Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 26
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem o capítulo!



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Tobias

Não. Isso não pode estar acontecendo. Quando penso que de alguma forma estou ganhando, que consegui ficar por algum tempo à frente de Nita, ela prova que eu estava sendo trouxa todo esse tempo. Ela tem Tris e Liv, e estou de mãos atadas atrás da Cerca fechada.

— Tobias! — ouço a voz de Christina do andar de baixo e respiro fundo antes de descer as escadas. — Tobias!

Christina está observando os corpos com os olhos arregalados.

— Christina... — chamo sua atenção.

— O que aconteceu aqui? — ela pergunta.

— Nita — respondo me sentindo tão derrotado que poderia desabar aqui mesmo. — Ela levou Tris e Liv, Christina, para fora da Cerca, aparentemente antes que pudessem fechar.

— Não faz sentido — ela parece confusa. — Liberou a ordem que ninguém entraria ou sairia de Chicago pela Cerca. E não há outra forma de sair da cidade. Eles não passaram pela Cerca, tínhamos muitos olhos nas câmeras de lá. Não passaram por nós.

— Acredita que elas podem ainda estar na cidade?

— A possibilidade que está passando por minha cabeça agora é bem pior.

Dou um longo suspiro antes de perguntar, sem realmente querer saber:

— O que você acha, então?

— Podemos conversar sobre isso em algum lugar longe de cadáveres? Vou vomitar com esse cheiro de sangue.

Olho no relógio.

— Duas horas e meia, Christina. Espero que o que tenha a dizer valha esse tempo. Vamos para o apartamento da minha mãe, ela ainda está no hospital — lembrar dela me dá um aperto no peito, eu devia estar lá para ela.

Levamos quase vinte minutos na viajem, o que levaria mais, porém não pude evitar correr com o carro. No caminho, Christina ligou para Matthew, que iria para o apartamento também, tentar rastrear a mensagem de Nita.

— Bom — Christina começa —, é uma impressão que tenho desde que comecei a trabalhar com o transporte para dentro e fora de Chicago. Alguns números que não batiam, muitas pessoas novas na cidade, mas aparentemente elas não entravam pela Cerca.

— Deixe-me ver se entendi direito — tento raciocinar sem ficar furioso —, você tem notado que pessoas entram na cidade sem ser pela Cerca e só pensa em me informar isso agora?

— Era apenas uma impressão, um erro de contas — ela se defende —, nunca pensei que poderia realmente existir outra entrada até termos essa possibilidade. Fiquei pensando que Nita deixou o exército muito quieto diante do fechamento da Cerca, como se já fizesse parte dos planos dela. E isso só aconteceria se ela tivesse outra maneira de entrar.

Esfrego as têmporas na esperança de pensar com mais clareza. Pego o celular e disco para Zeke.

— Quatro?

— Zeke, peça para os soldados para vasculharem qualquer coisa estranha ao redor da Cerca, e das ruas, e...

— Com o objetivo de...

— Christina acha que existe outra entrada para a cidade que não é a Cerca. Não sei exatamente pelo que devem procurar, só fiquem atentos.

— Desculpe — Christina pede assim que desligo.

— Não, está tudo bem, talvez isso realmente não seja nada — digo —, mas não sei se quero ou não descobrir essa entrada.

— O que quer dizer?

— Se eles não tiverem outra forma de entrar, então devo permanecer com a Cerca fechada, e então perderei Tris e Liv. Se eu abrir, condenarei as pessoas da cidade. Como Tobias, eu estaria do lado de fora, procurando por Tris. Mas o prefeito Tobias Eaton não pode fazer isso.

— Uma vez — o tom de Christina é triste —, quando era pequena, perguntei para minha mãe porque o líder da Franqueza não era casado. Ela me disse que um governante não pertencia a si mesmo, mas às pessoas a quem ele servia. Eu respondi que ele era um idiota.

Não posso deixar de sorrir.

— Acha que eu seria um idiota por sacrificar Tris e Liv pela cidade?

— Não penso mais assim — ela confessa —, mas não é uma escolha que eu gostaria de fazer, principalmente agora que tínhamos a recuperado.

Meu celular toca, é um número desconhecido.

— Alô? — já penso que pode ser Nita, mas não é.

— Prefeito? — é uma voz familiar, mas não consigo lembrar onde ouvi.

— Quem está falando?

— Sarah Stanford. Lembra de mim, senhor prefeito?

Sarah, a determinada irmã de Julie Stanford, a garota que morreu no lugar de Tris.

— Sim, claro.

— Preciso que me encontre, ou que me deixe encontrá-lo.

— Desculpe-me, mas essa não é uma boa hora, não podemos ter civis nas ruas.

— É muito importante.

— Tem uma guerra prestes a começar — digo, perdendo a paciência, o que ela pode querer comigo nesse momento?

— Se está tão preocupado com uma guerra, porque tem seu exército posicionado no lugar errado?

Arregalo os olhos e Christina pergunta do que se trata, mas estendo a mão pedindo silêncio.

— E por que diria isso? — indago.

— Por que Chicago não tem apenas uma entrada, o que, pelo seu tom de voz, suponho que já saiba.

— Como pode saber?

— Conto a você quando nos encontrarmos, estou disposta a ajudar. Se não quer perder, precisa me encontrar.

— Tudo bem — concordo. — Onde?

— Na minha casa.

— Vejo você daqui a pouco.

Ela desliga e olho no relógio. Tenho uma hora e cinquenta minutos.

Matthew bate na porta assim que me levanto e Christina vai atender. Matthew entra e entrego meu celular para ele.

— Ache Tris e depois ligue para Cara. Dê o endereço e peça para que ela vá nos ajudar, mas não entre seja lá onde for sem que tenhamos chegado. Também vou precisar de Zeke, Amar ou George. Ninguém mais.

— E onde está indo?

— Existe realmente outra entrada. E estou indo encontrar alguém que sabe onde fica.

***

Sarah sai de dentro de casa assim que estaciono o carro. Uma hora e trinta e cinco minutos, confiro no relógio.

— Olá — cumprimento. Ela parece mais madura que quando a vi algum tempo atrás.

— O Fosso — ela diz sem rodeios.

— Perdão?

— O Fosso, na sede da Audácia.

— O que tem o Fosso?

— A segunda entrada para Chicago, o lugar por onde vão atacar a cidade — ela diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Impossível, conheço aquele lugar muito bem.

— Existem túneis demais que levam ao Fosso, acontece que nunca deu sorte de pegar um, por engano, que te levasse para fora da cidade.

— Como sabe disso?

Ela hesita antes de continuar.

— Antes das facções serem eliminadas, eu e Julie e nossos pais éramos sem-facção. Lutamos ao lado da sua mãe.

— Como eu nunca...?

— Nos viu? — ela completa, rindo. — Ainda faz pouco de nós. Eram muitos sem facção, não cruzou com todos. O fato é que saímos da cidade para tentar a vida lá fora, mas não deu certo. Então... Suponho que não vá me prender agora por causa disso... Voltamos para a cidade ilegalmente. Há pessoas fazendo isso lá fora da Cerca. Imigramos pela sede da Audácia.

— E então é por lá que pelo menos parte do exército vai invadir a cidade — digo, pegando o celular para ligar para Amar, confiando cegamente na garota, mas não vejo outra saída, e há algo nela que me inspira confiança. — Muito obrigado.

— Não é só isso — ela diz, me fazendo parar. — Esse seu “exército” — ela faz aspas com os dedos — não vai ser capaz de vencer o que vem por aí.

— Muito reconfortante da sua parte, obrigado.

— Estou tentando oferecer uma solução.

— E o que você poderia me oferecer?

— Você me subestima muito, prefeito.

— Prove que estou errado — incito.

— Esse esquema sem facções e essa paz são muito legais, mas não fomos criados para isso — explica. — Fui criada para lutar pela minha vida e da minha irmã, fui criada para ser olhada com nojo, fui criada para guerra. Isso, esse conto de fadas, uma família normal, uma casa de bonecas, nunca foi o suficiente para mim. Para nenhum de nós. Queremos lutar, precisamos disso, está em nosso sangue e acredito que sua causa seja a mais válida. Então quero colocar todos os ex sem-facção ao seu dispor, você tem a lealdade deles, e sabe que isso vale muito. Agora tem um exército com reais chances de ganhar.

Ela assobia e, de repente, me vejo cercado de um novo exército. Mais fortes e bem treinados, uma esperança. Os sem facção estão ao meu lado, e parecem prontos para lutar.

***

Volto para o apartamento da minha mãe, agora com apenas uma hora e meia de vantagem. O único que sabe sobre os sem-facção é Amar, por pedido de Sarah, para o caso de Nita ter algum informante entre os soldados, a única coisa que todos sabem é que a entrada é na sede da Audácia. Sarah vem comigo para fora da cidade. Não vou perder a oportunidade de dilacerar a mulher que matou minha irmã, ela disse.

— Quem é ela? — Christina indaga.

— Sarah Stanford. Uma pessoa que nos ajudará bastante — digo para ela —, por favor, eu explico depois.

Shuana está no apartamento junto com Zeke e mais um soldado da força policial. Caleb também chegou, para meu desagrado.

— O que eu disse sobre mais ninguém?

— Shauna só veio para acompanhar Zeke — Christina diz. — E Caleb é irmão dela, sabe que ele devia estar aqui.

— Sabe que não consigo ficar tão longe da confusão — Shauna me lança um sorriso sem muita vontade. Caleb apenas acena com a cabeça.

— Ele é Trevor, um dos melhores soldados — Zeke explica.

— Os melhores soldados deviam permanecer na cidade, protegendo-a.

— Sou amigo de Liv, senhor — o soldado fala. — Sei que meu dever é para com a cidade, mas estão em um número reduzido, gostaria que permitisse que eu me juntasse ao grupo.

— Tudo bem — respondo mesmo achando estranho que Liv tenha um amigo na força policial que nunca mencionou. Volto-me para Matthew: — Conseguiu o endereço?

— Sim — ele responde —, e Cara já está a caminho de Milwaukee para lá.

— Ótimo. O plano é de Matthew...

— Não — ele me interrompe —, não vou sair da cidade.

— Por que não?

— Não tenho habilidades de luta muito boas, seria mais um atraso. E não gosto de armas.

— Tudo bem — estranho, mas continuo —, antes de sairmos, Matthew vai sincronizar as câmeras da cidade para que possamos ver o que acontecerá quando nossas cinco horas se findarem. Vamos abrir a Cerca, já que a maioria do exército vai estar posicionada em outro lutar e, quando os inimigos passarem por ela, vamos estar em um caminhão da força policial posicionado por perto, e sairemos logo que eles liberarem o lugar. E então dirigimos até Tris e Liv. Como somos sete, eu, Sarah, Christina e Caleb vamos procurar por Tris, enquanto Trevor, Zeke e Cara acham Liv. Alguém tem algo para falar?

Sarah levanta a mão.

— Tentem não morrer.

***

Chegamos sem maiores dificuldades até perto da Cerca. A ideia é que os soldados que estão guardando a mesma acabem com todos antes que possam nos ver, mas não podemos ter certeza.

Caleb está no banco do motorista, já que é um desastre lutando. Estou no banco ao lado dele com Sarah, enquanto os outros estão na caçamba do caminhão, que é aberta, apesar de eu detestar o fato, que posso ver por uma abertura entre a divisão do caminhão.

Ninguém conversa, estamos muito tensos para isso, com as armas destravadas, como não fazíamos há algum tempo.

Cinco minutos antes do nosso prazo se extinguir, a Cerca é aberta, e, pelos tablets que seguramos, podemos perceber a mudança na postura dos soldados. Mais rígidos. Preparando-se para talvez morrer, penso, e tento reprimir o pensamento com todas as minhas forças.

Meu tablet mostra a Cerca, enquanto o de Sarah a sede da Audácia.

Quatro minutos.

Três minutos.

Dois.

Um.

E então o banho de sangue começa.

Como robôs programados, os remanescentes inimigos do lado de fora da Cerca avançam, mas não se compara com a quantidade de gente que sai da sede da Audácia.

Não tenho ideia de quem está perdendo ou ganhando, mas quando parece que o exército de Nita está avançando mais, surgem novos soldados, mas sem a farda, mas com roupas rasgadas e sujas. Estilo característico que pensei que não veria nunca mais.

Sinto Sarah sorrir ao meu lado, orgulhosa.

— Que diabos é isso? — Zeke pergunta pela abertura.

— Meus sem-facção — é Sarah quem responde.

— Ual! — ouço Christina exclamar.

Depois de algum tempo. Podem ter se passado cinco minutos, ou mais cinco horas, eu não sei dizer, estava muito entretido na batalha, Trevor diz:

— Acho que já podemos atravessar.

Volto meu olhar para o tablet por um momento esquecido de Sarah. Há muita gente no chão, machucadas, mas alguns nossos ainda estão de pé, então parece que ganhamos.

— Dirija, Caleb — digo. — Vamos buscar sua irmã.

Saímos calmamente da Cerca, até ouvirmos o primeiro disparo. Olho para o lado e vejo pelo menos uma dúzia de soldados inimigos vindo em nossa direção.

— Não pare por nada — digo a Caleb.

Coloco a arma para fora, e Sarah faz o mesmo, apesar de ela ter uma pontaria bem melhor e acertar o primeiro tira na cabeça de um soldado. Estou sem prática, e não sei dizer se isso é bom ou ruim.

Continuamos avançando, e eles também. Eles estão quase alcançando a parte traseira do caminhão e não há muito mais que eu ou Sarah possamos fazer.

— Eles vão subir! — Christina grita.

— Acelere — Sarah manda. As mãos de Caleb estão tremendo no volante, suas pernas devem estar fracas.

— Não consigo — ele diz, desesperado.

— Ah, é claro que consegue — ela então coloca a mão na perna e Caleb, e vai subindo. Desvio o olhar.

— ZEKE! — ouço o grito do soldado, Trevor.

— O que aconteceu?! — pergunto. — O que aconteceu?!

— Ele se desequilibrou! — Christina grita em resposta. Eles pararam de atirar, porque podem acertá-lo.

Olho para trás pelo retrovisor e sei que se pararmos estamos perdidos, já que os soldados já alcançaram Zeke. Mas não o mataram. Ainda. No entanto, não posso deixá-lo lá. Falhei com Uriah, não falharei com ele.

Já estou pronto para abrir a porta do caminhão e pular quando Sarah me detém.

— O que pensa que vai fazer? Ele está perdido para você, por ora. Se descermos, ainda seremos minoria. Se ainda não o mataram, talvez tenham planos, mas não podemos descer agora.

Vou voltar, Zeke, prometo para mim mesmo enquanto Caleb acelera cada vez mais, não vou falhar com você, não novamente, não depois que matei seu irmão.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Espero os elogios, as críticas e tudo mais. Enfim, falo com vocês nos reviews, até o próximo capítulo!
Xoxo



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