Fui pra escola no dia seguinte e Lucas nem se quer olhou na minha cara. Quando o vi chegar de mãos dadas com Rayane, como se nada tivesse acontecido, encarei o chão e fiquei cabisbaixa.

Contei pros meus amigos o motivo de minha tristeza, e eles ficaram revoltados. Disseram que eu fiz a maior burrada da minha vida, mas se eu quisesse ficar com Marcelo, tudo bem, contanto que eles não sejam obrigados a olhar na cara dele.

Quando sai da escola, fui direto pra sorveteria. Eu só não imaginava que Marcelo iria aparecer lá do nada.

– Como sabia que eu estava aqui? Ou melhor, como sabia que eu trabalhava aqui? – Perguntei, assim que o vi entrar.

– Ué... Eu tenho meus contatos. Alias, eu queria poder aproveitar cada minuto com você. Só vou ficar três dias. E amanhã eu já vou.

– O que? – Perguntei, mas não sabia que aquela indignação era por ele ir embora e me deixar, ou por finalmente estar indo embora.

Porém, não sei o que sinto por Marcelo. É tudo tão confuso.

– Eu sei que é meio estranho, mas eu prometo vir te visitar quando der.

– Ah, qual é Marcelo? Namorar a distancia?

– Tayse – Ele se aproximou – Se você me ama de verdade, vai me amar mesmo com a distancia. Vou vir pelo menos uma vez por mês. Prometo.

O problema, não é a distancia. O problema, é eu não ter certeza se esse amor existe.

– O que acha de fazermos alguma coisa só nós dois? Depois do seu trabalhinho? – Falou, e fiquei com um pingo de raiva por falar a palavra no diminutivo. Por que “trabalhinho”?

– Não sei, tanto faz – Respondi.

– Vou te levar no melhor lugar do mundo – Disse com um sorriso.

Forcei um sorriso e ele me observou enquanto eu atendia uma cliente. Quando terminei, ele se aproximou de mim novamente.

– Tô com tanta saudade da sua boquinha – Falou, e envolveu seus braços na minha cintura.

Acabei ficando contra a parede atrás do balcão, e ele, na minha frente. Olhei bem em seus olhos e não sabia se realmente queria fazer aquilo. Contudo, ele tinha certeza. Senti sua respiração se aproximar mais um pouco e fechei os olhos, contudo, não senti sua boca encostar-se à minha.

Por que algo mais forte me fez abrir os olhos e olhar pro lado.

Lucas estava ali. Quando ele viu que eu o vi, sem hesitar, foi embora e me deixou ali. Vi dor em seus olhos e afastei Marcelo de mim na hora.

– Lucas – Gritei, chamando-o, porém, ele não olhou pra trás. Só foi embora, me deixando ali sofrendo.

– - -

Evitei beijar Marcelo. Sabe por quê?

Por que quero permanecer o beijo do Lucas na minha boca. Um formigamento ali me fazia pirar e me arrepender por tudo que tenho feito.

Durante o jantar, Lívia percebeu minha tristeza e quando subi pro meu quarto, ela veio atrás de mim.

Inventei alguma mentira boba, mas ela não acreditou. No fim, resolvi contar a verdade. E acho que ela me deu o maior e melhor concelho do mundo. Um do qual não quero esquecer. Ela me disse que, quando a gente ama alguém, não temos duvidas. Tenho duvidas se amo o Marcelo. Mas tenho certeza que amo o Lucas. O pior é que já estraguei tudo, e não tem como voltar atrás.

Assim que ela desceu, refleti muito sobre minha vida. E cheguei a conclusão de que devo ficar com Marcelo. Eu e Lucas não temos chance, por que eu estraguei tudo.

Chorei o resto da noite e quando acordei no dia seguinte, recordei que era o ultimo dia de Marcelo.

Seu voo sairia as 14:00h, mas 12:00h ele teria que estar lá.

Vesti uma das minhas melhores roupas, porem simples e desci pra tomar café. Encontrei Laura lavando a louça, mas só trocamos um bom dia.

Senti meu celular vibrar e olhei a mensagem.

“Quero aproveitar que hoje é sábado e passar meus últimos minutos aqui com você.

Você pode abrir a porta?”

Encarei a mensagem por uns minutos até finalmente me tocar do que estava acontecendo. Corri até a porta e a abri.

Marcelo estava ali, com uma mão erguida, como se convidasse pra sair.

Dei um sorriso e peguei sua mão.

– - -

– O que acha de irmos ao parque municipal? – Marcelo perguntou, enquanto acariciava minha mão.

O encarei por um minuto. Na noite passada, resolvi esquecer Lucas de uma vez e seguir minha vida com Marcelo. Já o amei uma vez, por que não o amaria de novo?

A questão é que isso vai ser impossível se formos ao parque municipal. Pra mim, esse parque é meu e do Lucas, não meu e do Marcelo.

– Acho melhor não – Falei, em negativa – Por que não aquela praça onde há pistas de Skate? Você ainda tem o seu não tem?

Vi ele dar um sorriso enorme e assentir. Passamos em sua “casa” e pegamos o Skate. Vi ele dar várias manobras naquela pista ridícula e me senti completamente entediada.

Minutos depois, ele chegou em mim todo suado, querendo me abraçar.

– Na-na-ni-na-não! – Falei, o afastando com uma das mãos – Suado desse jeito?

Marcelo deu um sorriso sapeca e me encarou. Começou a se aproximar devagarinho e eu tive que correr. Como aquela fez em que corri de Math.

– Pelo jeito você continua engraçadinho do mesmo jeito – Falei rindo, enquanto corria.

Acho que pelo menos uma vez em semanas eu estava feliz. E isso me deixava mais confusa que nunca.

– Vem me dar um abracinho amor – Ele falou zuando, e consegui me agarrar.

– AHHHHH! Marcelo! Eu te mato! – Falei brincando – Que nojo! Você tá suado!

– Hum amorzinho – Ele falou brincando e me abraçou mais forte – Pensei que você gostasse de mim de qual quer jeito...

– Eu não gosto de você – Falei, mas acho que ele percebeu que era brincadeira.

– Gosta sim – Retrucou.

– Gosto não idiota retardado.

– Gosta sim – Falou mais uma vez, e antes que continuássemos com esse joguinho bobo, continuou – E pelo jeito você continua a mesma teimosa de sempre.

Dei um sorriso e me virei pra ele, finalmente me soltando.

– Só por causa dessa brincadeira boba sua, eu vou pra casa tomar um banho – Olhei no meu relógio – Já são 12:30, não era pra você estar no aeroporto?

– Claro que era – Falou – Mas prefiro ficar com você.

– Não Marcelo - Falei – Eu vou pra minha casa, e você vai pra sua. Não pode perder o voo assim. Te encontro lá, pode ser?

Ele assentiu e não retrucou.

Fui pra casa pensando na vida, e quando dei por mim, meus pensamentos já estavam em um loiro muito lindo.

Droga, pelo jeito, esquecer Lucas não vai ser fácil.

– - -

Tomei um banho e sai de casa quase 13:30. Quando cheguei ao aeroporto, Marcelo estava me procurando.

– Demorou – Falou e me deu um abraço – Mas pelo menos chegou viva.

– Há-há-há – Falei irônica. Sentei ao seu lado, no banco.

– Prometo que vou te mandar mensagens todos os dias – Falou – Você sabe que eu sempre gostei de você não é mesmo?

Não respondi, apenas fitei uma menininha tomando sorvete.

O problema, é que eu não tenho tanta certeza disso. Vários boatos correram pela escola, entre eles, de que Marcelo tinha ficado com quase todas as garotas do bairro dele.

– Eu sei que você deve ter ouvido muitas coisas sobre mim Tayse – continuou – Mas não acredite em nada, por favor.

Assenti com a cabeça devagar.

– Enquanto eu estiver longe, você promete que não vai deixar nenhum garoto se apaixonar por você? – Falou.

– Isso é impossível baby – Falei, já entrando no clima de brincadeira novamente.

Ele passou um braço ao redor do ombro, como quando namorávamos, e por incrível que pareça, não senti nada.

E foi nesse momento, que tirei a maior conclusão da minha vida. Mas é claro! Como não pensei nisso antes?

Virei em direção ao Marcelo e lhe dei um beijo. Assim, do nada. Ele levou um susto no inicio, mas logo cedeu.

Não senti nada. Nada de borboletas na barriga. Nada de tremores e essas coisas. Nada. Foi como encontrar um carinha em um bar e sair beijando ele.

Soltei-me de seus braços e me levantei.

– Olha... Desculpa Marcelo – Falei, me afastando – Mas não dá.

Ele me olhou sem entender nada e ouvi o anuncio de seu voo.

– Peraí Tayse! – Falou – Aonde você vai? Como assim?

Neguei com a cabeça e sai de perto. Fui me afastando e quando dei por mim, já estava correndo.

Correndo pros braços de onde em nunca deveria ter saído.