May Singer escrita por Violetta


Capítulo 13
Capítulo 13




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Abri os olhos com dificuldade, ajustando-os as luzes do hospital. Minha respiração está pesada, e eu me sinto sufocada. Não consigo me mexer, e isso me desespera.
Sinto alguém pegar na minha mão e logo um rosto familiar aparece no meu campo de visão. Miguel.
Não tenho forças nem para apertar sua mão de volta. Não consigo falar e nem pensar direito. Ele parece aliviado ao me ver, e embora sua voz pareça distante na minha cabeça, fico feliz em ouvi-la de novo.
–May... graças a Deus você está bem.
Eu não consigo me lembrar do que aconteceu. E a dor latejante na minha cabeça piora as coisas.
–Você esteve internada por duas semanas- Explica ele, adivinhando minha confusão- Depois que a nossa filha nasceu seu coração parou, mas graças a Deus conseguiram reanimar você. Ela é linda, assim como você- Ele disse sorrindo e chorando ao mesmo tempo.
Senti uma lágrima cair do meu olho e Miguel tirá-la com carinho.
–Você não pode vê-la agora. Ela está na incubadora, mas logo logo vou trazê-la aqui para você.
As palavras foram ficando cada vez mais vazias, e eu adormeci.
***
Minha cabeça já não dói tanto. E acho que se fizer um esforço, consigo falar. Pelo calendário que colocaram ao lado da minha cama, se passaram três semanas desde que minha filha nasceu.
–Minha filha- Sussurro para a enfermeira, que está injetando algum tipo de remédio na minha veia.
–Ela está bem. Vou trazê-la hoje para você, está bem?
Assinto com a cabeça. É um milagre que Miguel não esteja aqui, mas antes que eu termine esse pensamento ele entra e fecha a porta.
Sua expressão é séria, e ele está tenso.
–O que houve?- Perguntei com dificuldade
Ele hesita um momento antes de responder
–Eu não ia te contar, mas o médico disse que era melhor você saber por mim, do que de um modo pior
–O que aconteceu?- Perguntei preocupada
Ele suspirou
–Natasha ficou sabendo do nascimento da nossa filha, e que você estava se recuperando bem. Acho que ela ficou desapontada, provavelmente ela esperava que você não resistisse. -Ele fez uma pausa, então continuou - Ela ficou com muita raiva e queria vir até o hospital. Verônica tentou convencê-la a não fazer isso, mas ela estava decidida então pegou o carro. Verônica ficou preocupada e ligou para Vitória, que ouviu a gritaria toda... Ela ouviu quando Verônica tentou pegar a direção do carro, para desviar do caminho. Mas Natasha perdeu o controle e bateu o carro.
O silêncio de Miguel era mais pesado que suas palavras. Verônica tinha apenas 15 anos, e provavelmente não era tão cruel como Natasha, era apenas influenciada.
–O que aconteceu com elas?- Pergunto nervosa
–Natasha teve alguns ferimentos. Mas Verônica...
–Ela morreu?- Pergunto assustada
Ele apenas confirma com a cabeça.
Nesse exato momento, Vitória entra no quarto, apenas para buscar sua bolsa. Ela passou todo esse tempo aqui comigo, cuidando de mim. E agora nem consegue me encarar. Mas eu não posso reclamar. De uma certa forma, a irmã dela tinha acabado de morrer por minha causa. Para tentar me ajudar, e ela tinha ouvido toda a gritaria.
Comecei a chorar, por tudo. Eu não era íntima de Verônica, e ela me deu muitos motivos para não gostar dela. Mas ela tinha tentado me ajudar, não sei o que teria acontecido se Natasha tivesse chegado até aqui. Miguel me abraça e permanecemos assim até America entrar no quarto, segurando a minha filha.
Meu choro agora é de felicidade. America a coloca em meus braços com cuidado. Ela é tão pequenina, que tenho medo de segurá-la forte demais. Tão linda. Foi a melhor sensação que eu já tive na minha vida.
–Qual o nome dela?- Perguntou America, sorrindo.
Eu não havia pensando em um nome ainda. Nem Miguel tinha comentado sobre isso. Mas agora, falo o único nome que me vem a mente.
–Verônica- Sussurro
Miguel e America se entreolham, confusos. Mas não dizem nada.
Olho para os dois e repito, dessa vez com mais firmeza.
–O nome da minha filha é Verônica.

Minha pequenina é tão linda. Ruiva dos olhos azuis, a America deve ter tido um ataque de felicidade.
Mas tiveram que levá-la logo, e me partiu o coração me separar dela. Mas seria por pouco tempo.
Passei mais um tempo no hospital, me recuperando. Qualquer pessoa teria reclamado, mas eu sei que foi um milagre estar viva, e faria tudo direitinho para não causar mais problemas.
O dia de ir para casa foi corrido. Miguel já havia preparado as mochilas. America até se ofereceu para fazer isso, mas ele fez questão de preparar tudo.
America e Maxon nos acompanharam até a nossa casa, e depois foram embora. Era estranhamente confortável voltar para cá. Eu já podia andar normalmente, mas Miguel me fez ficar em repouso por mais uma semana.
***
Quando a nossa pequena completou dois meses de vida, decidimos sair para comemorar. Revisamos a mochila umas mil vezes, nos certificando de que estávamos levando tudo. Fomos para o shopping, e passamos um dia maravilhoso. Quando eu era criança, poderia ter imaginado minha vida de todas as formas, mas nunca saiu tão perfeita quanto a que eu estou vivendo, mesmo com os problemas.
Estávamos os dois mimando Verônica, que estava no carrinho de bebê quando percebi alguém nos observando de longe. Hesitante, virei a cabeça e fiquei paralisada. Natasha estava em uma cadeira de rodas. Engoli em seco, cutucando Miguel levemente com o cotovelo. Ele virou e logo ficou pasmo também. Nós não tivemos notícias dela desde o dia do acidente. Mesmo não gostando dela, esse é o tipo de coisa que eu não desejaria para ninguém. Ela sustentou meu olhar, firme. Uma mulher chegou e lhe deu um copo de água, na boca. Ela não se mexeu nem um momento. Prendi a respiração.
–Ela ficou tetraplégica?- Perguntei a Miguel
Ele balançou a cabeça
–Não sei.
Natasha continuou lá, encarando. Não sei porque, mas ficar aqui esbanjando felicidade com a minha família parecia um erro, vendo o estado dela. Então me levantei calmamente e chamei Miguel para irmos embora. Ele concordou e saímos, sem olhar de novo para ela.
***
Peguei uma câmera para registrar o momento, e corri para o quarto.
–Pronta?- perguntou Miguel
–Sim- Respondi sorrindo -Mas a verdadeira pergunta é: Você está pronto?
–Não, mas você está gravando, então tenho que fingir que estou calmo- Ele respondeu sorrindo, eu ri também.
Ele estava segurando Verônica, e iria banhar nossa filha pela primeira vez. Até então, ele evitava essas tarefas, não por preguiça, mas por cuidado. Ela era pequenina demais.
Ele conferiu pela centésima vez a temperatura da água, e então colocou ela com cuidado na banheira. Ela chorou e eu ri da expressão de terror no rosto dele.
–Isso não tem graça- Disse ele sorrindo
–Tem sim, ela só está chorando.
–Não gosto de vê-la chorar.
–Não é algo que você tenha escolha, de qualquer forma.
Ele riu e eu gravei enquanto ele banhava ela com cuidado, depois, agilmente pegou a toalha e a enrolou. Ele a segurou no colo, os olhos brilhando. E nesse momento eu tive a certeza de que não poderia ter escolhido pessoa melhor. E não importa quanto tempo passe, vou me lembrar desse momento para o resto da minha vida.


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