After all this time escrita por eq


Capítulo 2
Capítulo 1 - Dezesseis anos atrás


Notas iniciais do capítulo

Atualização, yay!



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Quando a coruja cor de caramelo entrou deslizando pela sala de estar, Mary Margaret e David se entreolharam com uma expressão desconcertada.

Emma olhou por cima de seu café da manhã e encarou seus pais adotivos com curiosidade.

"Vocês não vão pegar o correio?" perguntou a garota, apontando para a coruja que bicava a asa, empoleirada na caixa de cereal.

Mary Margaret limpou a garganta e deu uma cotovelada no marido.

"Não é pra gente, querida.” David disse então, depois de um momento de reelaboração.

Emma olhou alternadamente para os dois adultos e, em seguida, para a coruja. A faca tilintou, quando ela a deixou cair no prato.

"O-o quê?" gaguejou Emma. "Mas não é possível! Eu... Eu sou trouxa! Como vocês me disseram!"

Ela encarou com expressão acusadora os pais que a tinham sob custódia por quase sete anos, e que tomaram conta dela como se fosse sua filha.

"Fui adotada de um orfanato trouxa.” Emma continuou, cada vez mais confusa. "Eu não tenho poderes mágicos! Eu não sou filha de vocês!”

"Mas essa é uma das corujas de Hogwarts, meu amor.”

Mary Margaret e David encolheram os ombros, sem saber o que dizer.

Emma novamente olhou para a coruja, descobrindo que ela a estava encarando.

Ela se levantou, lentamente, e alcançou o pássaro, aproximando suas mãos trêmulas da pata a qual estava amarrada a carta. A coruja estendeu a patinha, tornando o trabalho mais fácil.

Quando Emma se encontrou, finalmente, com a carta nas mãos, a coruja disparou, espalhando cereal pela cozinha com seus golpes de asa, e voou para fora da janela.

Emma Swan

Quarto do segundo andar

77 Downing Street

Londres, Reino Unido

Não haviam dúvidas. A carta era para ela.

***

Os preparativos nos meses sucessivos à carta foram frenéticos e cheios de entusiasmo. Quando a proposta de adoção chegou do orfanato trouxa, os Blanchard concordaram em cuidar da pequena menina, apesar de saber que, em qualquer caso, ela não desenvolveria nenhum poder mágico.

A surpresa ao saber que não só Emma tinha qualidades mágicas, mas que também tinha sido matriculada na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, foi realmente enorme.

Mary Margaret e David ficaram tão felizes ao saber que sua filha adotiva era como eles que não pouparam gastos. Abasteceram Emma com tudo que ela precisava, gastando quase dois dias no Beco Diagonal. Compraram uma roupa feita sob medida, livros novos, e até mesmo uma coruja filhote que cabia na palma da sua mão.

Mas o momento que causou um maior entusiasmo em Emma foi a compra de sua varinha.

Mary Margaret e David a convidaram a entrar sozinha, porque sabiam muito bem que, apesar de todas as compras já feitas juntos, se familiarizar com a própria varinha era algo profundamente privado, onde não queriam interferir. Portanto, Emma entrou sozinha, e um velho, velhíssimo mago se aproximou dela, saindo das sombras de algumas prateleiras. Ele a examinou com atenção, antes de proferir sua sentença: "Nascida trouxa, interessante.”

Emma não respondeu, impressionada com o homem, cuja fama precedeu sua apresentação.

Olivander não disse mais nada. Limitou-se a fitá-la por alguns segundos antes de desaparecer nas profundezas da loja.

Emma o ouviu murmurar para si mesmo, antes de vê-lo sair com braçadas de caixas. Ele as apoiou cuidadosamente sobre a mesa, e em seguida começou a retirá-las, uma após a outra.

Ela ainda não tinha tido o tempo de agarrar firmemente a primeira varinha, que Olivander a tirou de sua mão. E assim foi com a segunda e a terceira. As varinhas tinham começado a se acumular na mesa já pouco organizada do mago, e Emma foi tomada pelo pânico. E se tivesse sido um erro? E se a carta tivesse sido endereçada a ela por engano? Afinal de contas, ela nunca havia demonstrado sinal de possuir qualquer tipo de habilidade mágica.

Tomada pelo desespero e prestes a ceder às lágrimas, Emma tomou em consideração a idéia de deixar a loja, quando Olivander voltou com uma caixa completamente anônima, e a convidou a experimentar a varinha que descansava dentro dela.

Imediatamente, Emma sentiu uma onda de calor irradiar da ponta dos dedos até a extremidade do longo cabelo loiro, e ela entendeu ter sido escolhida.

"Ora, ora.” comentou Olivander, alegremente. "Ligeiramente elástica. Doze centímetros, álamo branco e núcleo de cordas de coração de dragão.”

Olivander a observou com um sorriso torto que Emma julgou apenas perturbador.

"Nós temos um jovem talento aqui."

Emma apertou convulsivamente sua nova varinha, apoiando o dinheiro em cima do balcão.

“Desculpa?"

Olivander agitou um dedo ossudo.

"As varinhas dizem muito de seus proprietários, Miss Swan.”

Só então Emma saiu, aterrorizada. Ela nunca disse seu nome para o homem.

***

O condutor assobiou pela terceira vez.

"Sempre respeite o toque de recolher e chegue cedo pra aula.”

A menina coçou a cabeça de sua coruja, através das barras da jaula.

"Sim, Mary Margaret.”

"Sem desrespeito aos professores, e faça sempre todas as tarefas.”

Emma revirou os olhos, enquanto a mulher estava distraída verificando as horas pelo grande relógio branco pendurado em paralelo à placa da plataforma 9 ¾.

"E-"

"Querida, acho que Emma entendeu.” a interrompeu David gentilmente, piscando para a garota.

Emma sorriu para ele e acenou com a cabeça.

Mary Margaret torceu as mãos ansiosamente. Geralmente, ela não era uma mãe chata, mas não tinha tido tempo para se acostumar com o fato de que sua filha fosse partir para a Escola de Magia e Bruxaria. Ela nunca tinha cogitado a idéia de ter que se separar por um período tão longo de Emma.

E agora, o primeiro dia de aula havia chegado, cedo demais.

"O que você me diz, garota?" exclamou David, levantando sem esforço a mala do carrinho. "Quer ajuda com isso daqui?"

Emma assentiu, se apressando para pegar a gaiola da coruja.

"Já voltamos.” prometeu Emma. Mary Margaret apenas concordou com a cabeça.

Pai e filha subiram as escadas e se enfiaram no primeiro compartimento vazio. David ergueu a mala sobre a sua cabeça e, em seguida, a prendeu na prateleira de bagagem.

Emma apoiou a gaiola em um dos assentos, e se inclinou sobre o animal.

"Vou te soltar assim que o trem partir, prometo.” ela sussurrou, tentando não ser ouvida por David.

A coruja piou, alegre.

Quando Emma se levantou, descobriu que David a estava fixando.

”Não me venha você também, agora.” exclamou Emma, ansiosa.

O homem caiu em uma gargalhada, e balançou a cabeça.

"Não, Emma.” disse. "Eu só tenho uma recomendação para você.”

Emma assentiu. Fora do compartimento, os alunos se perseguiam, caminhavam, se moviam ruidosamente.

“Fala”

David apoiou suas grandes mãos nos pequenos ombros da garota. Emma olhou em seus olhos, claros e sinceros.

Sempre que David olhava para ela daquela maneira, ela se sentia ainda menor do que já era.

"Viva"

Emma inclinou a cabeça, e os cachos loiros se mexeram com ela.

"O quê?”

David sorriu, dando um leve aperto em seus ombros.

"Hogwarts não te ensina só a usar magia, Emma." continuou o homem, apressando as palavras quando ouviu o condutor apitar novamente. "Hogwarts é uma escola, mas também é um lugar onde as vidas de centenas de meninos e meninas se encontram. Nós não vamos estar lá pra te ajudar. Você vai ter que cuidar de si mesma, na maioria das vezes. Faça amigos ou inimigos, ame ou odeie, mas viva.”

O olhar de Emma deixou por um momento o de David. Seus olhos vagaram para observar os alunos que caminhavam no corredor, e inesperadamente, eles encontraram alguma coisa.

Um olhar, distraído.

Dois olhos escuros e impenetráveis​​, cheios de mistério e de algo que, segundo Emma, parecia melancolia.

Pertenciam a uma menina, um ou dois anos mais velha que ela, que andava firme em sua veste preta de bruxa.

Seus olhos ficaram acorrentados por um instante, mas então o instante passou.

"Haverão momentos para ser sérios e momentos para se divertir. Aprenda a gerenciar ambos na dose certa. Erre, Emma."

A mão de David descansou suavemente no rosto da menina. Emma esqueceu do pensamento sobre a menina, e voltou a se concentrar no homem à sua frente.

"Cometa erros, faça coisas estúpidas, faça coisas das quais talvez um dia você se arrependa. Esse é o seu momento para errar, para corrigir esses erros e crescer.” Emma sorriu. Sabia o que David queria dizer.

"Como pai você não devia me incentivar a fazer certas coisas." ela brincou, se jogando em cima dele para abraçá-lo.

David a apertou com carinho, emocionado por ter sido chamado de pai. Emma não o fazia com frequência.

“Se você não contar pra sua mãe tá tudo bem."

Os dois riram, voltando para a estação.

***

Se despedir de seus pais adotivos foi mais difícil do que ela poderia ter imaginado.

Emma sentiu um aperto no estômago no exato momento em que ambos os cônjuges Blanchard a abraçaram.

Ela percebeu que não estava pronta para deixar as únicas pessoas que, em sua breve vida, a aceitaram, acolheram e amaram.

"To com medo." murmurou, com o rosto escondido no casaco de Mary Margaret.

Os dois romperam o abraço para poder olhá-la.

"Eu sei, querida." disse a mulher, sorrindo docemente. Ela pegou o rosto de Emma entre as mãos. "Mas nós confiamos em você, sabemos que você vai se sair muito bem."

O condutor apitou. Um apito longo, prolongado e inconfundível.

Emma saltou no primeiro degrau da escada do trem.

Ela subiu os outros dois mais lentamente, e em seguida a porta se fechou atrás dela.

Olhou para fora da janela, onde viu seus pais, abraçados.

O trem começou a se mover, devagar no início, depois mais e mais rápido.

Emma acenou pela janela, tomada por um pensamento. Ela não disse algo importante!

"Mãe!" gritou. "Pai!"

Os dois Blanchard arregalaram os olhos, caminhando atrás do trem. Agora estavam a cerca de dez metros de distância.

"Amo vocês!" exclamou Emma.

Ela viu sua mãe levar as mãos à boca e seu pai agitar mais o seu braço, gritando algo que Emma não conseguiu ouvir, mas que ela imaginou ser um "Nós também".

A menina entrou no trem, feliz. A adrenalina corria por ela como uma cachoeira, e ela não podia esperar para começar essa nova aventura.

***

Emma estava olhando pela janela, perdida em seus pensamentos.

Por esta razão, não ouviu a batida na porta.

Escutou, no entanto, a porta de correr abrir, e isso a levou a virar a cabeça.

Outra menina, do rosto bonito e lábios cheios, sorriu para ela. Ela tinha cabelos longos e castanhos. Entre as madeixas escuras, Emma reconheceu algumas um pouco mais avermelhadas.

"Posso? Os outros compartimentos estão todos ocupados."

Emma assentiu com um sorriso, levantando-se para se apresentar.

"Claro. Sou Emma Swan."

Estendeu a mão.

A outra a agarrou e a segurou com uma energia que Emma considerava impensável para uma menina de sua idade.

"Ruby Lucas." se apresentou, largando sua mão. "Apertei demais?"

Emma sacudiu a cabeça, movendo a gaiola vazia de sua coruja, de modo que Ruby pudesse se sentar na frente dela.

"Não, relaxa. Mas você é realmente forte!"

Ruby sorriu, mastigando um chiclete.

"Pois é, culpe a licantropia."

Emma arregalou os olhos, interessada. Se inclinou para a outra garota.

"Licantropia?!" exclamou, surpresa. “Sério?”

Ruby riu, balançando a cabeça. Levantou a manga esquerda de seu manto, mostrando uma cicatriz inconfundível.

“Fui mordida quando tinha cinco anos." ela disse com orgulho. "Minha avó quase teve um ataque quando me viu voltar do parquinho com o braço cheio de sangue. Ela me levou direto para o St. Mungus, mas como você sabe ainda não encontraram um antídoto para o vírus…"

Emma assentiu. É claro que ela sabia. Embora ela tivesse crescido sem algum poder mágico, os Blanchard eram bruxos, e tinham comprado muitos livros para ela.

Quando eles fizeram as compras para a escola, Emma se divertiu folheando "Hogwarts, uma história - Segundo volume", com as notas de rodapé de Hermione Granger.

Ela leu tudo sobre o assunto. Sabia bem que, graças ao filho do famoso bruxo Remus Lupin, o St. Mungus tinha recebido uma comenda especial da comunidade mágica mundial, depois de terem descoberto e difundido a poção Antilobo revisada e corrigida.

"Então, quando você tiver no período da lua cheia, você pode escolher se quer transformar ou não!" exclamou Emma, fascinada. Ela nunca tinha conhecido um lobisomem.

Ruby assentiu. Graças a essa poção, e graças à grande campanha anti-discriminatória de Teddy Lupin, a situação dos lobisomens tinha mudado bastante.

"Sim. E se eu decidisse me transformar eu seria de qualquer forma um lobo muito manso."

Ruby olhou por um momento para o corredor, como se quisesse se certificar de que não houvesse ninguém.

"Sabe, eu descobri que Remus Lupin era forçado a sair do castelo para se transformar, quando ele tava na escola."

Emma não podia acreditar.

"Sério?"

Ruby assentiu gravemente.

"Loucura, né? Como se nós lobisomens pudéssemos machucar alguém!”

***

A viagem prosseguiu tranquilamente. Emma se surpreendeu muitas vezes ao olhar pela janela, ainda sem acreditar que tudo aquilo estivesse acontecendo de verdade.

Ruby não parou de falar por um segundo e Emma ficou grata à ela. Precisava de alguém para deixar sua mente ocupada, caso contrário, enlouqueceria de ansiedade e antecipação.

Sua nova amiga era proveniente de uma jovem geração de bruxos, cujos ancestrais se conheceram durante a primeira guerra mágica, na qual Lord Voldemort caiu pela primeira vez.

"Eu nunca conheci meu pai." Ruby disse com tranquilidade, segurando a varinha atrás de sua orelha. "E minha mãe me largou com minha avó quando eu tinha dois anos. Eu nem lembro dela."

Emma puxou os joelhos até o peito.

"Você sente falta deles?"

Ruby olhou pela janela por vários instantes, antes de encolher os ombros.

Depois de terem estocado doces do carrinho de comida, as duas iniciaram uma cuidadosa análise das Casas de Hogwarts.

"Meus pais adotivos foram ambos da Lufa-Lufa."

Ruby estalou a língua, divertida.

"Sem querer ofender seus velhos, Swan, mas pra mim a Lufa-Lufa é casa de gente bunda mole."

Emma riu.

"Para, não é verdade! Eles têm muitas qualidades tá."

Ruby arrancou com força a cabeça de um sapo de chocolate.

"Mmm, por exemplo?"

Emma abriu a boca e a fechou novamente. Ela estreitou os olhos e tentou pensar sobre isso, mas como resultado ambas começaram a rir feito retardadas diante das evidências.

"Eu provavelmente vou ficar na Grifinória, como toda a minha família. É uma tradição, na prática."

Emma observou com atenção o rosto jovem de Ronald Weasley, que sorria para ela divertido, na figurinha do sapo de chocolate.

"E você, onde acha que vai ficar?" exortou Ruby, curiosa.

Emma sacudiu os ombros, envergonhada.

"Inteligente eu não sou, então posso excluir a Corvinal. Nunca matei ninguém, então posso descartar também a Sonserina. Sobram duas opções, e eu não sou tão corajosa a ponto de ser escolhida pela Grifinória."

"Sabe, você tá errada." disse uma voz.

Tanto Ruby quanto Emma se viraram rapidamente para a porta, onde uma menina magra, com cabelos avermelhados e ondulados, as observava.

Ela vestia o manto de Hogwarts, e levava as cores de Rowena Ravenclaw.

"E você é...?" perguntou Ruby sorrindo, entretida pela interrupção.

Ruby não era uma pessoa que se estressava fácil, Emma notou com prazer.

"Me desculpem." exclamou a garota com um sorriso doce, entrando no compartimento e apertando suas mãos. "Meu nome é Belle French, estou no terceiro ano."

"Emma Swan."

"Ruby Lucas.”

Belle sentou no assento ao lado de Ruby.

"Eu não queria interrompê-las, nem bisbilhotar." explicou Belle, com um tom tão sincero que Emma não pode deixar de acreditar nela. "Mas eu ouvi a conversa de vocês sobre as casas de Hogwarts, e eu pensei que fosse certo desmascarar alguma velha lenda urbana."

Ruby apontou para Belle com o polegar, voltando o olhar para Emma.

"Gostei dela.”

As três riram, e em seguida, Emma convidou Belle a continuar.

A menina explicou-lhes as incríveis diferenças entre as famosas quatro casas da escola, mostrando a elas como as pessoas tinham uma visão superficial das coisas e viam apenas a ponta do iceberg.

"A Grifinória, como vocês sabem, é a mais popular. Harry Potter, Ronald Weasley e Hermione Granger foram da Grifinória. Essa casa requer coragem, bravura, lealdade e nobreza de espírito."

Emma e Ruby assentiram, atentas.

"A Lufa-Lufa é muito subestimada. Eu conheci pessoas maravilhosas que estavam na Lufa-Lufa. Essa casa premia a paciência, o forte sentimento de amizade e lealdade; aos alunos da Lufa-Lufa o trabalho duro não assusta. Peça ajuda para um deles, e ele ficará feliz em te ajudar. Muitas das vítimas da guerra mágica pertenciam a Lufa-Lufa."

As outras duas meninas trocaram um olhar culpado, quase arrependidas de ter chamado os lufanos de bananas.

"A Corvinal, minha casa, recebe as pessoas mais excêntricas que você possa encontrar em Hogwarts. As principais características da Corvinal são a criatividade e a individualidade. Os outros dizem que somos apenas um bando de nerds. Não é verdade, é claro. Mas temos essa inclinação especial para o conhecimento e o estudo das coisas. Eu não estou dizendo que as outras casas sejam estúpidas, mas a Corvinal gosta de ir fundo nas coisas. Muito mais do que as outras casas."

Emma e Ruby pendiam, literalmente, de seus lábios.

"E, finalmente, a Sonserina." disse Belle.

A atenção de Emma foi desviada por um instante. Seus olhos ficaram magnetizados por uma figura familiar que estava passando naquele momento pelo corredor.

"Muitos acham que os Sonserinos são maus, mas esse é apenas um preconceito estúpido."

A garota do corredor vestia um robe preto com bordados das cores verde e prata, sinal que deixava claro a qual casa ela pertencia.

"Essa casa exige ambição, astúcia, desenvoltura. Os alunos da Sonserina sempre avaliam cada situação com muito cuidado, tendo em conta os riscos e frutos que podem ter."

Ao lado dela havia outra menina, com cabelos loiros e volumosos, mas Emma foi capaz de se concentrar apenas na morena, que lhe lançou um olhar indecifrável antes de prosseguir pelo seu caminho.

Se Emma tivesse que escolher uma palavra para descrevê-la, ela escolheria "obscura".

"...A Grifinória a acusa de ser covarde por isso, e a Sonserina acusa a Grifinória de ser muito ingênua e arrogante. Vamos dizer que ambas estão certas e erradas."

As palavras de Belle chegaram abafadas aos ouvidos de Emma.

Mas então a garota desapareceu, e o tempo começou a fluir normalmente. Emma ouviu Belle e Ruby rirem e balançou a cabeça, fazendo dissipar aquele sentimento de inquietação que tinha se apoderado dela.

Ela voltou a acompanhar o resto da conversa, esquecendo rapidamente a garota.

***

Já estava escuro quando o trem começou a desacelerar.

Emma e Ruby abriram suas bagagens e vestiram seus mantos sem brasões, e Belle se despediu, prometendo encontrá-las nos próximos dias.

O trem parou depois de alguns minutos, e Emma e Ruby saíram para o corredor, já lotado pelo caos de alunos.

"Alunos do primeiro ano! Primeiro ano por aqui! " disse uma voz poderosa.

"As bagagens...?" perguntou Emma. Ruby apertou os ombros.

"Não se preocupem com as bagagens." disse uma jovem de rosto suave e doce. Ela usava uma túnica preta, sinal de que também era do primeiro ano. "Eu conversei com um Monitor mais cedo. Ele disse que as malas dos alunos do primeiro ano são levadas por eles com a magia."

Ruby apertou os ombros novamente, como se ela pouco se importasse com sua bagagem.

"Aurora, muito prazer."

"Emma e Ruby." disse a menina às pressas, apontando primeiro para si mesma e então para sua amiga.

As três seguiram o rio de estudantes e desceram do trem, em seguida indo se juntar ao grupo de crianças trêmulas, reunidas em aguardo perto de uma espécie de estátua.

"O que temos que fazer?" perguntou Emma, curiosamente, a alguns colegas. Eles balançaram a cabeça.

"Primeiro ano!" ressoou uma voz. "Estão todos aqui?"

Só então Emma se deu conta que a estátua na verdade era uma pessoa em carne e osso.

"É um gigante!" ela sussurrou espantada.

"Um meio-gigante, pra dizer a verdade." interveio Aurora. "Acho que ele se chama Hagrid."

Ruby e Emma se entreolharam surpresas.

"Aquele Hagrid? Aquele da guerra mágica?”

Um dos meninos, que estava acompanhando a conversa, se virou.

"Ele mesmo. Pelo que meu pai me disse, os gigantes envelhecem de forma diferente das pessoas normais."

"Pelo que minha avó me disse, é falta de educação bisbilhotar e se intrometer, se você não foi convidado.” respondeu Ruby, azeda.

Ok, retratou Emma em sua cabeça, Ruby não era uma pessoa que se estressava fácil. Pelo menos, não com as meninas.

O rapaz corou e voltou a se juntar a seus amigos, e Emma sufocou uma risada.

***

Hagrid os fez subir em barquinhos minúsculos, e por um momento Emma se perguntou se eles iriam aguentar o peso.

Quando todos subiram a bordo, as pequenas embarcações se mexeram sozinhas, começando a travessia do Lago Negro, uma tradição dos calouros de Hogwarts.

Houve um coro de exclamações surpresas, seguida de entusiasmados burburinhos dos meninos ao seu redor, mas ela não tomou parte na conversa.

Seus olhos e sua mente eram apenas para a escola.

O castelo estava empoleirado no alto de um penhasco.

Era lindo. Era majestoso, imponente, aterrorizante.

Emma percebeu naquele momento que sua vida real começava ali, entre aquelas paredes de pedra. Lá, em Hogwarts, ela passaria os próximos sete anos de sua vida.

Iria crescer, sofrer, amar, chorar e rir, se tornar adulta.

E, como David havia dito, ela iria viver.

***

Se a visão externa do castelo a deixou sem fôlego, Emma teve de fazer um esforço considerável para ficar de pé quando viu o interior.

O castelo era iluminado por velas, e a pedra escura e clara criava um jogo de luzes incrível, que fazia Emma se sentir aterrorizada e tranquila ao mesmo tempo.

O grupo do primeiro ano foi conduzido para uma pequena sala, e Emma fez pela primeira vez conhecimento de fantasmas.

Eles entraram das paredes, começando a conversar com alguns garotos mais ousados e elogiando cada um uma casa diferente.

Emma os observava, fascinada, até que o som das portas se abrindo a distraiu, e o silêncio caiu sobre a sala.

O vice-diretor Longbottom despertou em várias crianças uma exclamação de surpresa admirada.

Para aqueles que conheciam a história da magia, parecia impossível que estivessem na mesma sala com um de seus heróis.

Neville Longbottom era velho, corcunda, cansado. Mas seus olhos brilhavam com vivacidade e gentileza, características que nunca o haviam abandonado durante todos esses anos.

Falou em voz baixa, e olhou para eles, um por um, como se estivesse falando com cada um deles.

Ele explicou que os levaria para o Salão Principal, onde seriam selecionados, e em seguida os organizou em fila indiana e os acompanhou para fora da sala. Os fantasmas seguiram o grupo em silêncio.

Quando as portas do Salão Principal abriram, Ruby deu uma cotovelada nas costelas de Emma, forçando-a a olhar para cima; cada protesto foi interrompido, quando a menina viu o teto encantado.

Era exatamente como vinha descrito nos livros de história. As velas flutuavam preguiçosamente no ar, iluminando o imenso salão, onde quatro mesas idênticas estavam dispostas paralelamente uma à outra.

Além das velas, Emma e Ruby admiraram um céu limpo e claro, podendo ver as estrelas cadentes se perseguindo, brilhantes.

Quando o grupo parou, muitas das crianças tombaram para frente, perdidas na contemplação do teto mágico.

No Salão Principal caiu o silêncio.

"Quando eu chamar seu nome, você virá se sentar." disse o professor Longbottom. "Eu vou vai colocar o Chapéu Seletor na sua cabeça, e você será classificado para a casa certa."

Emma esfregou os palmos das mãos em sua capa, sentindo-os de repente suados e pegajosos.

"Bread, Gretel!"

Uma garotinha deixou a mão trêmula do menino ao seu lado e se arrastou em direção ao banquinho de quatro pernas. O professor Longbottom apoiou em sua cabeça o velho chapéu.

Após alguns instantes, o Chapéu Seletor gritou: "LUFA-LUFA!" fazendo sua voz ecoar por todo o Salão.

A mesa na extrema esquerda bateu palmas com entusiasmo, e a menina de nome Gretel correu para se sentar entre suas fileiras.

Também Bread, Hansel foi enviado para Lufa-Lufa. Emma concluiu que ele devia ser seu irmão gêmeo.

"Glacester, Elsa."

Ruby, ao lado dela, começou a tamborilar com o pé.

Elsa foi enviada para a Corvinal, e desta vez foi a mesa à extrema direita a exultar.

O chapéu continuou assim, dividindo em grupos as crianças com uma velocidade impressionante.

"Liddell, Alice."

Alice, uma minúscula menina com longos cabelos loiros, nem sequer teve que se sentar no banquinho. Assim que o chapéu tocou sua cabeça, o grito "SONSERINA." se espalhou no ar.

"Lucas, Ruby.”

Ruby expirou o ar que estava segurando, e olhou para Emma antes de encontrar o seu caminho entre as poucas crianças restantes.

A menina se sentou elegantemente no banquinho e o chapéu pousou em sua cabeça.

Demorou bastante. Demorou realmente muito.

Emma podia ver mil expressões passarem pelo rosto de Ruby, mas nenhuma delas parecia preocupada. Então, ela se limitou a esperar.

E, finalmente, o Chapéu Seletor falou e gritou novamente: "GRIFINÓRIA", provocando um novo rugido de uma das mesas centrais.

Emma aplaudiu, acenando com a mão para Ruby quando ela passou por ela.

No final, sobraram três.

Enquanto o penúltimo menino era chamado para o banquinho, Emma se virou para a garota ao seu lado.

"Qual é o seu sobrenome?"

Ela apontou para seu longo cabelo encaracolado.

"Você ainda tem dúvidas?" ela riu, envolvendo uma madeixa vermelha em torno de seu dedo. "Weasley."

Emma olhou para ela com perplexidade, e ela piscou.

Uma Weasley.

Surpresa, por pouco Emma não perdeu o seu nome.

"Swan, Emma."

Emma endireitou os ombros e caminhou até o banco. Como havia acontecido com todos os outros precedentes, o Salão ficou em silêncio.

Emma sentia sobre si o olhar de todo o Salão, e percebeu que não gostava nada disso. Ao chegar no banquinho, cruzou o olhar encorajador do professor Longbottom, e se sentou.

Teve um vislumbre da sala lotada na frente dela, antes do chapéu pousar sobre a sua cabeça, ofuscando sua vista.

Houve um silêncio.

Emma se perguntou o que deveria fazer, e estava prestes a falar, quando uma voz fez caminho em sua cabeça, a fazendo pular .

"Uma mente nada mal." disse a voz.

Emma arregalou os olhos, se perguntando se era normal ouvir vozes.

"Normalmente, não é, minha querida." disse a voz novamente, divertida. "Mas eu sou o Chapéu Seletor, não há nada a temer."

Emma duvidava fortemente disso, porque pelo visto o chapéu parecia ler sua mente

"Uma garotinha cética, posso ver." disse o chapéu. "É claro, é claro. Vejo um passado obscuro, minha jovem garota, e um futuro provavelmente ainda mais obscuro."

Emma envolveu seus dedos ao redor da borda do banquinho.

"Uma curiosa combinação de ambição, coragem, lealdade e esperteza. Isso não acontece com muita frequência. Onde posso colocar você, minha querida, onde?"

Os olhos de Emma se estreitaram.

"Não importa onde você vai me colocar." ela se encontrou pensando. "Eu só quero aprender, e provar que sou digna de ter sido escolhida para frequentar a escola."

O chapéu ficou em silêncio por alguns instantes, antes de se expressar no que parecia ser uma risada.

Então, o que ele disse depois, Emma o ouviu gritar para todo o Salão.

"GRIFINÓRIA!"

O chapéu foi puxado longe da cabeça e Emma ouviu a mesa da sua nova casa explodir em vivas. Enquanto se encaminhava em direção dela, viu Ruby fazer um aceno vitorioso com a mão e sorriu.

Correu para abraçar a amiga, e deixou alguns alegres companheiros de casa apertarem sua mão.

Ela mal ouviu que Weasley, Merida, foi enviada para a Sonserina, porque naquele momento ela era a pessoa mais feliz do mundo.

***

O banquete foi suntuoso, e Emma não se lembrava de alguma vez ter comido tanto assim em toda sua vida. Quando as sobremesas desapareceram dos pratos, e o diretor Leopold desejou-lhes boa noite, Emma achou incrivelmente difícil mover seus membros.

"Eu vou gorfar." Ruby gemeu, agarrando-se a seu ombro.

Emma riu, antes de sufocar um pouco elegante arroto por trás da mão. Isso só fez aumentar a hilaridade de sua amiga, e as duas começaram a rir como idiotas.

Elas seguiram o grupo de calouros para fora do Salão Principal, e ficaram no aguardo do prefeito que iria acompanhá-las.

Foi nesse momento que Emma a viu. A garota do trem.

Ela estava encostada em uma das estátuas fora do Salão Principal, e discutia animadamente com a garota loira que Emma tinha visto com ela no trem.

"Eu não dou a mínima, Mal." ela sibilou.

Emma se moveu ligeiramente para a direita. Não é que ela quisesse ouvir, mas estava absurdamente intrigada por aquela garota.

"Regina..."

Regina. Se chamava Regina. Emma pensou que era um nome importante para se dar a uma garota. Um nome pretensioso, talvez demais.

"Não. Eu disse que não." Regina sibilou de novo "Então faça o que eu te disse e cala essa maldita boca."

Emma torceu a boca em uma careta e deixou escapar um gemido de decepção.

Mas Regina ouviu.

Seus olhos negros correram pelo rosto de Emma, e a contemplaram por alguns breves segundos.

"Nunca te disseram que bisbilhotar é falta de educação?"

Ruby virou a cabeça, intrigada com a garota que tinha acabado de falar com sua amiga.

Emma olhou feio para a sonserina, antes de responder na mesma moeda.

"Nunca te disseram que tratar como lixo os próprios amigos é falta de educação?"

Tanto Regina quanto sua amiga arregalaram os olhos.

Regina, ainda atordoada pela resposta que a caloura deu, estava prestes a responder, mas nesse momento Ruby agarrou Emma pelo braço e a arrastou para o grupo da Grifinória que havia começado a subir pelas escadas.

Emma virou a cabeça para procurar Regina e sua amiga, mas não encontrou nenhuma das duas.

***

No dormitório, Emma e Ruby conheceram suas novas colegas de quarto.

Ariel, uma menina com o cabelo vermelho e de fala suave, e a sua melhor amiga Mulan, que Emma lembrou de ter visto durante a seleção. Era uma daquelas pessoas cujo chapéu tinha passado um pouco mais do que alguns segundos de tempo para decidir.

A garota olhou de soslaio para Emma, que sorriu nervosamente. Mulan estendeu um pequeno sorriso em resposta, e inclinou a cabeça.

O delicioso banquete ainda estava presente em seu estômago, e já estava começando a ofuscar seus sentidos.

Assim, ela se despiu e vestiu o pijama.

Foi capaz apenas de desejar boa noite a suas novas colegas, antes de cair em um sono profundo e sem sonhos.

O primeiro de uma longa série.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada pelos reviews e acompanhamentos!



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