Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 4
De noite, em casa


Notas iniciais do capítulo

Chegando com o 4º capítulo. E para quem é fã do Júlio Sardinha, vai ser um prato cheio^^



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“Abro os olhos e a casa está numa penumbra. Acho que já é noite. Espreguiço lentamente. Nossa, que sono, e como estou cansado! Oras, como diz o papai, o tal de dogwalker, me levou para passear até não poder mais. O Jerônimo me leva e mais uma turminha para dar umas voltas! É tão legal!

Hoje, conheci a Violeta. Uma nova coleguinha. Ela é muito bonita. Mas parece brava... Fui cumprimentá-la e ela rosnou. Como alguém tão pequena e bonitinha pode ser tão furiosa?

Levanto e dou mais uma espreguiçada. Sinto fome e sede. Vou até a área de serviço e bebo uma boa quantidade de água e depois devoro a minha comida. Às vezes, olho para trás porque sinto algo, mas não sei muito bem o que é. Não, não estou com medo. Porque se o papai voltar tarde, a senhora Belinha vem me buscar. Ela é um amor, me mima, enche de carinhos, mas não deixa aprontar como o papai. Isso é muito chato.

Ah, descobri! Agora deu para ver! Tem um passarinho lá na varanda. E olha que descarado. Ele tá me olhando! Começa a picar o vidro e mexer a cabeça do lado. O quê? Ele quer me provocar? Quer ver? Vou lá dar uma dentada nele! Saio correndo, mas tropeço e escorrego no tapete e quase encontro a minha cara com o vidro que separa a varanda da sala. Caramba, essa foi por pouco!

Ele me olha, dá uns piados e sai voando. Ah, se eu fosse um gato! Filha da mãe, você não me escapava! E por que o papai fechou o vidro? Que raiva! Tá bom, tá bom! É que da última vez estava com tédio só e descobri aquele vaso grande cheio de flores que a vovó presenteou o papai.

Quando ele chegou, tem que ver como ficou louco da vida comigo. Me xingou, e deu uma bronca e ainda me perguntou se penso que sou havaiano! Oras, só porque algumas flores ficaram grudadas na minha cabeça! Afinal, o que é um havaiano? Opa, levanto as orelhas atento à vibração. Fico em pé e encaro a porta. Acho que o papai vai chegar.... Caminho até lá e fico sentadinho, atento a qualquer ruído. É sim, posso sentir, ele está chegando...”

***********

Orra! Que dia longo! Tá louco, meu! Saio do carro do Jura com meus equipamentos, minha mochila e morto de fome. Dirijo-me à porta do meu prédio, arrastando-me. Mas valeu a pena! A cobertura da manifestação e do confronto dos MSTS com a polícia ficou muito boa! Bem, até que a Gi se saiu muito bem! A garota é esperta, inteligente e sabe “comer pelas beiradas” como ninguém, na hora de conseguir aquelas informações escabrosas. Aquela é jornalista que consegue tirar leite de pedra. Mas... Como é encanada, meu! Fica com medo disso, daquilo e sempre dá umas patadas em mim. Sério, não a entendo muito bem. Ela é bonita, sabe? Daria, brincando, uns beijos nela. Mas do jeito que me trata, duvido que se forçasse a barra, iria receber um bom tapa na cara, para não dizer o mínimo.

E o que dizer do Jura? Esse cara é gente boa! Um pouco doido varrido, concordo. Mas oh, com ele não tem tempo ruim. Se você falar para ele: “Vamos para Conchichina”, pensa que ele perguntaria: “Onde é isso?”. Que nada! Ele iria responder assim: “Booora!”.

Aperto o botão para chamar o elevador e verifico qual irá chegar primeiro. Deixo a mochila no chão e recoloco a camisa de flanela. Caramba, esfriou. Entro no elevador e dou de cara com o casal que curte fazer ménage à trois do andar de baixo. Como sei? Esqueceu que sou jornalista também? Eles têm um esquema, às vezes é com outra mulher, às vezes com outro homem. Agora, não sei como rola lá a sintonia. E oh, vou te contar... O cara é feio, rapaz! Putz, ele é gordinho, meio careca, lembra até o seu Barriga do Chaves. Ela é gostosa, mas usa tanto botox na cara, que parece uma traveca.

Eles não me cumprimentam, nem eu cumprimento-os. Ficamos assim, com aquela cara típica de elevador, olhando os números que acenam em que andar estamos. Eles descem, e sigo mais um andar. Quando pego a chave para abrir a porta, já dá para ouvir o Mozart andar para lá e para cá. E está arfando. Ajeito a mochila, porque sei, que assim abrir a porta, o cachorro vai dar um pulo como fosse me abraçar. E olha, esse é meu amigão.

E acontece exatamente o previsto, ele pula em minha direção, funga no meu ouvido e me mata de lambidas.

“Ai, papai! Que saudades!”.

— Oh, meu querido! Que saudades! O que fez de bom hoje, hein? – pergunto para o Mozart. Ele corre para lá e pra cá e vem buscar a galinha de plástico para brincar.

Quando era pequeno, a minha mãe me obrigou a estudar música. Isso porque muitos integrantes da família trabalham ou estudam com música. E, confesso, como era enfadonho. Sinceramente, não gostava do som do violino. Até que achava o piano, algo bem bacana. Estudei e conheci vários compositores. Mas foi com Mozart que me identifiquei. Cara, aquele homem era louco! Dava esporro em reis, bebia e farreava a noite inteira. E ainda escrevia músicas e melodias sensacionais.

Mais tarde, quando ganhei um cachorro de aniversário de uma ex-namorada (que essa história conto outro dia), não sabia muito bem qual nome dar ao bicho. Olhei, olhei. E não é que, pensei: “Mozart!”. Tem tudo a ver! Ele é golden retriever dourado, e muito, muito peludo e desastrado.

“Não sou desastrado, papai! Sou engenhoso! E curioso!”.

Vou ao banheiro, lavo as mãos e vou fazer algo para comer. Fazer algo para comer entre aspas, não? Porque é só escolher o que tem no congelador, colocar no micro-ondas e voliá!

Esquento a comida, e o cachorro senta-se ao meu lado, lambendo os beiços. Ótimo, estava na cara que ele iria querer um teco. E qual outra alternativa tenho? Mais tarde, lavo a louça, troco a água e a comida do meu amigo. Verifico que horas são e vou levá-lo para passear. Pelo menos um quarteirão. Afinal, é um meio de nos divertirmos. Fico longe dessa figura e tenho saudades. Às vezes, ele é mais sincero e gente boa que muitos amigos por aí.

Coloco a coleira no cachorro, pego alguns saquinhos de plástico, porque vai que ele fica com vontade de fazer o número dois na porta dos outros, não é? A volta é rápida. Afinal, estou cansado e louco por um banho. E fico pensando, o que irei fazer hoje? Não sei se assisto Breaking Bad, Walking Dead, se jogo ou ... Olha, quer saber? Estou com saudades da minha guitarra. Taí uma coisa que me acalmava, apesar de deixar os vizinhos de cabelos em pé. Me acalma, me relaxa. Mas a vendi.

Isso porque precisava comprar aquela máquina fotográfica belga de última geração. Até cheguei a sonhar com ela. Mas como foi cara! E por mais que me controle, tenho medo de usar cartão de crédito. Aí, pensei, pensei. Vendi a guitarra na época sem culpas. Afinal, foi a minha ex... É, aquela mesma que me presenteou com Mozart.

E foi uma separação doída, para ela, né? Foi libertador para mim. Conviver com uma garota borderline, não, não tenho paciência. Mas quer saber, não vou lembrar essa história tudo de novo. E depois dela, sempre fico meio receoso com as garotas, ditas, maluquinhas.

Volto para o apartamento, tomo um belo banho. E me jogo na cama, com notebook, para baixar as séries da semana. O Mozart senta-se ao meu lado, no chão. Não vou tocá-lo, não. Afinal, um faz companhia para o outro. Ele arfa e fica me olhando, como perguntasse, “Está com tudo bem com você?”. Cara, esse cachorro é muito gente boa.

Mas pena que tem perdido pelos. E perdido demais! Isso porque pelo que o veterinário disse, nessa época de ano, dependendo da raça, os cachorros trocam de pelos. Eu não ligo, mas... a Gi liga! Ela pensa que não reparei a cara de nojo que olhava para minha calça? E bem sei que ela me deu mais do que uma indireta sobre isso. Menina folgada!

Lá do jornal, é com quem mais gosto de trabalhar. Mas, nunca sei o que se passa realmente na cabeça dela. Há outras revistas que faço alguns frilas. E o que tem de estagiária dando mole. Não sei se acham porque posso dar outras “oportunidades” ou gostam de mim. Sabe, não sou o comedor. Passei dessa fase. Gosto de conversar, que a garota tenha um papo. Que nem a Melissa é linda. Uma repórter que às vezes dá de modelo. Deslumbrante! É a típica mulher que você gostaria nua na sua cama para fazer o que bem entender. Mas, quando ela abre a boca... Meu senhor! Dá vontade de falar: “Fica quieta e só faz o serviço”. Se é que você me entende!

Mas gosto da Gi! Ela é divertida, irreverente, sábia, mesmo com pouca idade. E aquele jeito atrapalhado dela, me cativa. Mas espera aí... Por que tenho pensando tanto naquela figura?


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Notas finais do capítulo

Antes de tudo, queria agradecer às novas companheiras aqui no trajeto da Gi e sua trupe: Lola Baudelarie e Senhorita GDragon! Um beijo e sejam bem-vindas^^
Mas vai aí um agradecimento especial para uma garota que já mora no meu coração: Clark! Foi ela que me desafiou a escrever essa história! Mesmo morrendo de medo, fui lá e dei a cara a tapa e aí está: Chamem os Bombeiros XD
E para minha maior alegria, não é que ela me dá a primeira recomendação da história? Aeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
Então, bora que essa história tem muuuuuuito chão^^
No domingo, você acompanha a Gi fazendo a cobertura do primeiro turno das eleições 2014! Uhuuu E com novos personagens! Então te espero ;)
Beijos :*



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