Living escrita por Absolutas
Notas iniciais do capítulo
Demorei, eu sei. Podem me castigar. Mas meu tempo realmente anda meio escasso - e acho que ando um pouquinho desanimada pela falta de comentários e tudo o mais. Mas vou tentar não deixar isso me abater - e gostaria que vocês tentassem comentar com mais frequência... Eu quero saber o que estão achando.
Bom, sem mais delongas, vamos à história, né?
Boa Leitura!!
CAPÍTULO 5
Eu não me dera conta do quão rápido o tempo havia passado até ver pela janela a luz do sol despontando timidamente no horizonte. Eu havia esvaziado minha mente durante a noite, concentrando-me apenas na sensação física dos golpes das diversas modalidades de luta que eu conhecia – teria treinado com espadas também, porém não havia nenhuma aqui. Era assim que eu conseguia despistar minhas angústias: treinando.
Como era sábado, a academia não abria, então tomei uma ducha rápida no vestiário feminino e fui a pé até o café mais próximo. Depois de tanto treinar eu me sentia faminta; contudo não estava afim de enfrentar outra conversa constrangedora na pensão.
– Por favor, um capuccino médio e uma porção pequena de pães de queijo. – pedi a garçonete – uma garota com cabelos louros artificiais, tal como a pele bronzeada.
– Trago em um minuto. – ela então saiu deixando-me à sós com os meus pensamentos.
Estranhamente pensei em Elliot, em sua pergunta inconveniente sobre o modo como conseguira derrubar os três caras naquele beco escuro. Algo me dizia que ele sabia mais do que aparentava saber; pois para alguém que não entendia muito de artes marciais, o fato de eu ser professora de Muay Thai seria explicação o suficiente. Contudo ele parecera desconfiar de algo ontem, e a minha curiosidade queria desesperadamente saber o que era.
– Aqui está. – disse a garçonete.
– Sarah? – ouvi uma voz conhecida me chamar antes que eu pudesse agradecer a ela, a qual saiu quando me virei para ver quem era.
– Sunan! – cumprimentei-o. Sunan Jittatad era o dono da academia de lutas na qual eu dava aulas; ele era um tailandês alto e extremamente musculoso, a pele morena os olhos amendoados e escuros, tal como os cabelos negros e lisos – agora levemente desgrenhados. Ele montara a academia logo que viera da Tailândia, depois da morte da sua esposa, Daw Jittatad. Ela havia morrido em um acidente enquanto esquiavam em Bariloche. –Conhecidencia. – comentei. – Sente-se.
– Na verdade não foi conhecidencia. – discordou ele enquanto se sentava na cadeira a minha frente. – Eu a vi pela vitrine do café.
– Ah.- falei rindo um pouco.
– Enfim, eu precisava conversar com você e não quis perder a oportunidade.
– Sobre o quê?
– Vou precisar ir para a Tailândia por algumas semanas...
–Ah.
– Bem eu pretendo fechar a Academia pelo tempo que estiver fora, enfim, vai ser como suas féria antecipadas.
– Férias?
– Sim, mas é claro que pode treinar quando quiser, sei que gosta de ficar até mais tarde para lutar um pouco; - ele deu uma piscadela para mim, como se compartilhássemos um segredo. - e você tem a chave, então fique a vontade. Só vou fechar para as aulas.
– Ah, tudo bem. – dei uma pausa. - Mas, aconteceu alguma coisa?
– Vamos dizer que minha irmã está grávida e vai ter que se casar as presas.
– Sério? Achei que essas regras tinham ficado no passado. – soltei sem pensar.
Ele riu.
– Não para os meus pais. – esclareceu. – Enfim, tenho que estar presente de qualquer forma.
– E quando você vai?
– Amanhã mesmo. Já liguei para quase todos os alunos, mas não consegui falar com alguns, então queria que ficasse lá na segunda-feira para dispensar o restante.
– Não, tudo bem. – concordei.
– Bom, é só isso mesmo. Te vejo em algumas semanas. – despediu-se, ao mesmo tempo que se levantava da cadeira.
– Não quer me acompanhar? – perguntei por educação, enquanto apontava para a comida em minha frente.
– Eu adoraria, mas tenho que terminar de arrumar minhas malas.
– Ah sim. – assenti, comemorando internamente, o que eu mais queria agora era ficar sozinha.
– Tchau. – e então ele saiu do café me deixando feliz de certa forma: eu teria a academia inteira só para mim por algumas semanas, sem alunos, sem horários. Não consegui reprimir o sorriso.
***
Já passava das cinco da tarde quando eu fechei a academia na segunda-feira. Não havia aparecido muitos desavisados durante o dia, e eu ficara sozinha a maior parte dele; e ao contrário do que eu pensara, era meio solitário.
Estava trancando a porta da frente quando senti a presença de alguém atrás de mim.
– Saindo cedo hoje... – eu me virei e dei de cara com Elliot, usando uma camiseta verde com as mangas compridas, a qual deixava o verde de seus olhos mais brilhantes e notáveis. Notei que, apesar de ainda estar com as muletas, ele já havia tirado o gesso.
– O que faz aqui? – perguntei de forma rude. Eu ainda não queria vê-lo, não sabia o que pensar sobre sua pergunta.
– Ainda está na defensiva? – perguntou sarcástico.
– Ainda está aqui? – retruquei.
– Eu vim na paz.
– O que você quer ? - perguntei virando as costas para ele e caminhando até o meu carro. Ele parecia ter dificuldades para me acompanhar, por causa do pé que não estava totalmente recuperado.
– Eu queria saber por que esta tão chateada comigo... – eu virei para trás bruscamente e lancei-lhe um olhar raivoso. – e queria lhe fazer um convite.
– Não importa, não quero ouvir.
– Eu realmente estou desconfiado agora.
Eu bufei.
– Desconfiado do que? - perguntei em um tom de voz desdenhoso, enquanto o olhava da mesma forma.
– Você ficou extremamente afetada pela minha pergunta na semana passada. Tanto que me ignorou por dois dias.
– E porque isso importa para você?
Ele pareceu pensar por alguns segundos, talvez tentando escolher as palavras, ou talvez, pensando qual seria sua resposta.
– Para falar a verdade, eu realmente não sei. Só sei que você me deixou curioso.
– E eu estou curiosa para saber quando é que você vai embora, para que eu possa ficar em paz.
– Quando você responder minha pergunta. – retrucou.
– Não vou responder a sua pergunta. – eu pronunciei cada palavra lentamente, enfatizando o que eu queria.
– Ao menos vai me ouvir?
– Já falei que não vou aceitar nenhum convite seu.
– Nem se for para ir assistir a uma luta?
– Principalmente se for para assistir uma luta! – exclamei irritada. – Gosto de estar nas batalhas, não de assistí-las.
Ele sorriu.
– Que bom então, que meu convite não é para ir ver uma luta.
– Então porque falou aquilo. – perguntei confusa. Elliot conseguia ser estranho as vezes, eu simplesmente não acompanhava sua linha de raciocínio.
– Porque sei que você gosta de lutar, e foi uma forma de sondagem também: se você gostasse, seria minha próxima proposta.
Revirei os olhos.
– Você é um idiota, sabia?
– Eu sei, e é por isso que vim até aqui, mancando, com o tornozelo machucado, só para lhe fazer um convite que você nem quer escutar.
Ele sabia como me deixar com pena dele. E isso me deixava cada vez mais irritada. Bufei e fechei os olhos contando mentalmente até dez.
– Que merda de convite você quer me fazer Elliot? - se era pra ceder, eu tinha que continuar com a grosseria ao menos.
– Na verdade, é mais uma petição...
– Sem rodeios, por favor.
– Eu queria que me desse aulas de luta.
Por essa eu não esperava. Ele conseguiu me deixar sem fala por alguns segundos; fiquei encarando-o, me perguntando se ele estava mesmo falando sério. Por que ele iria querer ter aulas de Muay Thai?
– Está planejado se vingar? - soltei sem pensar, enquanto lembrava da cena em que vivenciamos no beco.
– Não mesmo.
– Então porque... Ah, não importa, a academia está fechada agora.
– Não precisa ser na academia, o porão da Sra. Croollyn está sem utilidade.
– Está bem, mas, o que o fez pensar que eu aceitaria?
– Você não perderia a oportunidade de lutar comigo.
Ponderei por um minuto. Quando ele colocava dessa forma, parecia realmente atraente dar aulas a ele, eu teria desculpas para feri-lo quando ele me provocasse. E o que eu teria a perder...?
Você não pode se aproximar dele, lembrei a mim mesma. Porém isso não era uma forma de aproximação, seria uma relação distante de professora e aluno; e sinceramente, me ajudaria passar o tempo, uma vez que eu estava sem alunos, sem amigos e de férias... Realmente não parecia uma ideia ruim.
– Tudo bem então, quando pretende começar? - cedi, por fim.
Elliot sorriu, um sorriso sincero de triunfo – deixando-o ainda mais bonito do que o normal. Notei então que ele tinha covinhas nas bochechas.
– Na semana que vem, meu pé já vai estar melhor.
– E só por curiosidade, por que quer aprender a lutar?
Ele sorriu e se aproximou um pouco, movendo a muleta para se equilibrar.
– Quero ficar mais perto da professora.
– Ah, por favor! – exclamei.
Ele riu.
– É brincadeira. – disse e então ficou sério. – Mas acho que os meus motivos... não lhe dizem respeito.
Eu arfei, soltando uma risada falsa depois.
– É, acho que eu mereci essa. – falei mais para mim do que para ele.
Elliot soltou uma gargalhada e eu o acompanhei. Por mais que devesse estar irritada pelo modo como ele falou comigo, eu não estava. Achava melhor que as pessoas falassem assim, abertamente; sem rodeios ou hipocrisia.
E era por isso que eu gostava de conversar com Elliot, pois por mais que ele fosse insistente e bem humorado demais, ele era o tipo de pessoa que não precisava ser decifrada; eu não precisava me esforçar para saber o que ele queria, ele simplesmente dizia, tal como eu o fazia. E eu tinha de admitir; eu preferia assim.
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Por favor comentem...