These Days escrita por Riqui


Capítulo 15
Como explicar o que não tem explicação?




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Escrever sobre si e relatar suas memórias, pensamentos e histórias, é algo realmente complicado, juro. Um ano a frente no qual a história está se passando, eu fui diagnosticado com transtorno bipolar por uma psicoterapeuta, pois é, eu não devia falar isso (não agora) mas é que certas coisas que irão acontecer na história se deve por conta disso, eu particularmente não boto a culpa em nada que aconteceu na minha bipolaridade, infelizmente acontece. Na vida devemos aproveitar e curtir o momento atual, máximo possível.

Voltando de onde paramos da última vez onde aconteceu a primeira declaração de amor da minha vida, eu falei que amava uma garota e ela correspondia o que eu sentia. Sem dúvidas eu me pergunto como seria minha vida se nós dois ficássemos juntos até hoje. Ah, desculpe dar esse spoiler sobre Bianca, espero que não fiquem triste como fiquei quando a perdi.

Pois bem, na semana seguinte após a melhor noite de todas, eu andava triste por alguma razão que nunca soube qual era, eu simplesmente estava desanimado com alguma coisa. As férias do meio do ano se aproximavam e com elas as provas, eu andava bem atarefado com assuntos do Grêmio estudantil, minha escola era conhecida por um famoso torneio de futsal que os alunos jogavam e esse ano quem era o organizador? Eu mesmo. Apesar de adorar jogar futebol, o pessoal do Grêmio sempre jogavam, montavam um time com os melhores jogadores da escola, e digamos que não sou tão bom assim, então para não reclamarem de injustiça ou algo do tipo, quem organizava o torneio, jogos e etc, seria alguém que não jogaria.

Eu passava quase 12 horas na escola, ficando lá desde as 7h da manhã até depois das 18h quando terminava minha aula. Era cansativo mas eu gostava do modo que as coisas iam acontecendo. Eu estava feliz pois eu era conhecido já da grande parte das pessoas. E falo que não tinha nada melhor do que ter um cargo importante no Grêmio, eu tinha liberdade de tanta coisa, podia usar a sala de informática, podia sair de sala mesmo quando eu estava em aula, alegando que tinha algo do Grêmio para fazer. Na parte da manhã eu ficava indo nas salas dando recados sobre o torneio, então eu simplesmente passava horas indo nas vinte e três turmas que tinham em cada turno.

Era uma quinta-feira e eu não encontrava com a Bianca desde aquela noite, passamos a semana conversando bem pouco, eu chegava em casa bem cansado e não tinha muito saco para ficar no computador, eu entrava pouco, óbvio que sentia saudades e se não fosse por isso eu nem mexeria no computador depois das aulas.
Naquele dia em especifico eu estava matando aula, era por volta das 14h, e eu tinha duas horas até o intervalo, eu estava pensando em ir embora depois disso ou assistiria a aula e quando fosse 18h, eu iria na escola da Bianca fazer uma surpresa.
Mas eu estava tão desanimado com tudo, meio triste que eu apenas sentei num banco e abaixei a cabeça na minha mochila que fiz de travesseiro. O pátio estava bem vazio, com as provas chegando o pessoal não matava aula. Eu gostava do vento que batia nos meus cabelos, eu apenas fechei os olhos, queria esvaziar a mente, mas não foi possível pois uma voz bem conhecida apareceu.

– Henrique !?
– Oi. - Levantei a cabeça.
– Matando aula?? - Bruna me olhava e sentava no banco, de frente pra mim.
– Sim, sem cabeça pra isso. - Dobrei os braços na mochila e apoiei meu queixo e fiquei olhando para ela.
– Ah tá, tô te atrapalhando?
– Não. - Na verdade sim, mas eu não iria falar isso né.
– Tá triste com o que?
– Eu não tô triste.
– Tá sim.
– Por qual motivo acha que estou triste?
– É só te olhar que isso é nítido.
– Eu estou aqui desde as 7h da manhã, e ninguém falou nada, já que é nítido.
– Talvez ninguém te conheça como eu. - Ela mesmo ficou sem graça em falar isso.

Eu disse uma vez que Bruna tinha o poder de me decifrar, ela me olhava sempre de um modo diferente, parecia ler minha mente. Nós não parávamos para conversar tinha quase três meses, desde que decidi me afastar e de lá pra cá estava com a Bianca.

– Tu sabe que sinto tua falta né? - Ela falava enquanto me encarava.
– Sente?
– Tu sabe que sim, éramos amigos.
– Éramos? digo... no passado?
– Ainda somos? Você se afastou, só sei de você por meio do Dudu que me conta as coisas.
– Ele conta ou você que pergunta? - Abri um sorriso e ela ficou sem graça.
– Os dois... Mas eu me preocupo contigo, não te vejo no MSN, tá sempre com status de ausente lá.
– Como te falei, tô aqui desde as 7h, e tô direto assim, chego em casa cansado.
– Hmm e não namora depois?
– Eu não tenho namorada.
– Não? qual nome dela mesmo? Bárbara? Beatriz??
– Bianca!
– Isso, Bianca! sem querer vi o orkut dela esses dias, lindona.
– Sem querer? hahaha - Eu ri.
– Foi sim, tá! - Ela fez cara de séria mas depois riu também.
– Okay okay, ela é linda sim.
– Jeito que tu gosta né? branquinha, meio loirinha, patricinha.
– Tá descrevendo ela bem, hein. Porém nunca percebi essas coisas, sei lá, gosto dela pois me sinto bem quando estou com ela.
– Que bom Henrique, fico feliz de verdade.
– Obrigado. E tu e o Yuri?
– O quê tem? - Ela levantou uma sobrancelha.
– Como anda vocês dois?
– Mesma coisa de sempre.
– Se pegando escondido? hahaha - Fiquei rindo.
– Não é escondido! A gente só fica... e só.
– Entendi.

Ficamos nos olhando por um tempo, o assunto tinha acabado, Bruna pegou o celular e seus fones de ouvido e ficou ouvindo enquanto ficava olhando para o pátio. Eu abaixei a cabeça como estava antes, acho que até cochilei por alguns minutos quando o sinal tocou, era o intervalo.
Pela primeira vez eu fiquei incomodado com toda aquela agitação, falatório e multidão. Sentia que ia explodir e Bruna percebeu isso. Levantei da cadeira e fui para a sala de informática, naquele momento estava vazia, até o supervisor tinha saído para almoçar. Eu sentei no final da sala e abaixei a cabeça, eu queria ficar só.
Uns minutos depois eu escuto a porta bater, alguém tinha entrado, eu não fiquei preocupado, pois qualquer coisa eu falaria que estava fazendo algum trabalho para o Grêmio, então quando levanto a cabeça, era Bruna, ela me olhou e sorriu, imediatamente eu lembrei da primeira vez que a vi, de quando eu estava sentado no pátio e ela veio na minha direção com o Eduardo e sorriu quando estendeu a mão para mim, era o mesmo sorriso de agora.
Ela se aproximou e sentou no meu lado.

– O que tá fazendo aqui? - Perguntei.
– Eu vi sua cara pouco antes de se levantar e sumir, fiquei preocupada contigo.
– Minha cara?
– É! Você parecia incomodado com algo, tá tudo bem mesmo? - Ela realmente parecia preocupada.
– Tá sim... eu só...
– Fala. - Ela segurou minha mão.
– Não sei, eu só ando meio angustiado com algo, triste, não sei.
– Você brigou com alguém? digo, discuti, pois não consigo imaginar uma cena onde você briga com alguém, dando soco. - Ela riu, queria me distrair com certeza, mas não obteve sucesso.
– Não, juro que não. Acho que ando com muita coisa na cabeça.
– Tipo o quê?
– Minha vida mudou demais nos últimos meses, tipo, muito!
– Pra melhor?
– Acho que sim, eu odeio mudanças sabe? e mudou, mesmo sendo pra melhor eu não gosto de mudanças.
– Mudanças são necessárias. Ajuda a amadurecer.
– Eu sei.
– Me conta, o quê mudou?
– Hmm, antes eu era ninguém, não que hoje eu seja alguém, mas digo que eu simplesmente ficava na minha no intervalo, as pessoas passavam por mim, poderiam me olhar mas esqueciam de mim assim que passassem, eu tinha poucos amigos, se é que realmente tinha amigos. Hoje tenho amigos, tenho o Dudu, hoje as pessoas que nem sei quem são, passam por mim e falam comigo, sabem meu nome, só pelo fato de eu ser do Grêmio.
– Isso não é verdade, você é super legal, se as pessoas sabem quem você é, é porque falam de você!
– Não sei, espero que falem bem né.
– Claro que falam bem, não tem do que falar mal de você, você é super maneiro.
– Essa é minha definição, "sou maneiro" ? - Falei sorrindo
– Hahaha idi! Você entendeu, você é legal, inteligente, interessante, tem assunto, conteúdo.
– Faltou "bonito".
– Claro! e humilde também né? - Ela ria
– Isso não pode faltar! - Ri com ela.
– E tu tem a Beatriz também.
– Bianca!
– Isso! Bianca. Ela não te faz feliz?
– Faz sim, aliás, acho que vou busca-la na escola, estou quase uma semana sem vê-la.
– Ah... vai sim. - Bruna parecia decepcionada, ou desapontada.
– Que foi?
– Nada não. - Abriu um sorriso, mas percebi que era forçado.
– Fala, sei que tem algo.
– Ah... ia falar para tu me levar em casa, como nos velhos tempos.
– Pode ser amanhã?
– Claro... amanhã.

O sinal tocou, o fim do intervalo chegou. Bruna e eu saímos da sala de informática e descemos pro pátio, comprei um salgado para ela, pois ela tinha alegado que estava com fome. Em seguida voltei para minha aula, nem nos despedimos. Cheguei atrasado na aula mas o professor não se importou, sentei lá trás e comecei a copiar a matéria, alguns minutos depois, Eduardo sentou no meu lado.

– Ta sumido, amigo, que aconteceu?
– Correria né, esse torneio que tô organizando ta me sugando o tempo.
– Hahaha, imagino, mas tu matou aula mais cedo, achei até que tinha ido embora.
– Que nada, fiquei lá em baixo com a Bruna.
– Bruna? voltaram a se falar?
– Nunca paramos de fato, eu só tinha me afastado.
– Aé, tu e sua viadagem de se afastar da mina.
– Não é viadagem, é que sei lá.
– O quê então? viadagem!
– Ah, vai se foder! - Dei um soco em sua perna e rimos.

Aula foi chata, parecia que nunca ia acabar. Quando o sinal tocou eu fui o primeiro a sair da aula, passei pelo corredor quase que correndo, olhei para o relógio e apontava 18h cravado, eu desci as escadas e sair da escola, fui direto para o ponto de ônibus, apesar de odiar andar de ônibus, precisava chegar na escola da Bianca rápido. O ônibus não demorou e peguei. Alguns minutos depois eu desci no ponto da escola dela, tinha vários alunos lá, eu andei um pouco, procurei por ela e suas amigas, mas não encontrei. Eu era/sou do tipo de pessoa que prefiro surpreender, fazer uma surpresa assim, do que avisar que iria busca-la e ter certeza que ia encontra-la. Pois é, tive que pegar ônibus de novo, dessa vez fui direto para a casa dela, estava com medo de ficar tarde, mas eu estava com saudades dela, do meu primeiro amor.


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