O clima estava esquisito desde que havia chego ao ginásio.

Oh, droga. Os dois garotos de menor estatura do time pareciam já ter feito contato. "Pareciam ter", não. Já haviam.

Era algo que poderia ser notado pela forma como os dois conversavam baixinho e gesticulavam exageradamente. O líbero estava claramente envergonhado, parecia comemorar internamente, mas fingia para o ruivo que era experiente e que já estava acostumado a lidar com a situação, como se a cada manhã milhares de garotas se declarassem para ele nos fundos da escola. O olhos de Hinata apenas brilhavam, como se estivesse escutando os ensinamentos de um heroi.

"É algo completamente natural que as mulheres se sintam atraídas por mim", o mais baixinho entre eles disse fazendo pose e com um ar meio convencido. Era engraçado.

"Noya-san é tão cool!", Hinata e Tanaka, que também estava junto à dupla de baixinhos, soltaram em uníssono.
Tanaka deu uns tapinhas costas de Nishinoya, olhando para onde uma garotinha loira e preocupada estava, como se dissesse um "vai lá falar com ela!".

O estrago já estava feito, Yachi só não poderia deixar que piorasse ainda mais. O assunto, aparentemente, ainda estava restrito ao trio. Se ainda agora conseguisse esclarecer a coisas com o líbero, as coisas poderiam se resolver de maneira mais fácil.

"Se é assim Kyoko-san fica só para mim!", o careca falava numa voz esquisita enquanto colocava os próprios braços ao redor do corpo em um abraço. A manager morena apenas ignorou, "Adoro quando ela me ignora!"

"GWAAH! Claro que não, Ryuu!", o garoto com uma mecha mais clara no cabelo castanho manifestou-se.

"Você está traindo o movimento Kyoko-san, véio."

"Não é assim, Ryuu!", o careca já havia começado a gargalhar, "Ryuuuuuu!"

Ouviu-se um estalar de língua em desprezo. Era Tsukishima.

"O que os débeis já estão tramando? Marcaram um encontro às escuras com alguém pela internet? Cuidado, 'ela' pode ser 'ele'...", provocou, dando uma risadinha.

"Ora, seu punk...", o camisa número 5 do time cerrou os punhos e fez uma careta. Partiu para cima do loiro segurando-o pela gola da camisa, o outro apenas gargalhava.

"Tsukki!", Yamaguchi gritou fracamente já próximo ao grupo.

"Pessoal, vocês não conseguem ficar quietos?", Sugawara pronunciou tentando acalmar os ânimos.

"Vai fazer o quê carequinha? O capitão está observando.", Tsukishima continuava a provocar, e sentiu o outro afrouxar a mão em sua gola. Daichi realmente estava se aproximando. E não parecia nem um pouco alegre.

"O que vocês pensam que estão fazendo? Parecem crianças! Parem já com isso e se recomponham!", todos se colocaram em posição neutra e se desculparam, até mesmo os sem envolvimento, começaram a se dispersar, "O que levou a essa confusão?", fez uma pergunta sem endereço, esperava que qualquer um a respondesse.

"Então,", Hinata começou,"começando do começo... Ontem, a Yachi veio falar comigo, e aí-", foi interrompido por uma voz feminina que deu um gritinho meio desafinado.

"N-NOYA-SAN!", a garota de quem Hinata falava gritou a plenos pulmões, "Po-poderia conversar comigo um pouco?"

"Quando quiser!", falou entusiasmado.

"A-agora?"

"Acho que não tem problema. Daichi-san posso me ausentar um pouquinho do treino? É rápido, juro!"

O capitão suspirou, mas balançou a cabeça em afirmação.
...

Do lado de fora do ginásio uma dupla tentava iniciar uma conversa.

"Então, e-", foi interrompida bruscamente.

"Eu não posso corresponder seus sentimentos!", disse em lágrimas de comoção, "Agradeço por me amar, mas eu vivo para a Kyoko-san! E mesmo que ela não admita, sei que não vive sem mim, imagina que tipo de loucuras minha Deusa poderia fazer por minha causa?"

"Me escute um pouco, na verd-", esses garotos não sabem como funciona uma conversa? Eles poderiam deixar a outra parte completar uma frase!

"Eu sinto muito!", disse de joelhos no chão e as mãos no cabelo em desespero, "Por favor, não importando o quanto me ame, não cometa suicídio. Não, melhor, se mantenha viva pelo seu amor por mim!"

"NOYA-SAN! Me escute por favor, sobre ontem-".

"O Shoyo me disse."
"Pare de interromper minhas frases, por favor!", dessa vez ele pareceu se calar,

"Eu, na verdade...", começou a corar, "Acho que o Hinata-kun entendeu tudo errado..."

"GWAAAH, sério?", os olhos dele brilharam, Yachi deu um sorriso meio forçado dando a confirmação, e refletiu se ela era uma opção tão ruim assim na mente dele.

"A pessoa de quem eu g-gosto, é n-na verdade, o... O..."

"O Suga-san?"

"Não, claro, que não!"

"Não vá me dizer que... AH, MEU DEUS... Você gosta da Kyoko-san?", dizia parecendo chocado, logo acrescentando, "Se bem que é previsível, todos amam a-", dessa vez quem não conseguiu completar a frase foi ele.

"É o Hinata!"

"Ah", soltou ainda sem processar a informação, "QUEM?"

"O Hinata!"

"O Shoyo? Não creio! Eu fui superado pelo meu kouhai!", soltou meio incrédulo, "O que houve para ele pensar que era eu?", como ele aceitou isso tão rápido?

"Ele deve ter associado a você quando eu falei da baixa estatura. Ele se ofereceu para me ajudar e quando tentei consertar, ele saiu correndo atrás dos bolinhos de carne!"

"O Shoyo pensa com o estômago", de maneira surpreendente ele não se incomodou com o comentário sobre sua altura, "Os bolinhos estavam bons... Mas ele foi tão insensível! Você está bem?"

"Melhor do que ontem!", disse animada levantando o polegar.

"Mas por quê o Shoyo?"

"Não sei, é como vocês dizem é algo meio GWAAH, ou FUWAAAH, algo assim."

"GWAAH ou FUWAAAH?"

E tem diferença?

"O-os dois, eu acho!", disse um pouco forte, com os olhos espremidos.

"Quer ajuda?", fez a proposta.

"Claro, toda ajuda é bem vinda", falou com um sorriso de orelha a orelha.
...

Estava tarde e nenhuma bola era mais arrematada na quadra. Os integrantes do clube se reuniam do lado de fora e decidiam se iam a algum lugar.

"Não sei, acho que é melhor irmos para casa, está tarde, se demorarmos um pouco mais pode ficar perigoso", em Karasuno, a palavra de Daichi é lei, mesmo assim pôde-se ouvir alguns comentários desanimados.

Hinata já subia em sua bicicleta quando escutou alguém o chamar.

"Shoyo! Hey, Shoyo!"

"Senpai?"

"Você poderia me fazer um favor?", um favor? A essa hora da noite?

"Depende."

"Você poderia levar a Yachi-san para o ponto de ônibus dela? Você passa por lá no caminho para casa... Então eu pensei..."

"Ah, tudo bem."

Nesse momento todo o sangue de Yachi estava em seu rosto. E queimava. O que seu senpai estava fazendo?

"...-san? Yachi-san? Oi, está me escutando?", olhou para o lado era Hinata, ele caminhava a seu lado, empurrando a bicicleta.

"Ah, me desculpe, estava pensando em hoje mais cedo. Pensei que o Tanaka-san e o Tsukishima-san fossem realmente brigar! Que susto!"

"O Tsukishima é tão nojento! Sempre arranjando confusão com quem está no seu canto! Juro que se não fosse o Daichi-san, eu dava uma surra nele!"

"Parece que sempre que acontece alguma briga entre pessoas do time você me acompanha no caminho... É igual a aquela vez", deu uma risada leve.

"Ahh, teve aquela vez com o Kageyama!"

"Foi assustador. Fiquei preocupada com você. Estava com medo que estivesse machucado e... Você parecia tão triste."

Houve um silêncio.

"Sinto muito por isso.", continuou, procurando mudar de assunto, "E como foi com o Noya senpai?"

"Tivemos uma boa conversa."

Estavam chegando perto da parada de ônibus da garota.

"Eeeeh? Só isso?"

"Hinata-kun, você poderia esperar o ônibus comigo?"

"Acho que não teria problema", ele insistiu no assunto, "Como foi? Como foi?"

"Daquela vez, devia estar assim. Mas eu não devo ter percebido porque estava preocupada."

"O quê?", não estava entendendo nada.

"A noite. Está tão bonita, tão estrelada, a Lua está tão cheia. Você gosta de estrelas?"

"Acredito que sim", aquilo estava ficando esquisito.

Faróis se aproximavam, era o ônibus.

"Você é tão sincero e simples...", sorriu, "Acho que é por isso que eu gosto de você."

"Como?"

Não houve tempo para uma resposta. A garota entrou no transporte e deixou sozinho um garoto paralisado, chocado com a situação.

Debaixo do céu estrelado e da luz da Lua, um garoto estava confuso.