A víbora escrita por Lolla


Capítulo 11
Capítulo 12




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Ele me deixou em casa. A chuva caia fina ainda, e não o convidei para entrar, e também não dei atenção para o ultrassom que achei.Minha mente deveria estar focada em outra coisa. Entrei e ali mesmo na soleira de casa, deixei meu sapato, e jaqueta jogados no chão. Eu não estava com medo, e muito mesmo confusa. Ou sabia exatamente o que estava sentido e era solidão.

Noites de chuva sempre me deixaram mais sensíveis, mas ver Jason sendo atacado, me fez ficar cada vez mais frágil emocionalmente aos poucos. Mas bom, logo seria manhã e eu tenho um emprego agora, e eu não poderia transparecer nada. Eu deitei usando somente lingerie,e finalmente a manhã chegou.

Eu dormi pouco, mas dormi bem, a fragilidade tinha ido embora junto com a noite, e eu estava pronta para encarar Jason, como a minha dama e eu como sua cavaleira dourada. Fui exatamente do jeito que estava no outro dia, com perucas, óculos, batom vermelho escuro, mudei a roupa somente, pus um vestido que descia até os joelhos.
Logo que cheguei a enfermeira ruiva me esperava na porta do hospital segurando muitas pranchetas e canetas.

– Ótimo, chegou cedo, temos muito o que fazer hoje.

Apesar de pequena e frágil, a moça era determinada e muito inteligente, me levou a vários quartos com vários pacientes, me explicou sobre cada um deles, e seus sintomas específicos. Uns sentiam raiva constante, outro só choravam e gritavam, pareciam eternamente em desespero e depressão, e outros, pareciam aquela criança esquisita que todo mundo tem pelo menos uma vez na turma, do tipo que está sempre de capuz, calada, e observando cada passo de cada colega. Esses ficavam apenas sentados olhando os que passavam pelas suas portas. Seus olhos eram penetrante e assustadores, pareciam psicopatas esperando apenas uma falha para sair matando todos sem qualquer motivo aparente.

E entramos em um corredor onde alguns infectados mostravam boas melhoras depois de alguns medicamentos. Já não sentiam tanta raiva, suas crises e violência duravam pouco e conseguiam raciocinar perfeitamente. Esses ficavam em quartos coletivos, mas muito seguro, pois ainda estavam em testes e podiam de repente voltar com as crises e matar pessoas desavisadas. Todos que entravam ali, recebiam armar de choque, que imobilizavam imediatamente, por quinze segundos, tempo o suficiente para sair dali correndo, fechar a porta e soar o alarme de segurança máxima.

Naquele dia, ficamos pelo menos sete horas com eles, pegando informações, observando-os ouvindo suas reclamações e até mesmo jogando conversa fora, quanto mais humanitário o tratamento, mais a doença regredia. Parecia que a doença sumia com o afeto e atenção diario. E ficamos lá, nós duas e quase cinco seguranças fazendo a ronda.

A tarde passou rápido naquele dia, é exatamente como dizem, As horas passam rápido quando você se diverte, e de algum modo, senti falta de Jason, eu raramente o via, mas pelo menos uma vez durante todo dia, eu podia o ver andando por ai, com seu jaleco branco, correndo por entre os corredores. Mas não naquela tarde. Não o vi, e nem soube noticias deles.E com certeza eu não perguntaria a ninguém sobre isso. Ele é nada mais que uma página na minha vida, que eu preciso queimar, ao invés de virá-la. Preciso esquecer dele, e de tudo que me fez, mas a dor de ter que deixá-lo a dor de rever as cenas na minha cabeça todas as noites, nunca vai embora, por mais que eu tente, por mais infectados que eu mate, a dor não sai.

Fui ao vestiário feminino, tirei meu jaleco, guardei minhas coisas no armário, e fui até a diretora das enfermeiras entregar meus relatórios sobre os pacientes. Durante o trajeto, não vi Jason, eu tinha esperanças em vê-lo, me acho patética por isso. Em todo o caso, bati antes de entrar, esperei alguém autorizar minha entrada. Nada, nenhuma palavra, bati novamente, mas desta vez, fui abrindo a porta devagar, avisando quem eu era e o queria. E novamente nenhuma palavras, então abri a porta de vez.

A parede estava pintada de sangue,como se tivessem jogado um enorme balde de sangue na parede. Havia um V e um B desenhados, e logo abaixo escrito assassina de crianças. Deixei cair todas as minha folhas e fui até o corpo sentado no canto da sala. Era Sônia, a chefe das enfermeiras,ela tinha um enorme corte no pescoço, mas estava viva, respirava com dificuldade, e apesar da pressão que ela vazia no corte para evitar perda maior de sangue,ela estava entrando em choque. Eu gritei por ajuda, o máximo que pude, tentei correr até a porta novamente e gritar para outras enfermeiras, mas escorreguei no sangue dela.

sei, que eu deveria lidar melhor com a situação, que deveria ser fria e calculista. Afinal a víbora não agiria assim, mas a cena foi mais forte que eu, ou a víbora, uma inocente morria na minha frente, enquanto eu gritava, e escorregava no sangue grosso. Finalmente alguém me ouviu. Kátia, a diretora das enfermeiras tinha acabado de chegar da sua ronda. Ele gritou ainda na porta, e em minutos enfermeiros e médicos chegaram no local.

Eu vi a cena em câmera lenta a partir dai. Os médicos pegando-o, e pondo-a na maca, seu rosto pálido e os olhos arregalados olhando para mim. Kátia falando comigo, algo que não pude ouvir, eu sentada na poça de sangue da minha chefe, metade do meu rosto coberto de fluido, na hora da queda, minha respiração lenta e pesada. E apesar de todo choque, fiquei olhando a frase na parede com sangue. Como eu poderia ser assassina de crianças ? Nunca matei uma criança, pelo contrário, eu perdi uma criança. Quem quer que seja que escreveu aquilo, sabe sobre a minha vida, sabe sobre a Víbora.


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