Duas Semanas depois...

–Sandy Campbell, 17 anos, sua ficha é impecável, você tem muito mais chance de conseguir o emprego do que qualquer um deste curso. Tem certeza de que quer ir embora?

Sandy diz sim com a cabeça. Ela desejava sair do seu estágio, o mesmo estágio que os únicos sobreviventes da sala de cinema seis estavam. O estagiário mais esforçado dos oito escolhidos ganha um emprego fixo na Fábrica de pasta de dente Wilcox.

–Eu sinto muito, senhor, eu sei que tem perdido muito tempo comigo, mas é que... Não dá, pra continuar... Eu estou muito lerda no estágio, pois fico pensando naquelas pessoas, que permaneceram na sala sabe... Eu sei que não as conheço, mas... Eu fico pensando, como as famílias das vítimas ficaram depois da notícia, eu acho, que quando alguém, ou muitos como foi o caso, morrem, bem diante dos nossos olhos... Eu acho que pelo menos uma boa parte de nós, também... Morre... –Sandy enxuga seus olhos antes que a lágrima derramasse. Então, achei melhor não continuar mais aqui, principalmente, porque tem todas aquelas pessoas, que ficam me olhando, só pelo fato de eu ter pressentido o que ia acontecer naquele shopping...

–Olha Sandy, eu sei como isso é difícil pra você, sei como isso foi traumatizante, ver o que ia acontecer, antes de acontecer, mas você salvou aquelas pessoas, você salvou sete pessoas, de terem sido mortas! E por isso você, principalmente você, tem que seguir em frente, assim como todos os sobreviventes que retomaram suas vidas, eles renasceram de novo.

–Senhor Schwarz, o que eu estou querendo dizer, é que... Muitas pessoas que eu realmente considerava meus amigos de verdade, se afastaram só porque eu tive aquela maldita visão, premonição, sei lá. Eles me consideram uma anormal! E eu estou começando a acreditar neles, e aquele velho ditado que diz que é numa hora dessas, que se descobre quem são seus amigos de verdade... E com certeza, esse foi o ditado que está mais presente na minha vida...

–E o que eu estou querendo dizer, é que não deve deixar essa tragédia, ser a coisa mais importante da sua vida. Afinal, você não deve se culpar.

–O senhor... O senhor tem razão, eu acho que é melhor eu... Ficar mais um pouco, quem sabe, as coisas melhorem, obrigada pela conversa.

–Se cuida Sandy!

Sandy sai do escritório do seu chefe, o grande empresário Sr. Schwarz, dono e líder de toda aquela fábrica. Ele era gordo, careca, e andava sempre com seu melhor terno. Sandy caminhava pelos corredores da fábrica com ar de tensão, via todos os estagiários em ação, como se nada tivesse acontecido. Ela não acreditava no que via. Ela procurava Will em meio daquele alvoroço, mas lembra que Will estava de folga, quando os outros estagiários percebem que Sandy os observava, eles começam a conversarem entre si, olhando para a garota.

Logo, todos eles começam a rir, ela ouve a voz de Penny, a chamando de aberração. Era dela que Sandy falava com o Sr. Schwarz. Sobre as amizades que ela tinha antes do ocorrido. No grupo de estagiários que zombavam de Sandy estava: Howl, Charlotte, Robbie, e claro, Penny. Diana não participava do grupinho, estava sozinha, sentada em um degrau da escada que levava a uma porta escrito "Acesso Restrito". Mas nem todos daquela região estavam rindo no momento. Charlotte, não estavam rindo. Charlotte, porque mesmo com todo aquele seu ar mesquinho, ela acabou ficando com pena de Sandy, e parou de zomba-la, e Diana, nunca havia rido, pois se sentia péssima com a situação de Sandy. Era o dia de folga de Will como Sandy já havia lembrado e Selena não estava trabalhando como os outros. Então, onde estavam eles?

Will aparece por trás de Sandy quando esta estava concentrada nas perigosas máquinas que exerciam diversas funções “Oi.” Sandy soluça de susto na hora.

–Will, o que tá fazendo aqui, não é seu dia de vir à fábrica.

–Eu te procurei por todo o canto, soube que você saiu de casa, também fiquei sabendo que você vai sair do estágio, é verdade? –Sandy tenta responder, mas Will a interrompe– SELENA, ACHEI ELA!

–Sandy! –Selena abraça a amiga com força. –Te procuramos por todo o canto, soubemos que você saiu, é verdade que vai parar nessa altura do campeonato? –Sandy faz uma cara de surpresa ao ouvir as rápidas palavras de Selena.

–Olha, em primeiro lugar, eu não vou sair do estágio. Não mais... –Sandy franze a testa.

–Ai, graças a Deus, não me mata de susto!

–Em segundo lugar, como sabem disso tudo?

–Sua vizinha, ela nos conta tudo.

–A Senhorita Meirelles?

–Ela mesma! –Responde Selena sorrindo de um jeito que todos os seus dentes ficavam a mostra.

–Mas não pedimos informação dela não! –Explica-se Will– Foi ela que nos viu batendo na sua porta.

–Ok, tentando deixar de lado o fato da minha vizinha conta minha vida para desconhecidos, como estão as coisas?

–Estão ótimas, mas não ligamos pra nossa situação. –Will aproxima-se de Sandy– Ligamos pra sua. –Sandy tenta não olhar para o olhar encantador de Will, mas para ela, era impossível. –Desde que aquele acidente aconteceu você não é mais a mesma.

– Ninguém é o mesmo depois de ver pessoas literalmente morrendo, Will. –Diz Sandy, tirando as mãos de Will de cima de seus ombros.

–Sandy, você tem que esquecer tudo isso, já faz o que... Duas semanas?

–Olha, eu sei, todo mundo fala isso pra mim eu tô tentando, mas... Não tá dando certo... –Sandy volta a olhar para o chão.

–E eu sei exatamente o motivo de não estar dando certo!

–É mesmo? –Sandy ri ironicamente, mas de um jeito amigável– E qual é?

–Você não deixa seus amigos, nós– Selena sorri para Sandy–, entrarmos na sua vida. Você quer resolver tudo sozinha, do seu jeito, e sem ninguém pra te distrair. E é por isso, que não está dando certo.

–Você, você está certo. Desculpa gente. –Sandy os abraça. Logo, Charlotte chega, falando:

–Sandy, oi... –Charlotte fala com seu tom de tímida segurando uma barra de chocolate.

–O que é que você quer garota, vai procurar sua turma! –Selena responde por Sandy para Charlotte.

–Calma Selena, Charlotte... –Sandy solta seus amigos– Oi! O que você quer?

–É que eu queria agradecer, sabe...

–Agradecer pelo quê?

–Bom, graças a você, eu estou aqui, agora, estou viva... –Charlotte entrega a barra de chocolate– Então... Será que você me perdoa? Eu sei que eu fui uma idiota esse tempo todo, mas é que eu... Tinha inveja de você. Você tem amigos, de verdade, e vi que eu só estava neste estado, por causa do meu comportamento, então depois do que ouve naquela sala de cinema, eu achei que essa, poderia ser... A minha turma.

–Bom, eu acho que a Penny tomou o seu lugar de barraqueira insuportável então... Vem cá. –Charlotte abraça Sandy, mudando totalmente a relação entre elas duas, como se Penny e ela tivesse fazendo uma espécie de travessia.

–E, eu vou ter que aceitar ela com a gente no intervalo? –Diz Selena.

–Parece que sim, né... –Diz Will, não parecendo estar feliz, mas com o tempo, eles vão começar a se acostumar, e mudarem a opinião que ambos tinham sobre Charlotte.

–Ei, vocês estão livres na quarta feira? – Diz Will.

–Que data é quarta feira? –Diz Sandy.

–Dia 13. –Diz Charlotte após ver no calendário virtual em seu celular.

–Eu estou! –Diz Charlotte.

–Eu também, eu acho, preciso ver na minha agenda. –Diz Selena, querendo parecer ocupada na frente de Charlotte.

–Eu estou, mas o que isso importa? –Diz Sandy com uma expressão de curiosidade.

–Talvez devêssemos fazer uma reuniãozinha só para os mais chegados.

–Ah, é? E essa reuniãozinha serve pra quê exatamente? –Diz Sandy

–Oras... Primeiro, que é pra nós nos distrairmos, pra nós renascermos de novo, e segundo pra mostrar para Charlotte o que é se divertir de verdade! –Diz Will.

–Ah, vamos Sandy, todo mundo precisa se distrair né. –Selena apoia Will.

–Tá bom, eu aceito seu convite, mas desde que seja apenas uma humilde reunião, eu tô precisando disso. –Diz Sandy, e mais uma vez, foi convencida a algo que pode ou não ser tão agradável quanto ela pensa...