Hoje é natal. Nem preciso dizer quais presentes eu ganhei. Guias de viagem, cartas de "vou sentir sua falta", dólares, dólares e mais dólares.

Meus melhores amigos vieram para a minha casa curtir o natal comigo, e torná-lo um pouco mais suportável. Não me leve a mal, eu gosto do natal. Eu só não gosto de ter que fingir que estou feliz na frente de toda a família. Mas, como provavelmente será o meu último natal no Brasil, eu preciso me despedir bem dos meus tios. Eu não sei se vou vim aqui para visitá-los usualmente, eu sempre digo isso para os meus amigos mas eu realmente não sei. Então, o que custa curtir pelo menos um natalzinho?

Entre meus melhores amigos estão: Maria, João, Luana e Thomas. Eles que me dão apoio, carinho e muitos sorrisos no rosto.

– Para vocÊ - diz Luana, entregando uma caixa -. Aí tem um guia de viagens, uma cartinha feita com muito carinho, e porta-retrato de todos nós, para você nunca esquecer da gente. Você pode ir para marte, que sempre será nossa melhor amiga. Te amamos, Amber.

Luana, Luana... Sempre tão fofa. Dou-lhe um abraço apertado, e consequentemente todos nós estamos nos abraçando. Consigo ouvir a voz rabugenta do tio Zé Berto lá atrás dizendo: "Olha que coisa bonita, no meu tempo os amigos viviam na paulada!"

Todos nós damos risada, e Thomas encosta nos meus cabelos.

– Nunca vou esquecer desses fios louros arrastando-se na minha mesa. Quando você sentava na minha frente. Nem acredito que essa será a última vez que vou te ver...

– Thomas, tudo bem. - digo. Os olhos dele estão lacrimejando. - Já falei, não é? Eu volto para nos vermos novamente. Não é porque vou viajar que eu nunca mais vou ver vocês. Nada disso!

Como eu disse, eu não sei mesmo se o que eu falei para Thomas é realmente verdade.

Mas fiquei surpresa por ele ter feito isso. Esse tipo de atitude não é de se esperar de um rapaz como Thomas. Por isso, fico gratificada.

Depois de uns 10 segundos de silêncio e pensamentos, Maria exclama:

– Ok, vamos viver nossos últimos melhores momentos?!

E assim foi nosso último natal, vivendo momentos extraordinários perto dos melhores amigos que se podem ter. Sempre pensei que minha vida fosse perfeita. Ela realmente é. Mas não sei se é sexto sentido, ou esse tipo de coisa, mas sinto que essa viagem para os Estados Unidos não será a melhor coisa do mundo. Só rezo para que eu esteja enganada.

Estou partindo semana que vem, e cada vez que me lembro disso meu coração dá um leve pulinho. Eram duas semanas, agora é uma semana, depois vai ser um dia, e depois, pessoas novas falando em outra língua ao meu redor sem parar. O que me resta enquanto esse dia não chega, é comer. Desde que eu recebi essa notícia da viagem, eu engordei dois quilos, de tanta ansiedade.

A festa do natal acabou. Foi aquela coisa de sempre, esperando dar meia-noite, e comer como uns mendigos. Depois de todos terem ido embora, só restou os meus amigos na porta de casa, se despedindo pela última vez. Todos iam com a mãe de Maria, que já estava para chegar. Todos estávamos cansados de tanto correr, rir, comer, e eu não sentia minhas pernas. Estavam bambas de tanto cansaço. Nos sentamos em um banco que jazia na frente da minha casa, e digo hesitando:

– É... foi isso, pessoal.

Todos olham para mim. Consequentemente - olha como somos fofos - estamos nos abraçando e chorando de novo.

"Eu te amo" para cá, "Vou sentir sua falta" para lá, e todas aquelas coisas típicas de amizade. Depois de uns 10 minutos de despedidas e sentimentos, finalmente a mãe de Maria chega.

Todos entram no carro. A mãe da Maria também não se esquece de mim, e diz um "boa viagem". Ela é a única que não está com o rosto molhado.

– Eu amo vocÊs. E eu nunca vou esquecer vocês. - são minhas últimas palavras antes do carro se perder da minha vista, no fim da minha rua, com os rostos tristes das pessoas mais importantes da minha vida acenando.

Foi simplesmente a despedida mais triste que já tive.

Mas tudo bem. Eu estou pronta para uma nova vida.