Réquiem De Uma Paixão escrita por Cya Oak


Capítulo 1
Tortuoso.


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos a minha beta [198066] por ter me ajudado tanto com o roteiro ♥ e à Mizuki por ter me mandado a música na qual a história foi inspirada (link nas notas finais).
Boa leitura!



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Can you here me?

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Os chuviscos da televisão eram os únicos a se movimentar em meu decrépito apartamento do prédio 346 na rua Porto Branco. As vozes dos atores não passavam de sussurros surdos que vez ou outra eram encobertos pelos meus pesados suspiros. Eu estava sentada na cozinha enquanto meus olhos cor-de-terra encaravam o nada e minhas pálidas mãos brincavam com o pequeno frasco alaranjado que guardava o que restou da minha sanidade. Ingeri cinco pequenos e amargos comprimidos. Meus dedos formigavam, minha visão começou a embaçar, o ar raspava em minha garganta e minhas memórias estavam cada vez mais fortes...

A miragem de Marco Bismark assombrava-me, eu ainda podia vê-lo, parado de frente pra mim, com um cigarro em sua boca e um copo de vodka barata nas mãos, me olhando sem me enxergar, partindo minha alma e meu coração...

– Você poderia, ao menos, tentar me escutar? - Perguntei, fitando-lhe com lágrimas nos olhos.

– Não dá mais. - Ele se levantou. - Todo dia, toda noite, é a mesma história. Eu não suporto mais ouvir a sua voz.

– Marco, por favor! Eu te amo, Marco! - Bati minhas mãos à mesa, indignada, com lágrimas nos olhos.

– Por favor, pare. Você está sendo patética, Julia. - Ele virou-se para mim e o desprezo visível nas íris. - Suas lágrimas são tão clichês, pare de dizer essas palavras ardilosas.

– Não diga isso, Marco...

– Eu não sinto nada quando você me diz “eu te amo”. - Meu antigo amante guiou-se em direção a porta e, num ímpeto, tentei impedi-lo agarrando-o pelo braço. Bismark reagiu batendo as costas das mãos em meu rosto. - Sua vadia, o que pensa que está fazendo? - Novamente me agarrei a ele, não deixaria que ele saísse, eu não podia, ele era meu único amor, meu Marco, meu, só meu.

Fui empurrada sobre a mesa da cozinha, minhas costas doíam e minha cabeça sangrava. Ele vinha em direção a mim, suas mãos fechadas tornaram a me atingir na face para, em seguida, puxarem meus cabelos até o sofá onde alguns chutes me foram proferidos.

– M-Marco... por favor, por favor não diga adeus... - O líquido carmesim escorria entre meus lábios e seu gosto preenchia-me a boca de forma intragável. Aquele que, um dia, me jurou amor aproximou-se até que seus lábios roçassem meus ouvidos.

– Desculpe, querida. Está tudo acabado.

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Can you try to listen?

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As marcas daquela noite ainda estavam presentes em meu corpo e eu ainda podia sentir as suas mãos gélidas atingindo me violentamente, o impacto dos chutes em minhas costas, mas a presença dos lábios quentes dele descendo pelo meu pescoço ainda era viva em meu peito. As manchas roxas espalhadas em mim eram tatuagens daquele amor insano em que eu havia me afundado.

A mesma garrafa que continha aquele líquido amargo, antes pertencente a Marco, parecia gritar-me e eu atendi o chamado, acendendo o ardor em meu peito, queimando-me as entranhas, perfurando-me o espírito. Atrevi-me a levantar após esvaziá-la, mas minhas pernas vacilaram jogando-me novamente à cadeira. Entre quedas e tropeços guiei-me até à parede, a qual tateei até chegar à porta e, girando com dificuldade a maçaneta, consegui escapar daquele maldito recinto.

Eu não possuía controle sobre mim, meus pés se entrelaçavam enquanto eu caminhava e o meu coração batia descompassadamente na luta de me manter viva. Esbarrei em Will, da casa sete, no corredor, o jovem garoto tentou parar-me, mas eu não tinha ouvidos para nada essa noite, deixei-o falando sozinho, olhando-me confuso enquanto eu descia a escada concentrada em não cair até, enfim, chegar ao velho saguão que a essa hora se encontrava vazio.

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Can you see me?

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Nas ruas de Noa, caminhei sem realmente prestar atenção no que acontecia à minha volta, as pessoas também ignoravam-me, preocupadas com seus próprios problemas, suas próprias discussões, suas próprias lágrimas. Meus pés descalços chocavam-se com o chão gélido e úmido enquanto a garoa me atingia dando transparência ao meu vestido branco, beijando-me a face com as amargas lágrimas de uma noite sem fim.Uma luz forte cegou-me os olhos e o som agudo da freada congelou-me. Não houve impacto. O casal que estava dentro do carro parecia apavorado, o homem ameaçou descer, encarei seus movimentos por um breve momento... e segui em frente assim que ele abriu a porta.

Enfim, lá estava ele, o prédio 191 da rua Casteliano. Empurrei a porta de madeira, o porteiro havia dormido. Minhas pernas pareciam dançar enquanto eu subia o lance de escada, meu corpo vacilava e eu era obrigada a recorrer ao corrimão a cada passo dado. Parei em frente ao apartamento de número 21.

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Can you feel me?

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Dei três batidas na porta e quando ela foi aberta meu mundo desfigurou-se em um espelho quebrado assumindo uma escuridão dolorida. Quem a abriu foi uma linda mulher, loira, alta, de sorriso audacioso e olhos claros carregados de maquiagem, uma prostituta.

– O que você faz aqui? - A voz rouca de Marco saiu de detrás da garota.

– O que ela faz aqui? - Perguntei apontando para ela, ele suspirou pesadamente e me segurou pelo braço.

– Natasha, espere aqui dentro. - A jovem mulher deu de ombros e depois fechou a porta.

Bismark me arrastou escada abaixo e, de forma brusca, me jogou na rua. Seus olhos transpiravam uma fúria que jamais fora vista por mim. Seus músculos estavam contraídos e sua boca serrada em uma linha fina de amargura.

– Qual a porra do seu problema, Julia? Por que infernos você está aqui?

– Foi por isso que você me deixou? - Deixei que a mágoa ressoasse em minha voz enquanto as lágrimas dominavam meus olhos. - Pra viver com uma prostituta diferente todo dia na sua cama? Hein? Foi pra isso que você arruinou minha vida? O que eu era pra você afinal?

– Você é estúpida? Realmente achou que você significava alguma coisa pra mim? Não me faça rir, Júlia! Quantas vezes vou ter que dizer isso? Olhe só pra você. Você é patética.

– Você nem se parece contigo, isso me deixa confusa, o que aconteceu, Marco? - Chovia pesadamente sobre minha cabeça, meus cabelos caiam sobre meu rosto, minha roupa já não me protegia, eu estava digna de pena. - As promessas que você me fez também fará à elas? Que droga é essa? Onde está o nosso amor?

– Vá embora daqui, não me faça te bater novamente, garota. Você é uma estranha pra mim agora.

– Eu te dei tudo, então, por quê? Por quê? - Ele riu de mim.

– Tudo? Tudo o quê, garota? Você fala dessa jaqueta? É isso? - Ele tirou a blusa e jogou sobre mim – Pega essa porcaria e some da minha frente, você está começando a me irritar.

– Marco! - Segurei seu pulso.

– Quando eu digo que é pra sumir... - ele bateu em minha face – é pra sumir – e novamente me atingiu, mais uma e mais uma, até cansar de brincar, me largando ao chão e chutando-me o estômago.

Permaneci do jeito que fui deixada, segurando a jaqueta, imóvel, enquanto minhas orbes acompanhavam-no sumir, enquanto a dor transbordava através de meus olhos, corroendo a alma e o coração, enquanto minha mente enlouquecia, enquanto eu me desfazia em pedaços.

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'Cause love is over tonight.


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Notas finais do capítulo

Depois de ler e reler essa one, percebi que essa história é muuuuuuuuuuuito diferente do meu estilo (comparando com as primeiras), será que isso é bom?.Espero que você tenha gostado, 2bjs ♥
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Música Tema da Fic: http://youtu.be/jDPvocJ3Mq0



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