– Eu não vou fazer isso. Eu gosto da sua companhia, você é uma das únicas pessoas agradáveis que eu conheci.

– Agradável? Eu usaria esse adjetivo para caracterizar o meu peixinho dourado, na verdade, acho que até meu peixinho merece um elogio melhor do que esse. – ela deu as costa e deixou o garoto olhando-a se afastar.

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Não muito a frente, Angelina subia as escadas apressada, pois Nicholas estava a seguindo.

– Se você parasse para me escutar eu explicaria. – disse o garoto sem perder a velocidade.

– Explicar o quê? – ela parou – Que você acredita na Petra? Isso eu já sei.

– Olha pra mim que eu te explico o que aconteceu.

Ela virou-se para ele, que estava dois degraus a baixo.

– Eu estou escutando.

– A Petra me pediu desculpas.

– E por isso vai acreditar nela? – Angelina adiantou-se – Ela está tentando se passar por inocente.

– O que você tem tanto contra ela? Eu sei que ela fez coisas erradas, mas não é você que diz que todo mundo merece uma segunda chance? – ela desviou o olhar sem falar nada – Eu estou do seu lado, eu sempre estarei, mas e se tivermos cometendo uma injustiça contra a Petra? Isso não é nada certo.

Angelina pensou um pouco antes de concordar com a proposta.

– Tudo bem, eu darei mais uma chance a ela. Talvez eu esteja mesmo pensando coisas erradas, ela pode ser uma pessoa melhor do que eu imagino.

– Obrigado por me escutar.

Os dois subiram as escadas, até chegarem ao corredor onde ficava a sala de aula deles. Um tanto afastada da porta, Petra estava tomando água no bebedouro. Angelina olhou para Nicholas e depois para a garota, ele entendeu o recado e os dois foram até ela.

– Oi, Petra... – cumprimentou Angelina encabulada – Eu só queria pedir desculpas p-por... Por tudo. Eu acho que não devemos julgar as pessoas por primeiras impressões, estou disposta a esquecer o que aconteceu e ficar de bem com você.

Nicholas mostrou um sorriso de aprovação para Angelina.

– Eu que devo me desculpar. – Petra limpou a água que ficara em seus lábios com as mangas do casaco – Eu quero ser sua amiga, por favor, me desculpe.

– Tudo bem, eu acho que podemos recomeçar.

– Seria demais te pedir um abraço?

– Claro que não.

Petra abraçou o pescoço de Angelina e sussurrou em seu ouvido:

– Eu irei te recompensar por tudo o que aconteceu, prometo.

Os três entraram na sala e sentaram em suas classes. Após tocar o sinal, a Diretora entrou e todos ficaram em um silêncio respeitoso e amedrontado.

– Receio informa-los que a Sra. Albuquerque não poderá lecionar Língua Portuguesa por algumas semanas, ela sofreu uma lesão no ombro e tende ficar de repouso, por isso eu queria apresenta-los a professora substituta. – alguns murmúrios, risadinhas e comentários invadiram a sala que antes não havia ruídos – Silêncio, eu ainda não acabei! Srta. Clarke, pode entrar, por gentileza.

Uma jovem moça entrou pela porta, saia social e camisa branca com botões, seus cabelos loiros eram presos em um coque de muito bom gosto, deixando apenas alguns fiapos de sua franja caírem contornando suas bochechas. A moça pôs-se em frente à classe com os cadernos em mãos.

– Bom dia, eu me chamo...

– Como vai, tia Elo?! – Petra quebrou o silêncio entre os alunos.

A jovem professora olhou para ela surpresa e deus alguns passos para trás.

– Petra, eu achei que você estudasse em outra escola.

– Estudava, mas fui transferida para cá por causa de alguns probleminhas, e aqui estou eu, serei sua aluna. – ela sorriu e olhou a professora fixamente.

– Isso é... Isso é muit-to bom, eu fico feliz. – disse ela desconcertada, mas respirou fundo e olhou para os outros alunos – Como eu estava dizendo, me chamo Eloísa Clarke e vou substituir a Sra. Albuquerque. Não costuma pegar no pé dos alunos, mas sempre que precisar, serei pulso firme.

– Agora eu preciso ir, espero que você se de bem com essa turma, até logo – a Diretora se retirou e olhou por entre a brecha da porta enquanto ela se fechava.

A Srta. Clarke pareceu um pouco tensa durante a aula, mas conseguiu ser simpática com os alunos.

E no dia seguinte, a turma teria Português novamente, mas a Diretora entrou na sala e apresentou outra substituta, a Sra.Filler.

– Mas o que aconteceu com a Srta. Clarke? – perguntou alguém.

– A Srta. Clarke teve alguns probleminhas pessoais e não pode ficar, mas eu sei que a Sra.Filler fará um bom trabalho. – respondeu a Diretora.

Angelina não convenceu-se muito, sentia que havia algo mais, e por coincidência do destino ou não, ela estava voltando para a casa de carro quando viu a Srta.Clarke andando na rua. Ela pediu ao motorista para parar e desceu.

– Srta. Clarke! – gritou, mas a mulher não escutou – Srta.Clarke!

– Desculpe, eu conheço você? – perguntou ela finalmente percebendo a presença da garota.

– Meu nome é Angelina Finkler, eu estudo na Escola Secundária Welsburg, você iria dar aula para a minha turma. Seria indelicado perguntar por que saiu?

– Não, eu só terei que viajar por que a minha filha vai trabalhar em outra cidade, então eu quero ir junto com ela. – disse a moça, mas Angelina ainda não havia se convencido.

– Tem certeza?! Você é tia da Petra, certo?

A mulher ficou agitada de repente.

– Sinto muito, eu preciso ir!

– Espera! O que aconteceu?

– Só não fale nessa garota! – disse ela caminhando a passos apressados.

– O que tem ela? – a moça ignorou e seguiu caminhando – Srta. Clarke, por favor, me conte! A Petra me magoou muito, mas depois pediu desculpas, mesmo assim não sei se devo confiar nela, então se a algo sobre ela que eu não saiba, me conte, por favor!

– Não! – a mulher parou e segurou firme os dois braços de Angelina – Não confie nessa menina de jeito nenhum!

– Mas por quê?

– Não confie nela, não a proteja e muito menos vire as costas, ela pode te atacar sem você perceber! – a Srta. Clarke estava nervosa com os olhos arregalados – Não confie nela, entendeu?! Não confie!

– Eu não estou entendo, por favor, me explique.

Ela soltou a garota e suspirou.

– Você pode dar uma caminhada comigo, prometo que lhe explico.

– Tudo bem, só um segundo. – ela pegou o celular do bolso e com os dedos ágeis discou vários números – Luigi, vou demorar um pouco, assim que precisar eu ligo pra você. – e desligou.