P.O.V Dragão Guerreiro.

Acabou. Vencemos o Shen!

Mas uma coisa que eu aprendi com o mestre shifu e os cinco furiosos é que as vezes a vitória tem um gosto amargo na boca e na memoria .

Achamos milhares de pedaços de cabeças, braços , pernas separados dos corpos de lobos e gorilas mortos na cidade e no mar.Todos ficamos chocados pela quantidade de vida que Shen havia tirado com golpes e armas de fogo , principalmente eu.

E sempre que alguém encontrava mais um , eu orava para que tivessem encontrado o lobo -chefe, mas ninguém o encontrava.

Se ele estivesse com vida, esperava que ele tivesse aprendido a lição e procurasse viver uma vida de paz bem longe daqui.

Depois de não encontrarmos mais nenhum corpo, construímos uma pira funerária onde jogamos todos os corpos; e deixamos arder e levar aqueles espíritos para o descanso merecido deles onde quer que fosse.

Todos já haviam se aprontado para zarpar num navio cargueiro que ia nos levar de volta no Vale da Paz. Eu olhei a cabra fala-macia e seus olhos me disseram que eu ainda era necessário. Mas não entendi por que?

Tudo havia acabado, não é?!

Foi então que eu vi algo que chamou a minha atenção. Uma pequena coelhinha estava chorando...
—Hein, mocinha... o que houve?
E então ela me mostrou   o Lobo Chefe boiando sob uma tabua e sangrando sobre a água.
—Meu pai... PAPAI! Tem como você trazer ele, de volta, hein, dragão guerreiro? - choramingou a pobre coelhinha.
Me joguei sobre as águas  e peguei o corpo do lobo morto , procurando algum sinal vital. Estava tão frio. Era tarde demais. Ele havia partido.
—O Dragão apenas rezar pela alma do seu pai , pequena menina.- disse uma voz que foi ouvida só por nós dois.
—Pai?
E então surgiu o meu velho amigo, Qilin acompanhado pelo lobo cinzento sorrindo para nós e que tinha os dois olhos vermelhos. Os velhos olhos vermelhos voltaram...
—Pai!- exclamou a pequenina coelha que se aconchegou nos braços do espectro.- Você voltou!
—Vim apenas para me despedir de você.
—Por que, papai?
—O coração do papai não bate mais, mas vou sempre estar do seu lado, mocinha.- E os olhos do lobo se voltaram para o dragão guerreiro.- Ó Bolo Fofo, poderia levar o meu bebe no palácio de jade e pedir para que alguém cuide dela?!
—Não vai precisar fazer isso , Dragão Guerreiro. Eu posso cuidar muito bem dela. Ela irá se tornar minha ajudante. - disse a cabra Falamacia.
A cabra Falamacia estava ficando velha demais e precisava de uma criança que pudesse herdar a sua sabedoria e que pudesse ver o futuro e parecia que aquela criança era a sua escolhida para os próximos acontecimentos que iriam chegar.
Ela chegou até a menina e ergueu os seus braços como se pedisse a criança para que deixasse o seu pai ir. E a coelhinha sem escolha , pulou nos braços da velha cabra chorando de tristeza por perder aquele que havia aprendido a amar.
—Se lembre apenas dos bons momentos que passamos juntos, meu pompom de algodão...-  disse ele tentando não chorar.
E ela se lembrou das noites de tempestade em que dormia agarrada nos braços dele e deixava ele cantar uma canção para espantar à tempestade. Se lembrou dos doces que ele trazia quando voltava de viagem. Das histórias que ele havia vivido. Deles brincando de balanço, de pega-pega, esconde-esconde...
Tudo aquilo iria ficar carregado no coração dela para sempre.
—Se cuide, meu pai... e que seja feliz aonde quer que você vai.- Ela procurou dizer sem chorar.
—E dragão guerreiro...- chamou a minha atenção. – Não mude nunca! Continue assim, bolo fofo. Uma nuvem de algodão que saiba lutar como um demônio e fique macio e fofinho ...oh ...me deu até vontade de te abraçar, sabia?
E eu, um urso chorão do jeito que era, agarrei -me a aquele espírito num abraço e o espectro correspondeu ao seu afeto. E ele e o Qilin depois das despedidas devidas desapareceram sobre o céu azul do dia.
Olhei para o céu e sorri para as duas pequeninas luzes acenando um tchau . Eles foram embora felizes por terem encontrado um caminho.

Enterrei o corpo do Lobo - Chefe nas montanhas e deixei com uma placa feita em pedra que havia feito para ele. Uma placa onde aquela coelhinha poderia ver e se lembrar do seu sorriso . Com os seus dois olhos vermelhos flamejantes como o fogo .

Esperando para que um dia se encontrassem.