Quando o sinal para o início do primeiro tempo soou, me sentei na terceira carteira da fileira próxima á janela, o que não era uma boa opção se eu quisesse prestar atenção na aula: até os pingos d'água escorrendo na janela me tiravam o foco. Mas, por outro lado, o lugar era uma ótima pedida em relação a posicionamento. Atrás de mim, Jason, ao meu lado, Grover -um outro amigo- e, por último mas não menos importante: Annabeth, me privilegiando com uma bela vista diagonal.

Desacelerei um pouco para analisar os traços da menina há três carteiras da minha. Apesar do seu jeito arrogante e sarcástico, Annabeth era realmente bonita, o que eu não podia negar. Os cabelos loiros e longos caíam cacheados por seus ombros, de pele branca e aveludada. Os olhos cinza tempestuosos poderiam estragar todo o resto se não fossem tão fascinantes e se as feições dela não fossem tão suaves.

Quem á vê num parque lendo, por exemplo, imagina que Annabeth é a garota perfeita. Pena que seu temperamento é tão... Enérgico.

–Muito bem, classe, vamos começar falando do trabalho final. Já se organizaram em duplas? Não? Então peguem seu par! -O professor de meia idade falou animado ao entrar e jogar seu material na mesa.

Todos levantaram-se imediatamente e uma conversa incessante começou. Jason me cutucou e falou:

–É a sua chance, garanhão.

Eu ri por que ele estava indicando Annabeth com o movimento da cabeça.

–Não parece que ela esteja afim de fazer em dupla. Muito menos comigo. -Falei olhado pra ela, que estava, como sempre, com a cara em um livro de arquitetura. -Mas... Querer nem sempre é poder, não é?

Caminhei os longos quatro passos até a loira e coloquei no rosto a minha melhor cara de James Bond: Arqueei as sobrancelhas e sorri de lado, coçando a nuca sem jeito. Angel Trusth soltou um suspiro quando passei por ela.

–Então, Annie, já tem um parceiro? -Falei confiante.

–Primeiro, não me chame de "Annie". -Ela fechou o livro e olhou pra mim. Um sorriso sarcástico brincava nos lábios fartos dela. -E segundo, eu não jogaria fora a chance de um total nesse trabalho, portanto, Perseu Jackson, não, eu não vou fazer dupla com você.

Ela falou aquilo de uma só vez e com rapidez o que me fez rir com o desafio. Em partes, ambos queríamos alguma coisa e ambos estávamos dispostos á jogar. Se ela já tinha começado, resolvi entrar na brincadeira também:

–Vamos lá, Annie... -Puxei uma cadeira para perto dela enfatizando o apelido e me sentando com o peito escorado no encosto. Passei a mão pelos cabelos ao continuar com a voz mais sedutora que encontrei -Preciso de ajuda...

–S-sinto muito. -Ela vacilou e eu sorri -Sou uma garota de afazeres.

–E eu, um cara de conquistas. -Retruquei, a voz rouca.

–Agora, os que estão sozinhos formem duplas entre si, por favor, ninguém sozinho! -O professor retomou. -Alguém sem dupla? Hein?

–Com licença, senhor. -Comecei com cara de intelectual. -Creio que estou sozinho e a única pessoa sem parceiro é Annabeth Chase. Será que poderíamos fazer juntos?

–Mas é claro! Não é um problema para você, não é querida?

–Eu... -Annabeth começou.

–Ótimo! -Ele á cortou.

Depois que primeiro tempo terminou me levantei e segui para o meu lugar, para "assistir" a aula de matemática. Passados alguns minutos de puro tédio, arranquei uma folha no meu caderno -inutilizado- e escrevi em letras de forma grande, um bilhete, que foi passado de mão em mão até chegar na dona dos olhos tempestuosos:

"PERCY 1, ANNIE 0!

TE VEJO DEPOIS DA AULA,

NA MINHA CASA OU NA SUA? HEHE

–P"