A víbora escrita por Lolla


Capítulo 10
Capítulo 11




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A essa altura, você já deve desconfiar sobre Sínomo. Aqui tudo é rotulado, programado, vigiado e concertado. Como podiam não saber que eu, era a víbora, se sabiam sobre a minha separação de Jason, a morte do meu filho? Eu vim pensando sobre isso durante todo o trajeto de volta para casa.

Mas a euforia, de estar perto de Jason e tê-lo nas mãos de novo, foi inebriante, eu só conseguia pensar em como ele foi burro, em achar que enganaria duas mulheres por muito tempo, ainda mais aqui, onde moramos. Deixei de ter raiva da loira devassa, ela era apenas um loira traída, assim como eu.

Em casa pensei em comprar um carro, afinal, seria muito chato ir de transporte coletivo todos os dias para o trabalho, e seria igualmente chato andar de carro na noites em que eu "trabalho", decidi por uma moto, uma bem robusta, do tipo dessas que você encontra uma vez por mês na rua, de marca nipônica. Imaginei ela inteira preta, fosca, e lógico, eu igualmente negra, usando calça de coro bem justa, e um lindo e sensual salto.

Não era bem o que uma heroína deveria se preocupar, mas, não sou convencional. A tarde resolvi procurar Roger, e agradecer a belíssima carta que me deu, alías ela impressionou a loira, e devo muito a ele por isso. Nos encontramos no café bem ao lado do prédio em que trabalhávamos. Ele logo me deu um abraço apertado e quente, por alguns segundos me senti humana de novo.

– Ei, o que há, parece estranha.

– Me sinto sozinha, só isso.

– Jason é um otário, pena que não tenho braços tão fortes quanto aquele cara que te olha desde que você chegou, porque se tivesse, hoje, Jason seria um saquinho de carne moída.

Olhei para meu lado esquerdo,e no fim do balcão, um homem alto, e forte, usando um boné preto, calças Jeans e camisa preta, me olhava, sem ao menos desfarçar. E então ele percebeu que eu o vi. Levantou-se, deixando um nota pagando pelo seu café e saiu desviando o olhar.

– Nossa senhora, que homem é esse. - Roger consegue ser mais lescivo, que o meu próprio lado lascivo.

– Na verdade me deu medo. - Tomei mais um gole do meu chá gelado, e voltamos a conversar sobre coisas que vivemos no tempo de faculdade. Foi íncrivel esquecer a pressão da minha vida por algumas horas, rir sem ter medo, ou apenas rir, desde que meu menininho se foi.

Cheguei em casa, e já era noite, as ruas estavam banhadas pela iluminação urbana, que refletia nas pequenas poças que se formavam com a garoa que cobria sínomo aquela noite. Senti meu coração bater mais forte, até meu organismo sabia, que era hora da Víbora aparecer, e de alguma forma, isso me acelerava.

Usei a mesma roupa que sempre, só que desta vez, sem a peruca loira. Andei apé por ruas que sempre ando, e então nenhum suspeito. Andei por horas por entre ruas, avenidas, becos e até mesmo vielas que descobri por acaso, e nada de infectados atacar. O que era muito estranho, já que a média por noite era de no mínimo dois. Sentei em um balanço da madeira de um parque, bem distante de casa.

A garoa caia muito devagar. Nas ruas poucos carros passavam e nenhum transeunte. O som das folhas das árvores mexendo ao sabor do vento, era hipnotizante, nas poucas vezes que eu fechei os olhos, eu pude ver um filme feito da minha própria vida, pude me ver no dia em que soube estar grávida, no dia em que conheci Jason, pude me ver ao saber da minha traição. Eu viajei para longe, e então acordei com um beijo no rosto.
Meu coração parou por alguns segundos, minha respiração acelerou imediatamente.

– É perigoso ficar sozinha a esta hora da noite.

– Jason, você quase me matou do coração.

Meu coração continuava acelerado, não era comum Jason estar acordado a essas horas, e muito menos, me procurar. Mas me senti aliviada em ver um rosto amigo.

– O que você faz aqui ? Perguntei de forma direta, além de não ser seguro, era bem suspeito.

– Precisamos conversar sobre hoje mais cedo.

– Pode deixar,não contarei nada sobre nós dois, ou melhor, nós quatro. Ela não saberá sobre eu, você e nosso filho. Agora por favor, me deixe em paz.

Eu nunca havia pedido isso a ele, nem mesmo quando descobri a traição. Mas eu sabia que a forma certa de agir, era de afastá-lo. Mas tarde de mais, ao longe, ainda nas sombras de locais sem iluminação, um infectado andava ligeiro, e parecia perdido. Decidi ignorá-lo e obrigar Jason a ir embora.

– Jason, me deixa em paz, não te satisfez, me trair, me ver perder um filho, vai me torturar até quando ? Vomitei todas essas palavras duras, observando o infectado confuso no outro lado da rua. Eu nunca havia sido tão rígida com ele.

– Mas, Kiara ! Jason gritou, na tentativa de me calar, e obrigar-me a ouvi-lo.

O infectado nos ouviu. Ele corria em nossa direção, então me levantei do balanço, puxei

Jason pelo braço e corremos para longe.

– Segura a minha mãe, e não me solte, até eu disser que é seguro !

Do que você está falando ?

Ele corria comigo, mas não fazia a menor ideia de onde estávamos indo, ou porque estávamos correndo. O infectado parecia ser mais veloz que o normal, logo estava atrás de Jason, e ele ao sentir o hálito do agressor se virou imediatamente.

– O que é isso !

Apesar de desorientado, o infectado era bastante violento e instintivo, sua primeira ação foi golpear Jason no estomago, o que o fez perder o ar, e cair de joelhos perante ele. Eu nunca fiquei tão nervosa na minha vida quanto aquele dia. Ver Jason gemer por falta de ar, foi algo tão cruel para mim, quando ver meu filho descer lago a baixo.

Então, fiz o que me melhor sei fazer, soquei o rosto o infectado, que o explodiu, e uma fina chuva de sangue e cérebro, caíram pelo chão e pelo meu rosto, e um pouco nos cabelos de Jason. Ele olhou aquilo, com uma mistura de medo e fascinação. E então olhou para mim, bem nos meus olhos, e me viu coberta de sangue, e sem nenhum arrependimento nos olhos. Aposto que ele nunca havia me visto tão forte e decidida quanto aquela hora. Me senti importante e útil, como há muito tempo não.

– Precisamos sair daqui. Peguei-o pelos braços e o levantei, ajudando-o a levantar.

Logo ele se recuperou, respirou fundo, e evitou olhar para mim. Jason tinha um carro, um sedan azul marinho, ele resolveu me levar até em asa. Viajamos em silêncio, ninguém queria comentar sobre a cena. Lembrei que sempre deixava um pacote de lenço de papel no porta luvas, e o abri para poder ao menos limpar meus dedos.

Quando abri, muitas coisas caíram no chão, eu poderia ter pego tudo e jogado para dentro como fazia antes, mas estavam envergonhada demais, e com medo, de reagir, que apenas peguei o pacote que ainda estava lá, e limpei os dedos. Guardei os bolinhos de papel sujo entre as pernas. Quando joguei o pacote para dentro novamente, um papel pequeno cai bem nas minhas pernas. Era a imagem do primeiro ultrassom que fizemos.


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