Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 3
Colocaram fogo em Roma! Ops, em São Paulo!


Notas iniciais do capítulo

E a Giovanna literalmente está no meio do olho do furacão! Boa sorte para ela! Boa diversão para gente ;)



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Consigo chegar mais próximo ao grupo que tentava arrancar a cabine do fiscal de ônibus.

— Ei! Sou da imprensa! O que vocês reivindicam? – chego preparada perto dos manifestantes, com crachá de identificação do jornal que trabalho e com o gravador no ponto.

Uma turma se vira e me encara, a princípio como inimiga, mas depois da manifestação de uma mulher que veio em minha direção falando:

— Bem, se a imprensa está aqui, esses infelizes não podem nos atacar!

Ela está se referindo a mim, à polícia ou a quem? Mas a presença daquele fotógrafo irritante atrás de mim, me desperta mais exasperação! A moça chega mais perto, está com uma criança no colo (e como ela me coloca a bichinha naquela loucura toda?) que chora.

— É o seguinte – diz com um sotaque forte nordestino – Esses desgraçados vieram falar com a gente semana passada e disseram que viriam com mais de 40 caminhões para mudança! Oxê! E só vieram três! Moça... — ela me encara com certo deboche, enquanto a criancinha quer pegar o gravador.

— Então... – a estimulo a continuar.

— A senhora é da polícia ou da imprensa? – continua me encarando com certo ar de desconfiança.

— Da imprensa! – respondo convicta.

— Então, por que esse moço fica aí de guarda atrás da senhora?

Quando viro, quem está atrás de mim, com a respiração na minha nuca e como um cão de guarda? Ele mesmo, Júlio Sardinha. E ele aproveita da situação.

— A senhora poderia posar para uma foto?

Cara, mas as fotos jornalísticas não são espontâneas? Pelo menos, foi assim que estudei na faculdade. “Aonde esse cara quer chegar?”, me pergunto.

— Pois não! Gevanilda – diz a mulher para a filha – Dê um sorrisinho bem bonitinho para o moço que vamos sair no jornal!

Juro que não acredito na cena! A garotinha tira a chupeta da boca, dá um sorriso fofo e faltando os dentes de leite para o Júlio. A mulher também faz uma pose como fosse sair... sei lá, na Caras? Pode ser. E mais absurdo, estamos ao lado do Municipal, e o pau comendo solto lá na frente do Teatro. Aquele xarope nem se encabula, ainda ajeita as duas no enquadramento e acerta a posição. E registra a foto! Depois disso, a mulher dá todas as informações sobre a visão dos integrantes.

Pelo que ela me contou, o Movimento teve uma reunião com o pessoal da prefeitura, a subprefeitura, a Polícia Militar e o secretário da habitação e o combinado foi o seguinte: que 40 caminhões de uma empresa terceirizada iriam retirá-los dali e transportá-los em segurança junto com seus pertences para outro local.

Enquanto ela me conta, chegam mais curiosos, e outros integrantes do Movimento e completam as informações. Informam também que só vieram 3 caminhões e os funcionários jogaram seus pertences a torto e a direito para dentro dos baús. E o que pior, fariam não sei quantas viagens até deslocar todos do hotel ocupado.

O clima ficou tenso quando um dos membros provocou um dos policiais que assistiam à desocupação. Só que as informações se desencontram. Alguns declararam que o policial começou a bater no cara e outros informaram que os policiais que eram responsáveis pela retirada dos móveis. Mas pelo que saiba, não é função dos policiais, certo?

Me afasto procurando outros depoimentos, desta vez por  parte da polícia, e ele me segue. Ele mesmo, o fotógrafo despirocado.

— Escuta! Posso te fazer uma pergunta?

— Você já está fazendo! – ele me responde.

Nossa, como odeio quando falam gerúndio comigo! E ele tem essa maldita mania.

— Por que você pediu para que a mulher fizesse uma pose com a criança? Que saiba...

— Esse é meu método de trabalho! – diz – Veja, pequenina! – Jura que ele está me chamando de pequenina? Olha aí o gerúndio de novo! E desta vez fui eu que soltei essa pérola! Que ódio disso! – Você viu que a mulher ficou desconfiada? Chegou a perguntar se você era da polícia? Pois então! Fiz um agrado para ela!

— Agrado? Você mentiu para ela! Disse que iria mandar a foto por e-mail! Como isso se nem casa ela tem!

— Ué? E precisa casa para ter e-mail? Isso foi uma manobra...

— Uma manobra? Você praticamente manipulou a mulher!

— Manipulei nada! – ele se contradiz – Apenas foi um meio que ela abrisse o bico e tivesse segurança com a gente! Pior você! Por que não utiliza o seu smartphone para gravar os depoimentos? – Ele me indaga com uma arrastada no erre da palavra smartphone, com aquele típico sotaque do interior paulista. Sim, o Júlio nasceu no interior, em Piracicaba. Afinal, é a terra da pamonha. E outro adjetivo que posso denominá-lo?

— Eu não! – respondo. – Se eles fossem me roubar?

— Roubar! – ele repete indignado. — Roubar! Como eles iriam roubar um smartphone se eles querem casa, Gi? Por acaso fiquei com medo que eles me furtassem a minha câmara?

— Furtar e roubar são coisas diferentes! – retruco.

— Pois não, gênia! Posso terminar a minha explicação?

— Por favor! – provoco.

— Tá! Então, se tivesse medo deles, não iria trabalhar! Afinal, todas minhas máquinas são caríssimas, de última geração...

E blá, blá, blá! Além de intrometido, é arrogante! Seguimos a pé até o verdadeiro “princípio” de incêndio: a esquina das avenidas Ipiranga com São João. E a coisa está realmente feia! O tumulto se alastrou e dominou quase todos os arredores. Mais carros de reportagens de rádio, TV, de sites de internet, enfim, um pandemônio generalizado. Fico pensando como será a abordagem dos apresentadores de TV, daqueles programas policiais. Eles parecem que estão em uma feira livre de tanto que berram.

Preciso colher mais dados, voltar ao carro, mandar as primeiras informações para redação. Assim como o Júlio precisa baixar as fotos, mas segundo ele, “isso se faz rapidinho”, e enviá-las para alimentar o site e as redes sociais do jornal. Mais tarde, quando paramos para enviar as primeiras informações, o Juarez nos serve pãezinhos de queijo, suco de caju da sua garrafa térmica, e alguns lanchinhos de carne louca. Agora, não me pergunte como ele conseguiu aqueles lanches...

— Viu, só? – o fotógrafo me chama a atenção, enquanto consegue passar as fotos para a redação por uma engenhoca que ele mesmo inventou. — O que a tecnologia faz com a vida das pessoas! Se uma coisa falhar aqui, nós ferramos! Por isso devemos estar sempre preparados!

Olha, juro que tento evitar, mas reviro os olhos internamente. Como esse cara pode ser tão chato? Arrogante? Metido a intelectual? E sabichão? E tem mais! Se acha O descolado com aquele sotaque caipira de roça, criador de frango e vaca!


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Notas finais do capítulo

Bem, antes de tudo, gostaria de agradecer à Clark, ao Tommy Adams, à Nightmare e a DEATH por ter favoritado a fic^^ E também à LittleLullaby e à Lyrah Velcyd Luniehr, que nome difícil mulher! XD
Também gostaria de agradecer a mais gente, mas... como querem que mande beijinhos, se vocês se escondem? >.< Hunf... Não fique anônimo e revele: "eu acompanho Chamem os Bombeiros!!" Aeeeeeeeeeee
Bem, espero que vocês tenham curtido esse capítulo, tanto quanto gostei de escrevê-lo. E no próximo capítulo... uma dose extra de Júlio para vocês ;)
Beijos e até terça que vem^^