Let Me Go escrita por Mrs Jones, QueenOfVampires


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Hello, people! Mrs Jones aqui! Primeiramente, nos desculpem a demora pra postar. Nós temos outras obrigações e outras fics pra dar conta, então essa ficou meio de lado e pedimos desculpas por isso. Mas esse ficou bem grande, compensa os dois meses sem postar. Bem, como já sabem, a fic está chegando ao fim e este é o penúltimo capítulo. Sim, eu sei, todas nós ficaremos tristes com o fim dela, eu e a Queen principalmente, já estamos na depressão por ter que termina-la, mas tudo o que é bom dura pouco e não queremos prolongar demais pra não ficar maçante. Enfim... Esperamos que gostem e não se preocupem, não é a primeira e única fic que escreveremos, já estamos pensando em outra pra daqui a um tempo. No mais, aproveitem a leitura!



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Todos olhavam maravilhados para a Loba, mesmo os que já haviam visto aquela transformação outras vezes. Killian ainda estava chocado com a recente revelação e finalmente convencido de que precisava tirá-la daquela situação e salvá-la.

– Que coisa maravilhosa... - Cruella se aproximou e deslizou os dedos finos pelo dorso da loba - Que pele incrível!

– Fique longe dela! - Killian puxou a espada novamente e a apontou para a mulher.

Cruella deu dois passos para trás, olhou o capitão de cima a baixo e balançou a cabeça negativamente, com um sorriso debochado estampado no rosto.

– Veremos quem vai ficar longe dessa preciosidade. - Ela soprou uma fumaça verde em direção à Ruby.

No mesmo momento a loba, que rosnava baixinho para a mulher, sentou-se obedientemente nas patas traseiras e ficou encarando a figura alta à sua frente, como que em transe. Cruella gargalhou, acariciando o pelo reluzente do animal:

– Boa menina…

– Que fez com ela, sua bruxa? - gritou Catherine, apertando os punhos e aproximando-se corajosamente da loba. Ruby rosnou para a menina, exibindo os dentes longos e pontiagudos. Um fio de baba caiu de sua boca, conforme ela avançava na direção de Cath, que tropeçou e caiu de costas. - Ruby, sou eu…

– Não seja tola, garotinha - riu Cruella, segurando o cigarro entre os dedos e soltando uma longa baforada de fumaça para cima -, agora ela só obedece a mim… Se eu disser: “rosne”, ela rosnará…

Como ilustração do que a mulher acabara de dizer, Ruby começou a rosnar mais alto, ameaçando Catherine, que correu a se esconder atrás do pai.

– Se eu disser: “uive”... - continuou ela e Ruby uivou para a lua, erguendo a cabeça em direção ao céu - Se eu disser: “ataque o pirata”...

Killian se afastou rapidamente para o lado, no exato momento em que a loba tentou abocanhá-lo. Tendo como única defesa a espada em suas mãos, o capitão se colocou entre a filha e o animal enfeitiçado, que rosnava, babava e tentava atacá-lo. Enraivecida, a loba enfiou as garras no assoalho, deixando marcas profundas na madeira.

– Já chega! - ordenou Cruella e a loba aquietou, voltando a se sentar nas patas traseiras - Esta é apenas uma amostra do que posso fazer, querido Killian, não me obrigue a matar você e toda sua tripulação de… ratos… - estalou os dedos para o gordo, Horácio - Você, traga o pagamento! Rápido, rápido, não tenho a noite toda!

– Aqui, minha senhora! - Horácio lhe entregou um saco de tamanho médio, que Cruella jogou no chão, aos pés de Killian. O saco se abriu e o conteúdo derramou para o assoalho. Bolos de pedaços de papel retangular e verde. Havia também algumas moedas de cor prata. Pagamento mais do que suficiente para que Killian saldasse sua dívida.

– Pra você ver como sou uma mulher de palavra, darling – Cruella ajeitou o casacão de pele, deu uma última olhada no capitão e na menina encolhida atrás dele, então saiu andando em direção ao carro, com a loba em seus calcanhares. Abriu uma das portas traseiras para Ruby, que pulou para o banco. Antes de assumir o lugar do motorista, Cruella encarou o capitão, ameaçadora - Não ouse me seguir, Jones, sabe que a pequena aberração pode rasgar sua garganta antes que diga “Eu te amo”.

Bateu a porta, berrando para que os comparsas se apressassem. Gaspar ergueu as sobrancelhas, como se desafiasse Killian a fazer algo.

– Au revoir… - disse, afastando-se.

Horácio deu tchauzinho e seguiu o irmão, sua bunda gorda despencando para os lados conforme ele andava.

– Pai! Você não vai fazer nada? - gritou Cath esganiçada, vendo Cruella arrancar o carro, gargalhar feito louca e acenar. Killian encarava o dinheiro que vazava do saco. Não se abaixara para apanhá-lo, parecia em estado de hipnose, tão pensativo que estava - Pai! Está me ouvindo? Temos que salvar a Ruby.

– Você ouviu, Cath, agora Ruby obedece apenas àquela mulher assustadora - disse o senhor Smee, aproximando-se com o gorro vermelho nas mãos.

– E por isso vão permitir que Ruby seja escravizada, tenha a pele arrancada… talvez até seja morta! E o bebê? Vocês ouviram, ela está grávida!

– Grávida! - exclamou o senhor Smee, ainda chocado - Bem notei que aquela menina estava muito abatida. Pobrezinha, quem iria imaginar?

– Ah, bem notei que ela estava meio gorda - disse um marujo - e não podia estar engordando de tanto comer… Deus sabe o quanto nossas rações são míseras…

– Shhh! Cale a boca! - resmungou outro homem - Quer que o capitão se zangue?

– Pai, temos que resgatar a Ruby! Depressa, antes que aquela mulher horrível machuque a coitada! Pai! - Cath agarrou o pai pela manga de seu sobretudo - Está me ouvindo? Não vai fazer nada? Vai desistir assim?

– Até parece que você não me conhece, querida - sorriu Killian, voltando os olhos azuis para a filha - Eu sou um pirata, jamais me rendo, jamais recuso um desafio…

– Quer dizer que…

– Eu tenho um plano!

Enquanto isso, dentro do carro de Cruella, Ruby se punia mentalmente por ter obedecido às ordens daquela mulher. Mas o que ela poderia fazer se não conseguiu tomar o controle das próprias ações? Logo no momento em que ela tomou coragem de contar seu segredo, logo quando Killian tomou consciência e desistiu daquela loucura... Tinha tudo para dar certo, ela só precisava ter atacado Cruella ou fugido para longe, no entanto, fez o oposto.

– Não faça essa cara, lobinha... – Cruella falou, aproximando o rosto de Ruby, que deu um leve rosnado como resposta – Quieta!

E Ruby se calou contra a própria vontade. A mente daquela mulher maníaca trabalhava a todo vapor, pensando nas ótimas possibilidades que estavam bem à sua frente. Não bastava ter conseguido o lobo mágico, ela ainda trazia um filhote. Dois por um. O que ela faria? Esperaria que Ruby desse a luz e assim poderia ter um cachecol de lobinho no futuro? Ou deixava isso para lá e acabava com a história ali mesmo?

Por fim, sua ganância falou mais alto e ela decidiu esperar que Ruby tivesse o filhote. Isso era um alívio para a loba, assim teria mais tempo para pensar em como fugir ou em alguma alternativa mais radical, como se livrar permanentemente de Cruella... Mas Ruby não queria matá-la, a menos que aquela fosse a única solução.

Ao chegarem à grande mansão que a maníaca ocupava, Ruby sentiu um arrepio por todo o seu corpo. Pois apesar de ser um local bonito, grande e com um lindo jardim na frente, ainda seria sua prisão nos próximos meses.

Cruella a trancou em um quarto no último andar da casa, deixou comida e um copo com suco de laranja para quando ela voltasse a ser humana. O local era confortável, de certa forma, mas ainda assim ela precisava escapar, pois se dependesse das condições que passara ultimamente, era possível que seu filho nascesse prematuramente e isso diminuiria seu tempo para fugir.

Ruby pulou em cima da cama e se acomodou entre os travesseiros, desejando que o Capitão aparecesse e a tirasse dali. Mesmo com todo o mal que ele fez, ela ainda sabia que ele teve um motivo maior e ela entendia perfeitamente.

Enquanto isso, o Capitão estava no navio com seus marujos e começou a explicar seu plano para resgatar Ruby das garras de Cruella antes mesmo do amanhecer.

– Eu vou com vocês. – Catherine falou decidida.

– É claro que você não vai. – Killian a contrariou.

– Eu vou sim! Não tente me impedir, se me deixar no navio, eu fujo. – A menina colocou as mãos na cintura.

– E se eu te trancar na cabine? – O capitão ergueu uma sobrancelha.

– Quebro a tranca com uma pedra ou uma faca.

– E se eu tirar essas coisas de lá?

– Pulo a janelinha e vou nadando até a praia.

– E se eu colocar barras na janela?

– Vai mesmo desperdiçar o tempo que poderia estar usando para salvar a Ruby colocando barras na janela?

– Ah, maldição! – Ele resmungou – Tudo bem, mas tente não atrapalhar e fique atrás de mim.

– Tudo bem. – Cath sorriu vitoriosa.

Os marujos pegaram cordas, facas e algumas armas. Killian deixou bem claro que a prioridade era o resgate de Ruby, mas que não hesitassem em fazer o que fosse preciso para tirá-la de lá. As ruas estavam vazias e silenciosas naquela madrugada, o que facilitou o caminho dos piratas até a mansão.

Ao se aproximarem dos portões de ferro com mais de três metros de altura e o muro de pedras ao redor da casa, o capitão informou que teriam que escalar para entrar. Smee prendeu ganchos nas pontas das cordas e todos as lançaram por cima do muro para subir.

– Cath, você sobe depois de mim... – Killian avisou – Cath?

– Estou aqui! – A menina acenou do lado de dentro do portão – Passei pela grade!

– Você está louca? Fique parada aí! – O capitão subiu o mais rápido que pôde e depois desceu do outro lado.

– Que casa linda! – Catherine admirou o local – Eu ia gostar de viver em um lugar assim.

– Catherine Ann Jones! – Killian grunhiu – Eu disse para ficar atrás de mim!

– Ah, mas vocês são muito lerdos e foi bem mais rápido passar pela grade... – Ela deu de ombros.

– Estou me arrependendo de não ter perdido tempo te trancando na cabine.

Os marujos chegaram ao lado de dentro e deixaram as cordas no muro para quando fossem sair, eles se esgueiraram pelas sombras do jardim, atentos a qualquer sinal de outras pessoas. Logo chegaram ao quintal da mulher e decidiram entrar pela porta dos fundos, no entanto deram de cara com cinco dálmatas rosnando para eles.

– Era só o que me faltava... Deêm um jeito nos cachorros. – O capitão ordenou.

– Mas capitão, os animais estão enfeitiçados... Os coitados não têm consciência. – Smee falou com pena.

– Então alguns terão que ficar para distraí-los enquanto entramos! - Killian revirou os olhos, perguntando-se onde fora arrumar uma tripulação de homens tão covardes - Cath, você fica com Smee, ele vai protegê-la.

– De jeito nenhum, eu vou com você!

– Catherine Ann Jones…

– Me chamar pelo nome completo não muda o fato de eu ser teimosa como o homem que me concebeu - falou a menina, cruzando os braços e fazendo o pai rir.

Tiveram a atenção desviada para os cães, que rosnavam alto, babando e fincando as unhas no chão. Os dalmátas se aproximavam vagarosamente, ameaçando atacar, visando assustar os homens. Smee se encolheu atrás do capitão, que puxou Cath para trás de si com um mão, ao mesmo tempo em que erguia a espada com a outra.

– Pode ir, capitão! - falou um dos marujos, em posição de combate, com os joelhos flexionados e a espada em riste - Nós damos conta!

Killian hesitou por uns momentos, até que Catherine o puxou pela manga do sobretudo, indicando um caminho que dava volta à casa. Não encontraram ninguém por ali, de forma que Killian quebrou uma janela com o cotovelo, enfiando a mão por dentro dela em seguida e puxando-a para cima. Havia uma sala de estar ricamente decorada do outro lado. Certificou-se de que a mesma estava vazia antes de erguer a filha e fazê-la pular a janela.

– Espere aí! - disse, ordem que foi ignorada por Catherine, que atravessou a sala e foi abrir a porta - Droga! Eu mandei esperar! - Killian se apoiou ao parapeito da janela com as mãos, usando os pés para dar impulso. Furou a palma da mão nos resquícios de caco de vidro que ali sobraram e, desequilibrando-se, caiu do outro lado com um baque alto o suficiente para atrair a atenção de Cruella, ou pior, de suas feras ensandecidas.

Catherine, que vigiava o corredor escuro, revirou os olhos e voltou para ajudar o pai a se levantar.

– Você se cortou. - notou.

– Não foi nada. - Killian gemeu ao se levantar, enxugando o sangue na roupa. Estava ficando velho demais pra aquele tipo de coisa - Vamos. E fique atrás de mim!

Saíram para a penumbra do corredor, fracamente iluminado pela luz da lua. Killian estava se perguntando onde estava Cruella, que já devia ter acordado com toda aquela barulheira. Deu graças aos céus, porém, quando não a encontraram. Arrependia-se amargamente por ter trago a menina e pensava que a mulher insana bem poderia usá-la para atacar sua fraqueza.

– Pai, a Ruby deve estar num desses quartos… - Sussurrou Cath, a mão do pai segurando seu pulso esquerdo.

– Cruella não a trancaria aqui, seria óbvio demais. - Sussurrou de volta o capitão, atento a qualquer ruído que viesse de dentro da casa - Não acho que aquela mulher se arriscaria a deixar nossa lobinha sem um vigia na porta. Droga! Você não devia estar aqui.

Cath já não tinha energia para contrariar os pensamentos do pai. É claro que não era suposto que ela estivesse ali, mas já que estava… Alcançaram o final do corredor e deram com outra sala em estilo vitoriano, decorada de cima a baixo com folhas de ouro e afrescos numa das paredes. Uma lareira crepitava e uma suntuosa escadaria levava ao andar de cima. Jogados em divãs, Horácio e Gaspar dormiam profundamente, tão imóveis que se acharia que estavam mortos, não fossem seus roncos trovejantes. A mão de Horácio pendia do sofá, seus dedos segurando precariamente uma garrafa, cujo conteúdo derramara no tapete turco de Cruella. Gaspar babava, deitado numa posição entortada, que acabaria com sua coluna e o deixaria dolorido.

– Aposto duas moedas de prata como Ruby está lá em cima. - Cath murmurou para o pai, fazendo um meneio de cabeça em direção à escadaria. Killian apenas deu de ombros e subiu os degraus silenciosamente, ainda segurando o pulso da menina - Ainda está sangrando…

– Não é nada! Farei um curativo quando voltarmos ao navio. - Killian parou ao chegar lá em cima. Havia dois longos corredores, um à direita e outro à esquerda. O capitão,sendo esperto e conhecendo Cruella, imaginou que não fossem encontrar Ruby por ali. Não, aquela mulher podia ser completamente insana, mas não era burra. - Ruby não está aqui, Cath… Tem que ter uma masmorra ou algo do tipo…

– Eu pensei ter visto uma torre quando viemos pra cá…

Killian seguiu a filha, que tomou o corredor da esquerda, dizendo que vira a torre do lado oeste da casa. A iluminação era feita por delicados candelabros de parede. Por um momento, Killian pensou em atear fogo à casa para causar a distração que precisavam, mas isso arriscarias as vidas de ambas Cath e Ruby. Optaram por encontrar a torre primeiro e criar uma distração depois.

– Os cães pararam de latir. - Notou o capitão, apurando os ouvidos - Aqueles fracotes devem ter dado jeito nos bichos. Fique atrás de mim, Cath, nunca se sabe quantas bestas assassinas Cruella deve ter.

– É nossa primeira aventura juntos. - Sorriu a menina, o ar de perigo preenchendo suas veias com adrenalina.

– Já tivemos dezenas de aventuras a bordo do Jolly Roger!

– Você não me deixou participar de nenhuma delas… Sempre trancada na cabine…

– Não é hora para reclamar, Cath.

A menina se calou, pois deram com uma porta fechada. Entreolhando-se, pai e filha concordaram silenciosamente. Cath ficou atrás do pai, enquanto o mesmo girava a maçaneta e abria a porta lentamente, com um rangido. O homem esquadrinhou o espaço, imerso em completa escuridão. Podia ver os contornos de um divã perto de uma lareira apagada. Uma fresta de luz do luar penetrava por uma cortina entreaberta. Antes que Killian pudesse impedi-la, Catherine entrou na sala, certa de que a mesma estava vazia. Atravessou o espaço e abriu uma das cortinas, permitindo que a luz da lua iluminasse o local.

– Dê um bom motivo a um homem apaixonado e ele percorrerá o inferno pela mulher que ama…- Disse Cruella, parada a um canto escuro. A mulher veio para a luz, segurava um cigarro aceso entre os dedos e sorria com exagerada satisfação. - Parabéns, meus caros! Passaram por meus cães, mas não podem sobreviver ao que está por vir. - Expirou fumaça para o alto, uma mão apoiada ao divã - Que tolice vir até aqui, Jones. Sabe que a lobinha pode acabar contigo em dois tempos, basta que eu dê a ordem.

– Bem, eu não estou vendo Ruby aqui. - O capitão abriu os braços, sorrindo com escárnio - A não ser que ela se materialize no meio dessa sala, não acredito que possa me impedir de acabar com você. - Com a espada em riste, marchou em direção a mulher, que sorriu.

– Oh oh! Olhe duas vezes, queridinho!

Killian se virou bem a tempo de ver a loba fincar as garras numa porta atrás dele. A distração deu tempo a Cruella, que arrancou uma adaga do meio dos seios e partiu para cima de Catherine, que gritou e se encolheu contra a parede. A mulher agarrou a menina por um braço, colocando a adaga contra seu pescoço.

– Péssima ideia trazer sua garotinha, Jones! - Gargalhou.

Killian grunhiu, irado. Atrás dele, a loba destruia a porta, arrancando lascas na mesma. Em questão de segundos a fera estava solta. Rosnava, exibindo sua bocarra de dentes afiados, os olhos completamente vermelhos e brilhando à luz do luar. A loba passou a língua pelos lábios, salivando. Killian deu dois passos para trás, descrente de que uma simples espada poderia salvá-lo. Mesmo que pudesse, não teria coragem de machucar Ruby.

– Não, Ruby! - gritou Cath, agarrada pelos dedos finos de Cruella. - Papai!

– Ruby, sou eu, sou eu, Killian… Por favor, lobinha…

Cruella gargalhou friamente, agarrando os cabelos da menina e mantendo sua cabeça imóvel.

– Assista enquanto seu papai morre, menininha. Mas não se preocupe, você será a próxima - alisou o pescoço da garota com a adaga afiada, com força o suficiente para arranhar a pele fina - Será uma morte lenta e dolorosa, eu posso afirmar - E soltou outra gargalhada, que ecoou pela sala.

– Ruby, sou eu… Você se lembra, é o Killian! - O capitão se afastava, caminhando de costas, conforme a loba caminhava em sua direção, rosnando em ameaça.

– Amor verdadeiro não vai salvá-lo agora, Jones. Ela obedece unicamente a mim. Não há nada que possa fazer para quebrar este encanto. O sangue em suas mãos só vai atiçá-la mais ainda…

– Papai! - guinchava Cath, contorcendo-se em dor, porque Cruella puxava seus cabelos com força - Papai!

– Ruby, você sabe que sou eu. - dizia Killian, as mãos em pose de defesa com a espada bloqueando um possível ataque - Você tem consciência disso, apenas se esqueça do que ela lhe diz e saia desse transe. Ruby, por favor…

– Mate! - rosnou Cruella e Catherine gritou quando, num salto, Ruby atacou o capitão, fazendo-o cair de encontro à parede.

– NÃO! PAPAI!

– Ruby, sou eu! - a espada de Killian escorregara para perto da lareira quando ele caíra. Estava longe demais para que ele conseguisse apanhá-la. A loba avançou para o homem, tentando pegar seu pescoço com os dentes. Killian se defendeu com os braços, segurando a cabeça da loba e afastando-a. Olhos azuis e vermelhos se encontraram. Pela última vez, Killian implorou - Por favor, Ruby…

A loba o encarou de volta, seus olhos se estreitando e voltando à cor amarelada natural. Um fio de baba caiu no rosto de Killian, imóvel sob a fera. Ruby rosnou, abaixando a cabeça como se fosse atacar o homem. Ao invés, porém, lhe deu uma lambida no rosto, antes de voltar-se bruscamente e saltar sobre Cruella. A mulher - que até então estivera gargalhando -, soltou um guincho de terror, perdendo o controle sobre Catherine e soltando a garota, numa tentativa de colocar os braços na frente do corpo em defesa. Catherine caiu no chão para sair do caminho e Ruby atacou a maníaca com as patas da frente, jogando-a em direção à janela, que explodiu em cacos quando a mulher caiu por ela. Ouviram o grito agoniado de Cruella, que despencou lá embaixo com um baque.

– Papai! - Catherine correu para os braços de Killian, que se erguera. O homem envolveu a garota num abraço afetuoso, esmagando-a contra seu peito.

– Está tudo bem, meu amor, tudo bem…

– Está me sufocando… - ela protestou, livrando-se do aperto e afastando-se para dar uma olhada no rosto do homem - Achei que fosse perder você…

– Por um momento, também achei que fosse para o beleléu - sorriu ele de lado, retomando seu costumeiro ar piadista. Apanhou a espada no chão, enfiando-a em seu cinturão. - Ruby…

A loba estava sentada nas patas traseiras, assistindo quieta ao momento entre pai e filha. Soltou gemidos em forma de choro, talvez querendo dizer que sentia muito.

– Tudo bem, você não sabia o que estava fazendo - Catherine se arriscou a tocar no pelo da loba, que abaixou a cabeça aceitando o carinho da menina.

– Está livre, lobinha! - falou o capitão, aproximando-se para lhe acariciar o pescoço - Vou levá-la pra casa assim que voltarmos em segurança para o barco.

Ruby lhe lambeu a mão. Catherine, é claro achou a cena tão fofa que passou a lançar olhares sugestivos ao pai, que fingia não perceber, mas sorria de lado.

Desceram a escadaria e deram com os dois comparsas de Cruella ainda roncando e babando, sem nem fazer ideia do que acabara de acontecer. Se o mundo acabasse, pensou Killian, eles nem acordariam para ver. Saíram pela colossal porta da frente, onde encontraram os marujos às voltas com os cinco dalmátas de Cruella, que corriam de um lado para o outro, balançando os rabinhos e latindo animadamente. Já não representavam uma ameaça, agora que não eram controlados pela mulher diabólica. Smee tinha uma perna ensanguentada e estava sentado no meio do cascalho do jardim.

– Tudo bem, Smee? - perguntou Killian, preocupado.

– Um dos cães me mordeu, nada muito grave.

– Ela está viva! - gritou um marujo e todos correram em direção à voz.

Cruella caíra por entre arbustos e pedras do jardim, numa posição estranha e toda torta. Gemia, semi consciente, com a maquiagem borrada, os cabelos bagunçados e cacos de vidro ao seu redor.

– Bem feito! - Cath lhe mostrou a língua.

– O que faremos com ela, capitão? - indagou Smee, que viera mancando.

– Deixem ela aí! Ela que espere aqueles dois palermas acordarem para socorrê-la.

Voltaram ao barco, Ruby caminhando alegremente ao lado de Killian e Cath, que já não tinham medo dela. Smee e os outros homens tagarelavam e a menina lastimava por não poderem ter um cão no navio. Killian apenas rolava os olhos e balançava a cabeça.

– Foi mesmo uma péssima ideia trazer você - disse, de mãos dadas com a filha. Cath riu e se agarrou ao braço do pai.

– Mas foi nossa primeira aventura juntos. Foi divertido, no fim das contas.

– Se pra você divertido for quase virar papinha de lobo…

Exausta, a menina acabou pedindo pelo colo do pai, que ficou surpreso, uma vez que não carregava sua garotinha há muito tempo. Cath dormiu em questão de segundos e, chegando ao navio, Killian a depositou na pequena cama da cabine. Voltou ao convés, onde a loba se sentara nas patas traseiras, admirando a lua. Não diria que ela era inofensiva, mas sabia que, por hora, não atacaria ninguém de que gostava. Jogou a capa vermelha sobre o animal e, depois de um brilho dourado, Ruby voltou à forma humana, ajeitando a capa nas costas.

– Eu sinto muito… Quase matei você... - disse, olhando-o nos olhos. Killian sorriu e ergueu uma mão para lhe tocar o rosto.

– Não sinta. Você não tinha controle sobre suas ações…

– Eu jamais me perdoaria se… - uma lágrima lhe escapou do olho esquerdo. Killian fez “shhh!” e enxugou a pequena gota.

– Esqueça isso. Estamos bem, você está bem… - seus olhos deram com a barriga da moça, que já mostrava um pouco de volume - Céus… todas as vezes em que joguei na sua cara que não sabia o que era se importar com alguém… Você podia ter me contado sobre o bebê, eu a deixaria ir.

– Eu não queria arriscar, conhecendo-o como conheço - respondeu ela, suspirando e acariciando a barriga - Mas sim, seria mais fácil ter dito a verdade.

– Ei, o que quis dizer com isso? - ele arqueou a sobrancelha, fazendo cara de indignação - Até parece que sou um trasgo malvado, que tiraria seu bebê de você… Bem, talvez… Mas eu não sou mais assim. Você podia ter me dito…

Calaram-se. Os marujos caminhavam por ali, tagarelando. Smee estava sentado num caixote, sua perna ensaguentada envolta por um pedaço de pano. Mandava rum pra dentro, embebedando-se pra aguentar a dor.

– Sabe, aquela hora na mansão, quando estava prestes a me atacar… - começou Killian, sem saber exatamente como continuar -... Como foi que venceu o feitiço? Eu quero dizer, ela disse que não era possível quebrar o transe, mas você quebrou.

– Eu não sei… quando eu olhei em seus olhos, de alguma forma sabia que podia vencê-la. Quero dizer, eu não queria matar você, mesmo com ela me obrigando.

– Mesmo? Achei que à essa altura você já quisesse me pegar pelo pescoço - riu ele, levando Ruby a acompanhá-lo. Os dois ficaram se olhando, a luz da lua delineando o contorno de Ruby e irradiando luz em volta da moça. - Eu fiquei preocupado, lobinha…

Killian se adiantou e capturou os lábios da moça entre os seus. Não foi tão intenso quanto o primeiro beijo na floresta, mas forte o bastante para fazer o homem grunhir e Ruby suspirar. Separaram-se quando Smee deixou cair a garrafa, que se espatifou.

– Hum, é melhor eu cuidar da perna dele - disse Ruby, marchando na direção do homem. Virou o pescoço para olhar o capitão - E é melhor você cuidar dessa mão.

– Você poderia fazer um curativo.

– Claro! – Ruby balançou a cabeça negativamente e seguiu até onde Smee estava sentado a olhando com um sorriso maroto nos lábios – Não fale nada, por favor.

– Como queira, senhorita. – O homem deu de ombros e se esticou para pegar outra garrafa de rum que estava em cima de um barril.

Depois de cuidar da perna de Smee, Ruby foi fazer o curativo na mão do capitão. Ele ficou observando os traços delicados no rosto da moça, que aparentava estar bem preocupada com sua mão, mas na verdade ela apenas não queria desviar o olhar e encontrar Killian a encarando.

Com todo o seu orgulho, o capitão nunca admitiria o quanto estava se corroendo por todo o mal que fez àquela moça, mas queria recompensá-la, não só pelo o que sentia por ela, mas por justiça. E por isso levá-la de volta para casa se tornou prioridade. Usaram o outro feijão mágico que sobrara para abrir o portal de volta para o reino que viviam e velejaram de volta à vila onde Ruby morava.

Ao chegarem lá, Ruby estava tonta, não pela gravidez e sim pelo nervosismo de rever sua avó, contá-la tudo o que aconteceu e ainda lidar com sua reação. O capitão disse que a acompanharia para apoiá-la e ajudar no que fosse preciso. E obviamente, Catherine insistiu que iria junto.

Quando chegou a hora, Ruby despediu-se dos marujos. Apesar de tudo, sentiria falta deles, principalmente de Smee que fora um verdadeiro anjo da guarda para ela no período em que esteve presa.

– Cuide-se bem, senhorita. – Smee acenava do convés.

– Muito obrigada, Sr. Smee. – Ruby acenou de volta quando já estava no cais.

O Capitão e Catherine acompanharam Ruby pela vila até a casa de sua avó para que nada acontecesse com ela. Mesmo escondida pela capa, algumas pessoas a reconheceram e ficaram cochichando ao se perguntarem se aquela era a neta da Sra. Lucas e qual o motivo dela estar acompanhada por um pirata e uma adolescente.

Quando estavam andando pela floresta, ambos acabaram recordando que ali fora o local em que se beijaram pela primeira vez. Killian olhou para Ruby pelo canto do olho e notou seu rosto corado e um pequeno sorriso querendo sair de seus lábios, o que fez o Capitão soltar uma pequena risada.

– O que foi, pai? – Catherine perguntou.

– Nada, apenas lembrei de uma coisa. – Ele deu de ombros.

Ruby parou de repente, assim que avistou a pequena casa de sua avó no meio da floresta. Ela temia o que estava por vir, temia que sua avó a julgasse e ficasse decepcionada, também temia ter causado tanta preocupação que poderia tê-la matado do coração.

– Ruby, vai dar tudo certo. – Cath segurou sua mão – Pelo o que conversei com sua avó, ela te ama muito e se preocupa com você. Garanto que ela ficará muito feliz ao revê-la.

– E se ela tiver morrido de tanto desgosto? Ou pior, se ela morrer de mais desgosto ainda?

– Pare de se preocupar tanto assim, tenho certeza que sua avó vai ficar aliviada por vê-la viva. – Killian se aproximou e tocou o rosto dela – Nós estamos aqui com você.

– Tudo bem... Vamos logo com isso.

Os três caminharam até a casa e Ruby abriu a porta, ela foi à frente e não pode conter as lágrimas emocionadas que caíram ao saber que estava em casa novamente.

– Quem está aí? – A voz da vovó veio do último quarto e Ruby suspirou aliviada ao constatar que ela estava viva.

– Vovó? – Ela chamou.

– Ruby?! – A senhora veio o mais rápido que pôde em direção à sala, ao ver sua neta parada a sua frente tomou um susto e começou a chorar de tanto nervosismo – Oh céus!

– Vovó! Não chore! – Ruby, que também se acabava em lágrimas, correu e abraçou a idosa – Sou eu, estou aqui.

– Minha neta voltou! Minha Ruby! – Ela a afastou e segurou o rosto da moça entre as mãos – Eu estive tão preocupada, eu sabia que havia sido levada pelos caçadores... Tive tanto medo que a matassem! Como você fugiu? O que aconteceu? Quem são eles? – Vovó apontou para Killian e Catherine que estavam parados no meio da sala.

– Bom, em primeiro lugar, quero pedir a senhora que escute antes de tomar qualquer medida ou de julgar qualquer um. – Ruby pediu – Esse é o Capitão Killian Jones e sua filha Catherine.

– Muito prazer em conhecê-la, senhora. – Ele deu um sorriso nervoso.

– Olá! – Catherine acenou – Nós já nos conhecemos.

– Oh! Sim! Você é a garota da feira! Para quem entreguei a capa... – A Vovó olhou novamente para sua neta que se encolhia por baixo da capa – Eu já não estou entendo nada, como você foi levada pelos caçadores e acabou indo parar em um navio com um Capitão que se veste feito um urubu?

– Ei! – Killian protestou.

– Na verdade, foram os piratas que me caçaram...

– Ah! Mas eu sabia que essa cara de cafajeste não me enganava! Como teve a audácia de raptar a minha neta? – Vovó puxou uma vassoura que estava no canto da sala e fez menção de acertar Killian na cabeça.

– Vovó! Pelo amor de Deus! – Ruby a impediu se colocando na frente dela e segurando a vassoura – Ele não sabia que eu era humana.

No entanto, ao fazer aquele movimento, Ruby não notou que soltou sua capa e ela se abriu. Vovó acabou tendo sua atenção voltada para outra coisa, a barriga de sua neta.

– O que... O que esse pirata fez com você?! – Vovó esbravejou – Oh Céus! Minha pobre netinha!

– Calma aí, eu só tenho uma filha e é essa aqui! – Killian logo se defendeu e apontou para Catherine.

– Pensa que me engana? Seu canalha!

– Vovó, por favor, me escute! Esse filho não é do Capitão! – Ruby gritava, tentando tirar a vassoura das mãos da avó – É do Peter!

– Ora, mas o Peter está morto há meses! – Vovó esbravejou.

– É vovó, mas... Aconteceu antes que eu... O matasse. – Ruby abaixou a cabeça e tentou reprimir a culpa que voltava a crescer.

– Ah meu Deus! Ruby Lucas! – A senhora puxou a cadeira e sentou-se - Minha nossa... Vocês nem eram casados...

– Eu sei, foi um erro.

Vovó respirou fundo, tentando retomar o controle para não ter um ataque do coração, e depois olhou para sua neta. Por muito tempo rezou e torceu para que ela estivesse bem, que estivesse viva, então nada mais importava.

– Oh, minha querida... Venha aqui. – Ela chamou Ruby para sentar-se na cadeira a sua frente – Eu estou muito feliz que esteja bem, isso é o que importa.

– Obrigada, vovó. – Ruby abriu um sorriso emocionado e depois olhou para Killian – E obrigada por me trazer em segurança.

– Era o mínimo que eu podia fazer, lobinha. – Ele piscou para ela – Acho que está na hora de voltarmos para o mar.

– Já? – Catherine fez beicinho – Mas...

– Ei, não precisa agir como se fosse a última vez que vão se ver. – O Capitão sorriu para a filha – Eu te trarei para visitar a Ruby sempre que quiser.

– Eu vou esperar por isso, Capitão. – Ruby levou as mãos para a cintura– Não quero perder o contato com minha cúmplice.

– Ah, seria um desastre se vocês não pudessem mais tramar coisas pelas minhas costas. – Ele estreitou os olhos e falou ironicamente.

– Ah, eu vou sentir sua falta! – Catherine correu até a moça e a abraçou – Eu voltarei o mais rápido possível.

– Não se preocupe, Cath. Estarei aqui... Obedeça seu pai, está bem? Apesar de tudo, ele só quer o melhor para você, nunca duvide disso.

– Eu sei, obrigada. – A garota a largou e se voltou para a Vovó – E foi muito bom revê-la.

– Igualmente, minha querida. Obrigada por cuidar da minha neta.

Ruby acompanhou os dois até a porta, deu outro abraço em Catherine e se despediu dela. Killian também abraçou a moça, por mais tempo que o necessário, já sentindo saudades de tê-la por perto.

– Fique bem, lobinha. – Ele se afastou e a encarou.

– Pode deixar, capitão! – Ela sorriu e o puxou para beijá-lo.

Killian arregalou os olhos, surpreso com a atitude de Ruby, mas logo correspondeu o beijo intensamente. Catherine abriu um sorriso de orelha a orelha com a cena e comemorou silenciosamente para não interrompê-los.

– Mas que pouca vergonha é essa? Ainda está aqui, pirata?! – Vovó foi até eles, erguendo a vassoura de forma ameaçadora – Já pode ir embora!

O capitão largou a moça e saiu antes que a senhora o alcançasse, ele acenou novamente, abraçou sua filha e sumiram entre as árvores da floresta.


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Notas finais do capítulo

Não ficou fofo esse capítulo? *---* Comentem, por favor. Beijos e até a próxima!