Upside Down escrita por Lirael


Capítulo 21
Esforço de esposa.




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– Estou morrendo, mamãe... – Merida chorou.

– Posso lhe assegurar que não está. Continue mexendo.

Merida gemeu, tendo certeza de que estava sendo cozida viva. Quando ela pediu que sua mãe a ensinasse estava esperando por coisas como diplomacia ou o que fazer se o seu marido roncasse como um porco doente. A rainha, por outro lado, pensou que não era o suficiente que Merida aprendesse a dizer aos outros o que fazer, mas também aprender como fazê-lo.

Ela deu às lavadeiras do castelo um dia de folga e reuniu com Merida toda a roupa suja que puderam encontrar. Depois, encheram as tinas com água e após o décimo balde Merida pensou que não conseguiria mais ficar em pé sobre suas próprias pernas. Mas estavam apenas começando. Após trazer a lenha para aquecer a água, Merida e sua mãe se revezaram em turnos para bater a roupa nas tinas. Merida estava encharcada de suor e os músculos de seus braços protestavam com o esforço, mas elas tinha acabado de começar.

Conforme as semanas foram passando ela começou a pensar sobre as coisas que aprendera. Lavanderia era péssimo. Cozinhar era ruim, embora ela adorasse socar a massa do pão, a espera interminável a deixava impaciente. Esfregar o piso era irritante, uma vez que alguém sempre atravessava a parte que ela tinha acabado de terminar, deixando seus nervos em frangalhos. Fazer as contas da casa pelo menos distraía a sua mente e poupava seus músculos da parte mais pesada. Com as outras tarefas era muito mais fácil pensar nas coisas que preferia estar fazendo.

– Resmungar não vai fazer o tempo passar mais rápido nem a costura ser mais fácil. – Elinor repreendeu serenamente.

Havia mais costura para fazer do que horas suficientes para terminá-la. Merida nunca tinha pensado em quantas roupas duas pessoas precisavam. Lençóis, fronhas, toalhas de mesa, guardanapos, cortinas e cada ponto se rebelando contra ela. Não que Merida fosse muito ruim em costurar, mas ela apenas não via sentido naquilo tudo.

– Eu não acho que Soluço realmente se preocupa se eu sei fazer tudo isso. – Merida comentou.

Elinor a olhou fixamente por alguns segundos e foi suficiente para que Merida se arrependesse de dizer aquilo. No fim, era ela quem havia pedido a ajuda da mãe. E por mais que não gostasse das tarefas em si, tinha que admitir que o tempo gasto com sua mãe a acalmava e lhe fazia bem.

Elinor simplesmente baixou o lençol que estivera bordando e suspirou.

–Tudo bem.

– Tudo bem? – Merida ergueu uma sobrancelha, surpresa com a resignação da mãe.

–Você reconhece a importância dos lençóis, não é? - Merida inclinou a cabeça para ela. Importância era uma palavra um pouco forte, mas ela não disse nada, curiosa sobre o ponto de vista da mãe. – E você reconhece que isso irá ajuda-los a durar mais tempo?

Merida assentiu.

– Se você não vai fazê-los, vai ter que pagar a uma costureira para fazer isso por você. Você tem dinheiro para pagar uma?

– Não, mãe... – Merida suspirou, compreendendo onde Elinor queria chegar.

– Talvez você espere que alguém fará isso de graça, já que você é a princesa.

– Não, mãe... – Merida respondeu outra vez, mais fracamente do que a resposta anterior.

– Todas as mulheres casadas daqui costuraram seu próprio enxoval. Algumas delas estão ajudando suas filhas assim como eu estou lhe ajudando. – Elinor pegou o lençol outra vez e recomeçou o bordado. – Tradições não existem apenas para nos prender ao passado ou nos dar trabalho extra. Elas são uma maneira de nos lembrar de onde viemos, de nos conectar aos que vieram antes de nós e mostrar-lhes respeito. Usar seu tempo para fazer essas coisas vai mostrar ao seu marido que você pensa bem dele o suficiente para fazer um esforço, ainda mais se for algo que você particularmente não goste.

– Eu não tinha pensado nas coisas por esse lado. Você também fez seu enxoval antes de se casar com o papai?

– Cada peça. Minha mãe fez questão de que eu fizesse tudo sozinha. Ela se sentou e assistiu enquanto me fazia longos sermões sobre deveres de uma esposa. E algumas coisas que ela me disse com certeza me fizeram ver seu pai de uma forma diferente.

– Como o quê?

– Nem toda mulher tem a sorte que eu acabei tendo. – Elinor inclinou a cabeça para encarar a filha. – As vezes um pretendente mostra uma face durante o noivado e outra completamente diferente quando está sozinho com sua esposa. Nem todos os homens são amáveis atrás de portas fechadas como parecem ser em público. Nem todos os homens são tão bons como seu pai ou Soluço.

Merida assentiu, mas estava curiosa para saber a opinião da mãe a respeito de Soluço.

– E o que a faz pensar que ele é tão bom quanto o papai?

– O fato de ele ter lhe dado um ano para se decidir sobre a sua escolha diz muito sobre ele. Você o enfeitiçou, e ele poderia ter deixado Estóico matá-la, mas não o fez. Ele procurou uma solução pacífica que evitasse prejudicar a ambos os reinos, o que mostra que é uma pessoa calma e inteligente, e de maneira nenhuma rancorosa e egoísta. Depois, quando a levou para Berk, fez um esforço para não trata-la com rudeza, o que mostra que ele é um cavalheiro. E mesmo amando você e sabendo que você também o ama, ele lhe ofereceu um ano para pensar se isso é o que você realmente quer. Quantos dos seus pretendentes fariam o mesmo em uma situação como essa?

Merida desviou o olhar, ciente que nenhum deles faria. A rainha sacudiu o lençol sobre o colo levemente.

– Como está sua camisola, Merida?

Merida suspirou. A camisola era um pesadelo de bordados minúsculos de flores prateadas sobre um fundo branco interminável.

– Eu tenho que fazer isso? – ela gemeu – É um trabalho que ninguém vai ver de qualquer maneira...

– Seu marido vai. – Elinor respondeu, observando a filha corar e abaixar a cabeça novamente, concentrando-se no bordado com uma determinação implacável.

Merida reprimiu um riso ao pensar que Banguela também a veria de camisola e tratou de tirar aqueles pensamentos da cabeça e se concentrar em picar a agulha contra o tecido.


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Notas finais do capítulo

AAAAH, não falei que a Merida ia sofrer nesse capítulo?



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