Banho de Sol escrita por Nekoclair, ThegleameyesGin


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Tudo que nós, autoras, desejamos é que nosso texto seja do agrado de vocês, leitores. ^^ Obrigada por darem uma chance para esta one-shot, a qual eu espero que não acabe abandonada pela metade 'x'
Boa leitura!



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Banho de Sol

Toda e qualquer expectativa quanto àquela viagem foi destruída na manhã – ou noite, considerando a diferença de fuso – em que chegara à Rússia. Seus amigos do navio o informaram na noite anterior ao voo que seu guia, um dos biólogos da estação de pesquisa, o estaria esperando no aeroporto de Moscou. Por essa razão, ele agora aguardava junto às portas automáticas, sua mochila pesando sobre um dos ombros enquanto seus olhos rodavam ansiosos pelo local.

Alfred Jones era, no geral, um típico americano. Crescido em meio a uma família comum, vivera uma vida pacífica e tranquila – ou pelo menos até o fim de sua juventude, quando, para seguir seu sonho de ser fotógrafo, abandonara os estudos e cortara relações com quase toda a família, com exceção do irmão Matthew, que foi o único a apoiá-lo.

Além disso, por ter crescido ouvindo desde pequeno estórias do falecido avô, que fora militar durante os dois maiores conflitos do mundo, acabara por desenvolver um patriotismo e também um xenofobismo muito forte, principalmente para com os russos, que eram os “arqui-inimigos” de sua idolatrada nação. Por esse motivo, a ideia de ter consigo um guia russo não o agradava muito, mesmo que ele fosse um dos pesquisadores da estação. Ainda assim, conseguira se convencer a esperar até conhecer o tal homem antes de odiá-lo, ou até julgá-lo.

Havia uma multidão do lado de fora da sala de desembarque, o que tornava sua tarefa, no mínimo, desafiadora. Para sua sorte, o russo já o conhecia – através dos outros colegas – e logo uma mão tocava seu ombro, chamando a sua atenção para um rapaz alto, loiro, com pele leitosa e olhos violeta. Era bonito, até... Apenas o sorriso de negócios pregado no rosto que trazia uma sensação inquietante ao americano.

– Olá, você deve ser o senhor Jones – ele começou, com um sotaque forte. – Se puder vir comigo, meu nome é Ivan, e eu vou acompanhá-lo até o hotel.

Ah. Tá. Ok.” foi a melhor resposta que conseguiu pensar em dar. Estava cansado, então se contentou com um aceno da cabeça e seguiu o russo pelo aeroporto, até um táxi no qual ele quase adormeceu enquanto Ivan conversava com o taxista. A diferença de fuso e a viagem haviam acabado com toda a energia que ele tinha, de forma que só quando o carro parou em frente ao hotel e eles se encontravam no saguão que o americano finalmente processou o significado da frase do loiro e reagiu apropriadamente à mesma.

Wait a second! Eu achei que faríamos a conexão pro voo naquele aeroporto!

Seu guia, que apanhava as chaves do quarto no balcão, olhou para trás e abriu mais um de seus sorrisos.

– Oh, sim, achei que nunca fosse perguntar. Temos uma nevasca vindo aí, então o voo foi cancelado. Provavelmente nós vamos sair de tarde, amanhã. Por sorte, a empresa está pagando pelo hotel, então aproveite. – E, entregando uma chave para Alfred, apontou para os elevadores. – Devo te levar até seu quarto?

– Não sou uma criança. Posso encontrar meu próprio quarto – o americano resmungou, bocejando e forçando um sorriso, que deve ter saído mais torto do que a encomenda. Seguiram juntos em direção às portas do elevador, que agora se abriam. Ivan apertou os números dos andares de ambos, o do russo sendo três antes do dele. Alfred apoiou-se numa das paredes do cubículo, cantarolando uma canção qualquer enquanto esperava, os olhos se fechando enquanto ele sonhava com uma cama macia. Logo o elevador voltou a abrir as portas, a voz robótica anunciando o andar de Ivan.

– Muito bem então. O seu andar é o penúltimo. Boa noite, nos vemos no café da manhã.

– Na verdade, eu estava querendo tirar umas fotos antes de partimos e conhecer um pouco a cidade. Sabe… Tirar proveito da oportunidade.

Ivan hesitou por um momento, mas concordou com a cabeça.

– Hum, certo. Então seria melhor sairmos bem cedo. Que tal nos encontrarmos no saguão, às sete?

– Certo, pode ser. Saguão, sete horas. Até.

E com isso, divergiram caminhos. Poucos andares acima, foi a vez de Alfred de se direcionar ao seu quarto, que ficava no fim do corredor não muito comprido. A porta de uma madeira velha e escurecida foi aberta em poucos instantes, e o americano não perdeu tempo admirando a decoração da sala com pouco mais de dez metros quadrados. Largou sua mala, ou melhor, jogou-a ao pé da cama, junto das roupas que vestia. Depois de se trocar, resmungando durante todo o processo sobre como dormiria só de cuecas se não fosse tão frio naquele país maldito, deitou-se. Logo ele já estava no reino dos sonhos, coberto por uma montanha de cobertas.

Na manhã seguinte, não foram o raios do Sol quem o acordaram, mas as incansáveis e indesejáveis batidas. Depois de quase três minutos questionando quem em sã consciência escolheria o meio da madrugada para fazer reparos com um martelo, acabou por notar que sua audição e sua sonolência o enganavam. Relutante, abandonou o conforto da cama e dos cobertores e caminhou até a porta, abrindo-a violentamente para recepcionar o visitante com um de seus melhores olhares assassinos.

– Bom dia, Alfred. – O russo abriu um sorriso nem um pouco animado, claramente aborrecido pela demora em ser respondido.

– Meio cedo, não…

– Na verdade, são quase oito.

Aquela afirmativa chamou a atenção do americano, que arregalou levemente os olhos, lançando um olhar pelo quarto em busca do despertador que ele só então percebia ter esquecido dentro da bolsa.

– O-Oito, é?...

– Sim.

– Ah. Eu já vou me trocar… E descer… Desculpe.

Ele se virou, indo até a bolsa e pegando as roupas que usaria, despindo-se da blusa do pijama enquanto falava. Atrás dele, Ivan se remexeu, sem saber se entrava no quarto ou simplesmente saía para dar um pouco de privacidade ao outro. Por fim, encostou-se na parede, fechando a porta e cruzando os braços, só então respondendo o rapaz.

– Tudo bem. Longas viagens de avião são realmente exaustivas. Quando cheguei lá embaixo e não te encontrei, mesmo depois de quinze minutos esperando, imaginei que fosse esse o caso.

– Mas você devia ter me acordado antes! – O americano resmungou enquanto fechava a camisa e vestia um grosso casaco, correndo até sua câmera e voltando até a porta.

– Bem, eu tentei. Mas só agora que você acordou.

Alfred ficou a encará-lo por uns bons instantes, imaginando o alto rapaz batendo contra sua porta por quase uma hora até conseguir acordá-lo. Essa, sem dúvidas, não fora uma atitude muito profissional de sua parte... Não pode impedir suas bochechas de corarem, envergonhado, ato que só serviu para arrancar uma risada de Ivan, que lhe deu alguns tapinhas nas costas antes de saírem do quarto juntos.

Pelo jeito, acordara com o pé esquerdo.

Alfred aproveitou a manhã livre para tirar algumas fotos de Moscou. Ignorando os prédios históricos, que dia sim dia não estavam sendo restaurados, arrastou seu guia consigo para qualquer ruína sobre a qual ouvissem falar.

Teve sorte de Ivan ter nascido e crescido em Moscou, e conhecer alguns lugares bem interessantes. O que mais chamou sua atenção foi um prédio no limite da cidade que precisara ser explodido há sete anos. Ivan disse que ele era completamente de vidro, talvez com cinco ou seis andares, mas que agora virara o lar de pequenos animais no verão, além o de plantas rasteiras e trepadeiras que escalavam as vigas de metal e teciam um cenário particularmente belo do lado de fora, parcialmente pintados pelo branco da neve que caíra durante a noite. Passaram pelo menos quatro horas tirando fotos e tentando entrar nos escombros, sem sucesso.

Quando o russo percebeu que horas eram, ligou para um táxi, apressando Alfred. Correram até o hotel, pegando as bolsas – Ivan era quase tão prático quanto o americano – e correram até o aeroporto, onde finalmente embarcaram no pequeno bimotor que os levaria metade do caminho até o navio onde ficariam durante a semana que Alfred teria para tirar quantas fotos quisesse.

O americano aproveitou o pouco tempo antes da decolagem, e o resto de sinal que tinha no telefone celular, para mandar uma mensagem rápida para o irmão, avisando que estava saindo da Rússia e que estaria incomunicável por algum tempo. Matthew era o único membro de sua família com quem Alfred ainda falava e que ficaria feliz em receber notícias suas.

Tem uma coisa que todos os seres humanos do mundo devem saber sobre bimotores: eles são do demônio. Não importa o quão econômicos possam ser, o único momento tranquilo que se pode passar dentro de um deles é o pouso. E mesmo assim, não deixou de ser apavorante.

Como um fotógrafo, Alfred estava acostumado a viajar de um lado para o outro, seja de carro, barco, helicóptero ou avião, e por isso pode dizer com toda certeza do mundo que aquele foi o pior voo de sua vida. Assim que as hélices foram ativadas ele percebeu o quão ferrado estava. O barulho que faziam o fez lembrar do fusca velho que ganhara de presente quando completara dezesseis anos. Ele odiava o carro, e o vendeu para o ferro velho em menos de dois meses, usando o dinheiro para comprar uma bicicleta e alguns jogos.

Ele deveria ter desconfiado quando viu o russo puxar uma cartela de remédios para enjoo do bolso do casaco e oferecer a Alfred, que rejeitou. Com um dar de ombros, como se dissesse “problema seu”, Ivan tomara dois. Ele não pareceu sentir nem um dos solavancos que acompanharam o voo desde a decolagem até o fim da viagem.

O americano cravava as unhas no encosto do assento, os olhos arregalados por detrás das lentes. Pela janela, ele podia ver a asa se erguendo e abaixando com violência, a turbulência causada sabe-se lá pelo quê; quando perguntou a Ivan, ele disse que era culpa do vento, mas sua resposta soara nem um pouco convincente. Agora que o russo estava dormindo – e babando, diga-se de passagem – Alfred não tinha mais com quem conversar, nem como se distrair do pesadelo que era voar em um bimotor.

Para sua sorte, o pesadelo só durou duas horas. Eles pousaram numa pequena cidade no extremo norte da Rússia – extremamente fria, também – com o céu nublado e as ruas cobertas por uma grossa camada de neve. Depois de acordar o guia, que dormira praticamente o caminho todo, o americano quase correra para fora do avião, só parando para agradecer ao piloto e ao copiloto por terem conseguido chegar vivos ao chão.

Depois disso, não tiveram tempo para qualquer coisa além de uma parada rápida na lanchonete, na qual o russo pedira dois cafés para viagem. Com a bebida ainda quente em mãos, eles se apressaram na direção do heliporto, apresentando-se à piloto do helicóptero que eles usariam para chegar ao navio. Seu nome era Julchen, uma mulher bonita, mas um pouco escandalosa demais – segundo ela, precisava berrar para ser ouvida por cima das hélices, apesar de não estarem ligadas.

A hora que passaram na companhia da alemã foi muito mais proveitosa do que as duas horas no bimotor. Agora que Alfred estava em um território conhecido, sentiu-se mais a vontade para puxar a câmera e tirar algumas fotos do oceano gelado lá embaixo. Ivan ia novamente dormindo, ainda sob o efeito dos remédios, e Julchen contava piadas sem sentido, uma atrás da outra enquanto pilotava.

Há menos de dez minutos da base, pelas contas da alemã, ele teve a oportunidade de observar um grupo de focas em caça, saltando sobre as ondas para o gelo flutuante, peixes presos entre as mandibulas poderosas. Fez questão de pedir para Julchen anotar a rota, já pensando em voltar à área depois, desejando algumas fotos dos animais mais de perto.

O navio era maior que ele pensou, apesar de ter visto fotos. O grupo que o recebeu no convés, americanos em sua maioria, se amontoaram ao seu redor. Já trocara e-mails com alguns deles, e acreditou conhecer toda a equipe, mas pessoas continuavam aparecendo e Alfred ficou surpreso ao ver pelo menos quarenta pessoas ali. Cumprimentou toda uma equipe de pesquisadores, o pessoal da cozinha, do maquinário, da administração, e por aí vai, todos muito barulhentos e animados com a presença de uma cara nova.

Atrás dele, Ivan descia do helicóptero, parecendo perdido em meio ao mar de gente, apesar de conhecer todos eles. Alguns dos pesquisadores ajudaram o loiro com as bolsas, e ele recebeu tapinhas nas costas e alguns murmuros de bem vindo de volta, que ele respondeu com um bocejo.

– Como foi a viagem? – Um dos pesquisadores, que ele supunha se chamar John, se aproximou, pegando sua bolsa e lhe cumprimentando com um aperto de mãos.

– Nós vimos focas! – O americano respondeu, empolgado, devolvendo o cumprimento. – Elas estavam caçando a uns dez minutos daqui, pro leste. Eu queria algumas fotos de perto, se for possível.

– Focas, sério? – Ivan se aproximou por trás deles. – Quando?

John soltou uma risada

– Você não viu?

– Eu estava dormindo.

Os outros biólogos que estavam por perto gargalharam e Ivan teve que ouvir as brincadeiras deles por todo o caminho pelo deque, enquanto desciam as escadas e durante o curto tour com Alfred pelas áreas do navio. Passaram pela cozinha e pela pequena sala de estar, que consistia em uma tevê e um PlayStation 3 com alguns jogos de tiro, um sofá e uma mesinha de centro. A seguir, foram à sala de máquinas, que era pouco interessante e barulhenta demais, e, por fim, aos dormitórios. Como um casal de biólogos tinha decidido se aposentar no mês passado, Alfred teria uma cabine só sua, e aquilo por si só já era luxo o bastante.

O loiro foi deixado em paz assim que chegaram ao pequeno quarto no fim do corredor, e aproveitou o pequeno tempo até o jantar para trocar as roupas, acrescentar mais algumas camadas de blusas de frio e passar as fotos que tirara até o momento para o computador, editando algumas, deletando outras, e abrindo espaço na memória.

Verdade seja dita, Alfred não ficava empolgado assim há muito tempo, não só pelo prêmio generoso em dinheiro, mas pela experiência em si. Durante os anos que vinha trabalhando como fotógrafo, já estivera em muitos ramos diferentes da profissão.

No início, seus ganhos vinham de festas de debutantes e casamentos, ou eventos sociais menores. Por algum tempo, fez ensaios com modelos de revistas de moda para adolescentes, mas largou o trabalho por considerar seus objetos de trabalho pouco interessantes – era contra sua política de trabalho fotografar seres humanos, apesar de que algumas vezes ainda acabava sendo obrigado pelos seus superiores. Entretanto, a paixão do americano era pelo próprio mundo e sua diversidade. Boa parte de suas viagens foram feitas como fotógrafo da Times e, acredite ou não, pela BBC, mas chegou a trabalhar com documentários em áreas de conflito. Já estivera em bases americanas no Afeganistão, e chegara até a tirar algumas fotos das pinturas de Banksy, no Muro da Palestina.

Mas Ártico? Não mesmo. Aquilo era completamente diferente dos invernos no Canadá com a família Williams, e era impossível comparar o frio que ele estava passando no momento com seus natais em New York.

Em resumo, era absurdamente frio.

Por isso, fez questão de vestir as duas blusas térmicas que trouxera por baixo do grosso casaco de aviador que era o único presente dos pais que ainda guardava. Quando abriu a porta de metal, ficou surpreso ao ver Ivan parado do lado de fora, uma mochila apoiada na parede ao lado, os braços cruzados sobre o peito, parecendo extremamente irritado, e um pouco envergonhado.

– Alguém inundou minha cabine. – Explicou o loiro, bufando aborrecidamente. – Se importa em ter um companheiro de quarto?

–... Vá em frente. – Alfred voltou a entrar no pequeno quarto, dando espaço para que o outro arrastasse suas coisas para dentro.

Ivan posicionou sua mochila sobre a cama vaga e, depois de a abrir, começou a revirar tudo que estava ali dentro. Alfred apenas o encarava, em silêncio, parado na batente da porta com um olhar indiferente; ou assim estava até que o russo tirou o grosso casaco que vestia, seguido pela blusa de lã que usava por baixo. Mesmo que despercebido, Alfred tinha seus orbes azuis fixados sobre o abdômen do outro, que era mais musculoso do que aparentava.

– O que foi?

– Eh? – Alfred subiu os olhos novamente para o rosto do outro, voltando à realidade e se encolhendo levemente ao perceber que era encarado de volta por um russo um pouco mais tímido do que Alfred havia suposto.

– Se você ficar me encarando assim eu vou me sentir sem graça – Ivan disse com um meio sorriso, enquanto vestia uma camiseta e uma malha de cor bege.

– E-Eu não estava encarando – Alfred tossiu, virando o rosto para disfarçar o desconforto. – Só estava pensando se você não vai ficar com frio com essa roupa tão fina.

– Estou acostumado. E nem está tão frio assim – o russo deu de ombros.

– Ah, é mesmo?.. – Foi a réplica descontente do americano, que hesitou por um momento antes de acrescentar – Bem, vamos jantar?

Com um aceno da cabeça, Ivan seguiu o norte-americano pelo corredor. Nenhum dos dois estava realmente com pressa, mas também não trocaram mais nenhuma palavra desde que saíram do quarto que agora dividiam. Assim, o percurso que normalmente seria rápido, foi percorrido calmamente e em um silêncio desconfortável, ou ao menos a Alfred, que ainda não entendia o que havia dado em si para ficar olhando os músculos – apenas um pouco definidos – de seu guia.

Quando chegaram ao refeitório, Alfred paralisou. Todos os esperavam em pé, vários pratos espalhados pela longa mesa. O cheiro de comida era forte e dava para notar que havia mais vindo. O americano olhou surpreso de um lado ao outro do amplo salão, todos os olhos presos em si. A seguir, lançou um olhar ao russo, piscou duas vezes, e voltou os olhos para frente.

– Caramba, vocês comem melhor do que eu imaginava.

Risos ecoaram pelo salão, o loiro que ainda estava atrás de si balançando a cabeça de um lado ao outro, descrente. Entretanto, tudo que o americano conseguiu foi encarar os demais com uma cara de interrogação.

– O quê? – Perguntou, por fim.

– Alfred, senta logo e vamos comer – o homem chamado John ofereceu a ele uma cadeira, ainda um sorriso nos lábios.

Alfred piscou mais algumas vezes.

– Ah! Essa é uma daquelas festas de boas vindas?

A mão pesada de Ivan pousou em seu ombro, chamando a atenção de Alfred imediatamente.

– Estão todos te esperando sentar, então que tal fazer as honras.

– Ah, sim. Vem, vamos nos sentar.

Dito isso, o americano segurou o outro pelo braço e o puxou até uma ponta da mesa, deixando a beirada para Ivan. A essa altura, todos já haviam se sentado e pratos passeavam de um lado ao outro, ao som de conversas animadas e risadas.

A refeição durou pouco mais de meia hora, sendo finalizada com um bolo de chocolate branco e morangos. Ivan, especialmente, parecia bem satisfeito com a escolha do chef para a sobremesa – depois do terceiro pedaço, Alfred desistiu de contar.

O resto da simples festa de boas vindas foi tranquilo, o loiro conversou com John e Ivan sobre seus animais preferidos, sobre sua esperança de poder ver as focas mais de perto e, depois de algum tempo, contou pra quem quisesse ouvir sobre a vez que quase fora atacado por um urso pardo enquanto tirava fotos, no Canadá, e sobre como ele conseguira se salvar heroicamente, com apenas uma pequena ajuda do vovô Williams e de sua espingarda. Finalmente, as conversas foram interrompidas pelas palavras do capitão, que estava do outro lado da mesa.

– Hora de dormir, crianças! Amanhã, acordamos às sete! – E então encarou Alfred, as expressões gentis – É um prazer tê-lo aqui, rapaz. John, você não vai ficar jogando videogames com Rick até as três. Kate, Maria, preciso que vocês acordem mais cedo amanhã pra me ajudar. Isso é tudo, tenham todos uma boa noite.

Aquela foi a deixa para o grupo se dispersar. Eles saíram do refeitório e seguiram para as cabines em pares, os colegas de quarto se juntando. Alfred era o único sozinho, já que Ivan vinha atrás com o usual parceiro, um bielorrusso chamado Nikolai e parecia ser legal, se não fosse pela falta de expressão e pelo olhar aborrecido que lançara na direção de Alfred quando esse passara por si no caminho para o quarto.

Dormir foi uma tarefa um pouco mais complicada que o americano pensou que seria. Infelizmente, enquanto planejava sua viajem, nunca chegou a considerar que os dias e noites no Ártico duravam quase seis meses cada e que, infelizmente, estavam no período de “dia eterno”. A pequena persiana de sua cabine estava começando a irritá-lo, e ele não conseguia parar quieto na cama, que não parava de ranger, o que irritou Ivan.

Comrade, eu agradeceria se você parasse. De. Fazer. Barulho. Nós vamos acordar cedo amanhã.

– Eu adoraria dormir, cara, mas tá difícil.

O russo bufou, aborrecido, virando-se e levantando, seguindo até o basculhante e o abrindo só para forrá-lo com uma colcha qualquer, impedindo a luz de entrar, ao menos parcialmente. Ambos soltaram um suspiro satisfeito, o maior escorregando para debaixo dos cobertores, e Alfred dormindo quase que automaticamente.

Se dormir fora difícil, acordar foi ainda pior. Apesar da gafe no hotel, Alfred costumava acordar cedo – principalmente sob a perspectiva de boas fotos – e, mais que isso, acordava agitado. Mas quando o despertador tocou, seis e cinquenta e cinco, o americano sentiu uma vontade enorme de lançá-lo na parede. Ainda assim, escorregou para fora da cama, lentamente, e desligou o relógio, pegando sua bolsa e saindo da cabine direto para o banheiro.

Em dez minutos o americano trocou as roupas e tentou dar um jeito no cabelo; desistindo, enfiou uma toca qualquer e torceu pra não ficar parecendo um idiota nela. Enquanto voltava ao corredor para retornar à sua cabine, Ivan passou por si e, depois de cumprimentá-lo com um aceno da cabeça, tomou seu lugar.

Foi preguiçosamente que a garrafa de café passou pela mesa, cada um dos presentes abastecendo a xícara com uma quantidade generosa da bebida. Alfred bebeu o líquido negro como se fosse sua amada Coca Cola, sendo alvo das brincadeiras de John e Rick. Foi quando o som de uma porta se abrindo chamou a atenção de todos para o capitão, que adentrava o refeitório com um sorriso no rosto.

– Orcas!

E com isso, todos se levantaram e seguiram o mais velho para fora, Alfred sendo o mais ligeiro e ansioso. O loiro correu pelo deque e foi o primeiro a se agarrar às grades, os olhos brilhando com a visão dos animais, cada um com mais de três metros de comprimento. Quase que automaticamente, o americano levou as mãos ao peito, acostumado com a presença de sua câmera e, estranhando ao perceber que não a tinha consigo, lembrou-se de a ter deixado junto ao computador mais cedo.

Com um estralo da língua, ele já se virava quando o barco se remexeu; não muito, mas o suficiente para que o americano se desequilibrasse, não tombando ao chão graças aos reflexos rápidos de Ivan.

– Obrigado. – Murmurou e, sem sequer olhar direito para Ivan, Alfred se pôs de pé, desesperado por ter sua câmera em mãos. Depois de um momento, girou nos calcanhares, murmurando um “eu já volto” antes de correr em direção às cabines.

Em sua pressa, quase escorregou escada abaixo, derrapando por uns dois degraus antes de recuperar o equilíbrio. Entrou na cabine rapidamente, agarrando a bolsa onde deixava todo seu material e montando rapidamente as lentes a prova d’água. Enquanto se apressava pelo corredor e, depois, deque acima, prendeu a câmera ao redor do pescoço. Seu coração batia acelerado de tão ansioso.

Quando Alfred pôs os pés de volta ao exterior, poucos foram os que se viraram para ver a sua figura atrapalhada tropeçar mais uma vez no batente, se recuperando rapidamente enquanto se atirava às grades. Colocou a câmera em frente de seus olhos, tudo parecendo tão pequeno. Com um sorriso apertou o botão, capturando a imagem de uma orca bem no momento em que esta mergulhava de um salto. Num movimento quase ensaiado, o rapaz apoiou-se na perna direita, mudando o angulo levemente para a segunda foto, que consistia em mãe e filhote emergindo em conjunto.

Tirando o aparelho por um momento da frente dos olhos, mirou mais uma vez a paisagem. Tirou mais uma foto e se preparava para a quarta quando perdeu sua concentração, a voz alta e grave do velho capitão ressoando pelo que parecia o universo inteiro.

– Certo, já chega, todos para dentro. Não quero ver ninguém aqui fora. Rápido!

Ao ouvir o comando, Alfred se virou, imediatamente. Confuso, ficou a observar enquanto todos entravam de volta, alguns olhando preocupadamente por sobre os ombros. Julchen passou correndo por eles, na direção do helicóptero, carregando algumas correntes e sendo seguida por um grupo que segurava capas de proteção. Ivan puxou-o pelo braço levemente, chamando sua atenção.

– Vamos, Alfred, você está atrapalhando a passagem. Para dentro.

–Eh?

– Nada de “Eh”s. Vem vindo uma tempestade. Olhe só o céu!

O americano ergueu os olhos e não pode deixar de concordar que a visão das nuvens, gigantescas e em um tom cinza chumbo, era um pouco intimidadora. Ainda assim, pensar nas fotos que estava perdendo o fez querer poder contestar.

– Mas…

– Vamos, Alfred. Você ouviu as ordens.

Agarrado pelo braço, Alfred foi arrastado para dentro, reclamando durante todo o caminho até o quarto de como não havia tirado fotos suficientes, e de como a vida o odiava e dificilmente teria outra chance daquela. Ivan o deixou por lá e, fazendo-o prometer que não sairia, disse que iria ver se precisavam de sua ajuda. Alfred bufou, descontente, e deitou em sua cama, agarrando seu travesseiro e escondendo o rosto na superfície macia, murmurando seus frustrações para com aquela situação. Com um suspiro cansado, o russo o deixou sozinho.

Assim que o maior saiu do quarto, Alfred cogitou seriamente a possibilidade de fugir para fora e tirar mais algumas fotos, mas desistiu assim que abriu a porta e viu a bagunça que estava no corredor. Aparentemente, tempestades eram levadas a sério no Ártico. Percebendo que só atrapalharia, o americano voltou para dentro da cabine, fechando a porta e voltando a se sentar na cama de cima, ligando o laptop e abrindo o programa de edição, trabalhando em algumas de suas fotos preferidas durante algum tempo.

Os solavancos começaram uma ou duas horas depois, discretos no início, mas cada vez mais violentos enquanto o tempo passava. Chegou ao ponto do americano temer que seria lançado para fora da cama durante a noite. Resmungando sobre o quão azarado ele seria se a tempestade durasse o resto da semana, o loiro escorregou para baixo, puxando consigo o computador e a câmera e guardando ambos os itens em segurança. Só então, sem nada pra fazer, perguntou-se onde estaria o russo.

Depois de um tempo, quando os corredores ficaram novamente silenciosos, um anuncio foi feito pelos alto-falantes, as ordens do capitão claras: todos estavam proibidos de abandonar seus aposentos, já que a tempestade estava ameaçando piorar. Como um bom marujo, Alfred ficou dez minutos em seu quarto antes de sair – com a câmera pendurada no pescoço, só por precaução.

Mentalmente, o americano começou a inventar desculpas para caso fosse pego, mas teve a surpreendente sorte de conseguir alcançar o deque sem cruzar com ninguém. Dizer que a tempestade estava forte era um eufemismo, considerando que Alfred estava tendo dificuldades para enxergar um palmo a frente.

Talvez por isso, ele nunca teria pensado que encontraria Ivan do lado de fora, muito menos de ter a oportunidade de ver um lado do russo que ele nunca imaginara. Por um momento, tudo que ele pode fazer foi observar, os olhos arregalados, o própria ato de respirar por um momento deixado de lado. Ao redor deles a neve caía violentamente, o vento lançando os flocos na direção do barco, e seu guia tinha os olhos fechados, o rosto erguido contra a tempestade, os braços abertos e as roupas e o cabelo esvoaçantes ao ritmo da tempestade.

E ao mesmo tempo que Alfred erguia a câmera, não pode deixar de pensar no desperdício que era colocar as lentes da câmera entre eles.

Naquele momento, Ivan aparentava ser mais algo como um deus, ou um espírito da natureza, do que um ser humano como si próprio. Sim, um espírito da natureza, definitivamente... Os flocos de neve girando ao seu redor, como se fossem controlado pelo russo, eram o motivo da comparação. Apesar de Alfred não ter certeza se existiam ou não espíritos da neve nas lendas, se existissem, sem dúvidas, Ivan seria um deles.

Talvez por isso o ato de tirar a foto tenha sido tão espontâneo. Ivan fazia parte da natureza que Alfred amava fotografar, logo, nada mais natural que o retratar também, torná-lo eterno...

Claro que nenhum deles esperava que o vento subitamente mudasse de direção, e lançasse Ivan por cima da grade de proteção. O americano só teve tempo de correr, contra e a favor do vento – e agarrar o cachecol do outro, conseguindo impedir sua queda iminente.

Durante um minuto eles lutaram contra a gravidade, o frio gelando-os até os ossos. De repente, ter saído da cabine parecia uma ideia estúpida. A oportunidade de pensar nisso tudo, porém, só veio depois, quando estavam ambos no chão de metal, arfando e tremendo com o frio que não sentiam um momento atrás. Alfred pressionava o russo contra o chão gelado, um de seus braços atravessando as costas mais largas que as suas como se temesse que o maior acabasse levado para longe, pelo vento.

Agindo antes de pensar e deixando que seu corpo se movesse por conta própria, tudo que Alfred conseguiu fazer foi cambalear até a entrada, meio que arrastando um Ivan em estado de choque consigo pela mão, sentindo-o tremer mesmo com as luvas.

Quando passou pela porta, puxou também a câmera e a touca, que sequer notara terem caído. Desceram lentamente as poucas escadas e conseguiram se enfiar na pequena cabine, onde Alfred puxou as duas cobertas para fora da cama e enrolou Ivan, ainda sem soltar a sua mão, e sem notar que ele mesmo tremia. Depois de um momento, o próprio russo desfez o toque, abaixando a cabeça e escondendo-se parcialmente sob o tecido enquanto tentava se aquecer. O americano se esticou para pegar um segundo cobertor, enrolando-se nele e voltando sua atenção para a câmera, conferindo o cartão de memória e as lentes antes de guardá-la no estojo. Só então ergueu os olhos novamente para o russo, percebendo que era observado.

– Obrigado. – Ivan falou depois de um momento. – Você me salvou lá fora.

Alfred ficou em silêncio, apenas encarando o outro, e dois segundos depois estava rindo descontroladamente, o que deixou o russo bastante confuso, e até ofendido. Quando Ivan abriu os lábios para se pronunciar, porém, o americano ergueu uma das mãos em um pedido mudo para que ele não falasse nada, enquanto ele se recompunha com certa dificuldade.

– Desculpa. Eu não queria rir. Nem foi engraçado… Tá, talvez tenha sido. Quero dizer, a gente quase morreu! E não se desculpe, não foi sua culpa. Não tinha como você saber daquela rajada de vento. – O americano se apressou em dizer, quando notou que o russo o fitava com um olhar culpado. – Um dia você também rirá, espere só... Digo isso por experiência. Acredite, não é a primeira vez que vejo minha vida passar diante dos meus olhos.

– Se você diz... – O russo resmungou, ajustando a coberta e desviando o olhar. - Mas, se possível, prefiro não ter de rir desse tipo de coisa.

Alfred deu mais uma breve risada, seus olhos presos no homem que estava ainda mais pálido que de costume.

– E afinal, o que você estava fazendo lá fora? Pegando um solzinho? Pois se for, seu bronzeado não está progredindo.

– Eu… Eu só estava olhando como estavam as coisas lá fora... – O russo virou o rosto, incapaz de encarar os olhos azuis do fotógrafo.

– E decidiu que era uma boa hora pra encenar o Titanic? – Alfred sorriu, irônico, e então suas expressões se tornaram mais sérias. – Mas aquilo foi perigoso, cara, você devia tomar mais cuidado.

– Eu sei. E me desculpe, acabei colocando sua vida também em risco.

– Já disse que não tem porque se desculpar – Alfred sorriu calmamente. – Mas o que fazia lá fora realmente?

– Creio que o mesmo que você – ele apontou o estojo onde a câmera se encontrava, causando um arrepio no americano quando este percebeu ter sido pego em flagrante. – A tempestade estava incrível, não é?

Alfred se repreendeu mentalmente por ter pensado em dizer que não fora exatamente da tempestade que tirara fotos. Ainda assim, deixou que suas expressões suavizassem, abrindo um sorriso satisfeito. Ele levou a mãos aos fios do cabelo loiro, desajeitando-os um pouco, desviando o olhar ao responder.

– Sem dúvidas.

Alfred foi logo para a cama, decidido a acordar cedo na manhã seguinte, e Ivan o imitou, por não ter mais nada para fazer. Tudo que ambos mais desejavam era um amanhã de céu limpo. Infelizmente, não foi o que aconteceu. Durante o dia seguinte inteiro o céu permaneceu escuro, a tempestade caindo cruelmente sobre eles.

O grupo de biólogos estava sem absolutamente nada para fazer, e eles agradeciam mentalmente a presença de Alfred e Julchen, que foram os responsáveis por manter a equipe ocupada, trocando histórias e piadas durante todo o tempo vago. Quando finalmente a tempestade pareceu dar uma trégua, todos saíram por alguns minutos, ajudando na tarefa de descongelar o piso externo. Foram dormir cansados, mas com a certeza de que no dia seguinte a tempestade teria acabado.

Quando Ivan acordou, foi por causa do barulho que Alfred fazia enquanto ajeitava o estojo da câmera, conferindo as lentes, caminhando agitado de um lado ao outro do quarto por repetidamente esquecer de pegar algo consigo. O russo forçou seu corpo a se sentar na cama e puxou o relógio de cabeceira para mais perto, fitando os números que ele rezava para estar vendo errado.

– Alfred, o que você faz em pé? São seis e quinze.

– Eu sei. Atrasei na ducha. Eu já devia estar lá fora.

Alfred agarrou sua câmera e saiu, batendo a porta mais forte do que Ivan gostaria. O russo suspirou, encarando a porta por um tempo antes de empurrar o cobertor e levantar-se também. Trocando as roupas rapidamente, partiu atrás do outro, que já havia sumido, quase se esquecendo de desligar o despertador, que ainda nem havia tocado.

E enquanto o russo ia atrás do americano, este se apressava ao exterior, seus passos corridos ecoando pelos corredores vazios. Quando abriu a porta e o ar gelado lhe bateu contra a face, um sorriso desenhou-se em seus lábios. Ficou parado por um momento, apenas sentindo a brisa fria ir contra suas bochechas quentes, dando tempo para que o russo o alcançasse; não que sua presença significasse muito ao fotógrafo, que tinha os olhos presos na paisagem.

Caminhando adiante, o americano se apoiou nas grades do barco, que balançava pouco naquele dia. A maré calma não condizia em nada com a tempestade que afligira os tripulantes da embarcação, até a noite passada. Na verdade, o ontem parecia fazer parte de um passado já muito distante.

Ele suspirou, um sorriso satisfeito nos lábios. Depois de perambular de um lado ao outro por tempo considerável, Alfred fixou-se no local que achou mais apropriado e pôs-se a fotografar o horizonte. Ivan apenas o observava trabalhar, os braços cruzados e um olhar sonolento, ele ainda parado na batente da porta.

O porquê dele estar ali ele não entendia muito bem, considerando que poderia ter dormido por mais uma hora, mas também não refletia tanto assim sobre o assunto. Ele simplesmente gostava de ver o olhar do outro quando ele se escondia atrás das lentes da câmera. Além de que, ele não confiava o suficiente em Alfred para deixá-lo sozinho.

No pouco tempo que passaram juntos, Ivan adquiriu a certeza de que o americano era uma das pessoas mais irresponsáveis que já conhecera; Alfred não pensaria duas vezes para por sua vida em risco por uma boa fotografia. Ele se pendurar nas grades e cair no mar era uma de suas menores preocupações.

Entretanto, apesar de todos os receios, a manhã passou tranquila, não demorando que a tarde chegasse, prometendo bastante agitação. Especialmente, a promessa de atracarem para que Alfred pudesse fotografar raposas e ursos nas proximidades deixou o americano muito feliz e satisfeito, e infelizmente o mesmo não sossegou até ter os pés em terra firme. Bem, verdade seja dita, nem depois de por os pés em terra... A primeira coisa que fez assim que desceu da lancha que usaram para chegar à praia foi gritar algo sobre uma raposa, e correr até algumas geleiras, obviamente assustando o animal e fazendo-o fugir. Ivan, que preferira se aproximar lentamente a acompanhar o ritmo do outro, revirou os olhos ao ver a expressão chateada que ele fazia.

– Quem sabe, se você for um pouco mais… Discreto, os animais deixem você chegar perto.

– Uhn? Do que você ‘tá falando?

– Do barulho, comrade. Você faz muito barulho.

–... Sério? – Alfred franziu o cenho, lançando um olhar na direção dos arbustos para onde a raposa correra. – Desculpe, não percebi.

– Tem certeza de que é um fotógrafo?

– Estou apenas um pouquinho animado, okay? – Resplicou, fazendo um biquinho ofendido. Ivan deu de ombros, abrindo um sorriso e sendo logo acompanhado por Alfred, que parecia ser incapaz de abandonar sua animação. – Agora, eu quero uma foto daquela raposa.

No final da semana, Alfred descobriu que se despedir da equipe era uma tarefa infinitamente mais difícil que perseguir raposas. Apesar do pouco tempo que ficara, sabia que sentiria falta daquelas pessoas. Quando subiu no helicóptero com Julchen e Ivan, sentiu como se estivesse saindo de casa, mas não sem a promessa de voltar.

A primeira parte da viajem foi animada. O americano deixara a câmera na bolsa, e se dedicara a compartilhar com a piloto todas as piadas ruins que conhecia, isso durante todo o trajeto até a cidade costeira.

E, diferente de sua primeira experiência, Alfred aceitou mais do que agradecido quando Ivan lhe ofereceu os remédios, entrando no bimotor como quem iria para a forca. A atitude, porém, foi desnecessária, já que tanto ele quanto o russo adormeceram antes mesmo do avião terminar a decolagem.

Alfred nunca vira uma semana passar tão depressa. Parecia ter sido ontem que ele desembarcava em Moscou, as malas pesando em seu ombro e suas dúvidas latentes sobre o russo que seria seu guia; o mesmo homem que agora se despedia de si, com um aperto de mãos e um sorriso amigável.

– Foi divertido – Alfred admitiu, largando a mão do outro, que anuía a cabeça em concordância.

– Mais do que eu imaginava possível.

– Realmente. Eu estava meio nervoso quanto ao lugar, mas consegui fotos muito boas. Acho que tenho boas chances no concurso. – Ele ajeitou os óculos, claramente ansioso.

– Estarei torcendo por você. E se puder me mandar algumas fotos, eu adoraria emoldurá-las. Se não for problema, claro.

– Obrigado. E pode deixar que mando sim. Estou te devendo pelo trabalho que te dei, e por te tirar da cama todo dia de manhã.

Ambos sorriram, os seus olhos ligados por um sentimento em comum. Seguiu-se uns instantes de silêncio e então se despediram novamente, quando o voo do americano foi anunciado. Alfred adiantou-se ao embarque e Ivan ao estacionamento.

Estar de volta aos EUA era quase um alívio. Assim que pode, mandou uma mensagem ao irmão avisando sobre sua chegada, apesar de saber que o trânsito lhe tomaria ao menos uma hora do aeroporto até seu apartamento.

Descer do avião em New York, respirar o ar poluído, quase se ensurdecer com os barulhos do trânsito... Como era bom estar de volta. Estava em casa, o que significava comida boa, um pouco de paz e o prazer de estar de volta ao lado de Matthew. Foi com esse pensamento que passou porta adentro, lançando as malas no chão da sala e correndo para o escritório onde o irmão costumava estudar.

– Matt! Matt! – O americano escancarou a porta, mas a reação de seu irmão foi a de quem já esperava tal comportamento.

O garoto que estava sentado em sua escrivaninha, de cabelos de um loiro semelhante ao do fotógrafo, virou-se apenas o suficiente para sorrir ao recém-chegado, seus olhos cansados como os de alguém que pouco dormira ultimamente.

– Bem vindo de volta. Como foi a viagem?

– Ah. Foi legal. Muito legal, na verdade… Da próxima vez vou ver se consigo te levar.

– É, seria divertido. Adoro te ver trabalhar. Mas e então, já revelou as fotos?

Yes! – O americano balançou a cabeça, animado.

– Então o que está esperando? – O mais novo abriu um sorriso doce.

– Certo, vou buscar elas, estão na mala.

– Enquanto você vai buscar, vou terminar com isto aqui – ele balançou um livro de cálculo, seus olhos cansados.

Okay. Eu já volto.

Quando voltou para o lado do irmão, tinha um envelope com mais ou menos trinta fotos nas mãos. Matthew guardava a caneta e o caderno no gaveteiro quando Alfred puxou uma cadeira e se sentou ao seu lado. Ele, cuidadosamente, despejou as fotos sobre a mesa, evitando danificá-las; qualquer dano seria irreparável. O mais novo se apressou em apanhá-las, os olhos de um lilás gentil radiando com orgulho por saber que seu irmão era o responsável por aquelas fotografias tão belas. Era nesses momentos que sentia orgulho de tê-lo apoiado desde o início.

Seus dedos se moviam com uma rapidez que mostrava o quão habituados estavam ao movimento. Ele trocava as fotos, mas sem tirá-las da ordem ou danificá-las. De repente, seus olhos brilharam, reação que muito agradou ao fotógrafo.

Matthew virou-se em sua direção, um sorriso encantado nos lábios.

– É essa! Tem que ser essa! – Matthew disse, num tom de voz alto o bastante para surpreender o irmão, que se curvou para olhar a foto que lhe era mostrada. Ao ver de qual foto seu irmão falava, Alfred precisou se controlar para não a arrancar das mãos alheias e escondê-la. Sentiu um arrepio na espinha só de pensar na noite da nevasca. Balançou a cabeça com violência, negando firmemente a proposta.

– Não, absolutamente não. – Nem sabia porque aquela foto estava ali. Ela deveria ter sido apagada, não revelada com as outras.

– Mas Alfred, se você usar essa foto...

Não vou mandar a foto pro concurso, Matt. A das focas é boa o bastante – ele insistiu, enquanto pegava a foto das mãos do irmão e a guardava em segurança em sua gaveta, longe das outras.

– Você realmente devia ir com ela. Está muito bonita e bem tirada. Suas chances de vencer com ela são imensas.

– Eu não vejo porque essa foto haveria de ser tão especial. Não vejo nada de mais.

– Bem…

– Não, Matt. Com ela não.

–... Como quiser – o canadense murmurou, erguendo-se da cadeira e passando pelo irmão na direção da porta. – Vou fazer um café, okay?

– Ah, certo. Obrigado.

Matthew saiu porta afora, deixando o fotógrafo com seus pensamentos. Ao se ver sozinho, um pouco ansioso, retirou a foto da gaveta e deu uma boa olhada nela, pelo que prometera ser a primeira e última vez. Era realmente uma foto muito bonita…

Alfred terminava de completar seus dados no e-mail que enviaria para o Greenpeace, o cartão da câmera já inserido no computador, quando o telefone tocou. O irmão, que chegava com duas xícaras de café quente, quase colidiu com o americano, que vestia rapidamente o casaco e, com um olhar agitado, apressava-se pela porta.

– Ah! Matt! E-Eu preciso ir ao escritório. Pelo jeito, estão com uns problemas com algumas edições de uns pôsteres da nova campanha e… Enfim! Eu preciso ir. Escuta, eu vou precisar de um favor. Eu tenho até as onze pra mandar a foto, mas não sei quando volto. Acho que volto a tempo, mas, qualquer coisa, apenas envie aquela foto ali, que está em primeiro, anexada ao e-mail que está na janela aberta do computador. Todos os dados já estão completos, inclusive o endereço eletrônico. Conto com você.

E com isso Matthew se viu a sós, duas xícaras em mãos e uma oportunidade que não poderia deixar passar. Hesitou, é claro, antes de sentar-se na cadeira, aproximando o corpo da mesa, e buscou a foto que traria a merecida vitória de seu irmão. Ela, sem dúvidas, era muito superior às outras, não apenas em questão de fotografia, mas também por ser a única que transmitia algum sentimento.

Ele teria de se desculpar depois com Alfred, e talvez nem fosse perdoado, mas era um risco que teria de correr. Ele não se perdoaria se deixasse o irmão perder sua chance de ganhar um prêmio internacional e o reconhecimento que merecia, fosse o motivo que fosse. Depois de transferir a imagem escolhida, com mais quatro cliques estava tudo feito. Deu dois goles no café, sentindo o gosto amargo lhe descer pela garganta; nem gostava tanto da bebida. Apertou o enter, sentindo-se ao mesmo tempo um ótimo irmão e um péssimo ser humano.

Quando Alfred voltou, estava ofegante como Matthew nunca o viu antes. Inclusive, seu irmão sempre fora bastante atlético, o que tornava tudo bastante confuso na cabeça do mais novo.

– O que houve?

– Eu… Vim… Correndo.

– Respire um pouco, Alfred.

– Eu voltei a tempo ao menos. Dez horas. Então agora eu só tenho que mandar a foto e… – Ele parou de falar ao ver a cara que o irmão fazia. – Você já mandou?

– Sim.

Damn it! - Ele estapeou-se, deixando a cara ainda mais vermelha. – Bem, pelo menos não tenho mais com que me preocupar.

– Bem, eu… Eu tenho que dizer uma coisa… Sabe…

Alfred bocejou, interrompendo-o.

– Seja lá o que for, pode ficar para amanhã. Eu estou cansado, preciso de umas vinte horas de sono…

– Mas, Alfred, eu…

Don’t worry. Tomorrow, okay? Boa noite.

E, dito isso, o fotógrafo se recolheu. O mais novo permaneceu onde estava, torcendo para que o outro acordasse de bom humor no dia seguinte.

Ou talvez no outro, ou no dia depois daquele… Ou nunca. Matthew descobriu da pior forma que conseguir um tempo com o irmão era quase impossível. Alfred sempre acordava mais cedo, saia mais cedo e voltava bem mais tarde. Isso, somado a falta de vontade do canadense em citar o concurso, fez com que o assunto fosse deixado de lado.

Ao menos até Alfred receber um e-mail da diretoria do Greenpeace anunciando não só que ele tinha ganhado o concurso, mas que a premiação seria feita em algumas semanas. A mensagem também pedia para que ele ligasse o mais rápido possível para resolverem alguns detalhes importantes.

No café da manhã, tudo sobre o que Alfred conseguia falar era o concurso. Ele disse que ligaria mais tarde, já que tinha um tedioso ensaio fotográfico com algum ator famoso, cujo nome ele não sabia nem se importava, e que assim que pudesse voltaria para casa. Matthew até tentou falar sobre a foto, mas desistiu ao ver o quão feliz o irmão estava com a vitória.

A primeira coisa que o americano fez ao sair do ensaio, o qual durou mais ou menos duas horas – tempo que ele jurava ter sido bem maior –, foi partir em direção à uma lanchonete próxima, guiado por seu estômago.

Ele já estava sentado, sua mesa era uma das do canto, o lanche pedindo para ser saboreado, quando lembrou do telefonema que tinha de dar. Discou o número que tinha gravado na agenda do celular, se identificando à telefonista, que transmitiu a ligação para a pessoa responsável.

Logo que a teve a chamada respondida na outra linha, não pode deixar de comparar a seriedade da secretária com a simpatia da pessoa que seria uma das organizadoras do concurso.

– Meus parabéns, senhor Jones, sua vitória foi mais do que merecida! – A moça, que se identificara como Janet, quase cantarolou ao telefone. – A escolha de sua foto foi quase unânime. Seu talento é inegável, devo dizer, mas quanto ao título que o senhor usou… Bem, para ser sincera, ninguém entendeu.

– Uhn? Como assim?

– Bem, “Banho de sol” não fez muito sentido… Alguns dos juizes sugeriram nomes diferentes para sua obra, mas é claro que se quiser manter o título atual nós...

– Não, tudo bem. Façam o que achar melhor.

– Certo! Obrigada, senhor Jones! Se isso for tudo, nós nos vemos na amostra.

– É claro, até lá.

E, assim, desligou o telefone, enfiando-o no bolso e dando uma mordida no sanduíche a sua frente, a sublime sensação de um trabalho acabado e bem feito lhe fazendo sorrir.

O impacto da fotografia vencedora foi maior do que o esperado. Nos dias que se seguiram, a “o Espírito Gelado” foi liberada na internet, além de receber uma atenção especial de revistas de arte e fotografia. Alguns críticos tiveram a ousadia de declará-la digna de uma obra de arte pintada por alguns dos mais famosos artistas românticos, outros se limitaram a dizer que era uma foto tirada no Ártico, mas que não tinha exatamente como foco o Ártico.

E apesar da mídia no geral estar mais preocupada em descobrir a identidade do não tão misterioso modelo, desde o momento em que colocara os pés no grande salão onde acontecia a exposição, a pergunta que não queria se calar era:

What the hell?! Como diabos aquela foto foi parar ali?

Foi então que a imagem de um loiro pouco centímetros mais baixo e olhos lilás o veio a mente. Alfred virou-se, tirando os olhos da imagem de seu guia, e partiu atrás do irmão, que era o único possível culpado daquela tragédia.

Os pés do americano iam velozes, tão rápidos quanto o coração que batia em seu peito. Apesar dos avisos para que não corresse, ele não diminuiu o ritmo até ver a figura do irmão, que chegava à exposição naquele exato momento.

Antes que o menor pudesse reagir, o fotógrafo o agarrou pelo braço e o arrastou até sua própria fotografia. Matthew aparentou confusão inicialmente, mas logo ele concluiu que na verdade aquela reação era mais que esperada.

Depois de se aproximar da foto, mas apenas o suficiente, de forma que podiam conversar a sós, posicionou o irmão a sua frente.

– Foi você, não foi? – Acusou-o.

– Alfred, me desculpa, mas eu sabia que com essa foto você ganharia. Eu tinha certeza. E você ganhou. Então me desculpa por ir contra sua decisão, mas eu não me arrependo.

– Cara, o Ivan vai ver isso. Como espera que eu reaja quando ele aparecer e perceber que é ele na foto? Poxa, Matt, o que diabos eu vou fazer? Não posso simplesmente dizer que foi um acidente, porque é uma foto dele. Não tem como eu tirar uma foto dele por acidente, e aí mandar revelar ela por acidente, e deixar meu irmão mais velho mandar ela pro concurso e fazerem uma versão gigante dela por acidente. Quem diabos acreditaria nisso?

– Ah, então não foi esse o caso?

Os dois se viraram, encontrando um enorme loiro russo de braços cruzados e com um sobrancelha erguida. O rosto do americano empalideceu de tal forma que, por um momento, Matthew pensou que o irmão desmaiaria. Ao lado do russo, Nikolai fitava-os com uma expressão incomodada. Ivan não mostrava raiva, mas seus olhos certamente pediam por uma explicação.

– Não eram focas? Foi o que você disse no seu e-mail, pelo menos.

Well... It was. You see... – Ele remexeu-se, a mão no pescoço enquanto tentava arrumar uma desculpa convincente. – Hum... É tudo culpa do Matt! – E, com isso, Alfred escondeu-se atrás do irmão, que balançou a cabeça em descrença à atitude totalmente madura de seu irmão mais velho.

– Acho que vocês dois precisam conversar… Acredito que você seja Nikolai – Acrescentou na direção do rapaz ao lado de Ivan. – Se puder me acompanhar.

Matthew se afastou, acompanhado pelo outro loiro, e tanto Alfred quanto Ivan voltaram a se encarar

– Eu sei que você deve estar bravo, mas não se preocupe, eu vou dar um jeito.

O loiro ficou em silêncio por um momento, seus olhos presos no americano.

– Por quê?

– B-Bem, você vê... Foi meio que por instinto, eu não pretendia tirar sua foto nem nada.

– Não foi isso que eu quis dizer. Por que eu estaria bravo? E você ganhou, mas não me parece muito feliz...

– Mas a sua foto...

– Eu não me importo.

– Bem... Tem certeza?

– Por que eu deveria? Na verdade, é uma honra. Apesar de que admito ser meio constrangedor me ver exposto numa foto tão grande, mesmo que não mostre meu rosto... – Ele abriu um sorriso torto e coçou a cabeça.

– Ahn… Então você não vai, sei lá, me processar?

Ivan gargalhou, recebendo alguns olhares atravessados.

– Não se preocupe, comrade, eu não faria isso.

– Isso é… Bom, acho. – Alfred hesitou um momento antes de dar dois passos a frente e oferecer a mão, num gesto amistoso. – Amigos, então?

O sorriso no rosto do russo falhou por um momento, os olhos lilases encarando o americano como se não tivessem entendido muito bem o significado daquelas palavras.

– Amigos. – Ivan murmurou, olhando ao redor. – É claro, acho.

Nikolai, que até então assistia àquela confusão em silêncio, encarou o outro pesquisador, e vê-lo magoado certamente não o agradou. Seu desgosto pelo americano apenas aumentou, principalmente quando este riu feito um bobo insensível, dando alguns tapinhas no ombro de Ivan antes de se afastar, dizendo que precisava receber os visitantes e que os veria mais tarde.

Não que Ivan tivesse tido qualquer expectativa quanto àquela curta visita aos Estados Unidos, mas admitia ter sido agradável a estadia; em especial, ter visto o fotógrafo pessoalmente mais uma vez foi-lhe como ter um desejo realizado. Ainda assim, mal podia esperar para voltar às suas pesquisas na manhã – ou noite, considerando a diferença de fuso – em que chegasse à Rússia. Porém, mesmo com seu horário já apertado e atrasando seu já permitido embarque, ele se via parado ao lado de uma máquina de refrigerantes, Nikolai um pouco distante dormindo em uma cadeira. O que ele fazia? Simples. Esperava pelo americano que insistiu em vê-lo no aeroporto e que não chegara até então. Por essa razão, ele agora aguardava, sua mochila pesando sobre um dos ombros enquanto seus olhos rodavam ansiosos pelo local.

– Ei! – A voz familiar chamou-o, não demorando até que ele visse o loiro correndo em sua direção, mãos acenando, um sorriso no rosto e o casaco de aviador agitando-se no ar enquanto corria.

– Ei – Ivan repetiu, e foi tudo o que disse, sorrindo um pouco ao ver o outro.

– Desculpe a demora. Estava enrolado com umas edições.

– Sem problemas.

– Então. O Nikolai?...

– Está logo ali. Ele estava bastante cansado, então mandei que dormisse um pouco enquanto esperávamos que você chegasse.

– Ah, certo. Bem… Obrigado por terem vindo.

Alfred esticou a mão, a qual o outro fitou por um momento antes de envolvê-la pela sua.

– Imagine. O prazer foi nosso. Foi divertido. Eu me diverti pelo menos. Eu realmente gostei das suas fotos. Você é um fotógrafo melhor do que eu imaginava.

– Bem, o primeiro lugar não é dado a qualquer um – deu uma risada convencida, coçando o nariz empinado.

– Ei, Alfred… Venha algum dia novamente para o Ártico. Não me importo que seja longe, eu realmente quero te ver novamente.

Ivan encarava o americano com expressões sérias e um tanto ansiosas, mas tudo que o americano fez foi bater-lhe amigavelmente no ombro e rir-se por um momento.

– Não precisa nem dizer. Aquele lugar é lindo demais para não ser visitado mais de uma vez.

Ivan segurou o braço de Alfred, que se afastava lentamente de si, ato que surpreendeu o outro. Os olhos do russo tremiam enquanto fitavam os do americano, que mesmo atrás das lentes dos óculos brilhavam com a radiância de sempre.

– Não foi isso que eu quis dizer.

O interfone tocou e pelo salão se espalhou a notícia da necessidade de embarque imediato aos que iam para Moscou. Ivan apertou com mais força o braço do outro e então, sem pensar duas vezes, o puxou, colando seus lábios aos dele por um momento. Quando se separaram, Alfred o lançou um olhar bastante confuso, mas, antes que pudesse questionar, Ivan se adiantou.

– Por favor, pense a respeito.

E dito isso se afastou, indo acordar o outro pesquisador. Entrou na fila para o embarque, sem ousar olhar para trás e conferir a reação do americano – diferente de Nikolai, que cumprimentou o americano com um aceno que não foi registrado. Ivan embarcou, deixando para trás um rapaz bastante perplexo.

Alfred levou os dedos aos lábios, recordando-se do toque, da sensação, do gosto... As memórias tão vívidas fizeram seu coração trepidar. O fotógrafo levou a mão ao peito, como se estivesse se certificando que este não fugiria.

O que foi aquilo?


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Notas finais do capítulo

Apesar de ser um trabalho muitas vezes desprezado e ridicularizado pelos leigos, a arte da fotografia não é apenas complexa, mas também perigosa. É um trabalho exclusivos aos apaixonados e foi isso que tentamos transmitir com a ajuda do Alfred. Se você não amar o que faz, nem ter paciência e dedicação, não crescerá nessa profissão tão concorrida, onde apenas os melhores sobrevivem no mercado.
E, assim, gostaríamos de agradecer aos que leram esta fanfiction. Ficaremos ainda mais agradecidas se recebermos alguns reviews; por isso, não deixe de deixar sua opinião. Mal podemos esperar para ouvir o que vocês tem a dizer. ^^ E, obviamente, estamos sempre abertas a críticas construtivas!
Clair e Gin~ ♥



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