Ruby se debatia na cama.

"...seu filho, o Príncipe Graham..." a voz de sua avó ressoava em sua cabeça.

Ela ainda não podia acreditar que sua avó queria que ela se casasse com um completo estranho. A ideia era repugnante.

"Você é uma princesa, Ruby. Deve agir como tal!" dizia sua avó, penteando seus cabelos negros. Ela se encarava no espelho e via apenas uma garota indefesa. "Um dia você irá me agradecer."

Naquela noite ela não dormira por nem um minuto. Ela se sentou na cama e admirou o céu estrelado pela janela de seu quarto.

O mundo era enorme. Cheio de desafios, surpresas e pessoas diferentes que ela jamais poderia conhecer. A única coisa que sabia fazer era ler seu livro preferido e admirar os navios pelo porto. Ela não queria mais ficar presa no castelo, conversando com os retratos na parede. Queria conhecer o mundo, rolar pela grama, conversar com pessoas - que não fossem suas empregadas ou sua avó.

– Eu preciso sair daqui. - sussurrou para si mesma.

O que ela mais queria no momento era se aventurar pelos portões afora. Queria conhecer o mundo e viver em um um lugar sem regras tão rígidas. Foi quando ela teve uma ideia: ela fugiria, apenas por um dia. Conheceria o mundo afora e realizaria seu sonho. No fim do dia, voltaria para o castelo como se nada tivesse acontecido e retomaria sua vida monótona de princesa.

O que é o pior que podia acontecer?, pensou consigo.

Levantou-se da cama morna e vestiu a roupa mais discreta que tinha: um vestido preto com pedras e um capuz que lhe cobria a face quase inteira. Ela arrumou uma pilha de travesseiros debaixo dos cobertores e respirou fundo.

Agarrou a página rosto de seu livro favorito e rabiscou rapidamente: Não estou me sentindo bem. Não se preocupe comigo. Ela prendeu o papel na porta de seu quarto e trancou o cômodo por dentro, jogando a chave em um jarro de barro que ficava em sua cômoda.

Olhou-se uma última vez no espelho velho de seu quarto, lembrando-se que estava fazendo algo por ela mesma, pela primeira vez na vida.

[...]

O salto pela janela foi pior do que ela imaginava.

Na queda, caiu sobre sua perna, que passou a doer muito. Mas ela não podia deixar uma simples dor na perna a fazer de seu sonho.

Caminhou até os portões do castelo e, aproveitando que os guardas conversavam animadamente sobre algum assunto que não a interessava, correu por entre os arbustos e saiu os limites do castelo.

Agora ela era uma princesa livre. Pelo menos por um dia.