Let Me Go escrita por Mrs Jones, QueenOfVampires


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas, Mrs Jones aqui! Sim, faz muuuuuito tempo. Aposto como quiseram nos matar lenta e dolorosamente pela demora em atualizar. Bem, mais uma vez, pedimos milhões de desculpas. Estivemos bloqueadas com a história e não sabíamos exatamente como dar a ela um final digno. Claro, confesso, também nos agarramos demais a essa fic, nos recusando a termina-lá, porque a verdade é que a amamos. Foi uma experiência muito boa ter a Queen como coautora, porque os que já acompanham minhas fics sabem que tenho uma preferência pela escrita solitária. Bem, posso dizer que duas cabeças pensam melhor do que uma kkk e juntas fomos decidindo o que era melhor, o que entrava e o que devia ser excluído, o que não cabia e o que se ajustava ao enredo... Claro que teríamos prolongado a história se pudêssemos, mas não queríamos que ela perdesse a magia se, por acaso, inseríssemos novos conflitos que não se encaixassem muito bem. Enfim. Acho que todos haverão de concordar que demos um bonito fim a esta fic e que, muito provavelmente, fará com que pensem em milhões de possibilidades de como as coisas podem ter evoluído depois. Bem, os deixamos livres para pensar. Ficaremos felizes se todos aparecerem pela última vez para comentar. Devo dizer que quero repetir a experiência que tive com essa fic e que estou aberta a parceria com coautores. Interessados, me contatem por MP kkkk
A Queen manda um recadinho:
Oi pessoas, tia Queen aqui. Só queria agradecer, primeiramente a paciência de todos com nosso atraso, segundamente por acompanharem, comentarem e recomendarem. Também aos leitores fantasmas, que mesmo não se manifestando, estão por aí a cada capítulo... Foi muito legal escrever com alguém como a Mrs. Jones, quando começamos essa fic não éramos mais que conhecidas, hoje somos amigas/sisters kkkkkk espero ter outras oportunidades de escrever com ela em breve para trazer mais uma linda história pra vocês. Espero que gostem do final dessa daqui, mais uma vez desculpem pela demora. Nos vemos em breve, beijos, seus lindos
Bom, não nos prolongaremos mais. Esperamos que gostem! Aproveitem a leitura!



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Logo após deixar Ruby em casa, o capitão decidiu que estava na hora de quitar sua dívida com o Dragão. Sua única preocupação era com a curiosidade de Catherine, por isso ele precisou arrumar um jeito de contatá-lo sem ter que sair de seu reino. Cruella pagou muito bem pela captura de Ruby, o suficiente para que o capitão saldasse sua dívida e ainda sobrasse dinheiro. E foi com essa riqueza extra que ele pagou um anão que tinha contato com fadas para que pedisse a uma delas para levar uma mensagem ao outro reino.

O tal anão era bem mal humorado, mas por todo o dinheiro que lhe fora oferecido, fez o trabalho de bom grado. Alguns dias depois, ele trouxe uma resposta para Killian: o Dragão iria encontrá-lo em um beco por trás de uma casa abandonada na próxima vila que ele atracasse. O capitão achou estranho, não teria como saber a vila certa e nem muito menos a casa certa, mas ao considerar que o velho era muito poderoso e possuía certa “magia”, ele deduziu que o acharia de qualquer forma.

Killian deu a desculpa de que ia procurar novas informações sobre Barba Negra, assim não levantaria maiores suspeitas de Catherine. Ao atracarem, o capitão fez questão de ir sozinho até o local do encontro, portando apenas sua espada para o caso de ser algum tipo de armadilha. Quando chegou ao beco escuro, por trás de uma casa que fora incendiada e por isso estava abandonada, logo viu o homem, que trajava um kimono vermelho, encostado na parede.

— É bom reencontrá-lo, senhor Jones. – o Dragão anunciou.

— Igualmente, agradeço a paciência... – Killian se aproximou cautelosamente.

— Ah, eu sabia que você iria pagar.

— Sim, nunca arriscaria a vida da minha filha.

— E, além disso, é um homem de honra, eu posso ver. – o senhor se aproximou – O que fez pela moça foi muito nobre.

Killian surpreendeu-se com aquilo. Como ele sabia sobre Ruby? O quanto ele sabia?

— Obrigado. – o capitão pigarreou e em seguida pegou o saco de moedas de ouro em seu sobretudo – Aqui está o pagamento. Novamente, agradeço pela sua paciência.

— Foi um prazer negociar com o senhor, capitão. – o Dragão assentiu – Boa sorte com sua busca e com sua nova vida.

— Que nova vida? – Killian indagou, mas o homem havia sumido nas sombras próximas à parede da casa.

Aquilo ficou martelando a cabeça do capitão por alguns minutos, mas ele logo decidiu deixar para lá. Precisava voltar ao navio e continuar sua busca pelo Jolly Roger. O que importava era que a dívida foi paga e Catherine estava fora de perigo.

—---

Após vários meses roubando tesouros e buscando informações, Killian Jones finalmente conseguiu localizar e comprar seu navio de volta. Barba Negra não ficou muito satisfeito, mas o capitão pagou muito bem para ter seu precioso Jolly Roger de volta.

— O navio é mais mimado do que eu. – Catherine reclamou ao ver o pai analisando cada centímetro do convés em busca de alguma imperfeição.

— Eu preciso saber se aquele troglodita cuidou direito do meu navio! – Killian defendeu-se – Da próxima vez eu ofereço o Smee como pagamento.

— O quê? – Sr. Smee arregalou os olhos, o que fez o capitão e Catherine gargalharem.

— Pai, nós podemos visitar a Ruby? Já faz meses... O bebê já deve até ter nascido. – a garota pediu pela milésima vez.

— Não faz tanto tempo assim... Não sei se devemos voltar lá.

— Prometemos que voltaríamos! Pai, ela te deu o maior beijo e você não tem coragem de voltar lá? – Catherine levou as mãos à cintura.

— Cath... – Killian grunhiu, sua filha sempre insistia no assunto – Aquilo não foi nada.

— Não pareceu nada... – Smee se meteu na conversa.

— Você nem estava lá, homem!

— Mas a senhorita Catherine me contou. – o velho deu de ombros – É uma baita injustiça deixar a moça sem notícias suas, capitão. Ela realmente gosta do senhor.

Killian não respondeu e continuou a vistoria que estava fazendo, apesar de se sentir desconfortável com tamanha invasão, ele sabia que Smee estava certo. Ele devia à Ruby por tudo que a fizera passar e sentia que nunca a compensaria por aquilo. Então o mínimo que poderia ser feito era uma visita, obviamente não de mãos vazias; ele pensara em levar algo para o bebê, quem sabe uma pequena roupa de pirata... Tinha quase certeza de que seria um menino, um pequeno lobo.

— Tudo bem. – o capitão grunhiu – Vamos visitá-la.

— Ah! Graças aos céus! – Catherine levantou-se em um pulo.

Smee correu até o leme e mudou o curso da viagem. Quando os marujos souberam da notícia, não deixaram de ficar animados e todos queriam ir visitar Ruby.

— Isso não vai ser uma boa ideia. – Killian murmurou para Smee – Imagine um bando de piratas na vila, indo até a casa de uma senhora...

— Ah, não! Não vai ser assim, capitão! É mais provável que pensem que a senhora Lucas anda com piratas e passem a temê-la e respeitá-la.

— Claro! E isso é uma boa coisa?

— Eu imagino que sim! Ela vai ter privilégios, como escolher as melhores verduras na feira.

Killian apenas riu e balançou a cabeça negativamente. Ele não sabia bem o que diria ao chegar na porta da vovó com uma horda de piratas, provavelmente seria ameaçado com a vassoura de novo. E qual seria a reação de Ruby? Por um minuto, o capitão temeu que ela, com tanto tempo para pensar, notasse a tamanha monstruosidade que lhe foi feita e agora sentisse raiva ou nojo dele.

— Pai! – Catherine correu até onde o homem estava, carregando vários desenhos – Qual desses você acha que a Ruby vai gostar mais?

E ao dizer isso, ela despejou todos em cima de um caixote. Havia cerca de dez desenhos diferentes de lobos e Rubys, alguns em preto e cinza e outros bem coloridos. Killian pegou um que o chamou atenção, era o perfil de um lobo, com traços bem fortes e pretos e com o perfil de Ruby sobreposto e colorido em aquarela. Ele sempre soube do talento da filha para desenhos, mas sempre ficava surpreso com suas técnicas.

— Esse aqui, com certeza.

— Também é o meu preferido. – ela sorriu e recolheu os demais – Falta muito?

— Não, apenas mais um dia de viagem.

Ele só teria mais um dia para pensar no que diria quando visse a lobinha novamente. Após tantos meses longe, até mesmo a voz dela já estava sumindo de sua memória, então era bem provável que ele ficasse todo abobado quando a reencontrasse.

Todos trabalhavam bastante no convés e conversavam, alguns até tentaram parecer mais apresentáveis para visitar a moça e tentaram se limpar ou se perfumar. Não deu exatamente certo, mas a intenção era notável. Assim que o navio atracou e a rampa foi baixada, Catherine foi a primeira a descer, como um raio. Não só pela animação em rever Ruby, mas também por estar em terra firme. Já estava no meio da tarde e as ruas não estavam tão movimentadas como de costume.

Ao verem o grupo de piratas, muitos se encolheram ou guardaram seus itens mais preciosos com medo de que fosse uma invasão. Mas os homens passaram direto pelas barraquinhas e seguiram em direção à floresta, deixando os habitantes sem entender nada. Como não achara uma loja, Killian pegou um dos colares roubados em seu navio, levou para Ruby e uma pulseira de ouro para a vovó, afinal precisaria de algo para amolecer a idosa.

Quando finalmente avistaram a pequena cabana, logo perceberam que não caberiam todos ali dentro, então alguns esperariam para visitar a lobinha do lado de fora. O capitão aproximou-se receoso, com Catherine e Smee logo em seguida, e bateu na porta. Alguém resmungou do lado de dentro e veio em passos pesados para abrir. Claro, era a vovó.

— Mas quem será num momento desses... OH CÉUS! – ela surpreendeu-se – É o cafajeste!

— Quem? – Ruby gritou, choramingou na verdade, do quarto.

— O pirata urubu!

— Também é bom ver a senhora. – Killian assentiu ironicamente.

— Viemos visitar a Ruby. – Catherine deu um passo à frente.

— Ah minha querida, péssimo momento...

— VOVÓ! – Ruby gritou com todas as forças – EU VOU MORRER!

— O que está acontecendo? – Killian passou pela vovó, alarmado – Ruby?

— Ah, ela está em trabalho de parto e eu preciso encontrar uma parteira!  - a senhora bateu na própria testa – Mas não creio que vá dar tempo!

— Oh Céus! – Catherine alarmou-se – E agora?

— Homens! Vão buscar a parteira! – o capitão ordenou e os piratas rapidamente correram de volta para a vila.

— Capitão, lerdos como são, não voltarão tão rápido. – Smee comentou.

Mais um grito foi ouvido do quarto.

— VOVÓÓÓÓ!

— Acalme-se! Acalme-se! - a senhora encaminhou-se em direção ao quarto de Ruby, esbaforida.  - A parteira está vindo! Talvez até seja falso alarme.

— A bolsa estourou! - guinchou a outra, esganiçada - Não é falso alarme! E as contrações estão regulares, como me disseram que seriam quando a hora chegasse.

Killian enrijeceu ao ouvir a lobinha falar. Por que raios seu coração estava batendo com tanta força? Ele ficou ali, estático como estátua, encarando o bule que fervia no fogão à lenha. Catherine o encarava, como que o questionando. Parecia perguntar se ele tinha alguma pretensão de ir àquele quarto para ver a mulher pela qual estava apaixonado. Vendo o pai passar as mãos pelos cabelos, ela obteve a resposta. Suspirou, balançando a cabeça e o condenando: no quesito amoroso, ele costumava ser um tanto covarde. Afinal, mulher nenhuma fora amada por Killian Jones, a não ser aquela quem dera a luz à Cath.

A menina se adiantou e, sem nem pedir licença, foi adentrando a casa, seguindo as vozes das duas mulheres. Deu com Ruby sentada numa cama de casal, as mãos agarrando uma enorme barriga e lençois emaranhados a seus pés. A avó torcia um pedaço de pano sobre uma bacia de água morna. Dizia que a garota devia se acalmar, respirar fundo e aguardar a parteira.

— Ela é muito experiente! - tagarelava - Fez os partos de todas as mulheres da vila, incluindo o meu e o de tua mãe. Ah que dificuldade sua mãe teve para trazê-la ao mundo, minha filha, quase morreu de tanto gritar…

— Ruby! - Catherine correu e foi se enganchar no pescoço de Ruby, felicíssima por vê-la. A moça se assustou. Mal notara quando a avó dissera que o “pirata urubu” estava à porta. Estivera ocupada demais, berrando e se contorcendo de dor. - Que saudade!

— Cath! - sorriu Ruby, mordendo os lábios para não gritar. Deu uma boa olhada na garota. Como ela crescera nos últimos meses! Estava linda, a cada dia mais parecida com o pai - Achei que não fosse mais te ver.

— Bobagem! Eu prometi que voltaria. Mas você sabe como é meu pai...

Ruby subitamente enrubesceu. Ela andara suspirando por Killian Jones, é verdade. Nos últimos meses, até sentira uma incontrolável e quase involuntária vontade de estar com ele outra vez. Nada a deixara mais triste do que vê-los partir. O homem que tanto a fizera sofrer mas, por um estranho motivo, encontrara espaço em seu coração.

— Hum… Ele está aí? - perguntou.

— Mas é claro! - respondeu a avó, enérgica. Passava o pano úmido pelo rosto suado da neta - Só não teve coragem de vir aqui ainda. Melhor assim, minha filha, você não precisa se sentir constrangida por ele encontrá-la em situação tão vulnerável.

Killian e Smee se entreolharam, o homem mais velho postando-se à porta, não querendo entrar sem ser convidado. O capitão estivera tomando coragem. Temia que a loba o enxotasse. Talvez sua aparição a desagradasse. Smee, porém, deu a seu capitão um empurrão amigável, como um pai que encoraja o filho a caminhar sozinho pela primeira vez. Seu olhar dizia: “Vá até lá! Coragem, homem!”. Killian o encarou com espanto. Talvez nunca tivesse notado, mas aquele gorducho era o mais próximo que ele tinha de uma figura paterna.

— Como demoram! - queixava-se a vovó, andando de um lado para o outro, desatinada - Será que são tão burros a ponto de não encontrarem o caminho até a parteira?... Mas o que é que está fazendo aqui, seu cafajeste?!

A última frase, um grito, fora para o capitão. Ele parara à porta do quarto, espiando para dentro. Esperava encontrar uma Ruby toda descomposta e em posição de parto, mas, pelo contrário, a moça até que estava bastante apresentável em sua camisola branca. Cath sorriu quando os dois trocaram um olhar no mínimo abrasador. Ruby corou tanto que chegou a ficar da cor de sua amada capa vermelha.

— Oi! - cumprimentou o capitão, suas orelhas pegando fogo.

— Oi…

O homem deu um passo à frente, testando o humor da senhora, que o encarava entre indignada, raivosa e inquietada, tudo ao mesmo tempo. Como ela nada dissesse, não fizesse esforço por lhe bater a porta na cara, nem muito menos chutá-lo para longe, Killian acabou por entrar no cômodo.

— O pequeno está desesperado para sair, me parece. - comentou, fazendo um gesto em direção à barriga de Ruby, que assentiu. – Tudo bem, lobinha?

— Estou tendo intensas contrações em intervalos de dois minutos, é claro que não estou bem! – rosnou ela, entre dentes (o capitão deu um passo atrás, como que esperando ser atacado). Apertava os lençóis com tanta força que os nódulos de seus dedos estavam mais pálidos do que de costume.  – EU NÃO AGUENTO MAIS! ONDE ESTÁ A MALDITA PARTEIRA?

— Onde está a maldita parteira?! – repetiu a vovó, correndo aos pulinhos. Foi até a porta da frente, espiando para fora e esperando avistar os piratas ao longe. Nada. Só encontrou o velho Smee esvaziando a bexiga na árvore mais próxima. E ainda assobiava, o descarado. A velha arregalou os olhos, estarrecida, então retornou ao quarto, bradando aos quatro ventos – Aqueles patifes incompetentes devem ter se perdido! Eu mesma devia ter ido atrás da senhora Bronx! Aliás, é o que farei!

— A senhora não pode me abandonar aqui! – guinchou Ruby, ainda agarrando os lençóis, esperando a contração seguinte. Seu corpo já estava mais do que preparado para o parto. Em seu ventre, o pequeno filhote ansiava por vir ao mundo, cansado da escuridão em que se encontrava.  – Por Deus, não dá mais pra esperar!

— Você aí, cafajeste, fique com ela enquanto corro até a casa da Bronx. Não devo demorar mais do que cinco minutos.

— A senhora me desculpe – respondeu o capitão, em ar de quem não tinha psicológico para lidar com a situação -, mas com seus passinhos de tartaruga, vai levar o triplo do tempo esperado.

— Ora, seu... – a velha apertou os punhos, a cara enrugada começando a avermelhar – Pois fique sabendo que, apesar de velha e reumática, eu o venceria numa corrida de cem metros! Sou bastante veloz quando quero, sim senhor! Você vai ficar bem – deu palmadinhas numa das mãos de Ruby, que tinha os olhos marejados pela dor e desconforto – Você aí, pirata! Certifique-se de que ela fique calma. Volto num instante!

Killian se aproximou da moça, meio perturbado, enquanto a avó desaparecia porta afora. Catherine se postara ao lado de Ruby na cama, refrescando-a com o pano úmido que antes estivera em posse da vovó. O capitão balançava nos pés, nervoso. Suava dentro de seu casacão de couro, ante a tensão de ver o sofrimento da moça e não poder ajudar. E pensar que, quinze anos antes, ele tivesse passado pela mesma situação, assistindo ao nascimento da filha. Fez este comentário em voz alta e Ruby achou graça:

— Aposto que estava mais nervoso do que a Milah – riu - Você não entrou em pânico quando a bolsa estourou?

— Eu não!

A moça arqueou a sobrancelha. Ia dizer alguma coisa jocosa quando outra contração a fez gritar e agarrar a mão do homem. Killian gemeu, protestando, quando a garota por pouco não esfarelou seus ossinhos, tamanha a força que colocara no aperto.

— EU NÃO VOU AGUENTAAAAAR! PELO AMOR DE TODOS OS DEUSES, ESSA CRIANÇA TEM QUE NASCER AGORA!

— Acalme-se! Acalme-se! – Vovó surgiu, com cara de quem estava cansada. Arrastou-se até o centro do quarto, deixando-se cair numa poltrona – Não pude ir até a parteira, meu reumatismo está me matando! Mandei o velho gordo do gorro vermelho em meu lugar. Esperemos que ele seja rápido!

— A SENHORA NÃO ESTÁ ENTENDENDO! NÃO HÁ MAIS TEMPO!

— Você vai quebrar minha mão! – guinchou Killian, tentando livrar-se do aperto.

— VOVÓ, A SENHORA VAI TER QUE FAZER O PARTO!

— EU? Não, não... Eu sinto muitíssimo, muitíssimo...

— Se há alguém aqui que pode auxiliar a Ruby, este alguém é a senhora! – bradou o capitão. Ao que a velha recusou, balançando a cabeça terminantemente.

— Não posso! Não posso! – guinchou ela, dramaticamente – A minha bisavó era parteira, a minha avó era parteira, mamãe era parteira. Eu? Eu fui um fiasco! Desmaiei quando fui auxiliar meu primeiro parto. Você não entende, meu filho? Já teria feito essa criança sair, não fosse meu problema com sangue!

— Vai dizer que a senhora desmaia ao ver sangue? – Killian arqueou as sobrancelhas, desacreditado. Já nem sentia movimento na mão que Ruby agarrava.

— Pai! – Catherine gritou, tendo um estalo – Você pode fazer o parto!

— EU? Ficou louca, garota?

— Você auxiliou a parteira que fez o parto da mamãe! – argumentou ela – Não pode ser tão difícil se já fez isso antes.

Um silêncio fúnebre se fez no quarto. Todos encaravam o pobre homem, que, pela primeira vez na vida, viu-se prestes a botar o coração pela boca. Era esperado que ele, Killian Jones, um pirata cruel e insensível, ajudasse a garota-loba a parir?

Ruby assentiu em concordância, quase quebrando o pescoço com a força que fizera para balançar a cabeça.

— Você tem que fazer! – guinchou, agarrando-o pela manga do casaco e o forçando a olhá-la – É o mínimo, entendeu? O mínimo que pode fazer pra compensar tudo!

— Mas eu não sei o que fazer!

— Eu desaprovo! – a avó se ergueu, sentindo-se incrivelmente enérgica – Um homem fazendo o parto? Só por cima do meu cadáver!

— O que tem de mais? – retrucou Killian, indignado.

— Ora, pois se pensa que permitirei que veja minha Ruby em posição constrangedora, está muito enganado!

— Minha senhora, eu sei muito bem o que as mulheres têm por debaixo das saias. – respondeu ele, sorrindo de lado. Catherine segurou uma risada, vendo as bochechas da vovó enrubescerem. A velha bem teria ficado da cor de um pimentão, não fosse Ruby ter desviado a atenção para si mesma ao berrar.

— FAÇA ESSE PARTO LOGO, HOMEM! – ergueu uma mão, agarrando o capitão pela gola e berrando na cara dele – VOCÊ É UM PIRATA OU UM RATO? DEIXE DE SER MOLENGA!

— Está bem, está decidido! – falou ele, tão trêmulo quanto a bandeira do Jolly Roger ao vento –Catherine fará o parto!

— EU? Mas pai...

— Nada de “mas”! Você vai fazer, auxiliada por mim! Agora, verifique se ela está dilatada.

— E como é que eu vou saber?! – retrucou a menina, confusa.

Ruby queimou de vergonha quando Catherine se aproximou, incentivando-a a abrir as pernas, em posição de parto. A moça assim o fez, ignorando o fato de o capitão a encará-la. O lençol sob Ruby ficara marcado pela rodela úmida da água que escorrera pelo estouro da bolsa. Catherine erguera um pouco a camisola, espiando por baixo dela.  Lançou um olhar de dúvida ao pai, que revirou os olhos.

— Deixe que eu mesmo faço – falou ele, largando da mão de Ruby e assumindo o lugar da filha. Ruby queimou de vergonha quando o homem subiu mais a camisola, avaliando. A vovó soltou um guincho exasperado, arregalando tanto os olhos que ficou parecendo uma coruja de óculos meia-lua – Está pronta! Não dá mais pra esperar, estou vendo a cabecinha dele. Catherine, sente-se atrás da Ruby, apóie as costas dela. Senhora Lucas... a senhora está bem?

Ela assentiu, mais pálida do que os lençóis.

— Estou sim, meu filho, é a emoção! Nunca achei que fosse viver para ver o nascimento de um bisneto!

— Preciso de panos limpos e uma tesoura esterilizada.  – continuou o capitão, despindo o sobretudo e o atirando a um canto. Foi higienizar as mãos e braços na cozinha, enquanto Catherine corria a acatar a ordem do pai, postando-se atrás de Ruby, uma perna de cada lado do corpo da moça.

— Vai ficar tudo bem – disse, acariciando os ombros da jovem – Meu pai sabe o que fazer.

— Esperemos que saiba mesmo! – vovó trouxe alguns panos limpos e a tesoura que o homem pedira. Ocupou-se em esterilizar o objeto no fogo, enquanto Killian retornava ao quarto e respirava fundo.

— Bem, agora é com você! – ele apoiou as mãos nos joelhos de Ruby. Trocaram um longo olhar, o homem tentando confortá-la com um sorriso – Empurre com o máximo de força que conseguir.

Ela o obedeceu prontamente, forçando os músculos e berrando como condenada. Killian a incentivava com palavras carinhosas, verificando se o bebê se movia para fora. A vovó deu uma espiadela, para então cair no choro.

— Estou vendo! A cabeça está quase saindo! Força, amor!

— EU ESTOU FORÇANDO O MAIS QUE POSSO!

— Você vai quebrar meus dedos – murmurou Catherine, sufocada pelo peso da moça, que apertava suas mãos com uma força surpreendente. Ruby largou da menina para ir agarrar o lençol.

O capitão mantinha as pernas dela na posição, ele próprio suando em bicas. Seu nervosismo era notável. Tremia. Parecia até que ele era o pai da criança.

— Continue! Está qua... A cabeça saiu! – comemorou, entre riso e pranto, cuidadosamente amparando a cabeça do neném – Só mais um pouco, só mais um pouco, querida...

— Eu não agüento mais... – Ruby caiu no choro, seu corpo convulsionando em dor. A avó correu a lhe segurar uma das mãos, acariciando-lhe o rosto com a outra. – Eu não consigo...

— Consegue sim! Só mais um pouco, amor. Seja forte! Mais um pouco e eu prometo, seu sofrimento vai acabar!

E então, munida de toda a força que ainda tinha, Ruby deu mais um empurrão, seus olhos se fechando com o esforço e lágrimas correndo por sua face. Ouviu Killian soltar uma risada, comemorando. Vovó fungou, murmurando algo como: “Meu bisnetinho!”. Catherine abraçou a jovem, que piscou e abriu os olhos. O bebê berrava a plenos pulmões, amparado por Killian.

— É um lobinho! – comentou ele, em êxtase.

A avó envolveu a criança num tecido de algodão, para então entregá-la nos braços de Ruby, que desatou a chorar. No conforto dos braços da mãe, o nenê acalmou. Abriu e fechou a boquinha, então fez cara de quem estava feliz.

— Que coisa mais fofa! – fez Cath, expulsando as lágrimas que haviam se acumulado no canto de um dos olhos – Tem seu nariz, Ruby.

— Ah sim, se parece muitíssimo com ela! – vovó fungava, sentada na cama ao lado da neta – Mas aposto que vai herdar a personalidade do traste do Peter.

— Vovó!

Smee adentrou o quarto, sem ar e esbaforido.

— Estão vindo... com a parteira... – dobrou-se ao meio, arfante. Então notou a coisinha rechonchuda nos braços de Ruby – Ué! Mas já fizeram o parto?

— Ora, mas é claro! Demoraram tanto que o Killian teve de botar essa pobrezinha pra parir – respondeu a avó, revirando os olhos.

Você, capitão? – Smee se espantou.

— Me chamou de quê? – Killian se dirigiu a vovó, surpreso. Ela nunca o chamara pelo primeiro nome.

— De Killian, oras. Não é essa a sua graça? A Ruby vivia suspirando seu nome pelos cantos...

— Vovó! – ralhou a moça, queimando de vergonha. O capitão sorriu abobado.

— Tá chorando, capitão? – notou Smee, risonho.

— Eu não! – o outro disfarçou, enxugando as lágrimas com uma das mangas – Foi um cisco que caiu no meu olho.

— Aham! – gargalhou a velha, felicíssima. Agarrou o homem pela cintura, abraçando-o – Se não fosse por você, não sei o que seria da Ruby. Muito obrigada!

— Não tem de quê! – sorriu ele – Era o mínimo que eu podia fazer, depois de... bem, depois de tudo que a fiz passar.

Dali a pouco ouviram o vozerio dos marujos de Killian. Alguns deles entraram na casa, pedindo licença aos berros. Houve uma batida e alguém soltou um gemido.

— Cuidado com a cabeça dela, esclerosado! – xingou um dos homens.

— Ela é pesada! – resmungou outro.

— Mas que diabos... – vovó parou em meio à frase, aterrorizada, pois os marujos vinham carregando a pobre parteira, amarrada e amordaçada – Senhora Bronx! QUE DIABOS ESTAVAM PENSANDO?

— Ora, ela se recusou a vir conosco – disse um dos homens, que segurava as pernas da mulher – Não quis vir por bem, veio por mal!

— Soltem ela, a pobre da Ruby já deve estar... Ué! Mas já fizeram o parto? – o homem mais forte, que segurava a parteira pelo tronco, ficou perplexo, vendo aquela coisinha se remexendo no colo de Ruby.

O nenê gemeu e fez cara de choro.

— Acho que ele está com fome! – opinou Catherine.

— Aaaah que bonitinho! Até parece a Cath quando era pequena! – comentou um marujo, vindo espreitar o que acontecia – Venham ver! – berrou para os outros.

— Ué, mas já nasceu?

— Nem esperaram a gente! Quem fez o parto?

— Eu mesmo! – Killian Jones estava cheio de orgulho.

Os piratas começaram a entrar, todos afoitos por ver a carinha do bebê. Vovó ralhava com eles, gritando pra que não se amontoassem em cima de Ruby e a deixassem respirar. A parteira, então, resmungando pela desconfortável viagem que fizera até ali, foi verificar se estava tudo bem com a criança. Acabou por reconhecer o quanto o capitão fora responsável. Segundo ela, o homem salvara ambas a criança e a mãe. É claro, depois dessa, ele ficou todo convencido.

— A pergunta que não quer calar: qual vai ser o nome? – indagou ele, sorrindo todo bobo.

— Eric! – anunciou a jovem, um sorriso maior do que a cara. O bebê soltou um gemido de aprovação e todo mundo riu. Depois mudou para um murmúrio e seu rosto assumiu a expressão de quem estava faminto – Ele está com fome!

— Ok, todo mundo pra fora! – bradou a vovó, recuperando a energia – Ela vai amamentar!

Os piratas reclamaram em protesto, mas foram empurrados porta afora. A parteira foi-se embora, não querendo ficar muito mais tempo no meio dos homens que a haviam levado à força. De bom humor, a senhora Lucas convidou todos a tomarem café. Ouviu-se um coro de aprovação e então os homens se amontoaram na cozinha, falando pelos cotovelos. A velha encarou Killian com as sobrancelhas arqueadas. O capitão não desgrudara os olhos de Ruby por um instante sequer. Nem parecia ter intenção de sair de perto dela.

— Está bem, então fique! – exclamou a senhora, disfarçando um sorriso maroto – Acho que vocês dois têm muito o que conversar. – e se afastou em direção à cozinha – Quem quer um cafezinho?

— Eeeeeu! – fizeram os marujos em uníssono.

— Minha nossa, estou faminta! – Catherine falou exageradamente – Vamos, Smee? Acho que a vovó gostou de você.

— De mim?! Ora essa, menina, que é que você tem na cabeça? Tinha que ser filha de Killian Jones...

Os dois saíram para o corredor, Catherine piscando para o pai, marota. Smee fez o mesmo, fechando a porta atrás de si. Ruby nada notara, distraída que estava. Sorria ao amamentar o filho pela primeira vez. O nenê fez cara de satisfação, sugando o leite materno. Killian assistia à cena, sentado no braço da poltrona e sorrindo abobado. A garota notou que estava sozinha com o homem e enrubesceu. Ainda mais ao notar a forma como ele a olhava.  

— O que foi?

 - Nada... É que eu lembrei de quando Catherine era desse tamanho. Como o tempo passa!

Silêncio. Ruby voltou a dar atenção ao filho, segurando-o carinhosamente e com o cuidado de quem carrega vidro. Nunca carregara um bebê antes. Tinha medo de machucá-lo. O capitão notou a insegurança da moça e se aproximou, sentando-se ao lado dela na cama.

— Não tenha medo, é só segurar firme, sempre apoiando o pescoço e a cabecinha. Assim! – a auxiliou, com a segurança de quem entendia do assunto.

Ruby o encarou, ligeiramente emocionada. Nunca pensara que se apaixonaria por seu seqüestrador. Muito menos cogitara a hipótese de que o teria em seu quarto, a auxiliando no parto.

— Ele se parece muito com você – falou ele, as mãos por cima das mãos da moça. Sorriu ao ver o pequeno largar o peito da mãe e bocejar – Acha que ele vai herdar... a coisa do lobo?

— Provavelmente! Mas não vai ser afetado pela lua até completar treze anos.

— É muito tempo... Eric, o menino-lobo. Acho que ele vai ser mais bravo do que você, sabia? – comentou, em tom jocoso. Ergueu os olhos, apenas para encontrar os olhos brilhantes da lobinha. Ele nunca se lembrava: era perigoso demais fixar o olhar naquele par de esmeraldas. Surpreendeu-se quando Ruby o puxou pela gola da camisa, amassando seus lábios contra os dela. Soltou um gemido de apreciação, então ergueu uma mão para tocar o rosto dela sem interromper o beijo longo e intenso.

Mas logo tiveram o momento finalizado pelo leve resmungar do bebê. Assim que o capitão se afastou, a loba notou o que havia feito e a vergonha tomou conta de seu rosto, o que nem deveria mais ser possível depois de tudo que passaram nas últimas horas.

— Obrigada. – murmurou depois de acomodar melhor o bebê.

— Não foi nada... Eu estou feliz de ter ajudado, na verdade. – Killian sorriu, observando melhor o pequeno ser nos braços de Ruby – Sabe, eu vim o caminho todo pensando no que diria ao chegar aqui e com medo de ser enxotado... Ou pior!

— Pior seria se eu me transformasse e te atacasse?

— Por aí...

— E como foram as coisas nesses últimos meses? – Ruby quis saber.

— Foram bem. Eu consegui meu navio de volta, saldei minha dívida.

— Então a Cath está fora de perigo?

— Completamente.

— Fico feliz, capitão. – ela sorriu abertamente, se preocupava muito com Catherine.

— E as coisas por aqui? Digo, não deve ter sido uma gestação fácil... – Killian pressionou os lábios e engoliu a culpa em suas palavras.

— Eu superei. Tudo que passei apenas me deixou mais forte e provou que eu sou mais corajosa do que imaginava.

— É, uma mamãe loba que fez de tudo para proteger o filhote.

— Gente! – Catherine adentrou o quarto sem qualquer cerimônia – Desculpe por interromper, mas a vovó está, literalmente, descendo a vassoura no pobre Sr. Smee.

— Mas por quê? – Ruby indagou.

— Ao que parece, ele estava se “assanhando” para o lado dela. – a menina fez aspas com a mão.

— Céus! Será que eu tenho que resolver tudo por aqui? – Killian resmungou enquanto saía do quarto – Senhora Lucas! Por favor...

Catherine riu e encostou a porta do quarto, o bebê mal abria os olhos e se encolhia para dormir, bem acomodado no colo de sua mãe. A garota olhava maravilhada para o pequenino, nunca vira um bebê assim, tão de perto.

— Você quer segurá-lo? – Ruby perguntou ao notar seu olhar.

— Eu? Não! É tão... Frágil. – Cath tomou o lugar que antes era do capitão – Olha, eu trouxe isso para você.

Pegou o grande tubo e o desenrolou na frente de Ruby, que ficou tão maravilhada com o desenho que não pôde conter as lágrimas e o sorriso.

— Ficou perfeito... É a coisa mais linda que alguém já fez para mim!

— Que bom que gostou, eu fiz muitos outros, mas ficaram no navio. – Cath inclinou-se para ver o pequeno Eric mais de perto – Ruby, você vai criá-lo aqui?

— Eu não sei... Quer dizer, eu não queria fazer com ele o que fizeram comigo. – Ruby pendeu a cabeça de lado – Me esconderam quem eu era por muitos anos, ainda tive que lidar com os caçadores e também com um certo pirata me negociando. Nem posso imaginar meu filho passando pelo mesmo.

— Então, você já sabe para onde levá-lo?

— Ainda não, eu...

— Venha conosco! – Catherine a interrompeu – Por favor, Ruby! Ninguém no navio vai fazer mal a você ou ao seu filho.

— Eu não acho que seja uma boa ideia.

— O que não é uma boa ideia? – Killian perguntou, aparecendo repentinamente na porta do quarto.

— Eu chamei a Ruby para morar conosco, no navio. Assim ela não terá que se preocupar com ninguém fazendo mal a ela ou ao Eric.

— É, eu acho que seria uma boa possibilidade se não soubesse que a senhorita deve odiar o navio. – o capitão pressionou os lábios.

— Eu não odeio! – Ruby apressou-se em responder – É que não sei se vai ser uma boa ideia porque...

— Querida, eu ouvi tudo! – Vovó entrou no quarto também – Não que eu estivesse bisbilhotando, claro, e eu acho que seria uma boa ideia. Eu sempre quis sair daqui com você, mas nunca tive coragem, achava mais fácil mentir na sua cara, te escondendo do seu verdadeiro eu por causa dos trogloditas da vila.

— Mas...

— Me deixe terminar! – sentou-se ao lado da neta – E eu também acho que esses primatas fedorentos se importam com você! Do contrário, não teria um bando deles sentado na minha sala tomando café como velhas fuxiqueiras.

— Nossa, ela conseguiu ofender vocês e ainda ser adorável em menos de um minuto. – Catherine sussurrou para o pai, que deu uma risadinha.

— Eu posso falar? – Ruby ergueu um braço e todos assentiram – Eu fico feliz com o convite, de verdade, mas como criar meu filho dentro de um navio seria o ideal? Não me entenda mal, capitão, apesar de tudo eu o perdôo e te entendo... Mas não seria, no mínimo, estressante? Ele não será uma criança normal...

— Eu sei que não, lobinha. – Killian se aproximou – Mas pense que ele ficará seguro e você não precisa ficar conosco para sempre. – falou contra a própria vontade – Quem sabe no meio das viagens você não ache um lugar com boas condições?

— Viu? Apesar de tudo, esse urubu ainda pensa! – Vovó exclamou – Ah, não pense tanto, querida! Faça!

— Desse jeito parece que a senhora está me expulsando!

— O quê? Nunca, minha querida! E você fala como se não tivesse tentado fugir várias vezes de casa com aquele ousado, que Deus o tenha, ou até mesmo depois.

— Bom, se a senhora vai ficar bem e se não tiver maiores problemas... Eu acho que pode dar certo.

— Oh Céus! – Catherine bateu palmas animadamente e correu para fora do quarto – A RUBY VAI MORAR COM A GENTE!

O barulho dos homens comemorando ecoou pela casa, todos sabiam como as coisas ficariam mais leves com Ruby no navio para amolecer o capitão e até mesmo porque ela sempre fora muito gentil com todos.

— Ah! Eu quase esqueci! – Killian ergueu as sobrancelhas e colocou a mão por dentro do sobretudo, caçando as jóias que trouxera – Eram uns presentes, só para não vir de mãos abanando.

— Ora, mas veja só! O pirata tem bom gosto... – o olhar da senhora Lucas se iluminou ao ver a pulseira de ouro que o capitão a entregou – Aposto que foi roubado.

— É lindo, muito obrigada. – Ruby sorriu com o colar cercado por diamantes, ela o segurava quando o pequenino esticou a mãozinha para tentar tocá-lo.

— Olhem, parece que é atraído por coisas brilhantes. – Killian ressaltou.

— Sim. – Ruby abriu um enorme sorriso ao ver o brilho dos diamantes refletido nos olhinhos verdes de seu bebê.

—---

— Não esqueça de me mandar cartas, pelo menos uma vez por mês, ouviu bem? – Vovó repetia pela sétima vez a mesma coisa no caminho para o navio.

— Sim. – Ruby revirou os olhos, tentando não rir.

— E você, urubu, cuide bem da minha neta e do meu bisneto.

— Sim, senhora. – Killian assentiu.

Alguns marujos carregavam as coisas de Ruby e do bebê para dentro do navio, outros ficaram lá dentro arrumando a despensa de modo que ficasse apropriada para servir de quarto. Apesar de ficar triste com o fato de que sua avó não chegou a passar nem uma semana a ajudando com o bebê, ela sabia que era o melhor. O capitão prometeu que a ajudaria no que ela tivesse dúvidas, pois tinha passado pela experiência de ser um pai solteiro de primeira viagem e sabia muito bem as confusões que alguém naquela situação poderia fazer.

Quando todos embarcaram, Ruby correu até a borda do navio a fim de acenar para sua avó, que acenava de volta e com a outra mão enxugava as lágrimas.

— Será que ela está chorando por mim ou pelo Senhor Smee? – Ruby perguntou em tom de provocação.

— Como é? – Smee arregalou os olhos – Vocês são todos loucos... – falou sem jeito e foi para o outro lado do convés.

— Tem certeza que não quer levá-la? – o capitão perguntou, ainda olhando para a velhinha que acenava incansavelmente.

— Eu adoraria, mas não acho que ela vá se acostumar... – Ruby pendeu a cabeça para o lado, pensando um pouco e então gritou para a avó – VOVÓ! VENHA CONOSCO!

— O QUÊ? – vovó gritou, colocando a mão em concha na orelha para escutar melhor.

— VENHA CONOSCO! – a moça repetiu, se voltando para o capitão – Volte para buscá-la, Capitão.

— Er... Certo. – Killian foi até o convés gritando – REGRESSEM O NAVIO! VAMOS BUSCAR A VELHA RESMUNGONA!

Logo os marujos colocaram o Navio para dar meia volta, enquanto a Sra. Lucas não entendia nada pois não escutou uma palavra do que sua neta havia gritado. Ela andou rapidamente na direção do navio quando baixaram a rampa, acreditando que seria algum problema com o bebê.

— O que houve? – perguntou exasperadamente.

— Queremos que a senhora venha conosco. – Catherine falou, descendo a rampa – Não seria bom deixá-la sozinha e longe da sua família.

— Ah não! Eu não vou subir nessa coisa! – vovó deu um passo para trás.

— Por favor... – Ruby pediu – Pode ser melhor do que a senhora imagina.

— Minha filha, eu não sou uma criatura do mar como esses rapazes indecentes!

— E estou começando a repensar minha proposta. – Killian sussurrou para Smee que estava ao seu lado.

— Mas veja pelo lado bom, senhora Lucas... – Catherine foi até o lado dela, a puxando pelo cotovelo – Você verá seu bisneto crescer, poderá ajudar a Ruby e ainda por cima ficará de olho no meu pai para que ele se comporte.

— Como é que é? – o capitão ergueu uma sobrancelha.

— É... Pensando desse jeito, você tem razão, menina. – vovó encarou Killian – Alguém tem que controlar esse cafajeste! Eu vou mesmo!

Vovó terminou de subir a rampa e entrou no navio, já criticando tudo e a todos, gritando para que alguém a arrumasse um banco e para que buscassem suas coisas em casa, incluindo seu precioso material de costura.

— Deu certo! – Ruby sorriu para Catherine – Você a convenceu.

— Eu só disse o que ela queria ouvir. – a menina deu de ombros – E ela será uma boa companhia para o Sr. Smee... Olha lá, ele já foi ajudá-la a se acomodar.

Smee foi acompanhar a senhora até a cabine, levando logo um tapa na cara quando tentou segurar seu braço para guiá-la.

Quando o restante dos marujos voltaram com os pertences da vovó para o navio, eles puderam finalmente zarpar em direção ao horizonte e sem um rumo aparente. No meio da viagem, Eric adormecera nos braços de Catherine e ela o levou para a cabine deixando Killian e Ruby sozinhos no convés, ela estava ao lado do capitão no leme.

— Isso é tão estranho... – ela comentou, franzindo o cenho – Se alguém me dissesse que um dia eu estaria no navio do homem que me sequestrou e pretendia me vender para virar um casaco de pele sem odiá-lo... Eu iria rir na cara dessa pessoa.

— Bom, eu não sabia que belas moças se transformavam em lobas durante a noite, literalmente, então já podemos abandonar as coisas que são “inimagináveis”.

Ruby riu e se aproximou mais do capitão, encostando a cabeça no ombro dele e olhando o sol se pôr bem na sua frente. Killian deu um beijo na cabeça dela e a puxou mais perto pela cintura. Naquele momento não tinham um destino definido, mas pela primeira vez era bom navegar apenas pelo simples prazer de fazê-lo, parando em lugares novos apenas para conhecer e esbarrando em situações mágicas pelo simples toque do destino querendo dar uma animada na vida deles; tipo a vez em que acabaram indo parar na Terra do Nunca... Mas isso já é outra história.


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Notas finais do capítulo

Agora que chegaram até aqui, não custa deixar um comentário, né? Ficaremos felizes em saber como vocês imaginam o que acontece após esse final. Foi uma honra escrever essa fic pra você. Não posso deixar de fazer um pequeno merchan agora kkkk então visitem nossos perfis e conheçam nossas outras histórias:
Perfil da Queen: https://fanfiction.com.br/u/257974/
E o meu: https://fanfiction.com.br/u/98704/

É isso! Muito obrigada por tudo! Amamos vocês



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