Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 34
33




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Recuamos com o aparecimento da nave abdutora. Já me habituei ao barulho estridente das suas turbinas, o suficiente para estourar o meu tímpano. Após se materializar-se sobre o corpo de Sophia, a luz celeste incide sobre ela, levitando sem deixar cair o sabre. Eu nem pensei em arredar o pé dali, pois quero ver a Sophia desaparecer sob a luz celeste. Em seguida, a nave desapareceu, me deixando inerte com o vento produzido por ela.

Vi a nave desaparecer entre as nuvens e as copas das árvores. Eu permaneci inerte no local. Anne me aconselhou a entrar, pois já estava ameaçando a chover. Eu nem sequer manifestei nenhuma reação. Foi então que uma lágrima saiu do meu rosto, já parcialmente ensopado. Anne me abraça. Enterro o rosto entre os seus braços. De repente, ouço um trovão, fazendo com que ela insistisse em fazer com que eu entrasse para dentro da caverna. Eu logo obedeci o pedido.

***

Observei gotas de chuva caindo estridentemente sobre a floresta. Já no nosso lago, ondas bilaterais se formam entre as interferências construtivas e destrutivas. O meu organismo já se habituara aos efeitos da Floresta no reality. Explosões, ruídos estridentes... Cada vez se tornando debilitado. Eu estou começando a ficar doente. Talvez eu morra. Mas se isso acontecer, quero que a Anne vença o reality e ampare a minha família, em especial a minha irmã. Estão vendo? Por causa de tudo isso que acontece aqui, acabei de me esquecer de Elise. A pobrezinha, inconsolável, deve ter fé em Deus que eu continuo vivo. A minha vida está completamente mudada aqui, assim com a da Anne, e do dueto de Berlim. O clima, apesar de estar calmo e sem violência, parece estar tenso.

Observo o clarão no céu. Hora da listagem dos mortos. Sophia. Apenas a Sophia. Morta hoje. Causa: envenenamento e aparente tuberculose. Como ela era linda! Como se não bastasse, a Anne também é linda. Uma nova namorada e uma grande amiga. Logo, Sophia passará para a história do Survival Game como "A Garota Samurai" - por conta do sabre que ela usava e por parecer uma japonesa. Anoto o seu nome no bloco. Apesar da chuva e do trovão destorcerem a imagem projetada no céu.

Ainda mantenho o segredo da Anne guardado em mim. Ela quer vingança! Ela quer vingar a morte dos pais, fazendo a mesma coisa com o Hitler II e a facção Nazista, só que bem pior. Sabe, eu não tiro a razão dela, não, porque pelo que Hitler faz com nós, os judeus, não tem nenhuma justificativa, a não ser que alguém tome coragem para forçá-lo a responder o porquê do ódio que ele tem por nós.

Já ouvi falar de uma garota chamada Anne Frank. Era uma garota genial, além de ser judia alemã. Assisti a uma aula de Literatura Alemã, que a Anne e sua família tiveram que se esconder em uma espécie de aposento atrás do escritório do pai, Otto Frank. Eles chamaram esse aposento de Anexo Secreto. Foi lá onde ela relatava o cotidiano e as naturezas que a cercavam, no diário que ela ganhou do pai, no décimo terceiro aniversário. A Anne me fez lembrar a Elise, que pegou o mesmo gosto pela escrita. Um dia desses, quando fiquei curioso com o que ela escrevia, Elise simplesmente tapou a folha com as mão e nem sequer me deixava ler o que estava escrito. Mas às vezes ela deixava. Mas ela nem tinha um diário. Esse era o desejo: ter um diário, para que possa escrever seus desejos, sua natureza humana e suas curiosidades.

Às vezes me pergunto: O que será que é a verdadeira natureza humana?

Uma resposta. Estou à sua procura há muito tempo. Quero descobrir, faço questão disso!

– Richie, vem comer! - Anne me convenceu. Eu balancei negativamente a cabeça.

Não estava com ânimo em comer. Tampouco beber. Estou perdendo muitos amigos. Eu valorizei, é claro, mas essa valorização foi tirada de mim por agressores. Mas um dia eu hei de vingar. Ah, mas se vingo! Mas Anne se aproximou de mim.

– Eu entendo você. - falou. - Mas precisa esquecer isso. O que passou, passou.

– Eu só quero ir para casa. - murmurei. - Não agüento mais.

Anne suspirou.

– Eu também quero ir para a casa, Richie. Tampouco agüento essa situação. Mas estou fazendo isso por nós.

Virei o rosto para a sua direção.

– Mas não pelos demais, não acha? Primeiro o Lewis, segundo o Hermann, terceiro, o Otto e agora, a Sophia. - depois suspirei. - Não acha que isso seja demais?

– Para ser sincera, eu até entendo o que você esteja passando. Mas tente ao menos pegar leve, por favor?

Chegou uma hora em que quase explodo.

– PEGAR LEVE?! - arquejei. - Anne, você ainda não entende! Nada disso teria acontecido se não fosse aquela porcaria do Dia da Seleção, também do maldito seja! - só não pude falar o nome do chanceler, pois os nazistas poderão matar a minha família.

Vendo que o choro se aproximava, logo tratei de enterrar o rosto entre os joelhos. Subitamente, senti a mão passear sobre as minhas costas. Anne se aconchegou para perto de mim, me abraçando profundamente.

– Não guarde as mágoas para dentro de si, Richie. - disse, ao encostar a cabeça na minha. - Tudo isso é passageiro. Todo sofrimento é passageiro. O alívio pode perdurar.

Ergui a cabeça e recostei sobre a dela. Afinal, Anne tinha razão. Todo sofrimento é passageiro. Eu é que estava cego. Sempre fui otimista com os outros e pessimista comigo mesmo. Como é bom ter alguém do nosso lado em todos os momentos da vida.

***

Ouvi um grito da Anne, no momento que eu estava adormecido. Com o repentino ímpeto, acordei e deduzi que ela acabava de ter um pesadelo. É a primeira vez que a vejo ter um pesadelo. Ela estava assustada e ofegante.

– Algum problema? - perguntei.

– Tive um pesadelo. - Anne balbuciou. - Dos piores.

Nem pensei duas vezes e fui logo me aproximando dela. Ela suava frio e estava prestes a chorar. Lhe abracei profundamente, lhe proporcionando o maior conforto e segurança.

– Vai ficar bem tranqüila. - sussurrei. - Estou aqui com você.

– Obrigada. - ela sussurrou tristemente.

Tenho por mim que Elise tenha o mesmo pesadelo que a Anne. O meu pai ou a minha mãe amparando-a na cama. Me deu uma vontade de chorar, só de pensar nisso.


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