Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 32
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Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, as provas terminaram e eu posso postar mais um capitulo!
Divirtam-se!



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Entendo esse gesto há muito tempo. Além de encorajar, dá honra. Faço com os quatro dedos apontados para o céu cinzento e esverdeado nublado, apontando para o público alemão. Devo deduzir que o povo esteja fazendo a mesma coisa. Faço isso porque acabo de perder mais amigos, mas tenho a Anne e a Sophia, embora reste apenas eu, como rapaz. Aquele gesto encorajador que o povo fez na escola, no momento em que o gen. Bertrand aplaudiu, me fez bem e mal, simultaneamente. O bem é que eu posso ganhar confiança de alguns, enquanto o mal é que eu vou deixar aqueles que eu mais amo na vida para trás.

Meus olhos se enchem de lágrima. Respiro fundo para não poder chorar. Abaixo gradativamente o braço, não porque está começando a doer, por causa de eu tê-lo erguido ao ar, mas sim, porque já era o suficiente para expressar o gesto. Anne surge por trás de mim. Viro o meu corpo em sua direção. Ela me olha com o seu olhar úmido e me abraça. Afago o meu choro dentro dos seus braços envolvendo o meu corpo, assim como o meu braço envolvendo o dela. Convido Sophia a fazer o mesmo. Nós três nos abraçamos profundamente.

***

Senti todas as mortes aqui. Inclusive daqueles que queriam me matar. Principalmente quando me lembrei da garota de Leipzig, que foi morta pelo bando de Frieda, no primeiro dia. Caramba, deu até dó de ver aquela atrocidade.

Fiquei inconsolável, escancarado à fenda em que o Otto ficava anotando as mortes do dia, nos dois dias em que eu estava impossibilitado de escrever. A manhã passara, eu não estava nem um pouco disposto a sair da caverna. Para quê? Encontrar a esnobe dupla de Berlim no meu caminho? Só de pensar nela, me deu náuseas. Anne me convidou para sair à tarde, mas recusei, eu não estava a fim de presenciar mais problemas. Sophia estava olhando o reflexo no lago. Eu a vi pela fenda.

Resolvi sair um pouco da caverna, não que eu estivesse disposto, mas a curiosidade da Sophia me cutucou pelas costas. Ela estava com o olhar fixo no lago, calmo e praticamente sem ondulações. Fiz a mesma coisa, mas ela de repente começou a falar:

– Não imagina o quanto passei nesses dias... Eu estava sozinha, procurando sobreviver das desgraças que eles põem na Floresta. Vivia vagando por esses lados até encontrar um lugar para dormir. Dormi no outro lado do lago. - disse, apontando para a frente, de onde dava para ver colinas de longe.

– E você não sabia que tinha uma caverna aqui? - indaguei.

– Nem fazia ideia. - ela deu de ombros. - Depois mudei para o outro lugar para me proteger, até que encontrei vocês quatro. Apenas reconheci Hermann e a sua voz, mas me dei conta de que um ninho de marimbondos estava bem debaixo do nariz de vocês. Então, tive que alertá-los.

– E eu pensando que você iria nos matar. - e ri. Ela também.

– Sorte minha que sou esgrimista. - ela continuou. - Tenho aula de esgrima todas as sextas, no liceu judaico, onde eu estudo.

Eu assenti e em seguida, ela se vira para mim.

– Que tal arremessarmos mirtilos na rocha?

Até que essa ideia caiu como uma luva para as minhas mãos. Sempre gostava de arremessar cupcakes na fachada da quadra da escola, para ver quem permanece mais tempo na parede. Se cair, perde, daí paga mico. Eu fracassei várias vezes mas geralmente ganhei.

– Eu topo. - aceito, determinado. - Vamos chamar a Anne?

Sophia sacudiu a cabeça e em seguida, fomos para a caverna para chamá-la. Não demorou para que ela aceitasse. Ela sempre ganhava. Comecei a desafiá-la.

– Quem ganhar, fica com a mordomia da caverna. - disse, com a condição. Anne aceitou.

– Mas quem perder - disse ela, com os olhos semicerrados e com uma sobrancelha arqueada. - toma banho no lago nu, ou nua, se for menina.

Hesitei, mas com o pudor na cara.

– Er... Será que poderia mudar o banho do "nu" para "com camisa e tudo"?

Demorou um pouquinho, mas ela topou. Suspirei fundo. Então, colhemos três mirtilos do outro lado de uma colina a leste e fomos a uma rocha, não muito grande que a gente, mas apropriada para arremessarmos os mirtilos.

– Preparados? - Sophia perguntou. Anne e eu sacudimos a cabeça, determinados e sarcástico. Começamos a contagem regressiva, partindo do cinco.

– Em 5, 4, 3, 2... 1! - e arremessamos os mirtilos contra a rocha e ficaram presos sobre o proprio suco, escorregando vagarosamente sobre a parede da rocha. Gritamos, imploramos, choramingamos, até que um deles caiu. Para o meu azar. As meninas gritaram eufóricas, batendo as mãos nas outras, enquanto eu, bem, fechei a cara. É, o azar bateu na porta da casa do destino, enquanto a sorte está fora de casa.

– Vamos, Heinrich! - Anne se aproveitou de me martirizar. - Tá na hora do banho de roupa e tudo!

– Ah, não! Nada disso! - recusei, balançando os indicadores.

– Mas você mesmo quis! - Anne insistiu.

Elas, então, me carregaram contra a minha vontade até o lago. Esperneava, batia os pés no chão, mas não adiantava. Quando chegamos ao lago, elas quase encostam os meus pés na água, mas me esquivei, dando um desconto ao mico que eu ia pagar. Mas elas insistiram, me colocando na água, eu ficando encharcado da cintura para baixo.

Senti a calça, o tênis (já aos farrapos) e a parte de baixo da camisa (eu estava sem o casaco) grudarem ao corpo. Mas por vingança, puxei Anne direto para o lago e submergimos juntos, mas não para beijar novamente. Ao voltarmos para superfície, Sophie se jogou também na água. Acabamos por ficar todos encharcados.

Por fim, perguntei, sarcástico:

– E aí, estão felizes agora?

– Só depois de termos uma guerra no lago! - as duas falaram em um tom uníssono e por fim, espirramos água uns nos outros.

Meia hora depois, emergimos em terra-firme. Hoje não teve nenhuma desventura, graças a Deus. Fico muito contente por Otto, assim como os outros, terem escapado desse pesadelo, mas queria que ele estivesse conosco.

– Foi divertido, não foi? - Anne perguntou, já com a voz arrastada de tanto brincarmos.

– Nem imagina! - falei. - Advinha quem teve essa ideia?

Apontei para Sophia, que erguia o cabelo para cima, através do movimento com a cabeça.

– Para enganar a tristeza, é claro! - ela falou, por fim.

Terminamos por gargalhar histericamente, por um bom tempo, até que Sophia tossisse mais uma vez, dessa vez continuamente. A princípio achei que ela estivesse se engasgando novamente, mas me perguntei: será que ela se engasga direto ou pode estar doente?

– Algum problema, Sophia? - fiz questão de saber. Ela falou que está tudo bem.

Tenho pra mim que não está. Ela tem tossido muito, ultimamente. Em seguida, nos despimos e ficamos tomando sol. Fazia tempo que eu não desfrutava do banho de sol, desde o Oktoberfest desse ano. Edith e eu nos divertimos muito. Nós judeus poderíamos participar somente do Oktoberfest, exceto entrar na vida social, fazendo a gente viver em segregação étnica. Tudo isso promovido por Hitler II. Só o Oktoberfest para nós, está bom demais, mas outras opções de divertimento, aí seria bem mais sufocante!

Em seguida, nos vestimos. Os nossos uniformes estavam bem mais secos do que nos últimos dias e os nossos tênis, bem menos encardidos que antes.

Antes de entrarmos na caverna, Sophia tossiu mais uma vez. Só que foi uma tosse bem seca. Me preocupei com a Sophia. Não era um engasgo, mas era uma tosse de verdade. Suspeito de alguma coisa. Anne aproveitou para certificar o meu ferimento. Ultimamente não doía, mas senti um pequeno dolorido quando o toco. Mas, logo que ela abriu a atadura, nem acreditava no que via: era uma hematoma com os três pontos.

– Dói? - Anne perguntou, ao tocar a ferida.

Sacudi a cabeça em negação. Mas pensei em Otto naquele estado, com o corte em decomposição. Mas morria serenamente, sem sofrimento, nem dor.

– Mas dói bem aqui. - apontei para o peito, onde se localiza o coração. Apesar de não estar doendo de verdade, o que doía era a perda e a distância daqueles que eu mais amo. Anne me entendeu.

– Eu também sinto. Mas isso vai acabar, não sobra nem um resquício de dúvidas.

– Eu sei, mas se... - travei com o impulso de chorar, mas tive que conter. - mas se eu perder você? Anne também teve esse ressentimento, mas não chegou a prender o choro. Limpei sua lágrima.

– Eu também tenho medo, Richie. - sua voz estava embargada. - Tenho muito medo de te perder. Deve saber o que eu senti no dia em que os meus pais morreram. Me senti completamente sozinha. Mas você tem mais chance que eu. Você tem pais.

Isso me comoveu bastante. Ela tem uma tia e um primo que cuidam dela. Já eu, tenho uma família de verdade. Devo valorizar muito, pois eles não são eternos.

– Mas você tem a mim. - falei.

– Você é que tem mais chances que eu. Você tem muitos amigos na escola.

– Eu sei. - ela compreendeu.

– Mas se nós ganharmos, ganharemos fama, fãs e vida social. Mas perderemos muitos amigos na escola e na vizinhança.

– Eu sei que é muito duro perder amigos. Fazem a gente sentir sozinhos, desamparados. Mas você tem a mim e eu vou te ajudar nessa situação.

– Richie, eu te amo. - após dizer isso, nos beijamos. Portanto, quero me afastar da triste realidade, ao lado da Anne, da garota que eu amo.


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