Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 35
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No dia seguinte, fomos caminhar pela Floresta. Na verdade, só fui caminhar porque fui obrigado por Anne. Primeiro, ela me acordou, segundo, diz que se eu não sair da caverna, vou tomar um banho no lago, nu. E é claro, só saí porque não quero tomar banho todo despido. Também, só fui porque a Anne queria me reanimar.

O céu estava limpo, ensolarado. Depois de tudo isso, a calmaria volta a reinar por aqui. Se eu estivesse em casa, daria no mesmo. Arranjei um graveto caído de uma árvore e parei para desenhar uma coisa na terra. Anne parou e perguntou o que eu estava fazendo. Dei de ombros, mas fiquei ciente de que isso foi uma falta de cortesia da minha parte. Porém era uma surpresa. Anne se inclinou acima de mim e viu que eu estava desenhando um país, cuja evaginação situava acima, eqüidistante do seu limite.

– A Alemanha. - Anne advinhou. Eu sacudi a cabeça.

Era o mapa da Alemanha, quando ela teve sua fronteira original, antes das tropas nazistas anexarem a Áustria, a região dos Sudetos, da Alsácia-Lorena - é a segunda vez que é anexada da França, já que a primeira foi na Guerra Franco-Prussiana - e o oeste da Polônia. Queria que tudo isso acabasse, pensei. Finquei a ponta do graveto no sul da Alemanha, onde fica Munique.

– Siga o trajeto do meu graveto. - sugeri a ela. - Pegue um desses aí.

Anne fez isso. Em seguida, começou a seguir a ponta do meu graveto até chegarmos a um ponto um pouco a "leste" do país: Berlim, a capital. Pressionamos juntos as pontas dos nossos gravetos. Continuamos a pressionar juntos até formar umas diminutas cordilheiras. Depois "partimos" de Berlim e seguimos direto para o "sudoeste" da Alemanha, onde se encontrava a Floresta Negra, o lugar onde estamos.

Os nossos gravetos se separaram até deixarem rastros pela terra. Bagunçamos todo o território até as pontas se encontrarem. Erguemos o nosso olhar. Nos entreolhamos. Anne já não era mais aquela garota insegura, mas uma garota corajosa. O seu sorriso era encantador. Me perdi nos seus encantos até aproximar o meu lábio no dela, quando um filhote de javali, cuja pelagem era bege com listras pretas, aparece no meio. E pensar que foi Anne quem matou um desses javalis.

Ele parecia um louco procurando a mãe. O pobre coitado grunhia agudo por qualquer canto da Floresta. Cheguei a ficar com pena dele, que me dei ao luxo de poder levá-lo para a caverna. Anne concordou e fizemos um gesto para que ele viesse em nossa direção.

– Vem porquinho, vem...

Falamos assim até que ele chegou em nossa direção. O filhote de javali era muito dócil de se lidar. Ele grunhia à medida que fazemos carinho na sua barriga.

– Ele deve estar procurando a mãe, não acha? - Anne me perguntou. Eu assenti. Falei ao filhote:

– Não se preocupe, filhotinho, nós vamos procurar a sua mãe, ok?

Acariciei a cabeça listrada do pequeno javali. Quando eu era pequeno, encontrei um filhotinho de gato perambulando pela calçada da rua onde eu moro. Eu até pensei em criá-lo, só que o meu pai era alérgico a bolas de pêlo. Nem contestei e saí de casa à procura de uma pessoa que queira cuidar do gatinho. Até que um guarda nazista o achou uma gracinha. O meu primeiro cliente, pensei. Ele gostava de gatos, que eu até ofereci o filhote para cuidar. O guarda aceitou na certa e o agradeci. No final das contas, o guarda era bem diferente dos outros: não reprimia os judeus, não depredava lojas e outras propriedades. Pelo contrário, ele até foi simpático comigo desde o dia em que doei o gatinho. Ele o chamava de Hans.

Até hoje eu passei a visitá-lo. Hans estava grande, um gato bem saudável. Passamos a nos encontrar, todos os dias em que vou à escola e nos finais de semana. No último Oktoberfest, ele apareceu com a mulher e a filhinha que estava de colo. Perguntei por Hans. Ele respondeu que ele está confortável em casa. Na verdade, ele passou a se adaptar ao ambiente caseiro e pacato. E eu penso: será que ele está tendo fé para que eu volte a Munique? Ele sempre me deu conselhos. Era bem diferente dos demais soldados nazistas. Seu nome é Fritz.

Voltando à nossa procura pela mãe do filhote, nós vagamos a Floresta toda à sua procura. Senti o peso do filhote sobre os meus braços. Já não agüentava mais. Até que senti uma leve cutucada dos dedos da Anne, pedindo para que eu olhasse para trás. Não acreditei no que vi: era um javali olhando fixamente para nós. É a mãe dele, deduzi.

Soltei o filhote, que começava a se debater quando viu. Ele corria para perto da mãe, que roçava o focinho no dele.

– Ele encontrou a mãe. - Anne sibilou. Eu concordei, balançando a cabeça.

***

Regressamos à caverna, assim que anoiteceu. Sabe, Anne fez bem em ter me retirado da caverna, ou melhor, me ameaçado para sair da caverna para esfriar a tensão. Por outro lado, ela teve pesadelo ontem à noite.

Enquanto eu esfregava as mãos perto da fogueira, Anne me chamou:

– Heinrich, dê uma olhada nisso aqui. - ela estava escorada à fenda, olhando para o céu estrelado. Assim que eu cheguei, uma nova listagem apareceu, só que bem diferente daquela que listava os mortos do dia: a listagem dos dois casais finalistas.

FINALISTAS DA 64ª EDIÇÃO DO SURVIVAL GAME:

– Frieda e Lorne (Berlim)

– Heinrich e Anne (Munique)

____________

Não pude acreditar! Estamos na final da edição. Com a Frieda e Lorne mortos, Anne e eu podemos vencer!

– NÃO ACREDITO! - Anne gritou eufórica e nos abraçamos. - Podemos voltar para a casa!

– Nem acreditei! - falei. - Pode me beliscar?

– Com maior prazer! - e ela me beliscou no meu pulso.

– AII! Doeu! - franzi o cenho, massageando o local onde foi beliscado.

– Mas você pediu. E estou nervosa.

De repente, a euforia abdicou do trono (temporariamente), dando o lugar a insegurança. Enfim, Anne continuou.

– Estou nervosa. Se eles nos matarem?

– Anne - suspirei. - eu entendo o que a gente passou nesses dias, foi um grande sofrimento. Eu ainda lembro do que a Sophia disse, antes de morrer.

– O amanhã é muito misterioso, pode trazer muitas surpresas. - Anne murmurou.

– É claro. Agora sei muito bem que ela quis dizer. O nosso destino é incerto, embora pareça estar bem definido. E é nessa incerteza é que vamos nos tornar corajosos. - falei, ao abraçá-la.

– Eu te amo, Richie. - e nos beijamos.

***

Acordei com um raio de sol me atingindo o rosto. Senti os dedos da Anne acariciarem o meu peito. É, chegou a hora, penso.

Estou sujo, imundo, esfarrapado, clamando por banho. Mas fiz questão de estar ao lado do meu amor, a qualquer custo. Tirei o casaco e fui direto para fora, tomar um ar fresco. Anne me abraçou por trás, falando alguma coisa.

– Imagino Munique nevada, onde todo mundo vivia em harmonia, sem repressão, punição ou alguma outra forma de violência. Crianças brincando de cirandas em volta da fogueira, padeiros tirando dounuts do forno, recheando-os de chocolate e o cheiro de chocolate-quente impregnando no ar.

– Oh, sinto muita falta dos dounuts recheados e chocolates-quentes no inverno. - falei, me recordando do último inverno que passei com a minha família.

– Mas em um dia, estaremos de volta ao nosso inverno de Munique. - falou, me beijando no ombro esquerdo.

– E ao nosso Oktoberfest. - completei, retribuindo o carinho, inclinando a cabeça na dela, até que, um grito de mulher soou em meu ouvido.


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Notas finais do capítulo

Preparem pessoal, que estamos na reta final de O Começo. Mas muitos segredos poderão ser descobertos.

Bjos!