Opostos escrita por Bellice


Capítulo 2
A Prova.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! ENEM estava me deixando louca! Haha
Boa leitura ;]



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Capítulo II – A Prova

“A matemática é a única ciência exata em que nunca se sabe do que se está a falar nem se aquilo que se diz é verdadeiro.”

Bertrand Russell

–Certo. O que você quer comer? Provavelmente não deve ter comida na sua casa porque Rose está trabalhando e Emm também.

–Eu quero um Mc lanche feliz! Pode ser, tia Bella? Por favorzinho! Assim, olha, eu prometo me comportar bem! Por favorzinho!

–Tudo bem. –Dei de ombros. O professor neurótico dela já tinha me atrasado demais, de qualquer maneira. Era melhor matar a aula de hoje de uma vez. –Vamos ao shopping aqui pertinho, Claire. –Concordei, enquanto segurava a mão de minha sobrinha com um pouco mais de força para atravessarmos a rua. Estava complicado. Eu com certeza não tinha jeito para ser mãe, pois levar um guarda-chuva, uma bolsa, cadernos, mais uma criança pela mão com uma mochila roxa gritante realmente não era algo que eu sabia lidar muito bem, mas Claire, felizmente, não parecia se importar com minha visível falta de jeito com ela.

–Eba! Eu amo você, tia Bella! Você é a melhor tia do mundo inteirinho! –Assim que entramos no shopping, eu consegui fechar o guarda-chuva numa sacola plástica que eu sempre carregava na bolsa. Claire me abraçou do jeito que pôde, passando seus bracinhos pequenos ao redor da minha cintura, mostrando o quanto ela estava feliz por eu estar levando-a para comer porcarias. Eu ri. Eu era uma desajeitada, mas ainda conseguia fazer minha sobrinha feliz, afinal. E ela me amava, era incrível. Era a única pessoa da minha família que não reprovava minhas decisões, que não achava tudo que eu fazia uma merda sem importância. Claire me dava um apoio enorme, uma vontade gigantesca de continuar, mesmo que ela não soubesse disso.

Um dia, quando ela fosse um pouco maior e entendesse mais da vida, eu contaria a ela tudo isso. Um dia, não hoje. Hoje eu só queria comer porcarias e ganhar um brinquedinho sem graça junto com a minha sobrinha naquele lanche do Mc Donald’s.

(...)

Nós chegamos na casa de Rosalie no meio da tarde. Eu estava cheia, e desconfiava que Claire também. Depois do Mc Lanche Feliz, nós decidimos que precisávamos de uma sobremesa, então compramos dois pretzels enormes, cobertos de chocolate. Ah, minha irmã me mataria quando descobrisse. Ela era meio paranoica por coisas saudáveis e detestava porcarias. Bem, talvez ela não descobrisse, visto que a casa ainda estava silenciosa. Isso! Barra limpa para mim.

–Tudo bem, Claire. Tome um banho rápido, ponha uma roupa confortável, pois eu tenho que te ensinar matemática, lembra? –Sorri para a minha sobrinha. Quem se importava se eu não sabia nem quanto eram dois mais dois? Eu não daria o braço a torcer para aquele professor sabe-tudo. Não deveria ser tão difícil a matéria de uma criança de oito anos, pelo amor de Deus!

–Você, tia? Mas você só vai me confundir mais! Quem sabe quando o papai chegar eu possa pedir a ele... –Nem no inferno. Claire aprenderia matemática graças a mim, eu mostraria a todos que eu tinha feito algo de útil e aquele professor lindo de quinta categoria calaria a sua boca perfeita antes de vir com pré-conceitos para cima de mim.

–Não. Vamos, Claire. Eu vou ajudar você, certo? Rápido!

Meio relutante, minha pequena subiu a escada às pressas e foi para o banho. Eu coloquei minhas tralhas em cima da mesa e, logo depois, segui para a sala de estar. Acho que era o cômodo mais legal da casa da minha irmã e de meu cunhado. As paredes eram escuras na medida certa, havia dois sofás enormes e fofos no ambiente, uma televisão, uma estante super organizada repleta de livros e quadros, muitos quadros. Não quadros com pinturas, mas com fotos da família ampliadas. Eu amava aqueles quadros.

O primeiro deles era Rosalie, no dia da sua formatura, com nossa mãe. Mamãe tinha os olhos marejados e expressava um sorriso orgulhoso enquanto posava para a fotografia. Ela nunca sorrira daquele jeito para mim, nunca me olhara orgulhosa. Não. Tudo o que eu recebi foi o oposto, principalmente quando eu disse que não seguiria Medicina, muito menos o Direito.

–Eu sempre desconfiei, Isabella. Rosalie sempre foi tão parecida comigo, desde pequena. Tão cheia de vida, tão inteligente, extrovertida! Você, não. Você puxou ao idiota do seu pai em todos os aspectos, não é mesmo? Eu só desperdicei meu dinheiro e tempo com você. Letras, Isabella? Para quê? Para dar aulas por qualquer dinheiro, sem nunca ter o reconhecimento certo? Para ser um nada como seu pai foi? Saia da minha casa! Eu não quero filha fracassada aqui! Saia!

Aquelas palavras que ouvi naquele dia que eu decidi seguir o meu sonho e não os de minha mãe ainda doíam. Doíam muito, porque eu sempre fiz de tudo para ser a filha que ela merecia ter. Eu sempre tentei ser que nem Rose por quase toda a minha infância até a adolescência para agradá-la: minha irmã ia à festas, à bailes, era popular, era amiga de todo mundo... Porém, por mais que eu me esforçasse para fazer o mesmo, simplesmente não dava certo. Não era o que eu queria, não era como eu agia. Eu não gostava de festas, eu gostava de ficar em casa, ouvindo uma música baixinha enquanto lia um bom livro. Eu não tinha facilidade para conversar com todos, não mesmo. Eu e Rose éramos completamente diferentes, e todos sabiam disso, todos pareciam aceitar isso. Menos minha mãe.

Tudo bem, por mais que doesse, por mais que eu ainda tentasse agradar minha mãe sendo uma boa filha dentro do possível, por mais que eu me esforçasse ao máximo para não decepcionar Rose com Claire, não era o suficiente. Minha mãe havia desistido de mim, eu era ignorada por ela sempre desde que saí de casa. Rose ainda conversava comigo, ainda convivíamos, mas eu sabia que ela não entendia o caminho que eu estava seguindo. Quer dizer, era fácil para ela. Ela quis o que mamãe quis, e só teve amor e aprovação, mas nunca se colocou em minha posição realmente. Então, não tinha como ela compreender. Ela era a cópia fiel da minha mãe, enquanto eu tinha muito mais de meu pai.

Meu pai. Eu sentia saudades dele. Ele morrera quando eu ainda era pequena. Teve um ataque cardíaco muito jovem e os médicos não puderam fazer nada por ele. Era um homem bom, eu lembro, mesmo que minha mãe fale dele com tanto ódio. Ele era professor em uma escola pública daqui, dedicava sua vida aos seus alunos e às suas filhas, eu e Rose, mas isso não parecia o suficiente para minha mãe. Ela simplesmente odiava o fato de não ter muito dinheiro para gastar por aí. Ela odiava ter casado tão nova por uma imposição dos pais apenas por que estava grávida. Não era a vida que ela tinha planejado, mas foi a vida que ocorreu. E ela descontava nele, depositou seus antigos sonhos em mim e Rose e, por fim, quando eu não concordei, redirecionou seu ódio para mim, já que meu pai se fora e, consequentemente, nunca voltaria. Eu imagino que tudo seria diferente se ele ainda estivesse vivo. Talvez, não, com certeza ele me daria apoio para seguir meus sonhos, independentemente de quais fossem. Entretanto, ele não estava vivo, ele não me daria apoio. E eu tinha que seguir em frente do mesmo modo, não é? Aquele lance todo de lidar com as consequências de nossas escolhas e tudo o mais.

–Tia, pronta! Quer mesmo me ajudar a estudar matemática? –Claire livrou-me dos meus pensamentos, e eu sorri para ela. Eu adorava aquela menina. Demais!

–Sim, amor. Vamos ver o aquele seu professor idiota está dando para você que é tão difícil de aprender.

Sentamos à mesa e Claire me passou seu caderno. Eu franzi o cenho para os números que eu via. Meu Deus, aquilo era uma letra no meio dos números? Sim, era. Um X. Ah, aquilo deveria ser uma equação de primeiro grau. Disso eu me lembrava, mas como resolver? Eu não fazia a mínima ideia.

Então, não querendo dar o braço a torcer, recorri para o meu melhor amigo: o Google. Ele deveria saber como resolver uma equação de primeiro grau! Tirei meu notebook da bolsa e o liguei rapidamente. Claire me observava com um sorriso travesso em seus lábios, e eu olhei para ela sem entender nada.

–Ora, o que é tão engraçado, pequena? –Ela finalmente soltou sua gargalhada infantil e eu sorri ouvindo aquele som.

–Você é teimosa que nem o professor Edward, sabe? Ele nunca quer admitir que não sabe fazer alguma coisa, ou que está errada.

–Por favor, Claire. Eu não tenho nada em comum com aquele homem! Somos completamente opostos! A começar pelo fato dele gostar desses números que não fazem o menor sentido!

Imediatamente, o rosto do tal professor veio à minha mente. Certo, ele era um chato das exatas, mas eu não podia negar que era um homem muito bonito. Lindo pra caralho, puta que pariu! Acho que eu nunca havia me sentindo tão atraída por alguém como me senti por ele hoje mais cedo... Porém, isso não vinha ao caso. Ele era o professor da minha pequena, e nós nunca mais iríamos nos encontrar. Eu mandaria o bendito guarda-chuva para Claire e tudo voltaria ao normal. Quer dizer, ele estava brincando comigo quando disse que eu poderia levar o objeto pessoalmente, não é? Não havia motivos para aquilo. Talvez ele apenas quisesse debochar de mim por amar as humanas, como minha mãe, Rose, e o mundo todo pareciam fazer. Normal.

–Tia! Qual é? Você vai me ensinar essa merda hoje, ou não? Eu tenho prova com o professor Edward amanhã!

Certo, eu tinha que ensinar matemática à minha sobrinha, ela tinha prova amanhã. Espera! Prova? Amanhã? Ah. Meu. Deus.

–Claire! Você não me disse que tinha prova amanhã! Está em cima da hora! Por que diabos você não me disse isso antes? Puta que pariu, estamos ferradas! E olha a palavra feia! –Reprendi.

–Eu falei merda, mas você falou duas coisas bem mais feias, tia! Relaxa, eu não vou contar para a mamãe. –Ela fez bico. –E eu não disse antes por que não sei nada, e nem ia estudar. Mamãe me xingaria se soubesse que eu estou indo mal nas aulas. –Minha sobrinha falou baixinho, abaixando a cabeça e parecendo envergonhada. Merda. Era isso que eu não gostava em Rose. Ela havia puxado alguns defeitos de nossa mãe, e esse era o pior deles: não deixar a filha se abrir com ela. Tudo era motivo para repreensão, mesmo se a culpa não fosse realmente de Claire, como agora. Qual é, todos têm dificuldade em algo no colégio. Não era como se fosse um crime. Era para isso que existia o diálogo: para resolver os problemas. Porém, não era isso que Rose pensava.

–Calma, amor. A tia vai ajudar você a ir bem nessa prova, certo? Deixa eu só pesquisar aqui na internet.

EQUAÇÕES DE PRIMEIRO GRAU

Exemplo 1: 4x + 2 = 8 – 2x
Em uma equação, devemos separar os elementos variáveis dos elementos constantes. Para isso, vamos colocar os elementos semelhantes em lados diferentes do sinal de igualdade, invertendo o sinal dos termos que mudarem de lado. Veja:
4x + 2x = 8 – 2
Agora aplicamos as operações indicadas entre os termos semelhantes.
6x = 6
O coeficiente numérico da letra x do 1º membro deve passar para o outro lado, dividindo o elemento pertencente ao 2º membro da equação. Observe:

x = 6 / 6
x = 1
Todas as equações, de uma forma geral, podem ser resolvidas dessa maneira.

Certo, isso não parecia tão complicado! Era só isolar o x para descobrir o seu valor, e cuidar com os sinais quando eles trocavam o lado da igualdade. Eu poderia ensinar isso para a minha sobrinha. Poderia sim!

–Aqui, Claire. –Peguei seu caderno e seu lápis, e resolvi explicar a ela por meio da primeira equação que estava em branco em seu caderno como exercício. –Você precisa, primeiro de tudo, deixar o x isolado, sabe? Pensa assim, os números normais você deixa para a direita, os que têm x você deixa para a esquerda, tudo bem? –Ela assentiu, parecendo muito concentrada na minha explicação maluca. –Certo. Só que se 8, que está na esquerda, tiver que passar para a direita, ele vai ficar negativo. Entendeu? –Ela negou com a cabeça. Merda! –Tudo bem, pense nisso como o bem e o mal. Se você é do bem, positivo, e troca de lado, você fica mal, negativo, certo? E se você é do mal e troca de lado você fica do bem. Entendeu agora?

–Sim, tia Bella! O 8 é do bem, mas ele vai passar para o lado do mal e vai ficar negativo! Entendi, entendi! Deixa eu fazer!

A pequena simplesmente roubou o caderno e o lápis de minha mão e fez o que eu tinha explicado. Perfeitamente bem! Porra, ela entendeu! Ela entendeu. Certo.

–Mas e agora, tia? Ficou 2x = 4. certo?

–Sim, querida. Agora você tem que isolar o x, lembra? Deixar ele sozinho, sozinho.

–Por quê? –Porra, por quê? Eu não fazia ideia do motivo. Tudo bem que era para descobrir o valor do x, mas isso Claire já sabia.

–Hm, porque letras e números não se dão bem. Certo?

–É verdade. –Ela riu. –E como eu deixo ele sozinho?

–Bem, você deixa o x na direita sozinho. X é igual a 4, certo? E o 2 que acompanhava o x vai para debaixo do 4. Aí você faz a divisão. Entendeu tudinho?

–Sim! Sim! Espera aí! –Ela colocou alguns números no caderno rapidamente e olhou para mim animada. –Aí fica x=2! Né, tia? certo, né?

–Sim, princesa! Isso aí, você fez tudo certinho! Agora faça as outras equações que estão no seu caderno e me chame se precisar, tudo bem? Eu vou ficar aqui.

–Valeu, tia! Eu nunca ia aprender isso sozinha! –Minha sobrinha pulou da sua cadeira e veio correndo para meu lado, subindo no meu colo. Ela me abraçou apertado e, merda, eu senti vontade de chorar. Pelo amor de Deus, eu só havia ensinado uma coisa simples para ela. Por que ela parecia tão feliz com tão pouco? Nenhuma outra pessoa agia assim comigo. –Eu te amo. –Abracei-a mais apertado e segurei as lágrimas. Eu havia feito algo certo, afinal. E Claire... Claire fazia tudo valer a pena. Até mesmo reaprender matemática.

–Eu amo você também, amor. Muito, você sabe, não é? Não esquece disso não. Agora, vai lá fazer o resto, porque amanhã você tem que mostrar para o seu professor quem é que manda. –Eu ri. Ele ficaria chocado. Eu esperava que ele ficasse, pelo menos, ainda mais quando minha sobrinha dissesse que eu que ajudei-a na matéria.


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo não teve o professor Edward, mas no próximo vai ter bastante! HAHAHAHA
Espero que gostem!
Beijão