O Terrorista Íntimo escrita por Lu Rosa


Capítulo 6
Seis




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/553122/chapter/6

Já deveria ser bem tarde ou muito cedo quando Lisa cruzou os portões da propriedade Benedict. As estrelas já desapareciam do céu. Com lágrimas nos olhos, ela revia cada imagem de sua infância e adolescência vivida naqueles jardins. Embora se ressentisse da extrema autoridade do pai, ela sentia saudades do tempo em que vivia com eles.

O carro percorria a alameda ladeada pelos canteiros de flores até parar em frente à porta de entrada da casa.

Lisa parou o carro e entrou usando a chave que recebera de seus pais por ocasião de sua mudança.

“Para você se lembrar que sempre terá seu quarto lhe esperando.” – dissera sua mãe.

Ele nunca a usara, pois sempre ligava antes para o pai ir buscá-la na rodoviária.

Ela abriu a porta chamando pelos pais:

– Papai! Mamãe! Já cheguei.

Mas quem respondeu aos seus chamados foi Lionel Phelps.

– Olá, Lisa.

Ela fingiu surpresa:

– Sr. Lionel! O que faz na casa de meus pais?

– Ora, Lisa... Porque não deixemos de jogos e vamos ao que interessa... – ele se aproximou dela.

Neste momento, vindos da biblioteca, Arthur e Priscilla Benedict correram para abraçar a filha.

– Elisabeth, querida como você está? – perguntou Arthur

Ela se surpreendeu ao ver lágrimas nos olhos de seu pai e ela odiou Lionel Phelps pelo sofrimento que causara aos seus pais.

– Eu estou bem. Verdade. – Ela virou-se para Lionel – Eu vou lhe entregar o que você quer, mas primeiro quero ficar com meus pais.

Ele notou que ela parecia estar à beira de um ataque e por isso retrocedeu:

– Está bem, fique um pouco com seus pais e depois eu terei o que você me trouxe. – Rápido, ele foi até ela e pegou-lhe o braço com rudeza – Nem tente me enganar, Lisa. Se não você vai se arrepender.

Sem pensar ela retrucou:

– Como fez com seu irmão?

– Não. Quando eu acabar com você, a morte vai lhe parecer uma benção. – Ele roçou o braço dela com a ponta dos dedos, demonstrando assim suas intenções.

Lisa teve um arrepio de asco ao sentir aquele insulto. Ela saiu da sala com os pais sem olhar para trás.

Chegando ao quarto deles, eles se sentaram no sofá da saleta continua.

– Como vocês estão? Lionel os maltratou? – perguntou Lisa.

Arthur respondeu:

– O dia em que um canalha daqueles nos abater, eu já estarei morto. Mas, e você, filha? Como está? E que curativo é este no seu ombro?

Lisa se surpreendeu com a perspicácia de seu pai.

– Bem, na fuga eu acabei me machucando. Mas não é nada sério.

Arthur se levantou do sofá.

– O que realmente aconteceu, Elisabeth? Lionel Phelps chegou aqui com esses seguranças, dizendo que você havia enlouquecido e matado o irmão dele. Mas, eu comecei a achar aquela estória estranha e ele começou a cair em contradição. Você conhece seu pai, enquanto eu não me dou por satisfeito, não deixo o sujeito em paz. Aí ele se revelou. Disse que você tinha algo em seu poder que ele queria muito e que seu irmão tinha morrido por causa disso.

Lisa abriu a bolsa e mostrou o disco para os pais:

– O que ele quer está contido neste disco. São meses de investigação de John Phelps. Terrorismo biológico, assassinatos de políticos e provocar a desestabilidade do governo, além de provocar a queda do nosso presidente.

Com essa introdução, Lisa contou toda a estória para os pais, não omitindo nem mesmo seu envolvimento com Michael.

Aí, o General Benedict ficou furioso:

– Smith? Michael Smith? Com certeza não é o mesmo Michael Smith que me afrontou na Operação Sahana, na Guerra do Golfo em 91?

Lisa suspirou, desanimada.

– É sim, papai.

– Nem pensar! Eu não quero minha filha envolvida com aquele desertor!

– Papai, Michael não é desertor! – Lisa protestou – O senhor sabe que ele foi inocentado e teve uma dispensa honrosa. E que homem o senhor julga mais capaz do que aquele que salvou a vida da sua filha?

Arthur não soube o que responder

Sua mãe foi até ele como para consolá-lo:

– Arthur, Lisa está certa. Uma hora ela iria encontrar alguém que a fizesse defende-lo a todo custo. Assim com aconteceu conosco.

Arthur Benedict lembrou-se das batalhas que travara com o pai de Priscilla por ele ser um militar do norte. A família de Priscilla era do Sul dos Estados Unidos. Não foi fácil convence-lo a dar-lhe Priscilla em casamento. E Priscilla fora mais longe. Ameaçara o pai com uma fuga se ele não aceitasse seu casamento com Arthur. Lisa somente argumentara. O que deixou Arthur mais aliviado.

Um movimento chamou a atenção daquele veterano. Ele foi até a janela. Então ele pôde comprovar como seu futuro genro era corajoso.

– Lisa, venha cá. – Lisa juntou-se a ele na janela – Está vendo aquela sombra. Acho que seu noivo veio lhe resgatar.

Eles então viram Michael com um único golpe desacordar um dos seguranças. Então ele correu silenciosamente pelo gramado até chegar debaixo da janela do quarto.

Lisa correu pelo quarto pegando todos os lençóis que encontrava, quando ela voltou à janela, Michael já estava subindo pelos ramos de hera que se estendiam pelas paredes da casa.

Quando ele adentrou o quarto, ela o abraçou. Comovidos, os pais da moça só observavam.

Ele então percebeu a presença dos pais da moça e se desvencilhou dela, mas manteve-a próxima.

O General Benedict se aproximou do casal, dizendo:

– Então, é você mesmo. Eu deveria mandar prender você por se aproximar da minha filha, Smith.

Michael sustentou-lhe o olhar e retrucou:

– É. Acho que o senhor adoraria isso. – Olhando para Lisa, a tranqüilizou. – Está tudo bem, querida. Na última vez que nos encontramos, seu pai disse que me mataria com as próprias mãos se voltasse a pôr os olhos em mim. Mandar me prender foi uma evolução e tanto no nosso relacionamento. – finalizou rindo.

Voltando à janela, ele fez um sinal para os homens que aguardavam.

Mas as coisas se complicariam, porque, naquele momento, Lionel estava tendo uma conversa muito interessante com um de seus seguranças:

– O que foi que você disse? – perguntou Lionel.

– Foi o que ele me passou, senhor. O carro é igualzinho ao que ele viu um casal de namorados na entrada da cidade.

– Então quer dizer que Lisa não veio sozinha. Mas quem estaria com ela? – Ele permaneceu pensativo por alguns minutos. Súbito, ele lembrou-se - Claro só pode ser o tal do Smith. Pois bem, traga a família Benedict aqui. – ordenou para o segurança. – Vamos ver do que esse Michael Smith é capaz.

Mas, quando o segurança começou a abrir a fechadura da porta, Michael se escondeu atrás da mesma, esperando que ele entrasse.

– Vamos, moça. O senhor Lionel quer vê-la. – falou o homem entrando no quarto e segurando no braço de Lisa. Quando ele se virou para sair, levou um direto no queixo que o derrubou. Na queda ele bateu a cabeça contra um móvel e desmaiou.

Michael então pegou a mão de Lisa, começou a descer as escadas. O pai da moça os seguia de perto de arma em punho. A mãe preferiu esperar no quarto para não atrapalha-los.

Então Lisa foi para a biblioteca enfrentar Lionel e seu pai foi abrir a porta para Sullivan e Morris entrarem.

Lionel estava de costas para porta, quando Lisa entrou sozinha. A intenção era ganhar tempo até que Sullivan e Morris chegassem. Eles queriam que Lionel confessasse a morte de John Phelps.

– Soube que você quer falar comigo?

– Já se despediu de seus pais? Por que eu quero o disco e o quero agora.

Lisa ouviu um assovio.

– Então, você quer destruir as provas que seu irmão reuniu. Você quer infectar milhares de pessoas só por que um afro-americano é o novo presidente? Você assassinou seu irmão só por causa disso? – ela pegou o disco do bolso da saia – Você quer isto? Quer? Então seja homem e diga na minha cara que você matou seu irmão por causa deste disco. – Lisa fugia dele pela sala com o disco na mão, provocando-o.

– Lisa, se eu a pegar...

O grupo fora da biblioteca ouvia, esperando o momento de intervir.

Um clarão passou pela mente de Lionel. Por que Lisa queria tanto que ele confessasse seus crimes? É porque alguém estaria ouvindo. Aquela garota era muito esperta. Mas ele era mais esperto do que ela.

Passando por cima da poltrona, ele pulou em cima dela. Lisa tentou desviar, mas ele foi mais rápido. Encostando o cano da pistola em sua cabeça, ele gritou:

– Muito bem, eu vou contar até três e se ninguém aparecer, eu estouro os miolos dela.

Um a um, os homens foram entrando na biblioteca. O agente Morris até tentou sacar a arma, mas Phelps atirou nele. E continuou atirando Os outros se jogaram no chão, tentando se proteger das balas.

Rápida, Lisa aproveitou e deu uma cotovelada em Lionel, ele se curvou com a dor e ela aproveitou para fugir em direção ao gramado, passando pelas janelas francesas da biblioteca.

Lionel se recuperou do golpe e saiu em disparada atrás dela. Vendo que o caminho estava livre, Michael também correu em direção ao gramado.

– Espere, eu vou com você. – ofereceu-se Thomas.

– Não. – Michael o conteve – ligue para o FBI e peça ajuda.

– Eu faço isso. – Arthur replicou. – O agente Morris está ferido, mas não corre risco. Vão vocês e salvem minha filha.

Os dois homens dispararam em direção ao pequeno bosque que havia no final do gramado.

Lisa ouvia uma voz lhe chamando, mas preferiu continuar correndo. Ela não viu um ramo de planta e tropeçou, derrubando o disco. Com a proximidade da voz de Lionel, ela saltou sobre o galho de uma árvore e, com os movimentos de uma ginasta, escalou a árvore usando o galho como uma barra.

Lionel viu o estojo no chão e, rindo, quebrou o disco continuando a fazer seu jogo de nervos:

– Lisa, querida. Não precisa mais se esconder. Eu já tenho o que eu queria. E estou disposto a esquecer o que aconteceu. Vamos, apareça.

Lisa continuava calada, com os sentidos alerta.

Quando ele passou por ela, abandonando toda a cautela, Lisa saltou sobre ele, derrubando-o.

A arma caiu no chão, disparando acidentalmente. Os dois começaram então uma luta frenética para pegar a arma. Ela até conseguiu certa vantagem no início, mas sendo era menor e mais frágil do que ele, Lionel desferiu um soco em seu rosto, fazendo que ela fosse ao chão, deixando-a atordoada.

Ele pegou a arma, e a puxou pelo cabelo fazendo que ficasse de joelhos na sua frente.

Neste momento, Michael e Thomas atraídos pelo barulho do disparo, aproximaram-se do casal. Embora fossem homens experimentados com o perigo, ambos sabiam que aquele disparo poderia significar a morte de alguém muito amado, ainda que, para Thomas, alguém alvo de um amor há algum tempo sufocado, mas não esquecido...

Os dois prenderam a respiração quando Lisa, a despeito de toda cautela, enfrentou Lionel em um corpo-a-corpo desesperado e Michael se surpreendeu quando a amada desferiu um chute em Lionel deixando-o ligeiramente sem fôlego.

Movendo-se silenciosamente, ele chegou mais perto do casal no momento em que Lionel, cruelmente forçava Lisa a ajoelhar-se na sua frente.

– Agora, Lisa, eu vou acabar com isso de uma vez por todas. – e apontou a arma para ela.

Ela fechou os olhos e esperou pelo tiro.

Michael sentiu o sangue gelar nas veias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Terrorista Íntimo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.