarth.

Jaime assentiu com a cabeça e saiu em busca do menino, sem olhar para trás.

Encontrou Podrik justamente nos estábulos. Que conveniente, pensou, se divertindo. Ele estava escovando um dos cavalos.

– Podrik, escolha três cavalos. Eu, você e a Senhora Brienne partimos hoje. Te levaremos para o navio.

– Está tudo bem com minha Senhora? Por que ela não está aqui?

Jaime conseguiu sentir um pouco de desprezo na voz do rapaz. Ele está com raiva de mim pois matei Brienne.

– Ela está bem, me disse para te encontrar aqui, vamos ficar à sua espera.

Podrik apenas assentiu, parecia não querer falar muito com o Lannister. Para ele, além de Regicida, matei uma mulher de honra. Mas estou tão feliz quanto ele por Brienne ter ressuscitado.

Ajudou ele a preparar três cavalos e ficou esperando ansiosamente pela donzela de Tarth.