Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo do ano *-*
Muito obrigada por estarem lendo, comentando, favoritando, e agora recomendando (obrigada Let B!!)
Curti muito escrever esse capítulo, espero que gostem!



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Tobias

— O quê?! — exclamo.

— Você me ouviu bem, Tobias — Anthony responde. — Vamos retaliar.

— Raptaram minha amiga para conseguir uma quantia em dinheiro, o que acha que farão se retaliarmos? — pergunto, me irritando. — Outro episódio de matança aos membros do Governo?

— Bom, acredito que vamos descobrir.

— Mas arriscar vidas inocentes? — interveem uma das pessoas em volta da mesa. — Nossas vidas?

— Não podem pensar que somos fracos e vamos ceder a qualquer ameaça — Anthony argumenta.

— Antes fracos do que mortos — diz um velho.

— John está morto! — Anthony exclama.

— Assim como todas as dezessete pessoas que morreram no dia que fui nomeado prefeito — digo. — Por que tudo isso só agora?

— Essa, para mim, foi a gota d’água.

Todos começam a falar, discutindo. Alguns apoiando Anthony, outros apontando as desvantagens no que ele diz. Até que a voz de Liv os interrompe:

— Então, Anthony, o que pretende fazer?

— Pesquisar a fundo sobre os moradores que vieram da fronteira. Eles pagam uma quantia para morar lá por mês, quero ver na rua qualquer pessoa que estiver devendo um centavo.

— Está louco?! — pergunto, já alterado. — Esses rebeldes não devem nem morar lá. São pessoas inocentes!

— Elas têm dinheiro sujo nas mãos.

— Peçam que devolvam então — Liv propõe.

— Não vai ser o suficiente — diz Anthony, teimosamente. — Como nosso prefeito lembrou bem, foram dezessete mortos. Dezoito contando com John.

— Acha que expulsar inocentes de suas casas vai trazê-los de volta? — pergunto.

— Não, mas vai ensinar uma lição.

— Vai deixá-los com mais raiva — insisto.

— Que fiquem. E levem sua raiva para fora de Chicago.

— Ainda sou o prefeito aqui, não vou deixar que tire as pessoas que eu deveria proteger de suas casas.

— Disse bem. Ainda é prefeito. Sabe que posso fazer com que não seja.

E sei que ele pode. Só mexer uns pauzinhos, aqui e ali, ainda mais com rebeldes a vista. Eu posso perder meu cargo, e não deixarei isso acontecer.

Olho em volta e me dirijo para a porta.

— Não tem propósito para eu ficar aqui já que não vai aceitar minha opinião, Anthony. Então faça o que quiser, apenas não coloque meu nome nisso — digo. — E, se fosse vocês, senhores, pediria o mesmo. Vão querer vingança.

Saio sem olhar para trás e vou para casa. Sei reconhecer uma causa perdida.

Chegando ao meu apartamento, acho que a ficha cai. Tris está viva. A minha Tris.

E ela quer me matar.

Não consigo entender, é tão confuso. Fico imaginando se o que vi foi verdade. A garota que me atacou era Tris, tenho certeza, mas Tris nunca me atacaria. Pelo menos não feliz por me atacar. A única que a irritou foi o fato de não poder me matar.

Devia estar feliz. Pulando de felicidade. Devia estar com ela nos braços. Devia estar dizendo o quanto senti sua falta. Devia...

Mas, em vez disso, apanhei dela. Nada faz sentido,

Eu tenho que fazer alguma coisa, descobrir quem cremamos no lugar de Tris, mas o peso das coisas que aconteceram nos últimos dias não me deixam levantar da cama. A cama que deveria estar dividindo com Tris.

E agora Anthony quer se vingar. Não vai me admirar que ele seja o próximo morto, ou eu. Só não posso permitir que machuquem mais dos meus amigos, eles não têm absolutamente nada a ver com tudo isso.

Maldita hora que tentaram mudar os genes das pessoas, que fizeram guerras, que construíram experimentos. Estamos sentindo na pele as consequências disso. Tris está sentindo.

Não posso falhar com ela, não novamente. Preciso descobrir o que está acontecendo, e salvar Tris, de qualquer jeito.

Quando começo a tomar coragem de fazer alguma coisa, qualquer coisa, ouço batidas na porta.

— Argh, que droga, quem será? — murmuro.

Mas, quando abro a porta, vejo meus amigos. Christina, com uma expressão cansada, Cara com um sorriso compreensivo, Matthew parecendo confuso e Zeke com uma garrafa de Bourbon na mão, com Shauna se apoiando nele.

— Acho que estamos precisando de uma dessas — ele diz, sorrindo.

Todos entram e fecho a porta.

— Peter ficou no meu apartamento — Cara diz, se sentando no sofá. — Ele está pesquisando sobre pessoas que morreram ou desapareceram na aproximada data em que pensamos que Tris morreu. Tentando descobrir quem foi morta no seu lugar.

— Que achamos que morreu no seu lugar — Zeke diz, ainda pouco convencido.

— Eu a vi, Zeke, ela me deu uma surra — insisto. — Não é o tipo de coisa que eu confundiria.

— E o que houve com ela? Voltou dos mortos? Não acredito nisso.

— Não acredito que ela tenha morrido, para começar — diz Christina.

— Bom, de qualquer forma, obrigado, Cara — digo.

— Faz as honras? — Zeke perguntou, levantando a garrafa com o whisky.

— Com prazer — falo, indo buscar copos.

Cada um já está com sua bebida quando Matthew fala:

— Estou preocupado com o que o Governo pode fazer quando Anthony der o troco.

— Como sabe disso?

— Pelo menos esse crédito tenho de dar àquela garota, Liv — é Christina quem responde —, ela ligou e avisou o que tinha acontecido no escritório.

— E por que ela não veio? — quero saber.

— Ela disse que você precisa dos seus amigos agora — Cara diz.

— Mas ela é...

— Sabemos que ela é mais, Tobias — Zeke diz. Ele tinha visto nosso beijo.

— E agora que Tris está aí, viva, o que vai fazer? — indaga Christina.

— Eu não sei — respondo. — Ela não veio para os meus braços e me beijou quando nos encontramos.

— Talvez ela não tenha o reconhecido — Matthew sugere.

— Ela sabia quem eu era — insisto.

— Ela devia estar sendo coagida ou algo assim — Shauna diz.

— Já disse que ela fez porque quis. Ela disse claramente: “pena que não deixaram que eu te mate”.

— Nada faz sentido — diz Christina, virando o resto da bebida na boca.

Depois de alguns momentos, Zeke volta a falar:

— Íamos chamar Amar e George hoje, mas ficamos com medo da reação deles sobre Tris. Podiam vê-la como aliada dos rebeldes.

— Nem sabemos se ela não é — comento.

— Passamos no apartamento de Caleb, mas ele disse que estava muito nervoso ainda — Cara diz.

— Contaram para ele sobre Tris? — pergunto.

— Ele é irmão dela, o que esperava? — diz Shauna.

— Não sei — respondo sinceramente. — Sabem por que ela morreu.

— Ele não a matou e nem obrigou que ela fosse no lugar dele, se é isso que acha, Quatro — Zeke diz. — Ela morreu, ou sei lá o que houve, porque foi altruísta demais. Talvez ela não tinha realmente deixado de ser uma careta. Ela não suportou a ideia de ver o irmão traidor morrer e foi no lugar dele. Ela escolheu morrer, Quatro.

Desejando que ele não tivesse dito nem uma palavra sobre Tris, sobre ter escolhido morrer, como se ela quisesse isso, me levanto na direção de Zeke, com a mão em punho. Mas Christina me segura.

— Abaixe a bola, Quatro — ela diz, me forçando para sentar novamente. — Ela provavelmente tinha alguma esperança vazia de que sobreviveria ao soro, tanto que o fez. Mas sabemos que ela era muito esperta para não saber, mesmo que lá no fundo, que morreria. E Zeke, ela não queria isso. Mas ela sabia que era a melhor opção para dar sucesso ao plano, se Caleb tivesse morrido com o soro antes de reiniciar o Centro, provavelmente nem estaríamos aqui.

— Christina tem razão — diz Matthew. — Muito provavelmente o sacrifício dela pelo irmão se tornou o sacrifício dela por todos nós.

— De qualquer forma — Christina continua —, para mim ele não parecia tão surpreso.

— Acha que ele já sabia? — Shauna pergunta.

— Acho improvável, mas não duvido nada daquele traidor nojento.

— Se ele soubesse, já teria contado há muito tempo — digo. — Ele se arrependeu, isso ficou claro, não aguenta viver com a culpa pela morte de Tris.

— Ele parece bem vivo para quem não consegue viver com a culpa.

— Bem, ele disse que estava muito preocupado sobre essa retaliação, ainda mais se Tris estiver sendo mantida presa ou algo do tipo pelos rebeldes...

Interrompendo Cara, meu celular toca.

— Alô? — digo.

— Prefeito Tobias Eaton — diz uma voz que detesto conhecer, é do homem que sequestrou Christina. Coloco automaticamente no viva-voz para que os outros ouçam. — Ficamos sabendo dos seus planos de se vingar... Não acho uma boa ideia.

— Não são meus planos, seu idiota — respondo. — Não tenho nada a ver com isso.

— Como não? É o prefeito da cidade. Expulsar pessoas das suas casas com seus filhos, pais e o resto da família não me parece coisa que uma pessoa com menos poder que o prefeito pode fazer.

Rio com desdém.

— Seu informante deve ser realmente muito bom, ou você possui uma bola de cristal. Digamos que também não foi muito nobre raptar minha amiga. Mas, de qualquer forma, quem está fazendo isso é de fora de Chicago, tem mais poder que eu, mesmo que isso seja errado.

— Bom, vai ter que impedir isso, prefeito.

— Está além do meu alcance. Acredite, eu tentei evitar isso.

Há um barulho indistinto do outro lado da linha, parece que alguém pegou o telefone. E um misto de ansiedade, nervosismo e medo tomam conta de mim quando ouço a próxima voz.

— Não deixe que isso aconteça, prefeito — Tris fala, com a voz autoritária. Olho para os outros e Zeke está de boca aberta, Cara, Shauna e Matthew arregalam os olhos, e vejo lágrimas molhando o rosto de Christina. É inegavelmente a voz de Tris. — Se impedir, ficaremos sabendo, se não, também, e responderemos com sangue. Sangue de gente que você se importa.

— Tris! — exclamo. — Está sendo forçada a falar essas coisas? Onde está? Podemos te ajudar.

— Você está viva — Christina diz, entre lágrimas. — Você está mesmo viva!

— Se me chamar de Tris novamente, da próxima vez que nos encontrarmos vou me certificar de que não consiga mais falar — ela diz. — Seja rápido.

E ela desliga.

Vou para o lado de Christina e passo o braço por seus ombros, deixando-a chorar como ela fez tantas vezes depois que pensei que Tris estava morta.

— O que fizeram com ela? — Christina murmura, em meio às lágrimas.

— Não é possível — Zeke diz, chocado. — Eu a vi. Ela estava morta.

— Acho que o que ela está fazendo é a pergunta mais adequada — Cara diz.

— Se ela estivesse sendo obrigada ou coagida, teria algum sinal de medo ou qualquer coisa do tipo em sua voz — Matthew diz —, só conseguir ouvir raiva.

— Precisa falar com Anthony — Shauna diz para mim.

— Não adianta — digo, me sentindo derrotado. — Ele devia ser muito amigo de John, a morte dele o deixou cego de raiva. Ele tem poder para fazer o que quiser aqui, se eu não permitir, ele consegue me tirar do cargo.

— Eu não entendo — Christina diz, limpando as lágrimas. — Eles nunca fazem ameaças diretas a você, Quatro. Sempre são às outras pessoas. Por quê?

— Talvez eles não achem que minha vida é tão valiosa, mas sabem que eu faria qualquer coisa para salvar a vida de algum de vocês.

— Na verdade, sua vida deve ser muito valiosa para eles — diz Cara. — Foi você que roubou o Centro para dar o que eles queria, é você que estaria disposto a pedir para Anthony desistir se não soubesse que seria perda de tempo. Você é gente deles dentro do Governo, quase um informante. Estão te manipulando.

Eu preferiria um tapa na cara. Doeria menos.

— O que eu poderia fazer? Ter deixado a Christina morrer? Bom, talvez algum de vocês estará morto, porque não sou capaz de convencer Anthony.

De repente, outro celular toca. Tenho medo de que seja alguém me avisando de mais uma morte. Mas é o celular de Cara.

— Alô? — ela atende. E, depois de um momento, diz: — Ótimo, muito obrigada. Estaremos aí já já.

— Quem era? — Zeke pergunta.

— Peter, ele encontrou algumas pessoas que podem ter morrido no lugar de Tris.

Todos se levantam de súbito, curiosos e apreensivos. Saímos do apartamento e vamos em direção ao de Cara. Ligo para Liv no caminho e ela concorda prontamente de nos encontrar lá.

Quando chegamos lá, Liv já está na portaria do prédio, nos esperando.

— Obrigado — digo quando a abraço.

— Pelo quê? — ela pergunta.

— Tanta coisa — respondo. — Mas principalmente por avisá-los. Eu precisava deles. E também de você.

Ela sorri enquanto vamos para o elevador, e não diz nada até chegarmos ao apartamento de Cara.

Lá é pequeno, como o meu, mas muito mais acolhedor, bem do jeito de Cara. Vamos para o pequeno escritório onde Peter está sentado em uma mesa de madeira. A sala é toda coral com figuras nas paredes. Demoro um pouco para perceber que é o desenho dos símbolos das facções.

— Ainda guarda afeição pelas facções, Cara? — pergunto em voz baixa.

— Não, na verdade — ela sorri. — Mas aprendi que não podemos fugir do passado.

Olho para Peter e ela solta uma risada baixa.

— Bem, na maioria das vezes — ela se vira para Peter. — O que achou?

— Selecionei seis garotas que poderiam ser mais ou menos parecidas com Tris — diz Peter. O novo Peter. Ainda não me acostumei com sua mudança. — Três delas desconsiderei, já que foram sepultadas pelas respectivas famílias. Das três que sobraram, uma se chama Rebecca Rogers, que não tinha família e fugiu, um dos seus amigos reportou à polícia quando viu que ela tinha desaparecido, mas ela tinha problemas com vícios e roubos. As outras duas deixaram suas famílias esperando até hoje, nunca apareceram, nem vivas nem mortas. Chamam-se Julie Stanford e Claire Wood.

— Nossa, como conseguiu chegar a resultados tão rápido? — Liv tenta soar impressionada, mas parece nervosa e apreensiva depois que Peter falou os últimos nomes.

— Não foi assim tão rápido — ele diz. — Só chequei a lista de falecidos do mês em que Tris foi dada como morta, filtrei as meninas, que tinham menos de 1,70 de altura e que são loiras. Tem todo esse tipo de coisas nas fichas da polícia. Achar, pelas fotos, uma que parecesse com Tris não foi tão difícil.

— Mas eles não podem ter usado outro corpo qualquer? — Christina indaga. — O corpo que vimos antes de cremar era de Tris, tenho absoluta certeza. Mas qualquer corpo resultaria em cinzas como as que o Quatro espalhou pela cidade.

Sinto arrepios quando Christina diz isso, pensar que espalhei as cinzas de outra pessoa pela cidade é, ao mesmo tempo, bom e sinistro. Bom porque significa que Tris está viva. Sinistro porque sinto como se violasse o corpo de outra pessoa, que talvez gostaria de ter sido enterrada. Sinto que tirei esse direito de quem quer que seja essa garota e de sua família.

— Tive de começar por algum lugar, partindo do princípio de que quem quer que tenha matado Tris, tenha ido por essa lógica — Peter explica. — Se não fosse assim, teríamos muitas e muitas vítimas possíveis.

— Você tem os endereços? — pergunto.

— Ainda não, mas tenho alguns contatos. Acho que posso conseguir endereços com um pouco mais de tempo.

— Ótimo, vamos encontrar essas famílias e...

— Quatro, precisa ver isso — Zeke me interrompe, apontando para uma televisão que não tinha nem notado quando entrei no pequeno escritório.

Uma repórter vestida de preto, com óculos e sapatos de salto estava em frente de uma rua que acho bem familiar, mas não reconheço de imediato.

A câmera sobe para um edifício, e esse eu conheço. É o meu. Tem chamas saindo pela janela, e fico em estado de choque enquanto a repórter fala:

— Acabou de começar um incêndio no edifício onde mora nosso prefeito, Tobias Eaton, mas fontes informaram que o prefeito não está no local. Em vez disso, quem se encontra no prédio e ainda não foi encontrada, foi a Senhora Evelyn, mãe do nosso prefeito.

Eles o fizeram. Responderam com sangue.


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Notas finais do capítulo

E aí pessoal? Gostaram? Não? Comentem aí!
Um feliz 2015 (atrasado), com muitas fanfics de sucesso, paz, amor e tudo que há de bom!
Vejo você nos reviews! Xoxo, see you soon!



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