As Crônicas do Mundo das Sombras escrita por ShadowMurderer
Notas iniciais do capítulo
Eu tenho esse capítulo escrito a séculos, mas só agora percebi que nunca postei. Enfim, o bom de ser uma história diferente em cada capítulo é que eu posso demorar o tempo que quiser pra postar e vocês não vão precisar reler os capítulos anteriores para se situarem e relembrarem. :)
Michael suspirou novamente e Robert o encarou, franzindo o cenho. Por algum motivo, seu parabatai não conseguia ficar quieto. Não que normalmente ele não fosse agitado – ele era e muito. Mas naquele momento estava ultrapassando todos os limites. Não parava de retorcer as mãos que estavam em seu colo, tinha o cenho e a boca aparentemente permanentemente franzidos, suspirava o tempo todo e pulava de seu lugar toda vez que seus ombros se esbarravam. E Robert podia sentir sua inquietação através da ligação parabatai. Isso estava começando a assustá-lo.
– Michael, qual o seu problema? – perguntou finalmente.
Michael pulou novamente, parecendo surpreso pelo rapaz ter se dirigido a ele.
– Como assim? – fez-se de desentendido.
Robert revirou os olhos.
– Você está mais agitado que o normal e mal me olha – murmurou e logo em seguida suspirou de forma resignada. – Você não está preocupado com amanhã a noite, não é?
Michael desviou os olhos, mordendo o lábio inferior e parecendo preferir até mesmo beijar a boca de um demônio a conversar com ele.
– Você sabe que vai dar tudo certo. Valentine pensou em tudo, como sempre – tentou tranquilizá-lo.
O outro olhou ao redor do quarto, parecendo decidir o que responder.
– Algo maior virá. Você sabe disso, Robert. E se um de nós não sobreviver a isso? E se um de nós não sobreviver amanhã? – Ele parecia realmente acreditar nisso.
– Sempre existiu esse risco, Michael. Um de nós dois pode morrer depois de amanhã quando estiver caçando demônios ou mesmo hoje a noite. Nós somos shadowhunters. Desde o nosso nascimento, nossa vida é formada por milhares de “e se”. Achei que já estivesse acostumado.
– Eu nunca tive dúvidas da nossa sobrevivência antes. Eu tenho agora. E eu não posso viver sem você, Robert.
Robert o encarou, franzindo ainda mais o cenho. Não era a primeira vez que o seu parabatai falava isso, no entanto era a primeira vez que ele usava esse tom de voz. Algo havia mudado, definitivamente, em Michael. E ele simplesmente não tinha ideia do quê. E achava que não queria saber.
– O que aconteceu? – indagou mesmo assim, encarando-o novamente.
– Como assim?
– O que mudou?
– Tudo – sussurrou Michael. E então fez algo que Robert nunca imaginaria.
Ele o beijou.
Os olhos de Robert se arregalaram enquanto sentia os lábios macios de seu parabatai selarem os seus.
Seu
Parabatai
Robert pôs as mãos nos ombros de Michael.
E empurrou.
Levantou-se da cama e afastou-se do rapaz de olhos magoados, que lhe encarava como se ele tivesse lhe matado.
Talvez fosse melhor se Robert o tivesse feito. Talvez não doesse tanto quanto parecia doer naquele momento.
– O que foi isso, Michael? – exigiu, a voz tremendo.
– Foi um beijo. Achei que soubesse – respondeu, forçando uma fraca risada.
– Porque você me beijou?
Michael baixou a cabeça, encarando a colcha de cama.
– Porque eu amo você – murmurou.
Robert balançou a cabeça, parecendo confuso.
– E eu amo você.
– NÃO, ROBERT! – Michael gritou, levantando-se da cama em um rompante. – NÃO ESTOU FALANDO DO AMOR ENTRE PARABATAIS! ESTOU FALANDO DE... – Parou abruptamente e deu uma pequena e baixa risada, que rapidamente se transformou em um soluço. Que foi seguido de outro e outro. Aqueles soluços pareciam lhe rasgar por dentro e Robert se sentiu completamente desolado. Simplesmente não sabia o que fazer. – Eu ia dizer que estava falando de amor entre um homem e uma mulher, mas... – Ele balançou a cabeça lentamente, lágrimas deixando um rastro em seu rosto.
Robert pôs as mãos sobre sua cabeça, puxando os fios negros de cabelo.
– Você está me dizendo que é gay? Que gosta de homens? – perguntou.
– Eu estou dizendo que gosto de você, pelo Anjo! E é isso que importa!
Ficaram os dois em silencio, se encarando. Michael com os braços cruzados sobre o peito e seu parabatai ainda com as mãos na cabeça.
– Porque, Michael? Você não pode fazer isso! Não pode estragar isso! – gritou Robert, parecendo finalmente irritado.
Michael balançou a cabeça em descrença.
– Não fale como se fosse algo que eu poderia evitar...
– Mas é...
– NÃO É! Você acha que não tentei? Acha que fiquei feliz com o fato de ter ido contra as leis da Clave? Robert, eu sou um shadowhunter. Isso está no meu sangue. Ir contra uma lei tão importante da Clave é horrível pra mim, como se estivesse traindo tudo em que acredito. No entanto não pude evitar. Não posso evitar.
– A Clave... Não pode saber. Não podemos...
– Podemos deixar isso escondido. Ou sermos extremos como sempre fomos, jogar tudo para o alto e nos tornarmos mundanos. Não vamos conseguir manter isso escondido por muito tempo e...
– Michael. Não estou falando só de sermos parabatai. – Ele encarou ao rosto ainda esperançoso de seu melhor amigo, irmão, parabatai, e fechou os olhos para não assistir enquanto tudo aquilo se quebrava. – Eu não amo você. Não desse jeito. Eu amo Maryse. E é com ela que vou me casar.
Michael arquejou.
– Olhe para mim – ordenou. Robert fechou os olhos com ainda mais força, balançando a cabeça. – Olhe para mim, Robert! – Havia tanto sofrimento em sua voz que Robert simplesmente sabia que não aguentaria olhá-lo. Mas o fez mesmo assim. Respirou fundo e encarou aos olhos de uma das pessoas com quem mais se importava. – Para falar a verdade, eu acho que já sabia o que você ia dizer. Mas acho que... Não consegui deixar de ter esperanças. Não se preocupe. Seja feliz com Maryse. – Robert assentiu. – Mas antes, se não se importa, gostaria de fazer algo. Por favor.
Como dizer não? Como encarar aqueles olhos suplicantes e dizer não?
Robert assentiu novamente, de forma quase imperceptível, temeroso.
Assistiu assustado enquanto Michael contornava a cama e parava a sua frente, tão próximo que Robert podia observar cada poro de sua pele.
Sentiu sua coluna ficar tensa ao ver a mão de Michael aproximar-se de seu rosto. E então ele estava o tocando. Michael estava tocando-lhe e tudo em que Robert conseguia pensar era “por favor, não, não posso perdê-lo, ele não”.
E, pela segunda vez naquele dia, Michael o beijou, enquanto lágrimas percorriam pelos rostos de ambos.
Quando se afastou, sussurrou duas palavras, que marcariam o coração de Robert como se com um ferro em brasa. Que fariam com que ele nunca mais fosse o mesmo.
– Meu amor.
Robert sabia. Sabia que nunca esqueceria aquilo. Sabia que aquelas duas simples e pequenas palavras o fariam pensar, se perguntar... Fariam com que ele sentisse dor. E tudo o que ele podia fazer era odiar Michael por isso. Odiá-lo por fazer com que ele odiasse a si mesmo.
– Nunca mais fale isso, você me ouviu? – murmurou, sem conseguir evitar a expressão de raiva que tomou seu rosto. Suas mãos foram para os braços de Michael, apertando. Ele olhou no fundo daqueles olhos assustados e disse: – Nunca mais, em toda a sua vida, você vai falar isso! VOCÊ NÃO VAI MAIS ME CHAMAR ASSIM E NÃO VAI PRONUNCIAR ESSAS PALAVRAS!
Soltou os braços de Michael e foi em direção a porta, abrindo-a de um rompante e saindo dali, batendo-a com força atrás de si, e correu até seu quarto.
Aquela noite, aquele instante, mudaria tudo. Para sempre.
Michael choraria apenas aquela noite. Mas Robert não choraria só naquele momento, em seu quarto. Choraria quando a Clave acabasse com sua ligação parabatai, choraria quando soubesse que Michael havia morrido e recebesse Jace no instituto.
E choraria mais ainda quando soubesse que Michael morreu no lugar de Valentine. Que aquele com quem tanto se importava havia morrido de uma forma terrivelmente horrível, sem saber o quão importante realmente era. E havia levado um pedaço de seu coração com ele.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Eu sempre quis escrever sobre a relação entre Robert e Michael, sempre foi um assunto que me interessou bastante. Provavelmente não foi assim que a Cassandra pensou, esse ar de dúvida do Robert sobre gostar ou não do Michael como o Michael gostava dele, mas eu preferi poetizar um pouco as coisas.
Só não marquei a fanfic como terminada ainda porque eu posso ter alguma ideia de repente e posto aqui. Mas agora eu tô no wattpad, mal entro aqui. Meu user lá é @larryscandaI (com i maiúsculo no final). Qualquer coisa me chamem lá.
Beijinhos e espero que tenham gostado.