_Eu não vou sobreviver a isso! –disse Mateus olhando para a cadeira de rodas automática que seus pais haviam comprado.

_Mas é claro que vai filho, é para o seu bem! –disse Mariana ao lado da cadeira.

_Não, eu não quero. –disse o rapaz voltando seu olhar para o teto.

_Mateus, por favor, presta atenção, você precisa usa-la, você não pode passar o resto de sua vida deitado numa cama. –disse Beatriz segurando uma das mãos de Mateus.

_Não adianta, por que vocês não me deixam em paz simplesmente? –perguntou exaltando a voz.

_Mateus, eu sou sua mãe e não importa quantos anos você tenha você vai ter que me obedecer, você vai sentar na cadeira querendo ou não! Victor, por favor vá chamar os enfermeiros. –pediu a mulher impaciente.

Mateus não falou mais nada apenas se calou diante das palavras de sua mãe, Beatriz ainda o olhava já passavam das 09:00Hrs da manhã e ele havia ganhado alta, o rapaz estava com o maxilar trincado, era perceptível a revolta em seu rosto, ela não soube ao certo o que fazer, apenas segurou sua mão e apertou na tentativa de que ele sentisse seu toque mas aquilo era inútil. Os enfermeiros chegaram junto com Victor e os três ajudaram a sentar o rapaz que já estava pronto para ir pra casa na cadeira de rodas.

Mateus foi devidamente acomodado na confortável cadeira mas seu semblante fechado não havia mudado era como se ele não pertencesse a aquele lugar, sua mãe falou com ele e ele não respondeu e foi assim com Beatriz e Victor, então em silencio todos saíram do hospital rumo a luxuosa casa da família Diniz.

Por volta das 09:50 o carro de Mariana estacionou em frente a casa e Victor desceu para chamar dois empregados o jardineiro e o zelador para ajudarem na locomoção de Mateus, e quando o rapaz já estava dentro do seu quarto sozinho, Beatriz entrou e o encontrou olhando o jardim da sua janela de vidro que ia do piso ao teto.

_Hey! Como você está? –perguntou tentando parecer o mais animada possível.

_Como você acha que eu estou? –perguntou secamente ainda olhando para frente.

_Desculpe, sei que está sendo muito difícil pra você, mas... –disse ao ser interrompida pela voz ríspida de Mateus.

_Dificil? Sério Beatriz? Você usou mesmo a palavra “difícil”? Ah faça-me o favor de calar essa boca, você não faz ideia do que é estar condenado a isso, então não me venha com suas palavras idiotas de conforto. –disse exaltando a voz e deixando uma lágrima rolar por seu rosto.

_Não, por favor, não chore, me desculpe, isso tudo é realmente uma droga, mas vai melhorar Mateus, eu sei que vai. –disse a morena se aproximando da cadeira de Mateus ajoelhando-se a sua frente.

_Cala a boca Beatriz, vá embora! Preciso ficar sozinho. –disse apenas enquanto a moça segurava suas mãos entre as suas.

_Não, não me mande ir embora, pelo o amor de Deus, não faça isso novamente! –disse Beatriz encostando a cabeça no joelho do rapaz aos prantos sem vergonha alguma.

_Por favor! –disse apenas sentindo as lágrimas rolarem por seu rosto, em contrapartida Beatriz sentou no colo do rapaz e o envolveu em um abraço apertado chorando com a cabeça em seu ombro.

_Eu te amo mais do que nunca, por favor, não me mande ir embora! –disse em soluços no ouvido do rapaz.

_Beatriz... –foi tudo o que Mateus conseguiu dizer quando sentiu as mãos quentes da morena segurando o seu rosto encontrando seus olhos chorosos.

_Não, não e não, não adianta, você pode chamar a polícia se quiser, mas eu não vou embora, eu amo você Mateus, eu não vou sair daqui! –disse aproximando-se ainda mais do rosto do rapaz.

Beatriz sentia seu coração acelerar a cada centímetro que se aproximava do rosto de Mateus, ele estava com as maçãs do rosto completamente molhadas pelas lágrimas que ali rolaram, seus lábios estavam vermelhos e pareciam deseja-la como nunca antes, então quando ela estava a um centímetro de beija-lo, Mateus virou o rosto levemente deixando Beatriz beijar o canto dos seus lábios, ao sentir o que estava acontecendo ela recuou e procurou o olhar do rapaz.

_Você não me ama mais? –perguntou chorosa trazendo o rosto do moreno para olha-la nos olhos.

_Beatriz, pare com isso por favor! –disse ainda sem conseguir olhar no mar azul confuso e turbulento a sua frente.

_Anda, responda Mateus! Você não me ama mais? Apenas responda! –disse exasperada aos soluços.

_Não, eu não te amo mais! –disse Mateus com o olhar baixo.

_Olhe para mim! Olhe nos meus olhos Mateus! –ordenou com a voz um pouco alterada.

_Beatriz, eu sinto muito, mas eu não te amo mais! –disse Mateus reunindo todas as forças que lhe restavam para dizer aquelas palavras olhando nos olhos da moça.

_Eu não acredito em você! Isso é impossível! Eu não tive culpa, a culpa não foi minha Mateus! Se fosse você ao volante a mesma coisa teria acontecido, e Deus! Como eu queria que fosse eu sentada nessa maldita cadeira! –disse ficando de pé de frente para Mateus com a voz beirando ao histerismo.

_Beatriz, se controle! Eu sei que a culpa não foi sua, eu apenas não amo mais você, é só isso. –disse tentando manter um tom neutro em sua voz que já voltara a ficar embargada.

_Como você pode ser tão cruel comigo? –perguntou colocando as duas mãos no rosto em soluços sôfregos.

_Talvez seja por que nunca mais vou poder ficar de pé novamente, Beatriz! –disse gritando o suficiente para Mariana ouvir e ir verificar o que estava acontecendo.

_O mundo não gira ao redor de você Mateus, acho que está na hora de você começar a agir como o adulto que você é e levantar a cabeça! –disse tentando se acalmar.

_O que está acontecendo aqui Beatriz? –perguntou Mariana caminhando a passos largos rumo ao local onde eles estavam.

_Nada Mariana, nada! Eu só preciso ir! –disse apenas saindo do quarto a todo vapor deixando para trás um Mateus completamente destruído.

Beatriz pegou sua bolsa e chamou um taxi, ela falou seu endereço para o motorista e seguiu para seu apartamento, porém ela mal conseguia respirar, ele havia reunido coragem para dizer olhando em seus olhos que não a amava mais e aquilo estava matando-a a cada segundo. Após 30 minutos Beatriz chegou em casa e tudo o que ela fez foi correr até seu quarto e se jogar na cama, ali ela ao menos sentia-se um pouco segura. Depois de quase 40 minutos chorando o que estava virando rotina, ela acabou pegando no sono, só despertou quando seu celular começou a tocar. Era o Gabriel!

_Bia? –perguntou assim que a moça atendeu a ligação ainda sonolenta.

_Oi, tudo bem? –falou tentando espertar.

_Sim, mas liguei para saber como você está, o Mateus já ganhou alta? –perguntou atencioso.

_Sim, ele já está em casa, e sim eu estou bem Gabriel, muito obrigada! –disse calmamente sentando-se na cama.

_Você está mentindo Bia, é nítido em sua voz. –falou rapidamente deixando a morena surpresa. _O que houve? –perguntou preocupado.

_Só discuti com o Mateus, nada demais, estou bem acredite! –disse apenas tentando manter um tom de neutralidade na voz.

_Não fique assim Bia, as coisas irão melhorar, olha, eu andei pensando e o que você acha de vir para cá no próximo final de semana? Não precisa demorar muitos dias se você não quiser, só quero que se distraia um pouco, vai ser bom para você! –disse animadamente.

_Eu sei que será, bom, eu posso pensar um pouco? –perguntou deixando que um meio sorriso se formasse em seus lábios, a ideia de passar alguns dias com a leveza do Gabriel a animara.

_Tudo bem, pensei em você vir na quinta à noite e voltar no domingo... –disse um pouco hesitante.

_Eu vou pensar, prometo! Mas e você como está? –perguntou aconchegando-se novamente na cama.

_Estou bem, no momento estou tomando água de coco aqui na praia e pensando em você. –disse sinceramente.

_isso é por que você está falando comigo... –disse sorrindo.

_Não, isso é por que eu não paro de pensar em você, garota! –disse rapidamente.

_Gabriel... –falou em tom de repreensão.

_Desculpe mas as vezes é mais forte do que eu! –disse sorrindo.

_Okay, olha, eu vou almoçar agora estou morrendo de fome, acho que dormi demais... –disse apenas.

_Tudo bem, eu vou indo, preciso terminar o almoço lá em casa. –disse calmamente.

_Sendo apenas o homem perfeito heim... –disse Beatriz sorrindo com o canto dos lábios.

_Talvez, você irá a igreja a noite? –perguntou sorrindo

_Sim, preciso ir! E você? –perguntou interessada.

_Também irei, então até mais Bia, por favor, fique bem! Estou preocupado com você! –falou sinceramente.

_Eu sei, mas não fique por favor! –disse calmamente.

_Impossível! mas qualquer coisa me ligue por favor, e pense com carinho em minha proposta! –disse com um tom de sorriso na voz.

_Okay, até mais! Beijos. –disse sorrindo.

_Beijos! –disse por fim.

Beatriz desligou a ligação e se cobriu com o edredom que estava ali perto, ela iria almoçar logo menos mas ainda estava preguiçosa, ela bocejou e ficou a pensar no que Gabriel havia dito, ela queria ir, seria bom para sua cabeça, mas tudo dependeria de como a semana iria transcorrer, pois estava muito preocupada com Mateus mesmo após ter ouvido suas palavras cruéis. A morena ainda se demorou por mais 15 minutos ali em sua cama, depois levantou e foi verificar se havia algo para almoçar na cozinha, infelizmente sua geladeira estava vazia, pois ainda não havia feito compras, então sem demora ela pegou seu iPhone e ligou para Melissa.

_Hey, quer almoçar comigo hoje? –perguntou assim que a ruiva atendeu sua chamada.

_Pode ser, onde você quer ir? –perguntou a ruiva animadamente.

_No nosso restaurante faz algum tempo que não vamos lá... –disse enquanto comia uma maçã.

_Tudo bem, você vai passar aqui em casa ou nos encontramos lá? –perguntou Melissa.

_Eu vou lhe buscar, esteja pronta em 15 minutos estou morrendo de fome! –disse sorrindo.

_Okay! Beijos.

A moça desligou sua ligação e foi para o quarto, abriu seu guarda-roupas e escolheu uma saia cintura alta rodada preta de tecido e uma blusa branca de alças também de tecido, escolheu sua roupa intima e caminhou para o banheiro, tomou um banho rápido e após 15 minutos já estava pegando as chaves do carro para sair do apartamento.

Beatriz dirigia tranquilamente pelas ruas de São Paulo, até que virou a esquerda e estacionou em frente a casa de Melissa, ela buzinou três vezes até que a ruiva saísse de casa vestindo um vestido longo branco ordenado com flores coloridas e os cabelos soltos, Melissa estava linda, e tudo nela era simples porém o conjunto completo lhe tornava única.

_Pensei que você não fosse chegar mais... –disse a ruiva ao entrar no carro.

_Quanto exagero, eu não me atrasei! –disse dando um meio sorriso para a ruiva enquanto a mesma se acomodava no banco ao lado de Beatriz.

_O que houve Bia? –perguntou Melissa preocupada.

_O Mateus... –disse somente, sendo interrompida por Melissa.

_Não, pelo o amor de Deus Bia, o que o Mateus fala não se escreve! Ele está completamente fora de si, você não pode se deixar abater por causa das palavras dele, é obvio que tudo o que ele quer é te afastar para que você não fique com ele por pena. –falou sinceramente.

_Eu nunca sentiria isso por ele, meu Deus, eu o amo Mel! Ele poderia apenas sair desse posto ridículo que ele se colocou e lembrar que também me ama, seria tudo tão mais fácil... –disse irritada.

_Eu sei que seria, mas estamos falando do Mateus Diniz, então... –disse olhando para a morena.

_É eu sei... –disse sentindo as lágrimas arderem em seus olhos.

_E o Gaby? Ele ligou ou deu notícias? –perguntou curiosa endireitando-se no banco para ficar de frente para a amiga.

_Sim, bom, ele me convidou para ir a Recife nesse final de semana, mas eu ainda não sei... tem o Mateus e tudo... –disse sincera.

_Beatriz, pelo o amor de Deus! Tudo o que o Mateus quer é te ver bem longe! Não, sério, se você não for eu vou e simplesmente esqueço que ele é completamente apaixonado por você e que é meu amigo! –disse sorrindo largamente.

_Você não faria isso, a não ser que o Beto não existisse! –disse sorrindo amarelo.

_Quem é essa pessoa Beatriz? Não me recordo de ninguém com esse nome... –disse fingindo-se de desentendida.

_Essa pessoa, é um certo moreno que por um acaso é seu vizinho cujo você arrasta um caminhão inteiro por ele desde os 7 anos de idade... esse é o Beto! –disse a morena sorrindo de lado.

_Você não precisava ser tão detalhista assim, e não é um caminhão inteiro... –disse olhando para a frente pensativa.

_Ah não? E quem foi que encharcou a fronha do meu travesseiro quando viu uma loira saindo da casa dele numa manhã de domingo? –perguntou Beatriz olhando de lado para a amiga.

_Para Bia! Isso já é passado, agora eu estou livre e solta, feliz por estar solteira! –disse sorrindo com o canto dos lábios.

_Okay, sei bem disso! –disse apenas estacionando o carro em uma das vagas do estacionamento do restaurante.

As duas moças entraram no local que já estava lotado naquele domingo achando uma mesa ao fundo com dois lugares, elas sentaram e rapidamente fizeram seus pedidos, após quase 40 minutos de espera os pratos chegaram, Beatriz já estava prestes a voltar pra casa. Elas comeram e quando a sobremesa chegou a morena não pode deixar de pensar em Mateus e em suas duras palavras o que a fez gravitar na orbita do moreno que a machucara tanto.

_Não Bia, volta! Hey! Eu não admito que você esteja pensando pela milésima vez no Mateus! –disse Melissa chamando a atenção da morena.

_Desculpe, é só que... Droga! Eu nem sei como vou conseguir voltar lá e olhar pra ele de novo. –disse já com a voz embargada extremamente irritada.

_Mas eu sei, você vai ignorar o que ele disse por que, bom, ele está um pouco louco no momento, e fingir que nada foi dito. Ser apenas a boa amiga que você sempre foi, e quando voltar para casa vai ligar para o Gabriel e confirmar a viagem... simples assim! –disse Melissa sorrindo.

_Isso por que não é com você! Eu não sei se devo aceitar esse convite do Gabriel, tenho medo que ele ache que estou lhe dando esperanças, sabe... –disse a morena sinceramente confusa.

_Não, ele não vai achar nada, eu conheço o Gaby e ele jamais faria algo do tipo, ele é maduro o suficiente para entender tudo isso Bia, e se ele disse que estava disposto, é por que ele realmente está pronto para lutar por você! –Melissa falava calmamente afim de que a morena prestasse atenção em cada palavra que ela pronunciava, pois tudo o que a ruiva queria era que sua amiga realmente fosse feliz ao lado de alguém que a amava.

_Eu vou pensar, estou pensando... –disse Beatriz apenas dando um meio sorriso para Melissa.

Após a sobremesa as garotas pagaram a conta e saíram do restaurante, Beatriz deixou a ruiva em sua casa e seguiu para o seu apartamento, estacionou o carro e entrou na recepção do prédio, mas antes que entrasse no elevador o porteiro lhe parou e disse que tinha algo para ela.

_O que foi seu Pedro? –perguntou sorrindo para o senhor de mais ou menos 65 anos.

_Chegou isso aqui pra você a meia hora atrás! –disse o homem entregando a morena um buque de rosas cor de rosa, ao todo eram 14 belas flores.

_Oulll que lindas! Obrigada! Muito obrigada! –disse pegando o buque e entrando no elevador.

Beatriz sorria largamente aspirando o perfume que as rosas emanavam, ela tinha esperanças mesmo que escassas de que elas haviam sido enviadas por Mateus como um pedido de desculpas mas suas esperanças se anularam quando ela leu o cartão que continha a assinatura de Gabriel. E foi naquele momento lendo as doces palavras do loiro que ela decidiu dar uma chance para si mesma e ver o que a vida tinha para ela.

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