A Cela escrita por John


Capítulo 28
VII. Princípios


Notas iniciais do capítulo

Era para eu ter postado bem antes, talvez a uns cinco dias, mas como eu tinha postado e tinha dado um erro e tinha apagado absolutamente tudo o que eu escrevi, eu fiquei realmente bem boladão (muito puto) e resolvi deixar isso de lado por um tempo, até ter paciência e inventar tudo de novo. Basicamente isso.



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A muitos metros de distância, Alexei via um ponto preto caído no campo branco pela neve, mas que somente o velho conseguia distinguir o que era. Logo após o estrondo, ele havia saído apressadamente, descendo o resto do morrinho em direção ao campo aberto, e de cima, Alexei via aquele homem ir e logo depois voltar com uma carcaça, que mostrava ser a tão desejada rena.

– Eu não pensei que fosse tão rápido. Há vezes em que fico aqui praticamente metade de um dia, esperando que algum desses venha a cruzar o campo... talvez já estejam acostumados e evitem esse local justamente por entenderem que podem levar um tiro - dizia o velho despreocupadamente enquanto amarrava a rena a um barbante ligado ao trenó. - mas sorte a nossa haver uma que não ouviu o grupo, não acha?

Alexei percebia que o velho já não tinha mais nenhum tipo de desconfiança e tratava ele como a um filho. - A falta de companhia faz as pessoas ficarem mais amáveis ao encontrarem alguém com quem falar - imaginava Alexei, dessa vez andando mais depressa para alcançar o velho, que andava a passos largos a uma certa distância, mas ambos voltando pelo menos caminho que vieram.

Eu poderia destacar todo o trajeto dos dois personagens de volta para a casa de madeira, mas creio que aquele que lê iria achar muito entediante e até mesmo desnecessário, então eu posso resumir que a tempestade e o clima ao redor não amenizaram, e os passos que os dois deixaram na ida em pouco tempo já tinham sido apagados na volta. Ambos andavam sem falar muito, mas a felicidade do velho era nítida, e de certa forma, Alexei ficava feliz por ele. Enquanto o jovem olhava as árvores ao redor e de vez em quando para a rena que deixava um rastro contínuo na neve, do ponto onde chegaram, ele podia ver a casa de madeira no mesmo lugar onde haviam deixado, mas não foi bem a casa que ele prestava mais atenção.

Em frente a casa, um grupo de pessoas - incontáveis no olhar rápido de Alexei - rondava o local e o pequeno pátio ao redor. Atrás do grupo, um caminhão de transporte, ainda com o motor ligado, se encontrava na estradinha onde os dois vieram do outro bosque pela primeira vez. O barulho do motor daquele antigo caminhão de transporte soviético tomava, de certa forma, todo o barulho ao redor para si, como um grande glutão, mas não era o barulho que importava no momento, em sim os homens de casaco pesado, e por sinal, armados.

– Se abaixa! - ordenou em uma voz quase inaudível, mas ainda assim autoritária o velho, que atrás de uma árvore, escondia todos os seus pertences, incluindo a rena, mas deixando o rifle atrás das costas e de prontidão. Dali, dava para ter uma visão de muitas árvores adiante incluindo o patio, onde se encontrava os barulhentos soldados.

– O que acha que eles estão fazendo? Acha que eles vieram dos comboios que ouvimos? - perguntava Alexei, que de uma só vez dizia tudo isso, nervoso com a situação mas mantendo um tom de voz extremamente baixo. Ambos, depois de deixarem as coisas atrás de uma árvore, se moveram cautelosamente para uma árvore mais próxima, que dava para uma visão geral do pátio com uma certa proteção, por possuir arbustos. Eles se encontravam deitados, enquanto observavam a movimentação.

– Eles parecem estar procurando alguma coisa - comentou o velho enquanto ajustava a lente do rifle e observava os homens em sua casa. - E quanto a segunda pergunta, não há dúvida de que vieram dos comboios. Devem ter ouvido o tiro e estão revistando o local em busca de alguma coisa que só existe na mente deles. - terminava o velho melancolicamente, mas com um certo pingo de raiva na fala.

– Eles estão quebrando a sua casa - comentou timidamente o jovem que, pegando emprestado o rifle, via toda a cena de longe. Os homens reviravam sem pudor toda a casa do velho senhor, sem deixarem nada para trás. Ao longe, dava para ser ouvido o som de panelas sendo jogadas, estantes sendo reviradas, vidros e até pratos sendo quebrados. - Como eles não possuem nem o cuidado de verificar de quem é a casa? - perguntava para si mesmo Alexei, mas dessa vez com raiva na fala, mas mantendo a voz baixa.

– Desde quando soldados tem cuidado? - comentou o velho com uma expressão de mármore. - Agora a única coisa que deve ser feita é esperar que alguma hora eles saiam.

– Você não vai fazer nada? Nem mesmo tentar falar com eles? Talvez se fossemos lá, eles parariam de quebrar tudo, e alguma coisa poderia ser resgatada - falava apressadamente o garoto com ira no tom de voz. Enquanto ele falava isso, ao longe, os soldados começavam a parar de revistar a parte de dentro da casa e começavam a revistar a parte de trás.

– Eu compreendo que você esta indignado com essa cena, eu sei o que você sente, mas do que iria adiantar ir lá agora? Chegamos tarde. Além de tudo isso, que tipo de moral teríamos se fossemos lá? Não me importa a casa, não me importa essa porcelana quebrada ou algumas janelas, mas onde, eu lhe pergunto, estaria a minha moral? - suplicava o velho a Alexei, que deixou de olhar para a luneta do rifle e olhava o velho em seus olhos, que brilhavam em sua fala.

– Então é por isso? Por honra e bons princípios que você não vai lá? - perguntava com ironia o jovem, que ao longe ouvia o som de mais uma janela sendo estilhaçada ao som de fervorosas risadas.

– A pouco tempo atrás eu me perguntava se caminharia lá ou não, para dialogar, mas agora eu tenho certeza de que não seria nada mais do que alguém tentando ganhar a estima de pessoas que não correspondem a sua. Qual o sentido de ter que me rebaixar ao ponto da humilhação somente para poder entrar nos restos de minha casa para cozinhar? Isso é algo vergonhoso, algo fora do censo comum, uma paciência que nem mesmo Jesus conseguiria aconselhar; só em imaginar isso me da uma sensação forte de nojo. Talvez, a pior coisa que exista é a vergonha, pois uma vergonha forte além de matar você perante os outros, mata você por dentro, acompanhado de ironia e risos. Mas o que importa não são os outros, e sim o que eles causam àqueles que você conhece e estima. Olhe aquelas pessoas, mas olhe com atenção, viu? Elas são jovens, são saudáveis, e ainda por cima são soldados, algo que em nosso país leva a cegueira quase completa. Em suas mentes, acham que podem fazer o que querem, sem medo algum de consequência, e para elas, o que é uma casa no meio do nada? Nada além de diversão, que seria muito bem concluída com o seu dono suplicando pela sua vida e pelos seus bens - O velho falava isso apaixonadamente, mas de forma muito baixa obviamente, enquanto olhava o jovem em sua frente, que escutava atentamente cada palavra.

– Não é por medo que não vou lá Alexei, é por ter nojo o suficiente para não conseguir suplicar nada que ultrapasse aquilo que mais estimo: a minha dignidade. Sem ela, não temos nada, nem mesmo somos nada, pois ela que faz o nosso... - o velho não conseguiu terminar a fala. Muito além dos dois, um tiro foi ecoado, superando o barulho contínuo do caminhão de transporte e do barulho de passos. Logo após isso, um silêncio, mas não sem danos. O ombro esquerdo do velho, a um metro e meio de distância de Alexei se tornou púrpura, e um grande rombo se encontrava nessa região do corpo do homem idoso, que agonizava em silêncio na neve...

– Patoraplivaisia Dmitrii![16] - gritava do caminhão um soldado. Praticamente todo o pelotão já estava no automóvel, menos Dmitrii, que ficava passeando pelo pátio da casa, procurando por algo que somente existia em sua mente.

– Uspakoities', dievochki[17] - gritava despreocupadamente Dmitrii, que ainda passeava pelo pátio da casa, mas ainda com uma certo senso de dever. Em sua mente, algo estava fora do lugar, como se ao terem ido ali não tivessem feito nada além de depredar uma casa de algum camponês sem as ordens de seu comandante. Era um pensamento perturbador, mas que não chegava ao agonizante, que surge quando sentimos que algo não esta na posição que deveria estar, como se um livro estivesse fora do seu devido lugar, mas antes mesmo de filosofar sobre isso, notou um ponto luminoso entre os arbustos. Com displicência, tomou o rifle pendurado em suas costas e lançou um tiro em direção ao local em que se encontrava o ponto.

Tchiort vaz'mi Dmitrii![18] - gritou do caminhão o soldado que antes tinha apressado o amigo. Sua feição mostrava raiva, que não era diferente dos outros soldados do caminhão - Mas que merda você ta fazendo? Abaixa essa arma e entra logo no caminhão, imbecil!

– Calma calma, só achei que tinha visto alguma coisa, mas não deve ser nada - dizia em um tom irônico Dmitrii que, sem pressa alguma, subia no caminhão, ao lado dos seus companheiros irados. Pouco tempo depois, só o que havia no local eram as marcas de pneu que aquele grande caminhão tinha deixado, mas não foram só as marcas que ele deixou, como se mostrou depois.


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Notas finais do capítulo

[16] Anda logo Dmitrii/ se apresse Dmitrii.
[17] Se acalmem, garotas.
[18] Puta que pariu/ caramba.



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