O sol nascera cedo, brotando sobre as colinas altas do reino Leste. A manhã estava calma e monótona; o vento soprava suavemente pelo vale morno.

Ruby acordara cedo. Tirara as vestes de dormir e colocara um vestido rosa bebê que combinava perfeitamente com suas bochechas rosadas. Ela tinha que prender a respiração para conseguir fechá-lo.

Aquilo era uma tortura.

Ser uma princesa, ao contrário do que parece, não era uma tarefa fácil: usar vestidos apertados, sorrir sempre, acenar para todos... Definitivamente não era como nos contos de fada.

Tudo o que Ruby queria era ter uma vida comum: conhecer alguém especial, se apaixonar e viver uma vida longa e feliz. Mas nada disso seria possível, é obvio.

O dia do grande casamento se aproximava. Sua avó, a Rainha, escolhia detalhadamente os melhor pretendentes para pedirem a mão de sua neta e darem continuidade ao reinado.

Relutante, Ruby caminhou até o espelho, encarando a si mesma.

– Postura. - ela endireitou as costas. - Barriga pra dentro. - encolheu a barriga. - Sorrir sempre.

Ela deixou que um sorriso falso escapasse-lhe os lábios.

[...]

Ela seguiu até o salão, com os saltos gritando nos corredores largos. Respirou fundo e empurrou a porta.

Sua avó estava usando um de seus melhores vestidos – verde com pérolas por toda sua extensão –, tagarelando animadamente com um homem velho, de cabelos grisalhos e expressão rígida.

– Oh, Ruby, querida! Venha, venha! – a senhora a arrastou até o homem e fez um gesto para que eles dessem as mãos. – Esse é o Rei Jeremias, do Reino Oeste.

Ela fez uma careta e apertou a mão do homem com desgosto.

– Mas que enorme prazer, senhorita! – ele curvou-se, beijando-lhe a mão.

– Obrigada. – soltou, entre os dentes.

– Mas que modos são estes? – sibilou a avó.

– Desculpe. O prazer é todo meu! – disse Ruby, dando uma grande reverência enquanto revirava os olhos.

– Desculpe, ela é meio... – sussurrou para o homem. – Não vem ao caso. Devemos continuar?

– Certamente. – sorriu o homem, mostrando os dentes.

– Jeremias, como eu já disse, é o rei do Reino Oeste e... – ela bufou. – Ruby!

A menina admirava atentamente pela janela um navio ancorar na praia. Seus pensamentos voavam soltos: tudo que ela queria era escapar daquele lugar, pegar o primeiro navio e ir para um lugar onde ninguém a conhecesse, onde pudesse recomeçar.

– Desculpe vovó. – ela suspirou, afastando os pensamentos.

– Como eu ia dizendo... Seu filho, o Príncipe Graham...

– Peraí! Você não quer que eu...? – antes que ela continuasse a frase, respirou fundo e mudou o rumo da frase. - Será um prazer conhecê-lo, Vossa Majestade.

– Sabia que você entenderia, minha pequena Ruby. - ela disse, soltando um sorriso de orelha a orelha.

[...]

Depois de ficar cerca de uma hora admirando os navios no porto, ela finalmente se levantou e se dirigiu ao seus aposentos.

Sentou-se a beira da janela e ficou ouvindo o canto dos pássaros enquanto lia, pela milésima vez, seu livro favorito.

De repente, uma batida suave na porta rompeu o silêncio. A face redonda de sua avó surgiu na fresta da porta.

– Ruby, ouça querida... - ela começou suavemente.

– Não quero conversar agora. – sua voz soou trêmula. O que ela menos queria agora era falar sobre seu casamento. - Estou ocupada.

– Mas... – a avó suspirou. - Talvez não seja tão ruim quanto parece, docinho...

– Por favor, vovó! - ela gritou. - Me deixe em paz por um segundo.

– Modos, mocinha! Ainda sou sua avó. – a velha rugiu e bateu a porta com força.