Noites de Um Século escrita por Dead Coyote


Capítulo 10
Capítulo 9 - Cestas




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9-         Cestas

Anoiteceu.

Patric estava deitado sobre a cama que era de sua mãe.

Quando chegou a casa, ao amanhecer, tomou um banho e ali se deitou, parecendo sentir nojo e vergonha de tudo a sua volta. Menos daquele quarto. Sentia-se como se estivesse sujo, a casa encoberta do odor daquelas noites, do vampiro. Aquele cheiro da Morte. Do Damien. Mas o quarto de sua mãe era como seu santuário, onde conseguia se refugiar de toda essa sujeira que colori sua vida desde o encontro com aquele vampiro.

Deitado sobre os lençóis azuis daquela cama, ele olhava para suas mãos, como se buscasse nelas algum sinal de que tudo o que vinha acontecendo não passasse de um estranho sonho. No seu pulso esquerdo estava esse sinal. Uma grande marca roxa, ao redor de uma ferida. A marca do ataque do vampiro. Imagens da noite anterior vinha a ele como quadros de uma galeria incompleta, sem som, sem cor, sem vida. Tudo como imagens irreais que ele nunca presenciou. Mas ele estava lá. Não tinha certeza disso. Pode ouvir distante a voz de Ivan ressoando em suas lembranças.

“Tenha um bom dia.”

Por que Ivan? Ivan nem estivera com ele naquela noite. Sentia como se o menino Damien o tivesse dito algo. Algo importante. Mas o que? Esse menino era mesmo real?

Virou-se na cama, deitando de lado. Fechou os olhos, tentando com isso fechar também sua mente para qualquer pensamento que lhe vinha. Respirou fundo, e sentou-se. Olhou ao redor. Nada. Tudo parecia normal e quieto. Se Damien existiu, estava morto agora.

Olhou para as mãos novamente e sentiu uma estranha repulsa ao lembrar-se que tomou ao colo o corpo frio da criança. Levou rapidamente as mãos aos bolsos para, desse modo, esconder essa lembrança. Saiu do quarto e, sem vontade, caminhou pelo longo corredor até a sala, passando pelo seu quarto, cuja porta estava entreaberta. Parou-se ali por um momento, a atenção, inconsciente, voltada para a janela entreaberta e a cama desarrumada como estivera por todo o último mês. Chegou à sala.

Alguns passos e aproximou-se da arca. Estava escuro e apenas uma vela sobre a mesinha de centro bruxuleava vacilante, já próxima de seu fim. A luz fraca se assomando com a penumbra cor de cobre que entrava através do vidro das janelas com as cortinas abertas. Sobre a mesinha de centro, ao lado da vela, havia mais uma cesta com frutas e pães, e uma garrafa de vinho. “De manhã era leite.” Pensou. Só então se lembrou que, ao chegar a casa naquele dia, tinha visto essa mesma cesta sobre a mesa, ao lado da cesta do dia anterior, da qual ele já tinha bebido o leite. Mas a garrafa de leite da nova foi substituída por vinho, ele não mexera. Aliás, não havia dado atenção a ela. Só agora estranhava o fato. Damien estava morto, mas as cestas continuavam a ser entregues. Damien estaria vivo, então? Ou alguém estava brincando com ele?

Um estranho aperto em seu peito e uma sensação de perigo o arrebata. Patric olha ao redor instintivamente, voltando-se para o piano, sobre o qual uma grande sombra negra parecia repousar. Ele volta alguns passos para o corredor, mas não sai da sala. Tomado por uma sensação de coragem e segurança, volta-se para acender as velas de um castiçal próximo. E no exato momento que as velas são acesas, iluminando o cômodo e se sobrepondo ás luzes da rua, a sombra desaparece do piano e outras lamparinas e castiçais são acesos instantaneamente.

“Está melhor assim?”

Com a claridade que tomou a sala, Patric piscou os olhos acostumados com a escuridão de antes e fitou o vampiro sentado no braço da poltrona.

“Achei que já não o encontraria mais aqui...”

“Achou que eu estaria morto somente com isso?” mostrou o braço esquerdo, onde um hematoma roxo cinzento circulava um estranho corte.

“Não. Achei que você fugiria.” E olhando para o braço de Patric, completou. “Mas não fui eu quem fez isso aí.”

Patric fica em silêncio, encarando o vampiro. Uma força começava a comprimir seu peito, como se a ira que sentia estivesse prestes a arrebentá-lo. Não sabia de onde surgira tanta raiva tão rapidamente.

“E também não fui eu quem matou Damien. Se tivesse sido eu. Escolheria matar você. Já te disse isso.”

“Disse isso para me enganar. Foi sempre isso que você quis.”

Mas Ivan não se alterava com Patric, o que o deixava mais irritado.

“Não. Eu mataria você. E não me pergunte, porque também não fui eu quem trouxe essa cesta.”

Levanta-se da poltrona, e caminhando lentamente ao redor da mesinha, se dirigindo para perto do homem.

“Pare!”

“Patric...”

“Então o que você veio fazer aqui? Se achava que eu fugiria, o que veio fazer...”

“Matar-te.”

Patric calou-se. Ivan não se movia e de onde estava parecia permitir a Patric sair facilmente pela porta ao seu lado. Mas Patric não pensava nisso. Num instante percorria toda a sala com o olhar e ao canto da parede, perto da porta e do piano, estava o cano em “L” ainda sujo com o sangue do rato que Patric atingira. Não se lembrava de tê-lo levado para casa, assim como não lembrava de quase nada da noite anterior. Ainda olhando para o cano, não faria diferença agora a maneira como aquele ferro veio para sua casa, mas pensando nas palavras de Ivan, idéias começaram a se formar em sua mente.

“Matar-me... Então o que está esperando?”

Diz olhando para o vampiro, enquanto caminha lentamente para onde está o cano.

“Você pegar esse cano para tentar se defender...” Responde sem olhar para o objeto, apenas olhando firmemente para os olhos de Patric.

Patric sentiu suas pernas congelarem, como se não conseguisse move-las. E sabendo que não teria outra chance atirou-se para frente num salto, caindo ao chão, agarrando o ferro com ambas as mãos, sobre o sangue seco, no exato momento em que seu corpo foi erguido e encostado com força contra a parede.

Os dois se encararam friamente e aquele instante pareceu congelar num profundo silêncio, quase respeitoso. Os olhos fixos, os negros nos verdes, não diziam nada, não esperavam nada, apenas se encaravam silenciosamente. Patric deixou escapar um suspiro, quase um gemido, quebrando o silêncio e o encanto congelado daquele momento, e o suspiro se completou com um grunhido rouco de dor quando as presas de Ivan perfuraram o lado esquerdo do pescoço, alto, próximo ao maxilar.

E no mesmo instante que o sangue do humano começou a escorrer, ele foi libertado e posto ao chão, onde gotas escarlates pingavam abundantemente. O sangue que escorria para o chão não era o mesmo que tingia de vermelho a camisa de Patric. Era um sangue mais grosso e escuro. Ivan curva o canto dos lábios em um sorriso.

“Oh! Então vai lutar... Ou não?”

Próximo ao ombro esquerdo do vampiro sangrava, tendo o cano enferrujado fincado nele, atravessado à altura da clavícula. A outra ponta sendo segura firmemente pela mão direita de Patric. Mas o homem não reagiu nem respondeu. Apenas continuava apertando o ferro, como se estivesse escorregadio e escapando da mão.

“Mas você não vai me matar só por ter atravessado meu ombro com esse ferro!”

Ivan avança novamente sobre a pequena distância de menos de um palmo que os separava por instantes, cravando suas presas expostas no pescoço de Patric, fazendo o sangue fluir novamente. O ombro ainda atravessado pelo metal que Patric não largou em nenhum momento.

Um profundo silêncio se expandiu, o vampiro imerso numa tortuosa escuridão ao invadir o corpo e os sentimentos de Patric.

“Vai mesmo me matar...?”

Ivan não responde, como se não escutasse. Ou ainda, se preferisse não ouvir a voz, mas dando atenção para a mente de Patric. Essa mente, perdida em dúvidas que borbulhavam como distantes vaga-lumes na escuridão agora não tão silenciosa, que Ivan invadia. Era o que ele realmente sempre desejou do humano? Patric nunca mostrou, em nenhum momento de suas conversas, muito menos quando Ivan o atacou e se alimentou nele, nenhum sentimento ou dúvidas íntimas. Era essa ausência de humanidade nele que intrigada o vampiro e que ao mesmo tempo ia fazendo-o desistir dele. Mas nesse momento Patric começava a falar, conversar intimamente com Ivan, não pelas palavras pronunciadas pelos lábios, mas pelas ditas no seu silêncio interior.

“Não quero morrer... Eu a amava... Ele era só uma criança... Você mentiu... Estou sozinho, sempre sozinho... Eu não quero viver...” eram frases desconexas, brilhando tão palpáveis e ao mesmo tempo se misturando e desaparecendo. Perfumadas pelo medo, angústia, e um desejo profundo por um outro alguém. Ivan saboreava devagar essas revelações, a medida que o sangue percorria quente sua garganta. “Sim... a última máscara caiu e quebrou-se...” Ivan pensava para si mesmo, satisfeito como se considerasse isso um mérito seu. “Você é humano Patric!”

“E você é um monstro...”

A voz de Patric respondeu ao pensamento de Ivan. E junto com a resposta vieram imagens. As palavras de seu interior, que antes sussurravam para o vampiro agora pareciam gritar cada vez mais altas, e suas luzes brilhavam fortes como lanternas e em cada lanterna ia sendo iluminada uma imagem, uma lembrança que Patric mostrava para Ivan. Imagens distorcidas e sobrepostas, mas distintas e que Ivan conseguia definir como se passassem em um filme em câmera-lenta. Não eram mais de alguns instantes que estavam ali.

“Você matou... uma criança...” e com essa frase veio a visão do pequeno corpo inerte ao chão.

“Eu sou um assassino Patric. É isso que eu sou.” Ivan respondia com a mente. Enviando ao homem também imagens distorcidas da mente de muitas pessoas. Muitas vítimas. Causando em Patric uma onda de sentimentos e medos que não eram deles. Fazendo-o vislumbrar, se sobrepondo à imagem de Damien, a silhueta de Scarlet.

“Você matou...” a frase de Patric não se concluía e os olhos da mulher abriram-se, encarando profundamente Ivan, com olhos amarelos como os de um gato, e então todo o rosto dela havia mudado, e os cabelos castanhos e anelados agora eram lisos e loiros e o rosto era infantil. “Adeus Patric” pronunciou na voz do menino de rua, Damien, mas pareceu a Ivan estranhamente cruel.

O corpo de Patric cai pesadamente no chão ao lado da porta. Ivan afasta-se, de costas, arrancando o ferro da ferida que rapidamente começou a cicatrizar. Patric geme algo baixinho e revira-se, desnorteado e fraco. O vampiro vira-se para encará-lo.

“Não fui eu que matei esse menino, Patric.”

O homem levanta a cabeça, esforçando-se para focalizar o rosto do vampiro. Sua mão direita tateando inconscientemente o chão ao seu redor quando ouve o ferro tilintar contra o chão. Quando havia soltado o cano? Não se lembrava e sua mente pareceu vazia e desconhecida para ele, agora que tantas lembranças pareceram surgir sem origem alguma em seu íntimo e momentos depois desaparecerem como se nunca as tivesse vivenciado.

“Ah... Patric! Patric! Meu querido Patric! Não me venha agora com essas loucuras de sua mente! Não me faça cometer outra loucura de dar atenção à minha curiosidade. Você é uma caixa de surpresa!” o vampiro dizia em tom divertido. “Uma surpresa ou você já planejava isso para essa nossa noite? Foi por isso que não fugiu? Supunha que me venceria novamente com suas pegadinhas?”

“Não foi você?”

“Foi você Patric.”

“Eu?”

“Eu lhe disse para protegê-lo, para não deixa-lo sair antes do amanhecer. A culpa foi sua.”

Patric tentava se levantar, caindo novamente no chão. Olhava para o vampiro com olhos fundos e sem foco.

“Você...”

“Eu não estava lá.”

“Cemitério...”

“O que?”

“Você estava no cemitério...”

Silêncio. Ivan não esperava por aquela afirmação de Patric, mas estranhamente sabia do que ele estava falando.

“Quem...?”

“Ele me disse que você estava lá... visitando alguém...”

“Quem?” Ivan sabia a próxima resposta, e antes que Patric pudesse pronunciá-la, Ivan respondeu. “Damien não estava lá! Damien já estava morto.” Ivan inconscientemente aponta para a cesta ao seu lado enquanto falava. Patric olhando para a cesta sobre a mesa. A imagem do menino morto, nu e com as marcas profundas por seu corpo voltou à mente de Ivan do modo como Patric viu na noite anterior.

“Seu corpo estava jogado naquele chão ao anoitecer de ontem, quando acordei. Ele já estava morto!”

“As cestas...”

Ivan olhou para as cestas e de volta para Patric, percebendo então o ato impensado.

“Não foi ele...”

“Mas...?” Patric estava cansado e sentia tontura pela perda do sangue. Os pensamentos pareciam não se encaixar. Ele tinha certeza que havia conversado com o menino...

Após um longo silêncio em que os dois pareceram lutar para prolongar ao máximo, Ivan pronunciou pesadamente.

“Dê-me um bom motivo Patric.” Chutou o cano para perto do homem. “Me de um bom motivo para matá-lo agora.”

Patric não responde, tombando a cabeça de lado e com uma forte vontade de vomitar, mas que não se concretiza, sentindo aquele repulsivo odor da Morte que o relembrava claramente o corpo frio e inchado de Damien. Ivan aproxima-se do fraco homem e abaixa-se ao seu lado. Olhando-o penosamente enquanto o toma pelo braço e erguendo-o do chão.

O ruivo estava tonto e respirava com dificuldade. Ivan podia ouvir as batidas fracas e sem ritmo do coração dele quando o pegou ao colo para depositá-lo deitado sobre a poltrona de couro. O vampiro se senta na mesinha de centro, empurrando para o lado as cestas, e fica a observar o corpo de Patric encolhido e pálido tentando se levantar. Ivan coloca uma mão sobre ele, forçando-o a permanecer deitado, então Patric vira-se sobre o ombro direito para encarar duvidoso o vampiro. O sangue quase seco denunciando o local da mordida claramente exposta contra a pele clara. Ele arfava e sentia dor por todo o corpo, mas mantinha-se atento ao vampiro.

“Você vai morrer... se eu te deixar assim você vai morrer.” Patric o olha, confuso, assustado. “Mas eu não vou te tirar daí...”

“Ivan...” Patric não sabia o que poderia dizer, deixando escapar em um suspiro o nome do vampiro.

“Você me desafiou naquele momento, há uma semana atrás. Mas eu já estava curioso com você muito antes. Eu não menti quando disse que não escolho minhas vítimas, mas com você começou a ser diferente desde antes de nos encontrarmos. Quando matei sua mãe.”

Patric permaneceu em silêncio, observando atento tudo o que o vampiro dizia. Sentia que aquela conversa poderia ser a última, mas a mais reveladora que teria com Ivan.

“Scarlet... eu disse que ela foi uma mulher forte, que me deu muito prazer mata-la. Patric, eu não mato apenas porque preciso de seu sangue para viver. Esse é o motivo básico, essencial. Mas existe algo maior, mais profundo. O prazer, único prazer permitido e gozado por um vampiro é o prazer do sangue. E eu busco nesse sangue, nesse prazer, os prazeres da vítima, os desejos, medos e amores. As loucuras e segredos mais profundos fazem cada criatura ser única e especial para mim. E sua mãe foi assim. E foi por ela que te procurei, te esperei. Ela não me mostrou medo algum, não por ela. Temia pelo filho que esperava em seu ventre e por você. Ela chamou por você em seus pensamentos e quando percebeu que eu podia vê-lo, e que demonstrei interesse, ela retirou você da mente, de mim. Ela te amava Patric, e era um amor muito superior ao amor de amantes. Se há amor tão grande no mundo, é o amor de uma mãe. Patric. Queria poder te mostrar tudo o que ela me permitiu ver em seu íntimo! Toda aquela beleza de sua força e seus sentimentos. Não havia nenhum crime ou culpa nela. Era linda! Mas eu não me permito mostrar-lhe isso. Seria um erro. Eu não posso compreender metade dos sentimentos dela, eu não saberia reviva-los com tamanha beleza dentro de mim, e acabaria distorcendo-os... Ela era perfeita Patric. Você sabe disso. E foi esse poder com que ela tentou te proteger que me fez espera-lo e ataca-lo quando o reconheci naquela noite. Eu queria provar novamente essa mesma sensação. Provar se você era digno daquela proteção. E então você me desafiou. Você se mostrou vazio, inerte e sem sentimentos dentro de sua alma. No momento me senti perdido e você disse para mim tão friamente, com tamanha certeza que me atiçou a aceitar aquele desafio, a deixa-lo vivo para conhece-lo.”

“Antes eu admirava muito vocês...” Patric sussurrou no sofá, repetindo as mesmas palavras que afloraram em sua mente das lembranças daquela noite.

“Sim... e você também não colocava sentimentos nessas palavras. Tudo que vinha de você era frio e morto. Até mesmo o ódio que dizia sentir pelo assassino de sua mãe. Você não tinha medo, nem raiva, nem sentimento algum por essa vida que poderia ter acabado naquela noite, alguns dias atrás... ou não acabar nunca mais. Você, aqui, hoje, não existia naquela noite. E finalmente você o matou. Antes que eu pudesse fazê-lo. Eu desistia daquele Patric quanto mais eu mergulhava naquele silêncio profundo e frio, tentando encontrar um raio de sentimento sincero. Em vão! Então me cansei, me revoltei por ver que você era mais forte que eu. Que quanto mais eu buscava em você essa vida que você não me mostrou, me retirando o prazer que eu queria sentir, mais eu me lembrava e me prendia a lembrança de sua Scarlet e menos eu me satisfazia ao matar homens e mulheres pelos dias seguintes! Eu tinha que acabar com você.”

Empurrando a mesinha para o lado, Ivan se ajoelha no chão em frente a poltrona, tomando a cabeça de Patric com as duas mãos e fazendo-o encara-lo tão diretamente que Patric tentou livrar-se daqueles olhos negros, mas não conseguia nem mesmo fechar ou desviar os seus. Engoliu em seco. As batidas do coração, agora mais calmo, voltavam a se compassar e se aceleraram um pouco com a aproximação do rosto de Ivan do seu.

“Ontem... ontem fez quarenta e nove anos da morte de minha mãe. Eu fui visitar seu túmulo naquele cemitério, como você disse.”

E falando pausadamente aproximou-se ainda mais de Patric, deixando seus rostos se encostarem de leve enquanto ele avançava devagar para a ferida no pescoço do humano. A sua pele agora quente pelo sangue de Patric, deixando ambos com a sensação de iguais no toque. Estendeu devagar a língua, enquanto afastava com a mão os cabelos ruivos que se prendiam no sangue seco. Lambendo a ferida, umidecendo-a e limpando-a com a saliva grossa e avermelhada. Sussurra ao ouvido dele.

“Há mais de cinqüenta anos que sou um vampiro... há quarenta e nove estou sozinho. Você foi o primeiro mortal com quem convivi por mais de alguns míseros minutos, desde a morte de minha mãe. E depois que realmente me tornei esse monstro que sou.”

Ambos fecham os olhos. Patric pousa a mão esquerda sobre o cabelo de Ivan. Nunca tinha tocado aqueles cabelos negros que agora percebia serem tão macios e finos. Deixa escapar um leve gemido sem estímulo enquanto vinha-lhe a certeza de que não veria o amanhecer. A língua do vampiro ainda percorria lenta e distraída o pescoço dele no caminho desenhado pelo sangue escorrido.

“Eu provavelmente me arrependerei muito por isso...”

Silêncio. Ivan se levanta e se afasta da poltrona até a porta. Evita olhar para trás, fechando a porta e sentando-se na escada de pedra do jardim esperando o amanhecer que se anunciava algumas horas depois pela dourada e tímida luz que desenhava as nuvens distantes. O vampiro se levanta e desaparece.

“Tenha um bom dia...”

 Coyote


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Notas finais do capítulo

---~o0o~---
Bem, em primeiro lugar quero muito agradecer a todos que estão acompanhando a história de Patric e de Ivan. Agradecer especialmente à lidi25 pelos reviews deixados! Obrigada mesmo, isso me incentiva muito!!!
Mas... Venho também dizer que agora que minhas aulas na facul começaram eu talvez demore um pouco mais com os próximos capítulos que ainda estão apenas no esboço em um caderno pelo meu quarto... Então... Paciência, viu pessoal! Ainda tem muito o que dar essas noites no mínimo estranhas de Patric!

Um abraço a todos!

Coyote



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