Uma chance para recomeçar escrita por Acte


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Hoje consegui responder todos os comentários, uhull!
Pessoal não se desesperem vai dar tudo certo, confiem em mim!
Boa Leitura!



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Capítulo 26

Medo. Quando somos crianças temos medo do escuro, depois de não encontrarmos alguém para gostar, depois de não conseguirmos e assim vai, o medo do desconhecido sempre nos persegue. Os minutos que se passaram desde que os médicos levaram Karina para dentro daquela porta pareceram eternidades para Bianca, que chorava sentada na poltrona, para Gael que sentia o mesmo pesadelo pela segunda vez e para Pedro, que sentado no chão, encostado em uma parede tentava pensar que tudo daria certo e para Marcelo que era o responsável por entrar em contato com todos, preencher a ficha de Karina, com as informações que Dandara lhe passava pelo celular e ainda cuidar para que nenhum dos três fizessem algo além de chorar.

– Familiares de Karina Duarte. – uma enfermeira chama ao chegar a sala de espera.

– Sou o pai. – Gael fala apressado. – O que houve? – pergunta enquanto Bianca, Pedro e Marcelo se aproximam dele.

– Ela teve DAEG, Doença Hipertensiva Especifica da Gravidez e foi levada imediatamente para o centro cirúrgico para que uma cesariana de emergência seja feita.

– E ela corre riscos? – Bianca pergunta temendo a resposta.

– Corre sim. – a enfermeira abaixa a cabeça. – Com licença. – pede em seguida e se retira da sala, deixando-os devastados.

– Precisamos ficar calmos, vai dar tudo certo. – Marcelo comenta e coloca a mão no ombro de Pedro, que fica imóvel após a noticia.

O tempo vai se passando e quando Dandara, João, Delma, Tomtom, Sol e Wallace chegam ao hospital e veem os três chorando pelos cantos percebem que a coisa era mais seria do que pensavam.

– Com licença. – a mesma enfermeira fala abaixando a mascara para trazer mais noticias e sua cara a denuncia.

– O que houve? – Bianca pergunta com a voz embargada.

– Vocês precisam escolher entre salvar a mãe ou o bebe. – uma frase tinha sido sentida como uma facada em Pedro e Gael que pareciam não acreditar em seus ouvidos.

– A meu Deus. – Dandara balbucia abraçando um Gael imóvel.

– Como assim? – Bianca pergunta indignada. – Vocês não podem simplesmente chegar aqui e nos pedir isso. Vocês tem que salvar as duas. Eu quero a minha irmã e a minha sobrinha vivas! – a atriz se exalta chorando e é abraçada por Sol, enquanto Wallace e João se concentram em Pedro.

– A resposta por favor. – a enfermeira pede.

– O que esta havendo moça, por favor nos diga. – Delma pede tentando manter a calma.

– A pressão da mãe subiu demais e a posição do bebe não esta ajudando, a doutora vai precisar tentar um parto fórceps, mas caso a pressão da mãe suba mais um infarto pode ocorrer e então seria a mãe ou o bebe.

– Não! – Bianca se desespera.

– E então? – a enfermeira olha para Gael e Pedro.

– Eu não posso. – Pedro responde apenas, as palavras de Karina que previu esse momento lhe viam a memória, mas ele não podia. Não conseguia escolher entre sua filha e sua amada. Como suportaria a morte de uma delas? Isso não podia ser verdade, não podia estar acontecendo.

– Vou deixar a decisão para a médica. – a enfermeira fala e se dirige novamente ao centro cirúrgico, enquanto Pedro se entrega as lagrimas e Bianca solta um grito de dor. Gael apenas permanece intacto, tentando não acreditar que a vida estava lhe apunhalando mais uma vez, no mesmo lugar, abrindo a mesma ferida, ele estava vivendo o mesmo pesadelo pela segunda vez. Onde estava a justiça nesse momento?

– Isso não pode estar acontecendo. – Bianca resmunga, quando vê Duca entrar correndo na sala onde estavam.

– Amor! – ele fala e vem na direção dela que se joga nos braços do namorado desesperada. – O que ta acontecendo.

– A K. – chora compulsivamente. – A minha irmã ta morrendo Duca. – grita. A dor que sentia naquele momento era a pior coisa que já tinha sentido em toda sua vida, era dilacerante, doía demais.

– Ela não pode me deixar. – Pedro fala entre as lagrimas.

– Ela não vai. – João tenta o consolar.

– A Karina é guerreira, é lutadora, ela vai sobreviver. – Wallace o encoraja.

– E a minha filha? Se ela viver e a Nininha não a K nunca vai me perdoar. – se lamenta. Porque a vida machucava tanto? Porque tudo não era mais fácil? E se ela se fosse? E se sua filha se fosse? E se as duas não agüentassem?

– Não! –ele grita trincando os dentes e se levanta desesperado, Wallace o segura.

[Ouçam: https://www.youtube.com/watch?v=GemKqzILV4w]

Lagrimas, dores, lembranças, pesadelos, indignação, orações e rezas pensadas, era tudo que se podia ver e ouvir por eles enquanto no centro cirúrgico:

– A família não soube escolher. – a enfermeira avisa quando entra na sala.

– Pois então salvaremos as duas. – doutora Carla fala confiante.

– Isso é impossível. – o cirurgião geral avisa.

– Isso é o nosso trabalho: salvar vidas. Vamos realizar o parto.

– E a pressão dela? – o residente responsável por monitorar a pressão pergunta.

– Controle até o limite, precisamos retirar a bebe ou ela terá sequelas. – a doutora inicia o parto fórceps. Durante as consultas tinha se apegado ao casal e a bebe e agora só conseguia pensar que não conseguiria olhar para Pedro e dizer que salvou apenas uma de suas gatinhas, como o garoto se referia a elas. Retira a pequena com cuidado e segundos depois ela chora, retirando sorrisos aliviados da equipe, que são imediatamente cortados por um barulho no monitor. Ela estava tendo um infarto, a pressão tinha ido ao teto. Salvá-las, palavra que a doutora mentaliza. – Chamo a cardio. – ela ordena e inicia os processos de reanimação. – Desfribilador. – pede. – Afasta. – um, dois, três, quatro choques são liberados contra o coração.

– Desista Carla. – o cirurgião cardiovascular fala quando chega a sala e analisa a situação.

Na sala de espera:

– Gael. – Dandara sussurra. – Amor. – fala com a boca no pescoço dele. – Vai ficar tudo bem.

– Uma vez já não o bastante? – ele fala pela primeira vez em minutos.

– Amor...

– Eu já passei por isso e perdi minha esposa, agora vou perder minha filha? – soluça. – Porque? Eu era só um garoto, já era pai, tinha a Bianca, amava minha família mais do que tudo, tinha desistido de tudo por elas e ai...a Ana se foi.- lagrimas grossas escorrem pelo rosto do pai desesperado. – E hoje, a minha filha? A minha menininha, minha Karina. Isso não, me diz que isso é um pesadelo e que vai acabar.- Dandara o abraça, mas não consegue mais se conter e libera suas lagrimas, para que elas se misturem as dele. Choram pelo medo, pela dor, pela injustiça e apenas por chorar, apenas por só poderem chorar naquele momento. Quem poderia classificar a dor de um pai, que daria sua vida para não ver sua filha nem chorar, o que dirá sentir dor e até...morrer. Como classificar a incapacidade de um pai, enquanto a vida o castiga por uma segunda vez, como seu coração suportaria uma nova perda? A resposta dói, mas era única: não suportaria. Não saberia passar por isso novamente e sair intacto. Precisava de um milagre, precisava que sua filha e neta saíssem com vida hoje, ou então...ele também morreria.

A dor se apresenta de diversas formas. Bianca só sabia chorar. Não conseguia comer, pensar. Só queria que esse pesadelo acabasse, que sua irmã, sua irmãzinha sobrevivesse, que ela pudesse voltar com todo seu mau humor e energia para o ringue. Queria que a menininha que ensinou a andar visse sua filha andar. Queria que a vida doesse menos, que o tempo voltasse, voasse, parasse... queria sua irmã e sobrinha com ela, vivas.

Pedro era um garoto feliz, despreocupado, imaturo e irresponsável e cheio de sonhos e então a vida lhe deu Karina. Sua musa inspiradora, sua namorada, a garota do olhinho bem fechado, do sorriso assim de lado, a dona de seu coração e pensamentos, a homenageada em todas suas canções, o amor de sua vida, a mãe de sua filha. E agora? Simplesmente lhe tirariam seu ar, seu mundo? Porque? Era pedir demais que no final da noite suas princesas estivessem com ele, sorrindo, ao seu lado, lhe fazendo esquecer esses momentos? É pedir muito?

No centro cirúrgico:

Doutora Carla respira fundo, olha para a jovem pálida em sua frente. Tão linda, tão jovem, tão amada, com uma filha para criar, com uma vida toda pela frente, com lutas para vencer. Ela merecia que lutassem por ela. – Desfribilador. – pede a enfermeira.

– Carla... – o cirurgião cardiovascular protesta.

– Afasta. – ela fala e implora para que o universo conspire ao seu favor. Pensamentos positivos. Orações internas, mas ela não responde. O painel ainda não marca nenhuma atividade cardíaca. Ela precisa desistir e se vira entregando o aparelho para a enfermeira que lhe dá um olhar de compaixão e pena e então um bipe baixinho invade a sala. O som vai aumentando. Ela estava voltando. O som subia, era a vida renascendo, era sua paciente voltando. A doutora sorri com os olhos marejados e então o cirurgião da cardio assume a paciente.

Quantas horas se passaram? Ou foram anos? Vidas? Segundo o registro do hospital desde a entrada da paciente Karina Duarte, com 38 semanas completas de gestação e apresentando um quadro de DAEG, contrações e bebê em posição anormal para o nascimento; ás 14:04, nove horas haviam se passado, pois agora, enquanto os dois médicos responsáveis por ela e a enfermeira seguiam até a sala de espera falar com a família o relógio marcava 23:17.

Na sala de espera Sol e Wallace dividiam uma poltrona, Marcelo amparava Delma e Tomtom dormia no colo de ambos, Duca abraçava Bianca, Dandara abraça Gael e João estava sentado ao lado de Pedro, no chão, olhando para o nada, enquanto o amigo segurava a aliança de compromisso na mão.

Quando a doutora Carla, o doutor Rafael –cirurgião cardiovascular – e a enfermeira Lucia chegam a sala, se dirigem para o sofá onde Gael e Dandara esperavam.

– E ai doutora? – Dandara pergunta ficando em pé e sendo seguida por todos na sala.

– O que houve doutora? – Sol pergunta desesperada, mas sendo uma das poucas a ainda ter voz na sala.

– Foi um parto muito complicado. – a obstetra começa e o coração de Gael, Pedro e Bianca parasse parar quando ouvem o tom das primeiras palavras. É proibido esperar pelo pior? – A Karina chegou sentindo contrações com nível de dor para a bebe nascer, mas com nenhuma dilatação, a bebe estava numa posição anormal para o nascimento e ela ainda apresentava um quadro de DAEG, que é Doença Hipertensiva Especifica da Gravidez.

– E o que é isso? – Duca questiona.

– É uma doença que eleva a pressão da gestante e dependendo da quantia de elevação pode provocar um infarto.

– A meu Deus. – Bianca começa a chorar alto.

– Quando conseguimos realizar o parto fórceps da Nininha a pressão da Karina subiu demais e ela teve um infarto.

Gael cai sentado no sofá. Não aguentaria outra noticia de falecimento.

– E o que houve doutora? A K ta bem? E a Nininha?

– A Nininha ta na UTI neonatal eu a envie para lá para ter certeza de que esta tudo bem com ela e as primeiras vinte e quatro horas serão cruciais para analisarmos o caso, mas ela nasceu bem, com 3.782kg e 49cm. – a doutora avisa sorrindo e todos, com exceção de Pedro e Gael comemoram.

– E a Karina? O que houve com ela? – Pedro se manifesta se aproximando da doutora desesperado.

– A Karina foi uma guerreira, ela sofreu o infarto, mas... – a doutora começa a falar e dá um sinal para que o outro médico continue.

– O que houve com a minha irmã?- Bianca se desespera.

– Depois de algumas tentativas a doutora Carla conseguiu fazer com que o coração dela voltasse a bater e então devido as condições de seu parto e a debilidade de seu coração nós a induzimos a um coma.

– Coma?! – Duca indaga atônito.

– Mas ela vai ficar bem, não vai doutor? – Delma pergunta.

– O quadro dela é bastante complicado e nós não podemos fazer nenhuma previsão antes das próximas quarenta e oito horas, tudo que posso dizer é que ela esta instável e que a partir de agora depende muito mais dela do que de nós. É ela quem precisa escolher viver. – o doutor termina de falar.

– Eu sei que essa não é uma noticia fácil de encarar, mas vocês precisam ser fortes, pelas duas. A Nininha nasceu com saúde, apesar do parto complicado e aí papai? Vai querer vê-la?- a doutora Carla visivelmente emocionada pergunta a Pedro, que apenas vai na direção da doutora.

– Eu também posso vê-la? – Bianca pergunta esfregando a palma das mãos no rosto, para limpar as lágrimas.

– Não, hoje não. Na verdade ninguém poderia, mas eu acho justo que o pai veja, principalmente depois de um parto tão longo, mas amanhã bem cedo posso conseguir a entrada de pelo menos mais duas pessoas. Com licença. – a doutora pede e guia Pedro para entrar na UTI neonatal. Ele se higieniza, coloca as roupas adequadas e então adentra a uma enorme sala, cheia pequenas caminhas, ligadas a vários aparelhos e bebes. A doutora o guia até a segunda fileira de bebes, onde a ultima criança da fileira olhava atenta para o teto. – Aqui esta ela. – a doutora fala, apontando sua filha. Sua Nininha. Ela era linda. Era exatamente como ele tinha sonhado: pele branquinha, cabelos, cílios e sobrancelhas tão loiras que quase não se dava pra ver e os olhos, exatamente como ele imaginou: azuis, muito azuis e ela o olhava, firme.

– Oi filha. – Pedro fala sem conseguir conter as lagrimas. – Oi minha princesa. – da o dedo para ela, que segura firme e se contorce, reconhecendo a voz do pai.

– Ela reconheceu sua voz. – a doutora comenta emocionada.

– Como ela esta doutora?

– Aparentemente muito bem Pedro, só estou a mantendo aqui para ver como ela reage as primeiras horas de vida, afinal o nascimento foi muito complicado. Mais ela esta bem, é uma guerreira e amanhã com certeza já vai para o berçário.

– Ouviu filha, ouviu meu amor? – Pedro fala com ela, que estréia um choro, quando ele faz menção de tirar o dedo dela.

– Acho que alguém quer o papai. Pedro eu vou tomar um banho, pode fazê-la dormir, mas sem pegar no colo e daqui a pouco estarei de volta, tudo bem?

– Tudo sim doutora, obrigado. – agradece e se senta ao lado da mini maca de sua filha, que apertava seu dedo com força. – Você é linda minha filha. É como a mamãe. – com a voz embargada e o os olhos inundados pela lagrima conversa com ela. – Ana. Minha pequena Ana. O papai te ama muito e a mamãe também, ela vai ficar bem e nós dois vamos torcer pra que isso aconteça o mais rápido possível. Agora dorme meu anjinho, dorme porque amanhã é um novo dia. – acariciando o rostinho dela e com o dedo preso pela mãozinha dela ele a faz dormir, assoviando uma canção de ninar baixinho para não acordar as outras crianças.

– Vamos? – doutora Carla pergunta o tirando dos pensamentos.

– Onde? – ele pergunta após conseguir se soltar de sua pequena e depositar dois beijinhos delicados na testinha dela.

– Vê-la. – ela fala apenas, sabendo que ele entenderia para onde se dirigiriam agora.

O corredor parecia inacabável, as escadas infindáveis e depois novamente outro corredor e então a doutora para diante de uma porta. A porta 204.

[Ouçam: https://www.youtube.com/watch?v=-2U0Ivkn2Ds]

– Por favor fique calmo, talvez se assuste com o que verá, mas apenas tenha calma, esta tudo sobre controle. – a médica o adverte e então abre a porta.

Uma maca, um monte de aparelhos que ele nunca saberia denominar, um sofá, um frigobar e na em cima da maca uma jovem inerte. Pálida. Entubada. Sem vida. Nesse momento, era como se uma faca afiada, de dois gumes, o atravessa por inteiro, de uma só vez. Era ela. Era sua esquentadinha. Imóvel, cheia de tubos, com aparelho respiratório. Ela ainda estava ali? Ela ainda pertencia a ele?

Diga alguma coisa, estou desistindo de você

Eu serei o único se você me quiser também

Eu teria te seguido para qualquer lugar

Diga alguma coisa, estou desistindo de você

E eu

Estou me sentindo tão pequeno

Foi demais para minha cabeça

Eu não sei absolutamente nada

E eu

Tropeçarei e cairei

Eu continuo aprendendo a amar

Estou apenas começando a engatinhar

Diga alguma coisa, estou desistindo de você.


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Notas finais do capítulo

Choraram? Ou foi só a mantega derretida aqui que chorou?



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