Capítulo 25: Adeus Piratas

A gruta era bastante comprida e demorou largos minutos a percorrer. O ambiente era intimidador e tiveram que acender tochas para iluminar o caminho. Caminhavam com cuidado, já que o amontoado de ossos se prolongava quase até ao fim.

Alicia afastava as teias de aranha que teimavam em colar-se ao seu cabelo. Se havia coisa que detestava eram aranhas.

Lara caminhava pensativa atrás de Jack. Sentia-se mergulhada nos mais variados sentimentos. Ansiedade por voltar ao seu mundo. Angústia e tristeza por deixar Jack e aquela aventura. Esperança por talvez ter uma chance de voltar. Curiosidade e dúvida sobre os comentários de Calipso.

Uma voz conhecida e suave arrancou-a dos seus pensamentos.

- Pensando no conforto do seu lar? – Jack caminhava agora a seu lado, sorrindo tipicamente. No entanto o seu olhar negro e profundo transmitia tristeza.

- Posso ter mais conforto mas de certeza que será muito mais monótono! – Lara sorriu levemente.

- Não creio. Dava tudo para saber como será o futuro! – Jack fez um olhar distante.

- Não creio. Lá não tens acesso ao que mais gostas de fazer: piratear. – Lara baixou o olhar. – E os barcos são mais feios.

Jack pensou um pouco.

- Love, vejamos as coisas pelo lado positivo. Tu retornas ao teu tempo, vês a tua família e sempre tens uma chance de cá voltar… se quiseres! – exclamou com ar esperançoso.

- Quando me for embora, tu também retornas para a tua vida e aposto que me esqueces em cinco minutos mal ponhas os pés em Tortuga! – Lara riu.

- Acho que não me vou habituar a ter aquela cama vazia! – exclamou o pirata deixando Lara vermelha que nem um tomate.

- Chegamos! – Calipso falou alto e ergueu a mão fazendo sinal para que parassem.

Uma luz alaranjada iluminava o fim da gruta que dava acesso a uma pequena baía banhada por águas negras que balançavam suavemente.

- Mergulhando naquelas águas, vocês serão transportadas de novo para o século XXI. – Calipso falou secamente.

- Mas vocês acham que vou mergulhar naquela água que parece saída de um esgoto? – Alicia estava horrorizada. – Eu vou me afogar!

- Pelo contrário. Quando acordares estarás na tua cama. – Calipso fixou o seu olhar enigmático num ponto atrás de Alicia. – E eu cumpro sempre um acordo!

Alicia ouviu o seu nome naquela voz familiar e um sorriso iluminou-lhe o rosto, ao virar-se.

- WILL! – gritou abraçando-se ao pescoço do rapaz.

- Nossa, porque é que todas as mulheres gritam o nome dele e vão a correr abraçá-lo sempre que o vêem? – Jack deitou a língua de fora como se odiasse aquela cena fazendo Lara abanar a cabeça. Definitivamente Jack não emendava.

- Eu disse que vinha, não disse? – Will olhou docemente para Alicia.

- Eu queria mesmo era que viesses comigo! – Alicia fez beicinho e Will beijou-a.

- Por falar em voltar, é melhor dares a bússola do tempo às raparigas Jack! – exclamou Calipso.

- Porquê? – Jack fez uma cara de interrogação. Detestava devolver objectos que estavam em seu poder. A não ser claro, que a sua vida depende-se desse gesto.

- Porque é a única maneira de elas voltarem caso queiram! A função da bússola é essa. Transportar as pessoas até ao seu desejo ao invés de somente guiá-las como a tua faz, Jack. No entanto, para voltarmos ao nosso tempo, só através do Vértice. Ele anula o desejo feito. Concluindo, para voltarem têm de desejar de novo! – explicou Calipso que parecia ter o texto decorado na cabeça. – Acreditem, eu sei tudo sobre a bússola. Era amiga íntima de quem a fez! – a deusa sorriu deixando a descoberto os negros dentes característicos do seu corpo de Tia Dalma.

Jack retirou a bússola da cintura e passou-a Lara, que a segurou firmemente nas mãos.

- Agora devem ir. Antes que o Boby acorde! – avisou Calipso.

Alicia e Lara despediram-se dos piratas, deixando Pintel e Raguetti num mar de lágrimas.

- Detesto despedidas! – choramingou Pintel.

- Nem eu. Sinto-me sempre tão vazio! – Raguetti olhou para o companheiro e abraçaram-se chorando que nem cachopos.

- Boa viagem, senhorita Alicia e senhorita Lara. – Barbossa sempre cavelheiro fez uma vénia na direcção das duas.

- Adeus Capitão Barbossa! – disseram as raparigas em uníssono deixando Jack nada satisfeito ao ouvir a palavra "Capitão".

Todos se retiraram, deixando Lara e Alicia sozinhas com Jack e Will. No entanto, Calipso não se moveu um milímetro, continuando em posição de estátua olhando as negras águas.

- Se voltares, não te esqueças de mencionar Black Pearl, senão terei de percorrer todo o mar das Caraíbas à tua procura! – Jack agarrou Lara pela cintura. – E a última coisa que quero é que algum soldado almofadinha fique apaixonado por ti!

- Jack… - Lara riu com a atitude de Jack, mas este não terminou.

- E quando lá chegar veja se diz para o seu amiguinho Thomas que já tem dono! – Jack acariciou os cabelos da morena.

- Ele não gosta de mim, Jack! E se eu lhe dissesse isso o mais provável era ir parar a um manicómio! – Lara sorriu mais uma vez e ambos selaram a despedida com um ardente beijo.

- Eu não te quero deixar ir, minha sereia! – Will estava com a mesma cara melancólica de sempre.

- Eu volto, Will. Nem que venha sozinha. –Alicia colocou as mãos à volta do pescoço do amado. – E quando voltar a primeira coisa que vou fazer é casar-me contigo!

- E não te importas com a minha condição? – Will franziu o sobrolho.

- William Turner, quantas vezes vou ter que dizer que não? – Alicia colocou um ar aborrecido. – E tenho a certeza que deve haver uma maneira de reverter a situação!

Alicia e Will beijaram-se romanticamente e antes que esta começasse a chorar como se o Mundo fosse acabar, Lara chamou-a.

- Alicia temos de partir. – avisou a amiga.

- Eu sei. Só queria era que este momento não acabasse. – Alicia olhou para o chão e uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto.

Calipso acompanhou as duas até à margem do lago.

- Têm de mergulhar totalmente e façam-me um favor, não abram os olhos lá em baixo! Existem coisas que não devem ser vistas! – Calipso falou com um tom sério.

Alicia foi a primeira a mergulhar mas antes que a água a cobrisse totalmente, olhou para Will e berrou:

- Amo-te!

Will murmurou as mesmas palavras e sorriu docemente. Alicia suspirou olhando as águas turvas e fechou os olhos, mergulhando finalmente.

Fez-se silêncio e Lara sentiu um aperto no coração.

- Não te preocupes. Ela não se afogou! – Calipso sorriu calorosamente e indicou o caminho a Lara.

Os olhos de Jack e Lara encontraram-se e ao contrário de Alicia e Will, não foram preciso palavras. O olhar de ambos dizia tudo. Pela primeira vez, Jack Sparrow ficaria à espera de algo que mudara os seus pensamentos e sentimentos para sempre.

Lara fechou os olhos e decidiu mergulhar logo. "Seja o que Deus quiser!", pensou. Fechou os olhos e tudo ficou escuro e silencioso de repente. Sentiu que se afogava e quis abrir os olhos, mas nesse mesmo segundo sentiu que algo a puxava e perdeu os sentidos.

Jack e Will ficaram a olhar para o lago e pela primeira vez compartilhavam do mesmo sentimento. Um aperto no coração que lhes indicava que lhes faltava algo.

- Não vão ficar aí especados pois não? – Calipso olhou para os dois. – Os homens e o amor! – disse abanando a cabeça e rolando os olhos. – Têm imensos tesouros à vossa espera sabiam?

- Eu vou voltar para o Holandês. – Will virou costas e desapareceu na escuridão da gruta.

Calipso aproximou-se de Jack e passou a mão pelas suas costas.

- Eu bem disse que um dia aquilo que perturba os homens também chegaria ao coração do grande Jack Sparrow! – disse quase ronronando.

- Capitão! – Jack falou secamente e sem entusiasmo.

- Como queiras, querido! Mas agora só te resta esperar. A não ser claro que queiras companhia até lá! – Calipso rondou-o sensualmente, mas Jack nada disse e caminhou até à gruta, deixando Calipso pendurada.

- Raios partam os homens mortais! Nunca sabem o que querem! – Calipso cruzou os braços.

- CALIPSO! – uma voz profunda e assustadora fez a deusa se virar e engolir em seco. À sua frente um homem alto, pálido e vestido de negro até aos pés olhava para si.

- Ora mas que surpresa! – Calipso fez um sorriso amarelo. – O que traz o grande Hades até a uma terra desolada como esta?

- Tu sabes o quê, Calipso. – O homem aproximou-se de Calipso. Os seus olhos eram totalmente negros. – A Fonte desapareceu.

- É eu sei! – Calipso tentou sustentar uma posição altiva. – Mas não sei o que tenho eu a ver com isso.

- Calipso, Calipso, sempre insolente! Oceano não te ensinou boas maneiras? – Hades riu. – A Fonte desapareceu e certamente foi um desses teus amigos humanos que a roubou.

- Só os deuses têm acesso à Fonte, Hades. Era impossível um humano lá chegar! – Calipso olhou com desdém para Hades.

- O concílio do Olimpo decidiu que não há possibilidade de ter sido um deus a roubá-la. Além do mais, não precisamos dela. Somos imortais, querida Calipso! – Hades passou a mão pelo rosto da deusa que a afastou incomodada.

- Eu continuo com a minha opinião. Se foi um humano, ele teve ajuda divina.

- Também aposto nisso. Mas então as suspeitas recaem em ti, Calipso! – Hades riu alto.

- Em mim? – Calipso perguntou com ar indignado.

- Sim. Afinal tinhas dois amigos atrás dela!

- O Barbossa e o Sparrow não a conseguiram encontrar! Eu própria os afastei do caminho certo. Aquele objecto só traz desgraça. Aliás como tudo o que criámos! – Calipso olhou duramente para Hades, mas este manteve-se impávido e sereno.

- Não temos culpa de os homens serem tão ambiciosos! – Hades abanou a cabeça.

- Temos sim, Hades. Quem lhes sussurra sobre as imensas riquezas que existem? – Calipso começava a ficar brava. – A Fonte nada faz a não ser espalhar desgraça e morte!

- Que quadro pessimista, Calipso! – Hades continuava cínico.

- É a verdade. O que aconteceu em Atlântida foi prova disso. Eles tinham tudo. Uma vida longa, saúde, paz, felicidade, riqueza e uma terra que lhes dava tudo. No momento em que um atlante não satisfeito com a sua vida longa e achando que o melhor que podia haver era ser imortal, ouviu falar da Fonte deu no que deu. Mataram-se uns aos outros. O ódio e a raiva instalou o caos e Atlântida acabou se afundando, desaparecendo para sempre.

- Seja como for, a Fonte já não se encontra no século XVIII. Quem a levou viajou no tempo. – Hades ficou sério de repente. – Podemos viajar no passado mas não temos permissão de espreitar o futuro. E tu Calipso deixas-te passar uma oportunidade de ouro!

- Como assim? – Calipso ergueu o sobrolho.

- Aquelas duas raparigas podiam ser mandadas atrás da Fonte! – propôs Hades.

- E arriscariam a própria vida? – perguntou Calipso.

- Umas simples mortais que salvariam o Mundo! – Hades fez um gesto com a mão.

- Elas não são simples mortais, Hades! – Calipso falou alto.

- Oh… esqueci-me! São as amadas de um infame pirata e de um pirata amaldiçoado que não queria ser pirata! – Hades deu uma gargalhada.

- Tu sabes o que diz a profecia, Hades! – alertou Calipso.

- Uma profecia sem nexo. – Hades olhou para as suas mãos.

- Para ti, que és o Deus dos Infernos! Agora para nós, deuses marítimos, a profecia faz todo o sentido e temos de proteger os enviados! – exclamou Calipso.

Hades olhou para Calipso e abafou o riso. Os deuses menores irritavam-no profundamente.

- Como queiras, Calipso. Mas fica o recado. A Fonte tem de ser encontrada e estás debaixo de olho. – avisou Hades.

Uma nuvem negra envolveu o deus e este desapareceu na escuridão.

- Idiota! – exclamou Calipso.

O escuro era frio. Lara queria abrir os olhos mas não conseguia. Algo a prendia. Ouvia vozes, sentia-se acorrentada. Queria mexer-se e não podia. Berrou a plenos pulmões e abriu os olhos repentinamente. Uma intensa luz branca cegou-a, não permitindo ver onde estava.

FIM