A Consciência de Ricky Prosper escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 3
Prosper


Notas iniciais do capítulo

I'm never changing who I am.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/552493/chapter/3

Tentei ser gentil, mas a garota, Effy, não facilitou as coisas. Não que ela tenha sido mal educada – não muito.

Algo nela chamou a minha atenção e não foi só o fato de ela ser a primeira garota a me deixar falando sozinho ou a primeira a não aceitar um aperto de mão meu. Effy é a primeira garota que me atrai. Ela tem o rosto mais bonito que já vi e tudo em seus gestos parece bem pensado e calculado, como se ela não quisesse fazer coisas simplesmente por fazer. Tem um olhar nobre e tempestuoso – sem dúvida deve ser arrepiante vê-la furiosa – e sua voz é tão aveludada quanto cortante.

Ah, vai realmente perder tempo listando as qualidades daquela garota?

Eu arquejo, pego de surpresa. É a voz em minha mente. A tal Consciência que, de repente, começou a falar comigo sem nenhum motivo aparente, como se minha vida já não fosse suficientemente estranha.

Não seja desagradável, respondo.

– O que ela queria? – pergunta Liz, a amiga de olhos bonitos que fiz hoje.

– Quem? – pergunto, distraído, entre um gole e outro do suco de laranja que me serviram.

– Effy Sem Sobrenome – sussurra Liz, inclinando-se em minha direção. – Ela é famosa por intimidar as pessoas. Tipo, intimidar sem motivo nenhum.

Franzo a testa.

– Sem Sobrenome? – é o que consigo dizer. Como uma pessoa pode não ter sobrenome?

– Ela diz que é filha do prefeito da cidade vizinha – comenta Marvel -, mas ninguém acredita. Não há nada nos registros a respeito da família dela ou de onde ela mora ou de quem diabos ela é. Então nós a chamamos de Effy Sem Sobrenome.

– Pelas costas dela – Liz acrescenta, rindo.

Mastigo meu sanduíche enquanto formulo perguntas sobre Effy. Não é possível que alguém se matricule em um colégio desses sem que ao menos tenha um sobrenome, endereço ou nome dos responsáveis.

Talvez ela seja protegida. Como naqueles casos em que testemunhas de crimes são guardadas pela lei e devem ficar escondidas, supõe minha Consciência. Como é o nome disso?

Hum, programa de proteção às testemunhas?, digo.

Acha mesmo que ela presenciou um crime?

Minha Consciência hesita.

É a única justificativa plausível em que consigo pensar.

Eu rio em pensamento.

Você é só um eco em minha cabeça. Como consegue pensar, falar e ter vontade própria?

Ela parece ofendida.

Não tenho vontade própria, garoto. E não sou um eco. Sou...

Sei, sei, interrompo. Você diz que é minha Consciência. Mas é um nome bem comprido, não acha? Consciência. Se vamos conversar assim de agora em diante, quero que escolha um nome pra você. Um nome curto pois sou eu quem vai dizer.

Isso não pode estar acontecendo, ela ri, sarcástica.

Ande logo.

Não tenho ideia, Prosper.

Dou outra mordida em meu sanduíche.

Já sei, digo. Vou chamá-la de Eco. É curto, descolado e combina com você. O que me diz, Eco?

Ela não responde.

Suspiro e me dou conta de que Marvel e Liz estão abanando as mãos diante dos meus olhos, tentando chamar minha atenção.

– Em que plano você está, cara? – ri Marvel.

Sacudo a cabeça.

– Desculpe. Eu estava pensando.

– Não diga que pensava em Effy – ele me cutuca com o cotovelo. Liz me encara, preocupada.

Sorrio, sem graça.

– Não, não. Eu só me distraí.

Liz permanece me encarando e quando olho para ela, desvia o olhar.

Eu te disse, sussurra Eco. Ela tem interesse em você, garoto.

Não respondo. Não sei o que pensar de Liz, principalmente porque Effy está presente em cada pensamento meu, como uma sombra me perseguindo. Ninguém nunca despertou tal interesse em mim como aquela garota e tudo o que quero agora é saber por que motivo ela é tão rude comigo.

Há, definitivamente, algo errado com ela, ressalta Eco.

Sem dúvida.

E você quer descobrir o que é, ela supõe, cheio de sarcasmo.

Nós descobriremos o que é, Eco.

E eu tenho escolha?

O sinal indicando o fim do almoço toca e os alunos se levantam, tomando o rumo de seus respectivos armários. É aí que me lembro que ninguém me mostrou qual seria o meu armário e que minha mochila ficou na sala de Cálculo. Ótimo.

– Ei, gente, preciso voltar à sala de Cálculo. Deixei minhas coisas lá – digo a Marvel e à Liz. – Vejo vocês depois?

– Qual a sua próxima aula? – Liz pergunta.

Olho a grade de horários que copiei na palma da minha mão.

– Francês. Não, não... Física.

– Temos o último período juntos – ela sorri -, então, sim, nos vemos depois.

Marvel dá de ombros.

– Tenho treino de natação agora.

Olho para ele.

– Vocês têm equipe de natação aqui? – pergunto, curioso. Natação é meu esporte preferido.

Aye* – ele confirma. - Dá uma passada lá depois das aulas.

– Com certeza – assinto para os dois e deixo o refeitório.

Refaço o caminho de volta à sala de Cálculo – com uma significativa ajuda de Eco – e encontro minha mochila aos pés de ninguém menos que Effy Sem Sobrenome. Seus olhos vão da mochila até os meus e ela trinca os dentes, contrariada.

– Você está brincando, né? – pergunta em voz baixa quando me aproximo. Ela é tão pequena.

– Eu... esqueci minhas coisas aqui.

– Por que não guardou em seu armário?

– Ninguém me deu um – dou de ombros.

Ela recolhe a mochila do chão e empurra para os meus braços.

– Pronto. Pode ir agora.

Franzo a testa, levemente irritado. Alguns alunos estão olhando para nós, mas não me importo.

– O que há com você, hein? Por que é tão rude comigo? – pergunto, dando um passo para mais perto dela.

Os punhos de Effy cerram-se e ela dá um passo para trás.

– Só estou tentando ser legal – digo.

– Sério? Bem, não está funcionando. Eu não te acho nada legal.

– Você nem me conhece – argumento.

Ela ri com desprezo.

– Não pretendo conhecê-lo. Sei exatamente o tipo de pessoa que você é.

Antes que eu possa responder, a amiga dela, Lola, surge ao lado de Effy, preocupada. Instantaneamente fico menos tenso e relaxo os ombros.

– Está tudo bem aqui? – Lola sorri amarelo.

Olho para Effy e depois pergunto à Lola:

– Como consegue ser amiga dela?

Jogo a mochila sobre os ombros e saio da sala. O último vislumbre que tenho de Effy é de seu rosto tomado pela fúria. Bem, dane-se.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Sim

E aí, já têm um personagem preferido? Comentem o nome dele(a)!
Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Consciência de Ricky Prosper" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.