Certamente, toda a desconfiança em cima de Johnny Collin era real, sua paixão por Gabrielle Travien levou à morte dela, e agora a luta é em prol de sua ressurreição, previamente improvável.

– Para de brincar Johnny! É impossível voltar no tempo!- Nicky viu sua esperança desabar.

– Assim como é ‘impossível’ controlar o fogo né? – Johnny zombou.

– Ok, como você vai fazer isso?- Nicky acabou concordando.

– Eu conheço um Murder que controla o tempo, se ele concordar em fazer isso Gabrielle será salva.

– Você já falou com ele?

–Já, ele vai pensar no assunto.

–E como você vai salvar a Gabbe?

– Vou impedir a Murder que foi enviada para matar Gabrielle, num combate rápido eu posso acabar com Lana.

– Como você tem tanta certeza?

– Só se pode ‘matar’ um Murder se sua alma for exorcizada para descansar em paz.

– Exorcizada? Por acaso você é um demônio?

– Um subtipo de demônio... – Tentou corrigir.

–Credo, agora já não basta morrer, mas eu também tenho que trabalhar pro diabo?

–Não é bem assim... Mas voltando ao assunto, Lana tem uma afeição por mim, ela nunca teria coragem de me matar, por isso ela evita qualquer tipo de combate direto comigo.

– Ah bom... Mas e se ela desistir de você?

– Não vai. Ela nunca desiste de nada, de certa forma esse é um defeito destrutivo...

–Seja o que você tenha que fazer, faça logo. – Nicky acenou se despedindo e dobrou a esquina para sua casa.

Johnny não tinha moradia naquele mundo humano, e precisou voltar para saber a resposta de Joseph. Murders não viviam naquele universo.

–É... Não existe viagem mais chata do que atravessar um buraco negro... – Collin resmungava toda vez que tinha que voltar para o universo das almas... Mas não é muito confortável ter seu corpo desintegrado por completo.

...

– E então? Pensou no que eu lhe pedi? – Johnny já não estava mais tão paciente.

–Sim, eu vou fazer isso por você, mas eu vou precisar de tempo para juntar forças para mudar o tempo humano. – Joseph era velho, não podia mudar o tempo de um planeta inteiro de uma hora para outra.

– E quanto tempo isso vai demorar?

– Um ano.

–Um ano?! Eu não posso esperar um ano!

– Prefere esperar ou nunca mais ver a menina de novo?

– Tudo bem... Mas o que eu posso fazer pra esse tempo ficar mais curto?

– O tempo será o mesmo. Se distraia e você irá suportar.

– Se apresse ao máximo que você puder. Já estou voltando pra Valley Shore. – Collin se virou e saiu.

...

No dia seguinte no colégio, foi mais uma manhã vazia para Nicky e Johnny. Agora eles só tinham um ao outro para suportar a dor. Mas aquela dor provavelmente não seria eterna, e Johnny planejava contar a decisão de Joseph à Nicky no intervalo.

–Um ano?! Tudo isso?! – Nicky também não curtiu a ideia de esperar tanto...

–Pois é... Mas vamos sobreviver.

– Ainda bem que tenho você... Não suportaria isso sozinha sem esperanças...

– Está errada. Se eu não existisse, Gabrielle estaria viva com você.

– Desculpe, falei sem pensar direito... – Nicky se calou por um instante e fez uma expressão de reflexão. – Johnny.

– O quê? – Collin a olhou como se acordasse de um transe.

– Por que você nunca chamou a Gabrielle de Gabbe?

– Acho meio que um desperdício não falar um nome tão impactante em sua forma original...

Nicky sorriu olhando para o chão, no fundo ela admirava o jeito como Johnny amava Gabrielle.

–É um bom motivo...

O Alarme do intervalo tocou anunciando o fim do mesmo.

– Vamos pra sala de aula, vão distribuir as notas das provas. – chamou Collin se levantando.

– Nem quero ver a minha prova de física... – Murmurou Nicky.

...

Todos se sentavam em suas carteiras na sala de aula, alguns apreensivos, outros convencidos, outros nem ligavam, mas o professor estava neutro, com sua pasta cheia de provas.

– Não tive tempo de organizar as provas em ordem alfabética, então irei entregando as provas aleatoriamente. – Anunciou o professor Nicholas. – Nicky Baker.

– Por que logo eu?! – Indignada e apavorada Nicky pegou sua prova sem olhar para a folha.

– E então? – Johnny queria saber a nota de Nicky.

– Nem quero olhar... Olhe você.

– 7.3, você está na média.

– Sério?!

– Johnny Collin. – Nicholas chamou para entregar a prova.

– Já estou indo.

–E então?- Nicky puxou a prova dele.

–8.9, não tão ruim... – Johnny falou num tom convencido.

–Sortudo!

– Gabrielle Travien. – Anunciou o professor.

Alguns se calaram.

– Ela faleceu já faz alguns dias professor. – Disse Becca.

–Pode deixar... Eu fico com a prova dela... – Disse Nicky com seus olhos pesados. Enquanto pegava a folha de papel, uma lágrima ameaçou cair, rapidamente ela esfregou os olhos e acabou deixando uma gota molhar a prova de Gabbe.

– 8.9 – soluçou Nicky. – não tão ruim... – Completou.

...

O dia na escola havia terminado, mas a mágoa de perder sua única amiga fez com que Nicky ficasse triste e calada quase o tempo todo, apenas Johnny era sua companhia.

– Depois de um ano tudo vai ficar bem... – Nicky sussurrava enquanto caminhava sozinha pra casa.

Talvez aquela fosse a volta pra casa mais longa da vida dela, com a prova de Gabrielle nas mãos, ela decidiu não a entregar para Martha, mãe de Gabbe, seria mais doloroso do que já estava para todos, ela não queria ser mais um fardo para Martha aguentar, Perder uma filha assim do nada não era algo do tipo fácil de superar, assim como perder uma quase-irmã.

...

– Ei Nicky!- Sussurrou Collin pendurado na Janela do quarto de Nicky.

–Johnny?! O que você está fazendo aqui uma hora dessas? Já passou da meia noite... – Nicky acordou intrigada.

– O Universo das almas é um tédio, e eu não tenho onde ficar aqui na Terra, então eu resolvi te incomodar – Disse Johnny rindo.

– Ah bom... Entra. – Convidou Nicky.

Nicky se levantou, e foi abrir a janela, Johnny tropeçou e desabou em cima de Nicky Baker, numa cena embaraçosa... Ouvia-se de longe o coração de Nicky palpitando, os olhares se cruzaram rapidamente, e se afastaram num susto repentino.

– Desculpe, desculpe mesmo, foi um acidente! – Johnny se desesperou, achou ter cometido um erro grave.

– Não, não tem problema, você não teve a intenção... – Disse Nicky envergonhada.

Um silêncio prevaleceu no quarto, um feixe de luz da lua quebrava a escuridão.

– Se você quiser... Eu vou embora. – Disse Johnny, num tom baixo.

– Não vai... Você pode ficar. – No fundo, Nicky precisava da presença embaraçosa de Collin, porque ele era o único que entendia sua dor...

–Tem alguém vindo! - Alertou Johnny, que rapidamente se escondeu no guarda-roupa.

A porta do quarto se abriu.

– Nicky? Ouvi um barulho, o que houve? – Perguntou a mãe de Nicky.

– Eu caí da cama. – Respondeu de supetão.

– Você está bem? Não está sentindo dor? – Perguntou preocupada.

– Não mãe, está tudo bem. Vou voltar a dormir.

– Está bem meu anjo... Boa noite. – A mãe de Nicky se despediu com um beijo, e fechou a porta.

Johnny saiu de dentro do guarda-roupa com cuidado, e verificou se estava seguro.

– Ela já foi. – Disse Nicky.

– Bom, eu já te causei muitos problemas por hoje... Te vejo no colégio amanhã.

Antes que Nicky pudesse impedi-lo, ele já havia pulado a janela e ido embora. De certa forma, ela estava se sentindo estranha perto dele agora. Mas ela precisava ser forte.