Despedaçada escrita por GiGihh


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Sei que disse que só voltaria depois do fim de AHT, mas eu não resisto tanto assim: amo Despedaçada u.u E de qualquer forma, estamos tão pertinho do fim... Este cap esclarece bastante coisas ;)



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Capítulo catorze –

Luke tentou tocá-la, mas a imagem da moça tremeluziu suavemente como se fosse apenas uma projeção. A imagem de Thalia olhou para todos, mas parou no deus que apenas assentiu, a expressão séria. Ela balançou a cabeça com tristeza e dissolveu-se em uma luz violeta que preencheu o amuleto que Castellan levava no peito.

–Prossigam. A alma da criança deve voltar ao seu corpo antes que seja tarde.

O por do sol se aproximava com uma velocidade assustadoramente lenta, pois no Olimpo Apolo fazia o possível e o impossível para dar mais tempo aos semideuses. Atena tentava mandar sua sabedoria aquelas cabecinhas cansadas. Luke estava ofegante; pressentia algo ruim. Correram todos sem se importar exatamente com a direção; tinham todos os deuses os conduzindo, os protegendo, resguardando.

Chegaram a uma clareira onde uma rocha se destacava... Não, não era apenas uma rocha: era uma caverna. Todos hesitaram inclusive o deus ali presente, mas não o antigo traidor. Sua amada precisava dele, sendo assim, não precisava pensar duas vezes. Continuou correndo para dentro, para a escuridão que era aquele buraco. Dois segundos depois estava mergulhado no breu e no eco de seus próprios passos. Thalia corre perigo, não posso deixá-la, não posso, não irei! Seus pés chutavam pedrinhas que rolavam fazendo bastante barulho e quando ele ouviu a voz e os passos de seus amigos, despencou por um buraco, rolando nas pedras e se pendurando ficando com os pés balançando no ar... Era um abismo, uma caverna subterrânea se escondia lá embaixo, mas havia um abismo grande o bastante para matar em uma queda. Ele poderia estar morto. E, no entanto não estava. Sabia perfeitamente bem o porquê. Era por ela: Luke viveu, morreu e retornou do mundo dos mortos por Thalia. E sendo franco consigo mesmo, ele sabia que não havia problema algum em repetir este circulo vicioso desde que ela continuasse bem.

Isso era tão verdade que Castellan pensava seriamente na possibilidade de se jogar, de cair livremente, e mesmo sabendo dos riscos, da dor da colisão tinha plena consciência de que levantaria novamente... Mas não o fez.

–Droga – o murmúrio se projetou por culpa do eco e logo ele estava avisando aos outros que havia um maldito abismo, mas que Thalia estava com toda a certeza lá embaixo. – Alguém tem uma lanterna, uma vela, qualquer coisa que emita luz? – perguntou tateando as cegas, batendo o pé ora no ar ora na rocha, escutando o som perturbador das pedrinhas rolantes, mas sem nunca poder escutar quando paravam. No fim, todos cederam às roupas sujas que levavam nas mochilas, rasgaram-nas e atearam fogo depois de prendê-las em estacas de madeira formando o máximo de archotes que podiam. Marcando o caminho como pistas de vôo, para a ida e para a volta a cada, em média, dois metros, prendendo as tochas improvisadas nas pedras soltas e descendo com cuidado, agora tendo o privilégio da visão não havia quase nada que nosso herói não fosse capaz de fazer.

A igreja era pequena, mas rica o suficiente para alimentar todo um continente. Claro que eles não estavam prestando atenção nesses detalhes. Thalia vestia por cima da camisa de Luke uma jaqueta de couro que roubara de um bazar junto com um par de coturnos desgastados. Castellan também estava agasalhado... Como se aquelas peças de roupa fossem o suficiente para o frio que fazia.

Nevava. E era noite.

A temperatura estava baixa a ponto de congelar gazes na perspectiva dos dois. A noite branca e pálida parecia anunciar a morte de forma melancólica. Não que isso importasse. O padre era um homem já idoso de cabelos brancos, mas não tinha a feição gentil. Luke percebera no instante em que ele os convidara a entrar no “território santo” o tipo de olhar que ele lançava a sua Thalia. Não havia nada de santo naquele padre.

–Devíamos ir embora – disse quase de forma dura o jovem loiro – A neve não está mais caindo com força...

–Não seja tolo rapaz. Se quiser se arriscar nesta tempestade que só vai aumentar, vá sozinho e deixe a moça se esquentar – a voz do velho foi tão dura quanto à dele. Thalia observava a tudo em silencio, a expressão congelada em mistério aquele expressão que podia levar qualquer um à loucura. – Venha meu bem, tenho chocolate quente para você...

–Eu não quero – Thalia se livrou na mão enrugada que descia por suas costas que tinha como destino uma região mais abaixo. Ela no fundo de seus desejos queria correr para os braços de Luke, mas ela ainda era a mesma Thalia que não se atrevia a mostrar sua fraqueza seus desejos a ninguém. Os olhos faiscaram em eletricidade... Foi muito rápido: o velho padre agarrou fortemente, fazendo com que Thalia gemesse de dor, virou de frente para um Luke impotente. O jovem herói não sabia por qual motivo odiava mais aquele padre, se era por culpa da mão que apertava o seio de Thalia com força a ponto de fazê-la derramar lágrimas, ou a faca que estava no pescoço da menina.

–Vá embora garoto. Ela é minha agora.

–Eu não vou! – pronunciou com ódio olhando nos olhos escuros do maior – Não vou deixá-la nunca... – dessa vez pronunciou suavemente, quase um sussurro, olhando daquele céu azul, naquele pequeno universo elétrico que eram os olhos dela.

–Então matarei os dois!

Claro que foi Luke quem venceu a luta. Thalia estava chocada demais para tentar reagir, então deixou que seu já então namorado a envolvesse em um abraço e a levasse para o fundo da igreja vazia. Fecharam-se em um quartinho pequeno com alguns sofás, colocou-a sentada em um deles e se ajoelhou no chão de frente a ela.

–Como você está?

–Me sinto tão suja Luke... Tão suja! – ela funga e se abraça como que se protegendo de tudo, chega a fugir quando ele faz a menção de tocá-la – Não toque em mim! Não quero sujá-lo também...

–Eu posso limpá-la – deu um sorriso doce e muito devagar colocou suas mãos sobre os ombros trêmulos dela – Fazer com que ele não seja nada, nem mesmo uma lembrança...

E de repente estavam abraçados, enroscados em um beijo lento e profundo, com direito a longos passeios com as mãos, caricias por dentro de blusas e muito amor durante a noite sem graça ou cor.

Não sabia bem porque se recordara daquela situação com o padre, sabia que o repudiava mais do que tudo. Talvez fosse o mesmo instinto de proteção daquela noite, a sensação horripilante de que Thalia precisava dele, a sensação de que ela congelaria devido o choque, o medo. Antes era ele quem procurava uma razão para viver, agora este problema era todo dela... Tinha que lembrá-la que viver valia à pena.

Com o coração pesado pela responsabilidade, ele foi o primeiro a chegar à base de tudo aquilo, um túnel escuro escavado rudemente, pensou que encontraria morcegos, mas não, não havia sinal de vida por lá. Não pensou apenas correu, tinha ainda uma tocha em mãos, o pano antes arroxeado agora era completamente feito de luz, chama e calor. Deixando os outros para trás tropeçou duas vezes, mas isso não o impediu em nada. Parou apenas quando o túnel se abriu e o oculto se fez ver: não era uma caverna qualquer; aquilo era um templo. As colunas incrivelmente altas, o capitel jônico, a fachada, tudo era feito de um material negro; era um templo grego. Mesmo surpreso continuou correndo até chegar ao Naos onde ficava a estatua da divindade: uma deusa. Ele nunca compreendera bem como diferenciar uma estatua da outra, isso era gosto de Annabeth e seus irmãos filhos de Atena... Luke não sabia bem o que era, mas algo na imagem da mulher o incomodava, algo na sua essência não era... Agradável.

“Luke... – a voz não passou de um gemido – Eu preciso de você como nunca antes... Todos dependem de você me salvar!”

Ele não compreendera as palavras da última Thalia, só sabia que deveria correr. Passou pelo Aditon, espaço reservado apenas a sacerdotes a fim de oferendas e orações, ele sabia onde deveria ir, o nome do lugar lhe fugira na memória, mas lembrava-se: era a “sala do tesouro” quase sempre localizada na última sala, na última ala do templo de um deus.

–Droga! – socou a parede. Não havia nada, não havia uma sala do tesouro onde ela pudesse estar. A tocha quase caiu de sua mão. Mantendo-a firme ele notou uma rachadura no chão encoberta por poeira e algo mais, algo como... – Não é possível – mas era: havia magia ali e havia uma magia ainda mais forte em nosso herói, pois sua paixão, seu amor eram infinitos e o amor sempre será a maior e mais forte fonte de magia.

Encontrou um alçapão. Mais uma escada – pensou angustiado, embora tenha descido sem parar para pensar. A escada não era estreita como imaginara, ia se abrindo ainda mais conforme descia notou a riqueza dos detalhes nas paredes, figuras de monstros, de badernas, de confusões, eram estranhas para ele, não conseguiu relacioná-las a qualquer divindade, os degraus eram feitos de mármore e, se ele tivesse prestado atenção, teria percebido que as pinturas haviam sido feitas com sangue. –Deuses! Quanto mais terei de descer? – pensou com seus botões, estava muito abaixo, abaixo o suficiente para se sentir no reino de Hades. No passar de mais cinco minutos ele avistou a primeira das tochas, depois vieram varias, a escada se “expandindo” ainda mais para os lados e... Na base, uma ampla sala, um amplo salão tão rico quanto macabro, belíssimo, repleto dos maiores tesouros imaginável e... E no centro estava o esquife rodeado pelas diversas flores que campistas, deuses, sátiros entregaram na despedida na clareira.

–Thalia – sussurrou seu nome com dor, novamente paralisado vendo sua menina, sua amada bela adormecida, quase morta sobre o esquife.

–São lindas as flores, não? Honestamente eu tenho um desejo enorme de atear fogo nelas, seria lindo vê-las em sua delicada beleza, contorcer-se em dor e chama!

–Quem é você? Onde está? – perguntou rispidamente olhando para os lados; os pelos de sua nuca tão eriçados quanto os de um gato em alerta. Havia algo no ar que o deixava sem fôlego.

–Não precisa se exaltar meu bem – a voz foi bem amansada, mas aquele timbre... As sombras se juntaram em um aglomerado próximo ao esquife, tomando forma se moldando com uma rapidez assombrosa. Ela tinha o corpo esguio, os cabelos negros dançavam como que por vontade própria de um modo sedutor, os olhos pareciam explodir ora em roxo ora em vermelho ora negro, seu corpo estava encoberto por um vestido longo, mas provocativo feito de vapor ao algo do gênero. – Gosta do que vê?

Castellan ficou mudo. Sim, ela era muito bonita, uma beleza bem diferente das deusas que ele já vira no Olimpo: aquela era uma beleza “suja”, impura, sem qualquer traço do celestial. Mas não, Luke não gostava do que via.

–Quem é você?

–Meu nome não é muito falado no Olimpo ou mesmo fora dele – ela sorriu, os dentes perfeitamente brancos – Sou Éris, Luke Castellan, a deusa da Discórdia, senhora do Caos.

–E o que você está fazendo com Thalia?

–Não é óbvio? Sou a deusa a quem foi confiada à segurança deste corpo – Éris acariciou a pele da semideusa desacordada; riu tão perversamente que Luke sacou a espada temendo por ele e por Thalia – Foi a ocasião perfeita compreende?

–Do que está falando?

–Da pobre filha de Zeus. Propicia foi a hora que a alma deixou o corpo ainda em vida. Por que acha que Cronos falhou um ano atrás? Estava tudo imerso no glorioso Caos... – ela fechou os dedos com força fazendo com que um leve tremer percorresse tanto o chão quanto as paredes – Seu corpo ainda detinha parte de sua alma e nem era o melhor corpo.

A compreensão foi atingindo-o com força; a última fala de Thalia finalmente fazendo sentido, imagens dançavam em frente aos seus olhos, lembranças suas da última guerra de seu último esforço.

–Mas este corpo está vazio, clamando por uma alma – ela riu outra vez – e Cronos está mais que disposto a ceder a própria alma.


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Notas finais do capítulo

Por favor... Perdoem minha demora anjos!