Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 25
Acertando os ponteiros


Notas iniciais do capítulo

Well, aqui estamos com mais um capítulo de CoB (para os íntimos) XD
Queria dedicar esse capítulo à Ys Wanderer que nos deu a nossa 8ª recomendação! Aeeeeee! Como diria o Felipe: “E aí, travesti? Tô podendo!”. Beijos, garota e muito obrigada



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/552798/chapter/25

Folheio sem vontade e distraído uma revista de decoração, mesmo assim, até me assusto com a pergunta da atendente:

— O senhor já quer pedir?

Quase dou um pulo, mas disfarço. Já imaginou como seria um cara grandalhão, como eu, dando pulo com uma atendente pequena? Cena de comédia, no mínimo.

— Por enquanto, não. Estou esperando a minha...

E agora? Garota? Rolo? Namorada? O que quero com a Gi? Eu sei o que quero, entretanto só ela pode me responder o que vou perguntar.

— Ah, entendi! – a garota fala como tivesse pegado algo no ar. – Está esperando a sua namorada?

Namorada. Essa seria a palavra certa. Mas será que a Gi vai querer?

— Isso! – respondo com um sorriso.

— Quer que eu traga um café ou uma água para esperar?

— Hum... Estou bem assim... Mas quer saber? Uma água sem gás.

— Tudo bem! E aí quando ela chegar...

Sugestão de trilha: Out of goodbyes – Maroon 5 feat Lady Antebellum.

Por que meu coração dispara quando a atendente de óculos, miudinha e com ar zombeteiro diz essa frase? “Quando ela chegar...”? Confesso que não escuto o restante do que ela fala. Se afasta com um sorriso enquanto volto a minha atenção à revista.

De longe ouço:

— Ei moça! O troco!!

De forma quase instintiva viro para porta e a vejo. Indecisa, linda e insegura. Está com os cabelos presos como fosse um coque, um vestido esvoaçante, mesmo que o tempo está ameno para um dia como dois de janeiro. E aparenta estar mais alta. Ah, sim, ela está com uma sandália com salto. Agora entendi porque a minha pequenina está mais alta.

A Gi se volta para o taxista com a expressão brava. E depois, se vira para doçaria. Sobe o primeiro degrau, incerta e medrosa. E meu coração vai quase parar na boca. E agora o que falo? O que faço? Tento me endireitar e levantar, mas o pânico se instala. Logo eu que tenho uma resposta para tudo na ponta da língua. Me chamaram de petulante, chato, irritante, intragável. Mas como fico tão tranquilo e da turma do “deixa quieto” ao lado dela. Será que ela vai me permitir continuar assim?

Quando entra no lugar, nossos olhos se encontram e ofereço um sorriso que sai tão natural que até eu mesmo me espanto. Apesar do lugar ser pequeno, acolhedor e aconchegante, a Gi tem o dom de deixa-lo melhor. A minha imaginação corre solta. Imagino que aquele lugar é um daqueles estabelecimentos de um hotel onde fomos viajar sozinhos. Saí do quarto antes e ela veio me encontrar. Oh, Deus, tenho delirado ultimamente.

A minha pequenina me devolve um sorriso, tímido, posso dizer, mas é sincero. Agora me levanto em direção a ela. A minha garota (será que ainda posso chamar assim?) pede com um gesto para que fique onde está, um pouco cambaleante por conta do salto. Ela se aproxima, me afasto mais um tantinho para que sente do meu lado. A Gi coloca a bolsa no banquinho da frente. O seu perfume é cítrico, tão intrigante como ela.

— Bem, aqui estou eu. – me diz.

— É... – não tenho reação. E somos salvos pelo gongo com a atendente que vem nos dizer:

— Boa-tarde! Aqui estão os cardápios.

— Obrigada!

— Obrigado!

Nós falamos juntos ao mesmo tempo. E isso faz com a gente dê risada e quebre o gelo.

— Como tinha prometido, vou querer o chá gelado do dia. – avisa.

— Eu também.

— Algo para acompanhar? – indaga a atendente. – Querem alguma sugestão?

— Quero uma fatia de bolo. – ela informa. – E você? – pergunta para mim.

A minha vontade foi dizer: “Quero você!”.

— Ah... eu também. Para falar a verdade, queria ovos Benedict.

A Gi inclina a cabeça debochada e eu levanto os ombros.

— Me deu vontade.

— Com bacon ou salmão, senhor?

— Não me chame de senhor, garota. Me sinto tão velho, apesar da barba. – retruco para a atendente.

Isso faz com que a Gi gargalhe. E para falar a verdade é um alívio.

A garota anota o pedido e mostra todos os tipos de bolo para minha pequenina. Ela escolhe um de marzipã, chocolate e nozes. Se vira para mim e diz:

— Nada calórico, né?

Dou uma risada sonora, com seu humor certeiro. Volta à mesa e senta-se ao meu lado.

— Bem. – ela começa. – Antes de tudo queria te pedir desculpas...

******

Sugestão de trilha: Labrinth feat Emeli Sandé – Beneath Your Beautiful.

Ele não me deixa terminar a frase. Sinto os seus braços ao meu redor, me abraçam com a sensação de saudades. E o retribuo. Juro que sinto minha garganta apertar. E encosto a minha cabeça na sua. E ele me sussurra no ouvido:

— Eu também errei, minha pequenina. Se você soubesse como senti sua falta.

Me solto e o encaro. Ainda sem entender muito bem o que tem acontecido com nós.

— Eu fui estúpida, Jú. Sua família mora longe, não é como a minha que vive aqui do lado. É só ligar para minha mãe ou meu pai... Caramba, sou imatura.

— Não é, não! – diz enquanto segura o meu queixo com a mão, forçando a olha-lo. – E outra, Gi, ainda não definimos...

Desvencilho do toque, me afasto. Quer apostar que ele não vai querer mais nada? “Oh, vamos continuar amigos, está bem?”. Mas o que ouço:

— Licença! Aqui estão os chás gelados e o seu bolo. Os ovos Benedict já chegam em 5 minutos. – a atendente parece curiosa. E nem um pouco envergonhada de nos atrapalhar.

E nos afastamos com a chegada brusca da garota. Inferno! Se toca, menina! Ela coloca os chás gelados na mesa e a fatia de bolo na minha frente. Me viro e quando vou pegar o garfo e a faca que estão dentro do saquinho, sinto sua mão na minha.

— Gi, acho que já está mais que na hora de decidir onde queremos chegar...

— Jú! Nós podemos comer e depois...

— Qual é o seu medo? – a pergunta vem como tiro à queima-roupa. Caramba, estamos discutindo o que somos, você não está em campo!

— Sinceramente? – inicio.

— Seus ovos Benedict. – a atendente se intromete com o prato do Júlio. – Com licença!

Deu vontade de falar: “Não! Nem esquente! Sente aí e escute a conversa.” Tenha dó!

— Sinceramente? – ele pergunta para me encorajar a continuar. – enquanto corta um dos ovos para comer.

E de repente, pareço uma criança e fico curiosa com o prato. Já tinha ouvido falar nos tais ovos Benedict. Mas não os experimentei. Benedict para mim me lembra o personagem do Andy Garcia em Onze Homens e Um Segredo. Vai entender...

Quando ele percebe que fico de olho nos ovos dele, digo, no prato que ele está experimentando, me oferece:

— Você quer?

— Não, obriga...

Mal termino de falar, e ele inclina o garfo em direção à minha boca. Como nos bons tempos... E quer saber? Abocanho com gosto. E o sabor é bom. Meio enjoativo, sim. Mas é bom!

— Boa garota! – ele solta com malícia. E de novo diz: - O que estava falando mesmo?

Pronto, perdi a linha de raciocínio. Maldito hipster! Como ele pode me deixar tão rumo e sem prumo. Isto é, me desarma sem que eu perceba.

— O que estava falando mesmo? – me pego pensando em voz alta. E agora experimento meu bolo. Melhor comer. Em boca fechada não entra mosquito não é mesmo?

— Gi estive pensando...Enquanto estive na casa dos meus pais, lá no interior. Bem, acho que vou ser direto porque não tenho paciência para rodeios.

Mastigo com nervosismo. Não sei o porquê mas, minhas pernas ficam bambas, minha respiração se acelera, assim como o coração.

— Quer namorar comigo?

O quê? Outra pergunta à queima-roupa. E desta vez é certeira. Assim como aqueles tiros que o James Bond dá nos inimigos. Apesar de que de todos os James Bond do cinema, o meu preferido ainda é Sean Connery. Que viagem a minha!

Automaticamente, me volto a ele. E o vejo, mastigando com um leve sorriso no canto da boca. Maledeto, ele é adorável, mesmo sendo tão irritante.

— É... É uma pergunta repentina, não?

— Sim ou não. Não aceito talvez!

Decidido o rapaz, não? Desde que me lembre, faz tempo que não sou pedida em namoro, assim... tão formalmente. Aliás, mesmo esse pedido não é nada assim formal e...

— Sim ou não?

—Tem que ser agora? – indago. Maldita mania de libriana que tenho: a de ficar por cima do muro. “Fale logo que sim, Giovanna!”, grita o meu coração e a minha mente.

— Pode ser dia 29 de fevereiro... Apesar de que não é um ano bissexto. – ele larga o garfo e a faca, cruza os braços com uma expressão debochada, e mexe com os seus dedos finos na barba como a penteasse. E aí fica sério o suficiente para completar: - Não, né? Agora!

— Júlio! Eu sei que não sou uma das garotas mais meigas que passou na sua vida. Não sou gostosa como a Melissa. Não tão...

E aí sim, sinto os seus braços me envolverem em um abraço caloroso. Nossos rostos se encontram e aí, ele me lasca um belo beijo. Maledeto, como ele me desmonta! Estava disposta a falar umas boas verdades. Dizer como ele pode me largar assim e não me assumir! Mas espera aí! Ele me pediu em namoro? Ah, é! É verdade!

Depois de terminado, ele encosta meu rosto ao meu. E me pergunta mais uma vez:

— Quer namorar comigo?

— Sim!

Volto minha face para encara-lo. E respondo com um sorriso, convicta do que disse:

— Sim!

Ele abre um sorriso, me abraça mais apertado. E se o lugar onde estamos não fosse tão pequeno, poderia jurar que ele iria me levantar e me rodar no ar, como aqueles brinquedos de criança.

Pronto! Feito! Eu que não escondo mais o que sinto por esse sem-vergonha, hipster, chamado Júlio Schiavon! Ou melhor, o Sardinha, na redação.

A cena é tão insana que ouço a atendente e as outras colegas baterem palmas. Assim como as poucas pessoas que estavam no lugar acompanharem no mesmo ritmo.

Saímos de lá, de mãos dadas. E caminhamos até o estacionamento.

— Você veio de moto? Aliás, de Vespa? – indago.

— Não! Hoje, vim de carro. O tempo não estava muito bom. Mas... preciso comprar um capacete para você.

— E posso decora-lo com adesivos? – pergunto.

Ele gargalha e me responde:

— É claro que pode!

Ele me leva para casa. Para na porta e se volta para mim.

— Quer que venha te buscar para trabalharmos juntos?

— Sério mesmo?

— Claro! Por que não?

— Jú... – começo a frase incerta.

— Sim?

— Nós vamos assumir perante toda a redação?

— Ué? Mas é lógico! Aliás, todo mundo está na torcida! – me responde com um sorriso.

Logo depois ficamos abraçados, a chuva caindo lá fora, mais alguns beijos acontecem. 2015 começou levemente estranho. Mas parece que aos poucos ele vai engatar. Ah, se vai!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Escutei aí, fogos de artifícios, galera fazendo ola, até a torcida do Corinthians fez musiquinha? Hahahaha
Muito bom, né? Melhor que isso é receber os reviews das novas integrantes: a Avah e a Paty e a favoritação da Lorena Santos! Beijos, garotas e muito obrigada pelo carinho.
Bora para o glossário?
Glossário – Chamem os Bombeiros

ovos Benedict – típico prato americano que constituem em dois ovos cozidos em poché, guarnecidos com bacon (no lugar que se passa a cena, também tem a opção de salmão) e molho holandês.
“Benedict para mim me lembra o personagem do Andy Garcia em Onze Homens e Um Segredo. (...)” – o nome do personagem é Terry Benedict, um implacável dono de três cassinos que são alvos para o plano abilolado do vigarista (e maravilhoso) Daniel Ocean, que é interpretado pelo George Clooney. Afinal, o plano é roubar os três cassinos em uma noite. É um filme dirigido pelo Steven Soderbergh, produzido em 2001. E é um dos meus preferidos.
James Bond – O agente secreto inglês 007, James Bond, foi criado por Ian Fleming, em 1953. Dos livros, ele foi para o cinema e o primeiro ator a interpretá-lo é justamente o escocês Sean Connery. Na minha humilde opinião, até hoje, ele é insuperável.
E o próximo capítulo... Duvido e faço o dó, quem levanta daquele jeito, “gostaria de estar morta!”. Beijos, garotada e até o próximo sábado!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chamem os Bombeiros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.