Lily e Violet contavam os segredos uma à outra, e por isso ambas sabiam do que se tinha passado com os professores. No entanto, elas eram amigas o suficiente para não se julgarem uma à outra e não apontarem o dedo a alguma ação que tomassem.

– Mas Violet, pensa comigo. É muito bom ser valorizada e que reparem em nós pelo que fazemos de melhor. O professor Tokiya tem quantos anos, sabes?

– Não, de todo. Só que aquele momento na aula soube-me tão bem e pareceu tão certo…

– Eu compreendo que te sintas sozinha e tudo isso. Eu também tenho estado um pouco em baixo com isso, porque me parece que nenhum rapaz “normal” se vai interessar por mim tão cedo. De qualquer forma, não é isso que quero para mim neste momento e neste sítio. Tens de entender que estou mesmo preocupada contigo, Violet. Não podes andar a ter “momentos” com pessoas mais velhas que tu e em posição superior… Estás a ver onde quero chegar?

– Lily, é fácil falar. Não podes culpar o meu coração por se sentir assim. Como te disse, pareceu tão certo…

– Mas não é!! Nem sequer sabes se aquela dança significou algo para ele. O ponto principal é que ele é PROFESSOR!!!! DE DANÇA!!! Vou dizer-te algo muito sincero, e peço-te que não me leves a mal.

– Diz, sabes que somos amigas.

– Tens de aprender e de conseguir controlar as tuas hormonas, rapariga!!!!!

– Desculpa lá se sou mais sentimental que tu, ó coração-pedra.

E assim foi a conversa delas antes de irem para a escola. Como sempre, foram de patins e conseguiram chegar muito mais rápido do que nos outros dias. Ficaram orgulhosas com isso e entraram nas salas de aula mais motivadas e bem-dispostas.

Num plano bem diferente do que estamos a presenciar agora, o professor Tokiya conseguiu entrar na base de dados da escola. Ele tinha competências informáticas bem avançadas que adquiriu com um pequeno trabalho, e agora tinha de dar o seu melhor, se queria conseguir o que mais desejava. Ele estava ali para encontrar informações de uma pessoa que ele achava ser bastante importante. Depois de entrar na base de dados, arranjou todos os dados que queria e foi-se embora da sala de administração, sem deixar nenhum rasto.

Poderíamos ser levados a pensar que o que ele fez estaria um pouco errado, mas a causa pela qual ele lutava era a mais nobre de todas.

Voltando ao plano das meninas, Lily estava muito indecisa quanto ao que fazer durante a sua hora de almoço naquele dia. Ela não queria mesmo que se passasse o mesmo na sala de música para os alunos. Não é que tivesse medo do professor, o que ela não queria deixar que cedesse era o seu coração. Não queria largar a sua postura de estudiosa, pois sabia que o que acontecera tinha mexido com ela… Também ela se sentia sozinha, embora não o demonstrasse tão abertamente quanto Violet.

Por tudo isto, resolveu não ir tocar naquela hora de almoço. Foi antes à biblioteca da escola e tentou encontrar alguns livros que os professores tinham pedido para umas matérias que iriam ser dadas mais para a frente. Ela reconhecia no seu íntimo que tinha algum receio de encontrar o professor Masato, mas ao mesmo tempo havia um outro sentimento conflituante dentro dela: a vontade de o encontrar de novo.