Era hora de estudar e o dia estava começando, Mira e Harry entravam lado a lado pelos portões da escola. Ela estava com a sua costumeira trança lateral que caía até a cintura, a pele morena e os olhos penetrantes, andava com as mãos nas costas, revestia o caminha com passos curtos. Harry continuava sério e fechado, como se tivesse escondendo-se por trás dos óculos, com cabelos e olhos pretos, parecia não exibir sorrisos uma vez se quer.

– As aulas começaram a uma semana, mas parece que já se passaram meses. – comentou ela.

– E isso é bom ou ruim?

– Não sei, um pouco dos dois.

Por alguns segundos os dois continuaram caminhando em silêncio, até entrarem e percorrem os corredores da escola.

– Você é diferente – começou Harry depois de pensar em sua conclusão –, às vezes eu não te entendo. Todos costumam ser previsíveis de alguma forma, é fácil deduzir suas escolhas ou sua personalidade. Mas às vezes eu não te compreendo, e isso chega a ser estranho. Acho que pela primeira vez entender não parece minha obrigação, e sim uma escolha.

– Eu também não te entendo às vezes, você é bem diferente do resto das pessoas – ela sorriu –, e isso é o que mais gosto em você.

Harry não esboçou nenhum sorriso ou expressão, mas Mira sabia que isso não importava, ela mais do que ninguém conseguia ler os olhos dele, e era de uma forma que palavra nenhuma conseguiria descrever.

Nesse instante, Caleb e Rebecca entraram na sala de aula quase vazia, dependuraram suas mochilas nas cadeiras correspondentes a seus lugares, e sentaram-se. Mais e mais alunos começaram a encher a sala.

Rebecca levantou-se e foi até a classe de Caleb.

– Eu esqueci de te perguntar uma coisa antes.

– Fala aí. – disse o garoto largando um caderno sobre a mesa.

– Minha mãe não vai poder voltar do trabalho a tempo do almoço, meu pai também, na verdade ele nunca volta para o almoço mesmo, mas em fim, é que ela tem uma reunião urgente no trabalho. E eu estava pensando – ela pausou mexendo nos dedos –, você não gostaria de ir à lanchonete aqui perto da escola comigo?

– Mas hoje?

– É, eu pensei que seria uma boa ideia almoçarmos juntos, para eu não comer sozinha.

Antes de Caleb responder, Ariel entrou na sala seguida de Greg.

– O professor está vindo! – anunciou.

Alguns dos alunos que esperavam do lado de fora entraram rapidamente, Sarah e Angelina chegaram entre eles.

– Bom dia, classe! – cumprimentou o professor parado na porta, esperando todos os alunos sentarem em seus devidos lugares – Como passaram o final de semana?

E começou o alvoroço, todos tinham algo para falar, tanto para o professor quanto para os colegas, “colocar a fofoca em dia”, como dizem, é exatamente a expressão que se encaixava nesse momento.

– Silêncio! – disse o professor, mas ninguém o escutou.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou a diretora com rispidez entrando pela porta, as falas pararam de imediato – Que bagunça é essa?! Que falta de respeito! Justo hoje que vocês irão receber uma nova colega!

Só nesse momento a turma prestou atenção na jovem de perfeitos cabelos loiros parada ao lado da diretora. Todos ficaram a olhando, enquanto a mesma sorria com os lábios reluzentes e brilhosos.

– Esta é a senhorita Petra. – e indicou com a mão direita a garota – Fale um pouco de você, por favor.

A garota de olhos cor de mel se pôs em frente à classe exibindo um sorriso meigo. Sua camisa de botões sem mangas chamava atenção pelo decote amplo, uma mini saia cor de rosa deixava quase suas pernas inteiras a mostra, mas a meia branca até o meio da coxa a cobria.

– Oi, gente! O meu nome é Petra e eu sou transferida. Eu gosto muito de passear pelo parque, também gosto de escutar música, Rock principalmente, mas claro, sempre arranjo um tempo para estudar, os estudos acima de tudo. – a cada palavra, ela parecia contagiar a todos – Eu acho que é isso, o resto vou deixar para vocês me conhecerem melhor, eu estou ansiosa para me tornar amiga de todo mundo.

– Louis, passe para a classe de trás, Petra, pode ficar no lugar dele, acho que você consegue enxergar bem daí.

– Sim, obrigado. – respondeu já organizando seus materiais.

E a aula continuou dali. Tanto Sarah quanto Angelina notaram que a garota poderia ser legal, no recreio, as duas pensaram que seria uma boa ideia conversar com ela, afinal, foi conversando com Mira quando ela era novata que se tornaram amigas.

A garota amaciava os cabelos compridos de franja reta e meio rabo de cavalo para o lado esquerdo, passava os dedos entre as ondulações como se estivesse mergulhando-os em um mar de ondas douradas.

...

Era recreio, Petra sentou-se sozinha em um dos bancos ao ar livre.

– Vamos conversar com a menina nova? – perguntou Angelina à Sarah, que estavam afastadas dela.

– Vamos, ela deve ser legal.

Chegando lá perto, Angelina começou a falar:

– Oi, eu sou a Angelina, essa é a minha amiga Sarah. Você se chama Petra, não é mesmo?!

– Sim, prazer em conhecê-las.

– O prazer é todo nosso.

– Essa escola parece divertida, mal posso esperar para explorá-la por inteiro.

– Pois é, ela é. – afirmou Angelina.

– E você? – perguntou Petra olhando para Sarah – Você não disse nada até agora, é tão quietinha.

– Desculpe, eu só não estou muito acostumada a conhecer gente nova. – falou Sarah um tanto envergonhada.

– Eu entendo, mas logo seremos amigas e você não terá mais esse problema.

As três conversaram e se conheceram melhor, ficaram jogando conversa fora até o sinal tocar.

– Podem subir, eu só vou ao banheiro, já alcanço vocês. – murmurou a novata já nos corredores da escola.

Sarah e Angelina entraram na sala, a primeira sentou em seu lugar, e a outra se escorou na porta a espera da professora. Angelina notou que Petra estava a algum tempo sem voltar, inclusive a professora estava demorando muito também, então ela percorreu o corredor na direção do banheiro, mas Petra não estava lá. Ela desceu o lance de escadas, esperando encontrar a novata no banheiro de baixo, e ela estava certa, lá estava Petra... e Nicholas.

Ela estava pressionando os braços do garoto contra a parede, estava encostando seu corpo no dele, e seus lábios estavam quase se tocando.

– Você não chega aos pés dela, novata! – disse Nicholas empurrando Petra.