“Eu estava no inverno da minha vida”

— Me... solta! — gritei enquanto me jogava para trás, tentando abrir a porta do carro enquanto Matthew prendia minhas pernas.

Abri a porta e me joguei. Notei que Carl se assustou com o barulho que fiz, pegou sua arma e esperou até que eu – vulgo algum andarilho – desse sinal de vida. Ligou sua lanterna em direção ao barulho e clareou meu corpo, fazendo com que eu, por instinto, tampasse meus olhos com a mão direita.

Escutei a porta do carro se fechando violentamente, eu tinha ativado a fúria de Matthew.

— Você nunca mais, eu disse NUNCA MAIS, faça isso de novo. — Matthew se colocou ao meu lado enquanto Carl descia do muro.

Eu o olhei pelo canto do olho por alguns segundos e depois voltei a olhar para o pequeno cowboy, agora na minha frente.

— Hope... Hope! — ele me examinou com a lanterna, bem feliz. — Obrigado! — sussurrou.

Tomou folego, me encarou por alguns segundos e me beijou violentamente. Eu não o retribui, apenas deixei que notasse o que estava fazendo, o que demorou um pouco.

— Ei, cara! O que pensa que está fazendo? — o loiro o empurrou, Carl notou sua presença alí.

Carl o olhou com um enorme ponto de interrogação estampado em sua cara, iluminada pelos faróis do carro. Me preparei psicologicamente para uma briguinha adolescente, em um apocalipse zumbi.

— Quem é você? Hope, quem é ele? — o pequeno cowboy perguntou, me olhando e olhando para Matthew rapidamente.

— “Quem é você” eu quem pergunto! — o mais velho bufou, depois olhou para mim.

Eu realmente não queria participar da discussão perigosa que aconteceria ali, mas eu não tinha escolha.

— Carl, esse é Matthew. Matthew, esse e Carl. — eu os apresentei.

— Quem você pensa que é para sair agarrando ela? — o loiro se aproximou de Carl, ele bufava.

O rosto de Carl era inexpressivo, seus olhos fitavam Matthew, que fazia o mesmo. O loiro parecia furioso, ele sempre foi exageradamente ciumento, e Carl havia passado dos limites.

A postura de Matthew estava dura, e a diferença de altura dos dois não era muita, mas a força...

— Então você é o garoto que a Hope achava interessante? — eu pude sentir o ciúmes em sua voz — Você deve ser cega, Hope.

Matthew riu sarcástico.

— Por favor, não briguem aqui. Olha só o que está acontecendo em Woodbury. — eles não se mexeram — Garotos!

— Quieta, Hope, — o mais velho aproximou os rostos — vamos ver o que ele tem.

Carl contraiu os dedos em direção a palma das mãos, a figura em sua frente já estava em posição de luta, e com um movimento rapido socou o rosto de Matthew, que riu desesperadamente. Sussurrou um “é só isso que sabe fazer” no seu tom mais assustador enquanto ia em direção ao cowboy, eu sabia que era minha hora de agir.

— Por favor, crianças, não se matem. — gritei enquanto os corpos iam para o chão, numa tentativa desesperada de “vingança”.

Ambos usavam todas as forças que conseguiam, Carl estava no chão e Matthew o enforcava enquanto o cowboy arranhava o rosto do loiro.

— Matthew! — gritei enquanto puxava Matthew, pelo cabelo e pelas roupas.

Ele se levantou e se colocou ao meu lado, limpando o sangue em sua boca com um sorriso estranho nos lábios, como se gostasse daquilo. Continuavam se entreolhando sem parar, aquela tempestade na minha cabeça não me deixava pensar direito. Carl se levantou e acariciou o lado dolorido do rosto, ele ficaria com péssimas marcas.

— Vamos, Hope. Você vai ficar aqui.

Eu suspirei, ficar com o Matthew era tudo que eu realmente queria. Mas, e Carl? E Daryl? Jeff?

Concordei com a cabeça, eu estava exasperada demais para discordar com alguma coisa.

— Hope. — Carl se aproximou, mas acabou sendo levemente empurrado por Matt, que ainda sorria.

Eu o encarei. Encarei seus olhos negros cheios de ódio, – algo que eu sempre tive um certo medo, afinal – mesmo a luz não me ajudando a encherga-los direito.

— Não fale que eu não tentei. — ele se afastou — Eu vou falar para Daryl, e ele pode fazer coisas horríveis para te levar.

Ao terminar de falar Carl voltou para o muro. A cada passo meu coração se apertava mais; ele já estava com uma corda para se suicidar.

— Carl... Espere! — gaguejei enquanto gritava essas simples palavras. Ele se virou provavelmente com esperança nos olhos. — Eu vou com você.

Suas expressões foram de tristes para surpresas num pulo enquanto Matthew pegava minha mão, eu não queria mais confusão.