Sabe aquela segunda chuvosa em que você não quer se levantar por nada? Pois é.

Eu estava cogitando a hipótese de ficar em casa e dormir por mais umas sete horas quando minha mãe, Sally, gritou da cozinha:

-Perseu, querido, vai se atrasar!

-Percy, mãe! -Corrigi com a voz embargada de sono me revirando nos lençóis. -E eu não vou á aula hoje!

-Vamos lá, é a penúltima semana, você consegue! -Ela insistiu e ouvi os passos suaves subindo a escada e parando na porta do meu quarto.

-Você disse isso nas últimas três semanas, mãe. -Eu ri quando ela abriu a porta com as sobrancelhas erguidas.

-Vá se aprontar, querido.

Ela encostou a porta e eu me ergui preguiçosamente da cama quente e confortável. Olhei no relógio: sete e quinze. Eu não ia me atrasar, mas já tinha me levantado e agora não ia mais voltar a dormir.

Vesti uma calça skinny preta e abotoei o xadrez azul até a gola, dobrando as mangas na altura do cotovelo. O vans preto. Nunca fui muito ligado em estilo, mas de uns tempos pra cá tenho me vestido como os engomadinhos da escola devido a "reputação" á zelar.

Não penteei os fios escuros e rebeldes, que precisavam urgentemente serem cortados, por que estavam quase tapando minhas orbes verde-mar.

Peguei a mochila leve por estar praticamente vazia e desci para o café da manhã. Nunca fui um cara que se importa com os estudos e tal: pelo contrário, sou aquele que não faz nada, mas no final, passa se arrastando.

Olhe bem, não é minha culpa. Boa parte do problema está no déficit de atenção, outra parte dele na hiperatividade e a grande maioria na aparência. Posso parecer arrogante, mas apenas estou sendo sincero: sou um dos caras mais disputados do colégio.

Terminei o café da manhã e coloquei os fones de ouvido, a touca e o casaco. Coloquei a mochila nas costas e peguei as chaves colocando-as no bolso da calça, onde fiquei com a mão ao sair pela porta da frente.

-Percy! -Minha mãe chamou quando eu estava no meio da escada. -Controle-se. São só alguns dias.

-Pode deixar, mãe... -Bufei sorrindo pela preocupação dela.

Murmureiboom clapda Charli XcX por todo o caminho e quando cheguei á escola faltavam dez minutos para o primeiro tempo: História.

Sempre fui péssimo em história, mas eu finalmente estava me interessando pelo novo assunto, Grécia, e de tanto interesse, era até participativo nas aulas.

-E aí, cara. -Jason, meu melhor amigo, me cumprimentou ao chegar. -Tranquilo?

-Levando.

-E quanto á história? -Ele perguntou se referindo se eu passei ou não.

-Estou bem. Na verdade, só preciso da pontuação desse trabalho sobre mitologia. Acho que sou o melhor na classe... -Ri.

-Eu não contaria com isso se eu fosse você, Jackson. Pode me dar licença? Está atrapalhando a passagem.

Annabeth Chase. Ela era quieta e na dela, mas todos conheciam a dona dos olhos cinza-tempestade e cabelos esvoaçantes e loiros. Os pais eram donos de um grande e renomado escritório de arquitetura na cidade, e a menina era fera em tudo que se possa chamar de matéria.

Nós dois meio que nos odiávamos desde a quarta série, quando Clarisse de La Rue -Uma encrenqueira de primeira - Espalhou que Annabeth tinha um precipício por mim.

-Claro, Chase. Bom dia pra você também! -Respondi sorrindo forçado e fazendo uma reverenda sarcástica.

Quando ela saiu Jason falou:

-Você se amam.

-O que? Claro que não! -Neguei rindo. -Mas eu pegaria...

-Ela não ficaria com você. Te dou até as férias para tentar alguma coisa. -Ele sorriu travesso.

-Apostado!