" Anthoni quase teve um ataque cardíaco quando nos viu. Saiu praticamente correndo (coisa muito rara para aquele senhor que exala calma e profissionalidade) para pegar umas toalhas e pedir para a senhora Culton preparar umas xicaras de chocolate quente. Depois de um tempo meu nariz começou a ficar vermelho, meus olhos lacrimejados, e os espirros começaram. Droga."

– Tá vendo o quê você fez em bim.

" Acuso Will quando estamos na varanda, atolados de toalhas e cobertores. Ele me encara por trás do vapor da sua xicara quente e sorri."

– Eu não tenho culpa se o seu sistema imunológico é fraco.

" Debocha ele."

– E você lá sabe o que é um sistema imunológico seu burro?

" Ela dá de ombros, e toma um gole de chocolate."

– Sei o que o meu é mais forte que o seu. Pois eu não estou com o nariz igual ao de um palhaço.

" Começo a rir quando vejo o bigode marrom de chocolate que se forma em volta dos lábios do Will, ele parece nem perceber, e fica rindo da piadinha sem graça que fez do meu nariz."

– Ao benos, não sou eu que tenho um bigode buito brega.

– Bigode?

" Ele pergunta enquanto leva a mão aos lábios, quando percebe o que eu disse limpa o chocolate com as costas da mão."

– Você parece uba criança.

" Digo o importunando."

– Como dizia minha avó: " Se é pra comer doce, melhor se lambuzar."

" Concordo com a cabeça e dou uma golada no meu próprio chocolate. Ele desce quente e maravilhoso pela minha garganta."

– Ah, adoro chocolate...

" Comento de olhos fechados enquanto aproveito minha xicara. Quando abro os olhos vejo Will me encarrando sério. Passo a mão na minha boca preocupada se também fiquei com bigode."

– O quê foi? Tá sujo?

" Pergunto com a testa franzida e tentando me ver no vidro da janela atrás do Will."

– Não...

" Ele pousa sua xicara em uma mesinha e lentamente se aproxima de mim. Coloca seu braço ao redor da minha cintura e calmamente me puxa na sua direção. Eu estou tão surpresa, e tão envolvida que nem reparo quando minha xicara acidentalmente vira derrubando metade do meu chocolate super quente nas parte baixas do Will. Ele solta um urro e pula pro outro lado. Imagino que estou com a maior cara de tapada de todas, meus olhos estão arregalados e minha boca está escancarada de surpresa."

– Caralho!

" Grita o Will com a mão na região intima. Ele está de pé, e meio que pula de um pé pro outro."

– Will... me desculpa...

" Tento me desculpar, mas ele nem me olha, está muito ocupado em xingar Deus e o mundo. Se eu não estivesse tão culpada e preocupada com ele eu daria risada, mas acho que ele não ia gostar tanto assim da minha reação. Coloco a xicara vazia na mesma mesa em que ele colocou a dele e me levanto."

– Eu vou subir pra trocar de roupa.

" Ele diz. Está visivelmente mal humorado. Enquanto ele entra na casa, me seguro para não rir. Quando ele já está lá dentro caio na gargalhada, sinto as lágrimas nos cantos dos meus olhos mas não consigo parar de rir. E então para acabar com a minha graça vêm os espirros, os chatos e incômodos espirros. Um atrás do outro, me deixando até meio tonta."

* * *

" Já estou à três dias de cama, Will se sente mais do que culpado. Me pediu desculpas milhares de vezes e fez uma encomenda de dezenas de livros pela internet, ele disse que é pra eu me distrair enquanto estou presa nesse quarto. Bom, quanto á isso eu não posso reclamar, se o preço de ter paz e um acervo bem grande de livros é esse nariz que mais parece um tomate, eu acho que posso pagar. Ele também parece ter esquecido o acidente com o chocolate, agora que estou doente.

Marcus me ligou umas duas vezes nesses dias, eu lhe disse que estava gripada mas não contei como fiquei, acho que ele não ia gostar muito, e ele também não perguntou como eu contraí. Toscana e tia Clarie passam bastante tempo comigo no quarto conversando, mas tia Clarie fica com medo da Tina gripar então a pequena serelepe não tem permissão para visitas longas demais. Outra vantagem de ficar doente são os paparicos da senhora Culton, acho que eu já devo ter engordado uns cinco quilos de ficar deitada me empanturrando com as suas guloseimas."

– Festa!

" Grita Toscana entrando no quarto."

– Festa?

" Pergunto pra ela."

– É, festa!

" Ótima resposta."

– Cadê a sua mãe?

" Pergunto novamente. Toscana está bagunçando a pilha de livros ao lado da minha cama e nem está me dando muita bola."

– Está com o tio Will, eles estão falando da festa!

– Mas que festa Toscana?!

" Ele ergue os grandes olhos azuis (que parecem aquelas balas de máquinas à moeda) para mim, é raro que eu á chame de Toscana."

– A sua...

" Ela sussurra como se fosse um segredo. Ah... entendi. Esses malandrinhos estão planejando uma festa surpresa pra mim. Deviam ter mais cuidado com a pequena fofoqueirinha aqui."

– Toscana! Eu disse que não era para você incomodar a Tay.

" Diz tia Clarie entrando no quarto."

– Desculpa querida, ela te acordou?

" Me pergunta tia Clarie de uma forma meiga e maternal. Da mesma forma que ela vem me tratando nos últimos dias. Acho que minha tia gosta mais de mim agora, sorrio com a perspectiva."

– Não, não. A Tina nunca me incomoda. Não é sua sapeca?

" Ela larga o livro que estava folheando e pula na cama me dando beijinhos babados. Tia Clarie coloca a mão na boca e exclama fingindo estar desesperada:"

– Toscana! Desça já daí! Você vai ficar gripada menina!

" E então ela tira Toscana da cama, salvando-a das minhas cócegas. Dou risada enquanto vejo as duas saindo do quarto. E então me dou conta que minha vida melhorou drasticamente nos últimos tempos. Eu não sei em que momento deixei de ser uma garota depressiva e sofrida, que vivia de lembranças, dores e saudades, para me tornar essa Taylor, sorridente, alegre e brincalhona. Pareço até outra garota.

Mais uma vez sorrio ao lembrar quem é o culpado pela minha transformação. Desde quando o Marcus entrou na minha vida meus dias tomaram mais cores, eu me tornei mais feliz. Pena que agora não possamos mais passar os nossos dias juntos. Porém, essa quadro pode mudar. Ano que vem iremos para a faculdade, e podemos tentar ir para uma juntos. Fazendo planos, sonhando e sorrindo acabo dormindo, com a esperança de viver mais um sonho. Faz tempo que não tenho pesadelos.